DIAS ATUAIS...
REI WILLIAN:
— Por que tinha de ser tão teimoso, meu filho? — estou lamentando sob a pintura do meu filho, em minhas mãos.
Na pintura ele está sorrindo... um sorriso natural de livre e espontânea vontade, não um sorriso debochado o qual ele sorria na maioria do tempo. Ele está correndo em Rajão pelos jardins do castelo. Esta pintura foi tirada pelo pintor Juan Carlos, o melhor pintor de Marlenout, o melhor por que ele tem memória fotográfica e suas pinturas podem ser facilmente confundidas com uma imagem real. E agora Trento limitou-se à lembranças nem tão boas, não nos comunicávamos com muita frequência, fui muito duro com ele.
Deposito o quadro de Trento em seu lugar e me encaminho até os aposentos da minha rainha, ela está desolada e não quer falar comigo, já se passaram dois dias desde que recebemos a notícia de que nosso amado filho morreu e ela ainda não saiu do quarto dela.
Respiro fundo e dou três leves batidas na porta larga de seu quarto. Ela normalmente passa suas noites em meus aposentos, mas em dias ruins ela passa no dela.
— Majestade, e-eu lamento ter de passar-te este recado novamente, mas, a rainha ainda não deseja vê-lo... — a jovem serviçal repete a mesma coisa todas as vezes que venho aqui.
— Dê-me licença — passo por ela, entrando sem a permissão de Hadassa.
Encontro-a em uma situação completamente angustiante, está sentada em uma cadeira olhando para a janela que mostra o horizonte triste e nublado em que se encontra hoje, suas vestes estão amarrotadas, o que em dias normais ela nunca permite, seus cabelos estão cortados na altura dos ombros, e ela está demasiada pálida com olhos fundos. Assim que percebeu a minha presença os seus olhos se inundam em lágrimas.
— Saia, por favor, já me trouxe muitas dores... — pediu em soluços.
Isso me desmonta ainda mais por dentro. Meu filho e minha esposa são partes de mim.
— Querida, ouça o que eu tenho a te dizer... — me ajoelho ao seu lado passando as mão em seu rosto — eu jamais mandaria o Trento se ele corresse um perigo real, era apenas um teste! fui traído por Garth! Ele me traiu matando o meu único filho! — Hadassa me olha confusa, — vamos vingá-lo! vou preparar nosso exército e iremos atacar Kahabe sem ao menos um aviso, Haian está preso porque a maioria da culpa foi dele... olha para mim, você precisa ser forte! — Hadassa volta a chorar puxando-me para um abraço.
— Meu menino... meu pobre menino... — lamentou-se em meus braços e choro junto com ela.
Não é suportável a dor de perder um filho, e a única coisa que está me mantendo em pé é a sede de vingança.
QUINZE DIAS DEPOIS...
LUARA:
Tudo está uma correria em Marlenout, homens estão sendo convocados de todas as províncias para se juntar ao exército que atacará Kahabe em honra do Príncipe Trento, eu sei disso porque meu pai é do conselho real, essa é uma informação completamente sigilosa.
A mensagem que foi posta em todas as cidades convocando as moças ainda estão no mesmos lugares, me pergunto se meu pai estava certo quando disse que seria o tal concurso para a rainha, já que normalmente os comunicados deveriam estar sendo retirados...
Estou praticando minhas partituras de piano, Hadassa está discretamente ao meu lado e meus pais estão apreciando enquanto eu manejo o instrumento.
— Oh! — minha mãe exclama assustada — meus vestidos chegarão hoje de Parthis! como eu fui me esquecer? chegarão dentro de duas horas!
Parthis é um país aliado de Marlenout que fica ao lado de Kahabe, Parthis é rico em confecções de vestidos e minha mãe e eu usamos vestidos apenas costurados pela madame Luiza, a mais talentosa de todas.
— Que ótimo, querida! — meu pai finge alegria — Hadassa! Prepare-se para ir até o porto buscar nossa encomenda! — meu pai a encarrega.
Pelo menos Hadassa pode sair às vezes e não é presa como eu, que só saio em companhia de meus pais para lugares chatos onde só frequentam pessoas mais chatas ainda.
HADASSA:
Tudo isso me comove. O fato de que o príncipe morreu tão cedo e de uma forma tão drástica me fez chorar, por mais que eu não tivesse o conhecido eu ouvia bastante falarem sobre ele, ele não teve a chance de aprender nada sobre a vida.
Estou dentro de umas das mais pequenas carruagens dos Lennes, essa é aquela que eles nunca entram, é especialmente para os criados, ainda assim é muito bonita. No caminho, observando o mar logo ao lado, vou me perguntando se algum dia terei vestidos tão lindos quanto os de Luara, sou uma jovem com grandes anseios, porém, conformada, ela já tentou dar um deles para mim, aceitei de bom gosto o presente de uma querida amiga, entretanto o guardião revista-me toda vez que saio e entro na casa deles, e em uma dessas revistas eu descobri que não posso receber presentes da Luara, ordem da senhora Lenne. Bom, o jeito é eu aproveitar as belezas naturais que ninguém pode arrancar de mim, por exemplo, a alegria que me toma olhando essas rochas que enfeitam a praia...
A carruagem pára de repente quando ainda estamos alguns quilômetros do porto.
— Por que paramos, Brando? —questiono abrindo a cortina.
Brando, é um atraente rapaz loiro de estatura mediana, trinta anos, nos conhecemos desde quando eu cheguei aqui em Hasgueit, ele é sobrinho da falecida mulher do meu tio Barnabé.
— Hadassa, lamento, infelizmente o cavalo machucou a pata traseira, teremos que parar — explica praguejando alguma coisa.
— Não acredito! coitado do cavalo! —
desço da carruagem com a ajuda desnecessária de Brando que insiste em ser um cavalheiro.Caminho em rápidos passos até o pobre animal.
— Coitadinho — lamento acariciando o rosto do animal, — o que faremos? — encaro Brando que me devolve o olhar preocupado.
— Estamos na metade do caminho, você escolhe se quer voltar ou prosseguir, se quiser prosseguir nós alugaremos uma condução lá no porto para retornarmos.
— Brando, fique aqui com o cavalo que eu irei até o porto e voltarei logo... - Digo já me preparando.
— Não, nem pensar! Não pegará bem para você se estiver no porto sozinha sem nem um acompanhante! Sem falar que é perigoso! — Explicou.
— Brando, não podemos deixar o coitadinho sozinho! Prefere que eu fique na carruagem, então? — pergunto confusa.
— O que poderá acontecer ao animal? Ele está ferido, ninguém conseguirá roubá-lo... certamente será sacrificado pelos Lennes.
— Não irei permitir que tal coisa aconteça com ele! e a carruagem ainda poderia ser levada... não importa, não deixarei que nada aconteça ao cavalo.
— Hadassa, não seja teimosa! quem irá ouvir você?
— Eu prefiro não receber o meu pagamento, receberei o cavalo no lugar.
— Mas ainda assim, terá que deixá-lo sozinho para irmos ao porto, mesmo que roubem a carruagem, você é muito mais valiosa.
— Não sairei daqui, vá até o porto buscar as encomendas, permanecerei exatamente aqui — bato o pé para reafirmar a minha decisão — irei me esconder caso alguém apareça e nada irá me acontecer, não discuta comigo.
Brando parece pensar por alguns segundos e então sua expressão se relaxa, com muito esforço escondemos a carruagem e o cavalo atrás de uma rocha enorme.
— Aqui está a minha espada, — Brando mostrou, sabe usar, né? eu te ensinei — lembrou-me.
— Sei... mas eu te garanto que não vai chegar a tanto... — balanço a cabeça negativamente, divertindo-me com as preocupações absurdas do meu amigo.
Brando começa a se distanciar, olhando-me com preocupação.
— SE CUIDE, VOU CORRENDO O MAIS RÁPIDO QUE EU POSSO! — Gritou, já correndo.
Vou para trás da rocha fazer companhia ao cavalo.
— Vou chamar você de... deixe-me pensar... Magnífico! que tal? — converso animada com ele que parece estar se distraindo.
O cavalo adormeceu, deixo-o e vou caminhar na areia, é pertinho e posso ver tudo o que acontece aqui. Eu adoro fazer isso, andar com os pés descalços, sentir o vento bruto marítimo brincar com os meus cabelos, me trás uma sensação de carinho, como se o mar me amasse. Alguns minutos depois eu avisto de longe que dois homens estão se aproximando, descendo de um pequeno barco, aproveito para me esconder entre uma das rochas, espero que eles se afastem logo, ainda bem que eu trouxe a espada comigo.
TRENTO: — Não quero nem estar presente! partirei para Óvlis hoje ainda! — Filipe comenta visivelmente amedrontado quando já estamos quase chagando nas areias de Marlenout.Alguns dias depois que o navio de Marlenout zarpou levando a notícia de nossa morte, nós zarpamos no navio do nosso grupo secreto, o navio Negro, que nos deixou com uma bússola em um barco há algumas horas das margens de Marlenout.Eu me arrependi! não vou negar que me pareceu muito atraente a ideia de ver meu pai se culpando pela minha morte, contudo... e a minha mãe? E todo o povo de Marlenout? o que pensariam de mim quando soubessem que tudo não passou de mais uma brincadeira do príncipe Trento? e o mais preocupante de todos... e se meu pai atacar Kahab
TRENTO:Ela está me encarando com olhos apreensivos, é perturbador o quanto está nervosa.— Por que não me entrega isso? — com um golpe habilidoso eu retiro a espada de suas mãos e ela rapidamente tenta correr, eu a seguro pelos cabelos fazendo-a parar de imediato.Oh, belos cabelos.— Solte-me! — tenta escapar,debatendo-se — seu fedido! Solte-me!Ela está claramente me insultando e dentro de seus olhos eu posso ver faíscas de raiva, quem essa insolente pensa que é para sentir raiva de mim? Seguro seus braços e prenso-a novamente contra a pedra, a moça me olha com um olhar de desafio, porém é notável o leve desespero.— Eu tenho que te agradecer por ter cabelos tão compridos! — Sorrio pegando em seu cabelo macio, são massagens para as minhas mãos — ou eu teria de correr atrás de você, — aponto o dedo indicador — é claro que eu teria te alcançado no terc
TRENTO:Estamos caminhando há uns vinte minutos, o castelo já esta à vista, estamos pelo caminho menos frequentado, não queremos ser reconhecidos, seria o maior falatório e pessoas atrás de mim.— Estão indo para o castelo real? o que vocês planejam fazer? por que vão me levar junto com vocês? seus malditos! Brando vai matar aos dois! — a jovem Hadassa tagareleia incansavelmente, se eu não tivesse arrancado a espada das mãos dela, eu seria atacado pelas costas.Eu tenho uma lista de coisas que planejo fazer com a minha volta, porém livrar-me dessa moça é prioridade.— Já lhe falei que serei seu rei, é normal que eu vá até o castelo, não concorda? — respondo sem olhar para trás, ela já tentou escalar algu
HADASSA:Eu estava morrendo de medo! Desde que o sujeito me segurou pelos cabelos eu me senti amedrontada, eu realmente achei que morreria e quando eu percebi que ele tinha a intenção de assassinar o rei Willian eu me desesperei, eu deveria ter dado ouvidos para o Brando. Entretanto, afinal quem era aquele desconhecido todo sujo e metido à charmoso? O ego dele era quase palpável e era isso que me deixava instigada em confrontá-lo.Eu quase tive um ataque cardíaco no momento em que os guardas se prostraram perante à ele, e a minha alma deve ter saído fora do meu corpo quando ele abriu a porta em que o rei estaria, não sei como eu não desfalecido... contudo, agora, não posso negar que fui surpreendida. Ele é o príncipe Trento! Agora entendo a arrogância e o ar de superioridade... Ele realmente é o príncipe.Como assim ele está vivo? Será que cumprirá sua promessa de me prender nas
LUARA:Estamos todas em expectativas, o rei Willian está prestes a nos passar a tarefa que teremos de cumprir para ser a vencedora.Até poucos dias eram bastante de nós, não sei de que forma restaram apenas nós quatro, acho que passamos em algum teste sem sabermos.Pelo que eu entendi, passaremos por exercícios e a vencedora será a escolhida. O rei pensa que não sabemos qual será o prêmio, entretanto, eu e Hadassa sabemos que será o casamento com o príncipe, já a Sara e a Daisi provavelmente não sabem.Minha mãe quase teve um ataque cardíaco quando soube que Hadassa é uma candidata, reclamou de como o primeiro ministro não tem noção alguma e falou que assim que a rainha por os olhos nela irá dispensá-lo pois tem m bom gosto. Já o meu pai, pediu para que eu me tornasse muito amiga da Hadassa, isso me traria vantagem caso ela fosse a rainha... e claro, também me instruiu a fazer de tudo par
HADASSA:Estamos eu, a Luara e a Sara nos preparando para irmos embora. Bom, a Sara está hospedada no castelo mesmo.- PAAAAAAAAAAAAI! - Um grito mais parecendo com um trovão chama a atenção de todas nós.- Ouviram isso? - Perguntei para as duas.- Quem não iria ouvir? - Sara.- É o príncipe. - Luara falou olhando para os lados, como se estivesse o procurando. - Na certa está com algum chilíque.Sara revirou os olhos. Pelo visto ela também não gosta dele.- PAAAAAI! - O príncipe repetiu e sua voz estava bem mais próxima de nós três agora.E ele passou pelo corredor, a porta do lugar onde estamos está aberta e ele olhou para nós.Segundos depois qu
SARA:Estou no jardim real admirando as belas rosas vermelhas que nunca vi tão belas, quando sinto alguém atrás de mim. Viro-me às pressas, pode muito bem ser o príncipe.- Está tranquila, senhorita Duarte? - O professor me pergunta e essa é a minha oportunidade para o repreender.Ele está vestindo seu típico blazer preto até o meio das coxas, seu cabelo penteado para trás brilha, e em seus olhos posso ver um pequeno reflexo de preocupação.- Professor Otávio, eu não irei perdoar o senhor por me apresentar como uma candidata. - Digo ressentida. - O senhor sabe muito bem o que eu penso sobre o príncipe!- E o que tem o príncipe com o concurso? - Aproximou-se alguns passos e eu recuei alguns e senti espinhos sobre minhas costas e l
TRENTO:Vida que segue. Não, melhor, eu que sigo. Sigo meu pai, sigo a vida que meu pai quer que eu viva.Ainda não falei com Filipe sobre o meu futuro noivado. Planejo contar hoje para ele assim que eu o encontrar aqui nessa festa.Mas antes, desejo encontrar a Laura, e contar a ela a novidade, tenho absoluta certeza de que ela vai enlouquecer de felicidade.- Lenne, onde posso encontrar sua belíssima filha? - Pergunto assim que esbarro em meu futuro sogro.Ele obviamente me encara surpreso, porém, logo abre um sorriso muito satisfeito e presta reverência.- Alteza, minha filha está dançando com o filho de nosso anfitrião... Bem ali... - Olha disfarçadamente para o meio do salão me dando sinais com as sobrancelhas. - Veja como ela dança graciosamente. -Sorri