TRENTO:
Meu nome é Willian Trento Rouis IV, conhecido como príncipe Trento, o sublime herdeiro do trono de Marlenout. As pessoas costumam me confundir com um deus e isso me aborrece, pois o fato de eu ser filho do rei me torna melhor que os outros, porém mesmo se eu não fosse o filho do rei eu seria melhor que os outros, realidade.
Tenho o cabelo cortado curto e escuro, olhos acinzentados e lábios vermelhos, queixo duro, o que me proporciona um rosto marcante, sou alto e como todo homem de boa saúde carrego peso. Ontem fiz meu vigésimo sexto aniversário, o que fez com que o rei, meu pai, me submetesse a uma espécie de entrevista, perguntando quais eram os meus planos para o futuro e quando pretendo me casar... eu fui sincero, respondi que não tenho plano algum, já que meu destino foi decretado no momento em que nasci: serei rei; já a parte de esposa eu respondi que sou muito jovem, o que não é mentira, meu pai não gostou de nenhuma das respostas.
— Obrigada, alteza — Filipe se reverencía perante mim depois de termos terminados nosso treino matinal com espadas, ao qual ultimamente eu venho saindo vencedor, esperado.
Eu o surpreendo com um golpe de corpo a corpo, fazendo com que fique preso sob meus pés, deixando-o completamente imóvel.
— Para que aprenda de uma vez por todas que é simplesmente Trento!
Assim que soltamos as espadas, corro até Rajão, meu cavalo que estava me esperando com um soldado ao lado de uma árvore.
Filipe não respondeu, ele não me trata como de costume perto dos soldados, mas se estivéssemos à sós com certeza eu levaria um golpe doloroso.
Galopo entre os jardins do Castelo de Hasgueit, fazendo com que todos me olhem revoltados.
Gargalho.
Por que eles insistem em desaprovar o meu passeio pelo jardim?
— ALTEZA! ALTEZA! — uma jovem e bela serva corre atrás de mim, eu finjo não ouvir e rindo apresso os passos de Rajão, provavelmente o rei deve estar procurando por mim já há essa hora da manhã.
— ABRAM OS PORTÕES! — ordeno assim que me aproximo das enormes grades de ferro, em questão de segundos minha ordem foi cumprida. Saio galopando ferozmente caminho à frente. Até o mar.
Nosso país se chama Marlenout pois é rodeado pelas águas, uma imensa ilha e não temos vizinhos, pois há séculos os conquistamos, tornando-os Marlenouteanos também.
Desço de Rajão e tiro minhas vestes reais, ficando apenas com as roupas de baixo.
— Trento, por que demorou? — Filipe me surpreende saindo por trás de uma rocha, derrubando-me sobre a areia fina.
Eu dou-lhe um contragolpe fazendo-o ficar por baixo.
— Levante-se de mim! Não quero ser confundido com uma moça! — exclama afastando-me de si.
Filipe é loiro com os cabelos até os ombros, alguns centímetros a menos que eu, porém quatro anos mais velho. Nos conhecemos desde a infância, quando ele participava das minhas festas de aniversários por ser filho de George Julius, o primeiro ministro de meu pai.
— Com este cabelo amarelo e longo não duvido que te confundem com uma donzela em perigo! — provoco e ele parte para cima de mim.
Corro para o mar, tirando minha túnica no caminho, ficando completamente nu. Filipe Também.
Estando no mar eu me sinto bem, me sinto livre, como se eu pudesse ser e fazer qualquer coisa, entretanto, como eu dificilmente tenho liberdade para ser e fazer qualquer coisa, dentro de pouco mais de dez minutos soldados invadem a areia.
— ALTEZA! ALTEZA! — Haian, o general em pessoa, o rei é exagerado demais.
Saio da água completamente contrariado e Filipe me acompanha.
— Por quê me incomoda? — pergunto recebendo minha túnica que um soldado entregou encarando a minha nudez.
— O rei requer sua presença, alteza, e a de Filipe também — responde estressado.
— O que o rei deseja com Filipe? — passo as mãos no cabelo, fazendo espirrar água e acidentalmente molhei Haian, ele faz uma cara de quem chupou limão azedo.
— Isso terá de perguntar para ele, alteza. — respondeu irritado, passando as mãos no rosto com desgosto.
— Tem alguma coisa contra mim, Haian? Sabe que não precisa temer me dizer a verdade, quando eu for o seu rei saberei que me é sincero, — caminhei pela frente dele indo em direção ao Rajão.
Haian ficou parado no mesmo lugar e eu percebo que Filipe já está ao meu lado montado em Bela, sua égua.
— O que será que seu pai quer conosco?
— Tranquilize-se, Filipe, não fizemos nada de errado — Filipe revira os olhos, — bom, não hoje! — já montados eu disparo com velocidade, gargalhando.
O que o rei quer dessa vez?
Do que adianta eu ser o jovem mais importante de toda Marlenout se não possuo o domínio sob mim mesmo?
Detesto seguir regras, não gosto de saber que meu destino já está traçado. Isso deve ser clichê pra quem vê de fora, afinal, ser um príncipe deve ser o sonho de qualquer pessoa, e realmente seria muito bom, se não fosse a parte de não ter vida própria.
*Arte da capa: Sabrina Almeida (@sabryniedesign)
Trento:Chego eu e Filipe nas escadarias principais do castelo escoltados por dois soldados, creio que estavam se certificando de que compareceríamos ao gabinete de meu pai. Viro-me de frente para os soldados, parando abruptamente:— Muito obrigado pela companhia, entretanto, seguimos só nós dois — retorno ao trajeto.No corredor, bem próximo ao gabinete do rei, ainda com o cabelo molhado Filipe chacoalha a cabeça balançando os cabelos, e neste ato seu cotovelo derruba um vaso de cristal que estava posto em cima de uma pequena mesa em baixo de uma pintura.— Nossa, merda, veja só o que fiz... — Filipe se lamenta, abaixando-se para juntar os cacos.— Ninguém viu que foi você, então não foi você — levanto-o pelos ombros.— Majestade... — Filipe gagueja visivelmente apavorado olhando para trás de mim.Viro-me e dou de cara com o rei Willia
UMA SEMANA DEPOIS...LUARA:Tenho vinte anos e venho de uma família importante... Meu nome é Luara Lenne, sou uma moça de cabelos amarelo e longos até a cintura, olhos verde claro e cílios espessos.Meu pai vive dizendo que eu nasci para ser da realeza, eu já expliquei para ele que como eu sou a filha do Duque Lionel Lenne eu basicamente sou da realeza, porém ele quer ainda mais para mim. Nunca o entendi e nem pretendo entender, já que minha opinião de nada serviria mesmo, mas, enfim, isso é conversa de pais e meu pai vivia dizendo isso das minhas duas irmãs também, porém elas já se casaram... Lunna a minha irmã mais velha de vinte e cinco anos, se casou com o Marquês do condado de Óvlis, ele é um velho muito gentil, ele é nobre e lordaço, isso foi o suficiente para Lunna, vivem em Óvlis que fica muito
SARA:Moro em Óvlis, uma cidade enorme e cheia de oportunidades... E eu felizmente tive uma. Meu nome é Sara Duarte e tenho vinte e dois anos. Sou morena dos cabelos crespos volumosos até o meio das costas, lábios carnudos, e minhas pernas são compridas... Sou extremamente alta, infelizmente. Trabalho como ajudante nas limpezas do colégio Marlenout, e meu pagamento é receber as aulas, acredito estar fazendo uma ótima troca, o colégio Marlenout é o melhor colégio do país, é o mais caro e frequentado apenas pelos filhos dos mais poderosos. Meu pai e minha mãe trabalham na casa do Marquês Jordan Lim, um adorável e gentil senhor, pena que não posso dizer o mesmo de sua jovem e bela esposa Lunna Lenne Lim. Eu e meus pais moramos na casa do Marquês, minha irmã morava também, infelizmente ela morreu faz um ano. Eu, além de trabalhar no colégio, tenho que trabalhar na casa do Marquês também.(...)— Já sabemos que o príncipe Tre
UMA SEMANA DEPOIS...TRENTO:— Alteza, não podemos prosseguir sem uma estratégia! Não podemos ser vistos, não poderemos desembarcar no porto de Lusem, o que faremos? — Haian pergunta cautelosamente, Lusem é a primeira e mais próxima cidade de Kahabe.Eu me livro dos pesos com os quais eu estava me exercitando, e muito empolgado eu calço meus sapatos que eu havia tirado.— Ei! — chamo Filipe que não está muito longe e faço sinal para que se aproxime.— Alteza, o que faremos? — Haian insiste em perguntar.— Já estou fazendo, general, apenas me prepare um barco e uma bússola, do resto eu dou conta! — Respondi em tom ríspido.Tenho o evitado durante a última semana.O general é um homem moreno dentro de seus quarenta e cinco anos, usa um bigode, é forte e corajoso, pena que deixa seu título lhe subir
"O vosso rei Willian Trento Roius III convoca todas as donzelas de boa saúde, livres e graduadas entre o décimo oitavo e vigésimo quinto aniversário para uma reunião de grandíssima importância no salão principal de sua cidade, a qual não poderá faltar ao menos uma.*Todas as donzelas deverão vestir trajes de festa.*Todas as donzelas deverão estar com as mãos limpas e bem cuidadas.*Todas as donzelas deverão apresentar algo de suas virtudes.Sendo assim no quarto dia do nono mês, logo que o sol nascer.LEMBRETE: A família que possuir uma donzela dentro dos requisitos e não a mandar, será julgada como traidora do trono.P.M. George Julius. "LUARA:Estamos eu e meus pais em nosso café da tarde no nosso jardim, Hadassa está em pé um pouco afastada da mesa em que estamos. Estamos conversando sobre um comunicado que foi espalhado por Marlenout intei
REI WILLIAN:Estou com os dentes cerrados e as mãos grudadas no punho, irado. Não consigo entender como foi que meu plano deu tão errado.— Explique bem para mim, general... como isso aconteceu?O general respira fundo, é visível o pânico e arrependimento em suas expressões.— Vossa majestade conhecia o príncipe Trento... ele era difícil... — ouvi-lo dizer sobre o meu filho no passado, me destrói por dentro, mas não deixo transparecer, infelizmente entramos em guerra contra Kahabe. — Ele desceu do navio com Filipe e foram resgatar os soldados sozinhos...Levanto-me da cadeira chocado com tamanha incompetência de Haian.— ESTÁ EXPLICADO, GENERAL! A CULPA É SUA! VOCÊ SABIA O QUE TINHA DE FAZER E SIMPLESMENTE O DEIXOU IR SOZINHO? — Questiono alterado, com lágrimas tristes escorrendo pelo meu rosto.— Ma-majestade, ele não me ouvia! — exclamou ap
DIAS ATUAIS... REI WILLIAN: — Por que tinha de ser tão teimoso, meu filho? — estou lamentando sob a pintura do meu filho, em minhas mãos.Na pintura ele está sorrindo... um sorriso natural de livre e espontânea vontade, não um sorriso debochado o qual ele sorria na maioria do tempo. Ele está correndo em Rajão pelos jardins do castelo. Esta pintura foi tirada pelo pintor Juan Carlos, o melhor pintor de Marlenout, o melhor por que ele tem memória fotográfica e suas pinturas podem ser facilmente confundidas com uma imagem real. E agora Trento limitou-se à lembranças nem tão boas, não nos comunicávamos com muita frequência, fui muito duro com ele.Deposito o quadro de Trento em seu lugar e me encaminho até os aposentos da minha rainha, ela está desolada e não quer falar comigo, já se passaram dois dias desde que recebemos a notícia de que nosso amado filho morreu e ela ainda não
TRENTO: — Não quero nem estar presente! partirei para Óvlis hoje ainda! — Filipe comenta visivelmente amedrontado quando já estamos quase chagando nas areias de Marlenout.Alguns dias depois que o navio de Marlenout zarpou levando a notícia de nossa morte, nós zarpamos no navio do nosso grupo secreto, o navio Negro, que nos deixou com uma bússola em um barco há algumas horas das margens de Marlenout.Eu me arrependi! não vou negar que me pareceu muito atraente a ideia de ver meu pai se culpando pela minha morte, contudo... e a minha mãe? E todo o povo de Marlenout? o que pensariam de mim quando soubessem que tudo não passou de mais uma brincadeira do príncipe Trento? e o mais preocupante de todos... e se meu pai atacar Kahab