Certo dia, há alguns anos passados no meio do esplêndido verde da nossa pujante natureza, nasceu um sabiá (sabiam que o Brasil é a terra deles?), mais precisamente em Mato Grosso do Sul. Pois bem, esse passarinho, assim que abriu os olhos, desgrudou as peninhas da asa de seu pequenino corpo, tentou voar e... caiu. Tentou de novo, tornou a cair. Mais uma vez quis voar e nada. Então, levantando-se... (“A maior gloria não é ficar de pé, mas levantar-se cada vez que cair.”), olhou para a mãe e quis saber por que não conseguia voar?
Mamãe sabiá – de peito inchado - olhando com orgulho e ternura para seu pequeno rebento, diz:
- Meu filho, calma, ainda não é o momento de você voar. Você tem uma sábia missão, sabia? Mas primeiro aprenderá a voar.
E o recém-nascido sabiá, curioso – como toda criança sabida – quis logo saber de que se tratava.
- Ah, é? E o que é que eu vou fazer, mãezinha?
Ao que a sábia mamãe sabiá respondeu.
- Você vai viajar, isto é, voar, numa linda manhã de primavera, seguindo os Raios do Sol, em direção à nascente desse astro luz, a um lugar onde você cumprirá a sua primeira missão.
- E qual é o meu destino, mãe? Intrigado, inquiriu o belo e inquieto pássaro, já todo feliz...
- Ah, meu sábio filho sabiá, você vai viajar para um lugar que não existe...
- O quê? Um lugar que não existe!? Mas se não existe, como vou para lá? Como??? Você tá viajando, mamãe! Comeu muita minhoca hoje, mãe?!
Mãe sabiá, com toda a paciência desta vida, como toda mãe sábia, respondeu:
- Não, meu filhinho. Primeiro, eu não como mais minhocas, agora só me alimento de mamão, banana e amora, o mesmo que dou para você. Em segundo lugar, calma, esse lugar existe, sim. É só uma forma metafórica de te esclarecer que ele não existe aqui na Terra, mas existe sim, num outro plano, num outro espaço, numa outra dimensão.
Espantada, a avezinha cujo belíssimo ventre de coloração vermelho-amarronzado, mais uma vez protesta:
- Meta o quê? Nunca ouvi essa palavra, mamãe!
- Metafórica de metáfora. É simples, bem simples: esse lugar existe na imaginação dos poetas, dos artistas da palavra, dos sonhadores; é como Pasárgada, a terra de Bandeira – a pátria de todos os poetas, dos românticos, dos sonhadores, daqueles que amam e são amados... dos que “são amigos do rei!”; trata-se do País das Maravilhas de Alice e de seu amigo Chapeleiro Maluco, onde “a única forma de se chegar ao impossível é acreditar que é possível...”, pois lá neste País das Maravilhas “se você acha que está enlouquecendo, ficando maluco, pirado, ou que perdeu um parafuso, o segredo é que as melhores pessoas são essas como você!”
Esse lugar, meu pequerrucho, também é como o Planeta do Pequeno Príncipe, mas sem os baobás (é preciso arrancar os baobás, antes de ter qualquer vontade de ir viver lá.), entende? Acolá é onde “o essencial é invisível para os olhos, só se vê bem com o coração.!
Ele é também parecido com a Casa-que-Brilha do Menino do dedo verde – Tistu e de sua feliz família. Lá, filhinho, aprende-se que “Todas as pessoas grandes foram um dia crianças.”; e lá é onde se aprende – com o Menino do Dedo Verde – “que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. Também que para a gente sarar é preciso vontade de viver. Por isso, deveriam existir pílulas para a esperança!”
- Entendeu, meu passarinho lindo?
- Nossa! Mãe! Como a senhora fala bonito e de coisas estranhas, mas agora é que não entendi nadica de nada mesmo. Puxa vida, a senhora bagunçou tudo na minha cabeça: passar gado? Bandeira? E quem é esse chapeleiro maluco, amigo da Alice? Quem é Alice? E que Planeta é esse do pequeno príncipe, baobás, casa que brilha, menino do dedo verde? Credo, mãezinha! Tô perdido igual quando tentei voar...
Mais uma vez, a sábia sabiá exerceu seus dons de paciência e acalmou seu filhote:
- Esquece o que falei, filhinho. Com o tempo, com muita leitura e o seu crescimento, você descobrirá o valor disso tudo. Vamos ao que importa para você realizar sua tarefa.
- Ah é! Então, mãe, o que vou fazer? indagou a curiosa e linda avezinha.
- Sábio filho, você vai a esse lugar que não existe para “trinar” todos os dias para os poetas, em especial para um poeta, filhinho. Ele tem um encanto especial por todos Nós – os Sabiás! É fascinado por nossa espécie como poucos humanos são. Todos os anos, ele compõe poemas para nós. E é seu maior sonho, pequeno sabiá: viver um grande amor. Por isso e para isso você estará lá – em todos os dias de sua juventude, para ajudá-lo a realizar esse propósito, trinando para ele, diariamente, nas primaveras de sua vida...
- Sabe, lá – no lugar que não existe – há centenas de laranjeiras, milhares, e cada uma mais bela que a outra, frondosas, cheinhas de flores e folhas multicoloridas, e você, filhinho – como todo sabiá-laranjeira – em todas as manhãs, bem cedinho, e à tardinha, vai pousar bem no alto, no mais alto que puder de uma laranjeira e lá vai gorjear...sim, gorjeie, pequeno sabiá, com toda a força de seu pulmãozinho... você vai perceber que é como se todas as flores e folhas da laranjeira estivessem cantando com você! Vai ser um espetáculo, meu pequeno sabiá! Você vai ser confundido – por causa da cor de seu peito – com as folhas e flores da laranjeira e estas – ao balanço leve de seus galhos pelo suave vento primaveril – farão com que tudo se pareça com um arco-íris musical em movimento... e balançando... balançando e você também vai balançar sem voar ...
- Nossa! Mãezinha, que coisa mais linda! Você parece um poeta! Bem que poderia trinar uma poesia assim, hem! Vem comigo, vem?!
- Não, pequeno sabiá, essa é a missão da sua vida, somente você pode realizá-la. Ninguém mais. E sozinho.
- Puxa vida, mãe, exclamou, agora admirado, o cada vez mais feliz passarinho. Vou trinar para um Poeta no alto de uma florida e estupenda laranjeira! E, melhor ainda, é que é para ele encontrar um grande amor. Que bom! Então vou gorjear com todas as forças, mamãe! Assim quem sabe ele compõe um poema só para mim, já que ele também me ama, não é verdade?
- Isso mesmo, filhinho. Quem sabe ele faz isso. Assim que se fala. Você é um sábio sabiá, por essa razão a Divindade e o Universo lhe deram essa sábia missão. Gorjeie, gorjeie, pois, com a maior força, beleza e alegria que você puder: trata-se de uma missão Especial. E o seu canto tem que ser o mais belo de todos! O mais alegre! O mais feliz! De todos os sabiás e de todos os pássaros, viu? Por isso você foi o escolhido.
Então, numa radiante e ensolarada manhã de primavera, num dos mais esplendorosos dias que já amanheceu neste Planeta, o sábio passarinho, já “dono de seu bico”, pois voava para toda parte e a grandes alturas, recebeu um trinado sim de sua mãe e se preparou alegremente para a abençoada e longa jornada que a vida lhe reservara.
Naquele mesmo dia, quando o Sol – esplêndido – surgiu lá no Nascente, e seus raios se dirigiram àquele misterioso, instigante e místico lugar que não existe, o Belíssimo Sabiá voou em direção a esses fulgurantes raios, e tal qual uma folhinha que cai nas correntezas de enorme cachoeira, deixou-se levar – como num escorregador de crianças... planando – sem peso algum – por um raio de luz daquele sol deslumbrante – até avistar, lá do alto, no meio daquela fulgurante Luz – Pasárgada –, o lugar que não existe – onde cumpriria sua nobre, feliz e alegre tarefa por toda a juventude: “cantar louvores”, diariamente, na Primavera, em exaltação a um Poeta, à Poesia e ao Amor...!
E assim, esse maravilhoso pássaro – Ave símbolo do Brasil – gorjeia todos os dias – nesse lugar que não existe – ao amanhecer, à hora do almoço, à noitinha; ora gorjeia na multicolorida laranjeira, ora no alto de um belíssimo Ipê Amarelo, e às vezes – tem-se a nítida impressão – trina incansavelmente, melodiosamente, ali pertinho, quem sabe no parapeito da janela do quarto em que sonha e dorme, dorme e sonha com um Grande Amor, o Poeta dos Sabiás.
E as pessoas, os vizinhos, fascinados com tão mavioso trinado, ficam intrigados e curiosos e querem saber por que esse pássaro tão lindo, um dos mais lindos de nossa Pátria, quiçá de todo o Planeta, gosta tanto de cantar perto da casa daquele Poeta...
São João Del Rei, 14 de setembro de 2019
Quando eu era guri, em Campo Grande / MS, meu útero pátrio, eu queria ser matador de aluguel. Isso mesmo, gente: matador de aluguel! Não acreditam?! Verdade, sim, não se impressionem, nem se assustem, pois ao longo de minha caminhada nesta vida, até o presente, só matei insetos (baratas, ratos, aranhas), atropelei um gatinho na Avenida Ernesto Geisel, na cidade Morena (ele atravessou que nem um raio à minha frente), matei uma seriema na BR 262 a caminho de Três Lagoas (corria muito nas estradas), matei algumas pacas na fazenda de meu avô materno, e... muitos passarinhos com estilingue, quando criança. Já pedi perdão e já me perdoei por isso! Sinto muito, Natureza! Sinto muito, Mãe Terra! Me perdoem! Matador de aluguel! Quanto charme nessa proposta! Quanto mist
Avistei, a alguns metros à minha frente, a enorme, instigante e chamativa faixa escrita com esse ambíguo sentido acima; nela havia mais algumas frases. Ela atravessava a rua, amarrada em postes dos dois lados, bem na frente de uma barbearia que estava sendo inaugurada ali no bairro. Parei o carro, desci, peguei do celular e, inicialmente, filmei; depois tirei algumas fotos da fachada da Barbearia bem como de outros ângulos da faixa, pois, como já escrevi, havia nela mais Fatos Linguísticos bastante úteis para eu trabalhar em minhas aulas de Língua Portuguesa no cursinho e nas aulas de concursos públicos. Era o ano de 2004. Estávamos no início de uma agradável Primavera, e eu, ali, naquele momento, aproveitava o tempo l
Em 2010, morava eu em Campo Grande / MS – meu útero pátrio – e lá trabalhava num dos melhores cursinhos preparatórios de vestibulares e para o Enem, quando a diretoria nos indicou, a mim e a alguns colegas para irmos a São Gabriel do Oeste que dista uns 140 quilômetros da cidade Morena – nossa capital – para dar Aula de Véspera.Essa era uma prática comum do Curso onde trabalhávamos e, duas vezes ao ano, viajávamos para cidades no entorno de Campo Grande para esse trabalho, que era extremamente prazeroso!Pois bem, não lembro por que exatamente, mas sei que não viajei com meus colegas e acabei indo sozinho numa sexta-feira à tarde.A estrada que liga Campo Grande a São Gabriel do Oeste – * BR 163 – é esplêndida: um imenso e infinito platô, povoado de savanas de ambos os lados, entremeada por extensa
Eu amo música. Ouço o dia todo, todo dia. Ela preenche meu Espírito e me leva a viajar e, nesse percurso repleto de emoção, me inspiro e como o ar que respiro, eu burilo a palavra – este ente abstrato e repleto de nuances que exerce um poder tão forte em mim que, diariamente, soa e ressoa em meu coração como uma doce melodia que repete, repete e, repetindo-se em relances sem parar, aquilo tudo se transforma em poesia... Recentemente, assistindo ao vídeo de Toby Keith e Clint Eastwood, na instigante música – Don’t let the old man in – “Não deixe o velho entrar”, comecei a refletir sobre a mensagem contida naquela canção, daí por que nasceu em mim esta inspiração a cada respirar...&nbs
A garotinha parecia um anjo. Cabelos loirinhos cacheados, de tão claros que eram, lembravam aqueles anjinhos barrocos dourados... linda! Extremamente charmosa, tinha um sorriso encantador estacionado para sempre em seu rosto em cujas bochechas se viam sardas e mais sardas. Ela se deixava balançar no gostoso balanço, ao sabor do vento como se, na cauda de uma águia, nas nuvens estivesse. Enquanto isso, o menino - que de longe, ali no parque a observava extasiado – não despregava os olhos e os sentidos daquele anjo de candura. E ficou assim talvez uma hora, quem sabe umas quatro, porque a menina não saiu daquele balanço a tarde toda. Inda mais quando ela percebeu estar sendo apreciada e sendo objeto de admiração. Daí despertou em seu âmago – ainda que fosse uma criança – a essência da natureza feminina: a arte d
Olhar fixo, orelhas em pé na posição de escuta, cabeça imóvel e cauda reta. Assim permanecia o belíssimo Perdigueiro no meio das savanas que se espraiavam pela extensa planície. Alerta, mantinha-se estático quando seu extraordinário olfato captou o cheiro da caça trazido pelo vento sul e lhe aguçou os sentidos, deixando seus pelos eriçados! Essa reação só veio atestar a fama desse cão ser um caçador nato, o que faz parte da cultura, da história, do folclore e da arte de nossa gente. Então, de repente houve a revoada e duas enormes perdizes saíram num voo desembestado em diagonal ao céu e na mesma direção! Nesse momento, o caçador – um senhor alto, esbelto, vestido a caráter &n
Seus passos eram macios e leves como os de uma pantera, tal a suavidade com que tocava o chão da calçada, enquanto suas ancas ondulavam ora à direita ora à esquerda e naquele balanço sensual e instigante, suas nádegas dançavam de um lado para o outro, realçando as sensuais e bem-feitas formas sob um colante vestido de linho branco, extremamente elegante, o que mostrava mais ainda a exuberância de suas sensacionais e estonteantes curvas. Era uma bela mulher! Morena, olhos castanhos claros, olhar que enxergava longe, a tudo observando, ao mesmo tempo em que a tudo parecia alheia, dada sua altaneira indiferença ao lugar, às pessoas e às coisas por onde caminhava – seu nariz estava sempre empinado. Tinha altura média (talvez uns 1,70 metros), cabelos negros e ondulados, que, ao toque da suave brisa vespertina de um outono me
Como se fosse uma tela de Monet... A senhora, sentada confortavelmente na ponta do imenso sofá, segura em seu colo o netinho caçula, largo sorriso de felicidade estampado no rosto, rodeada por uma dezena de outros netos – meninos e meninas – dos 4 aos 12 anos, amontoados à maneira típica das crianças sadias, todos sorrindo na mais pura alegria; os meninos, uns de bermudas, outros de calção; as meninas, umas de saia curta, outras de short, todos aprontam uma algazarra sem fim naquela gostosa e emblemática tarde de inverno mato-grossense. Tudo isso no aconch