Rui falava, mas de repente baixou a cabeça, fazendo com que sua parte superior do corpo saísse do quadro do vídeo, revelando a grande parede branca atrás dele.O que Rui não sabia era que, através da sombra da luz, ainda pude perceber seu corpo tremendo e os rápidos movimentos que fazia ao tentar enxugar os cantos dos olhos.— Rui... — Estou aqui! — Ele logo se endireitou e me deu um sorriso, com os olhos vermelhos e a voz embargada. — Quando atendi seu telefone, fiquei realmente muito feliz. Eu até queria te dizer que meu pai e meu irmão estão mais tranquilos agora, que não vão mais interferir no meu casamento, não têm mais poder para isso. Eu queria te dizer que agora sou capaz de tomar minhas próprias decisões sobre minha vida amorosa.Ele sorriu de forma desconfortável. — Agora vejo que não era necessário, Ana, pode ficar tranquila, de agora em diante, eu sou a sua família. Não vou deixar o Bruno te machucar!Suspirei silenciosamente, claramente Rui havia interpretado mal a rel
Quando desci as escadas, todos na Mansão à Beira-mar pareciam ter percebido algo, e logo começaram a se colocar à minha frente. Elas buscavam desculpas tolas, até chegaram a me perguntar se eu queria preparar uma refeição para a Dayane, algo que ela gostasse, para levar até ela. Dayane não estava bem de saúde, e sempre tinha um nutricionista especializado que cuidava das suas refeições diárias. Ela nunca precisaria que eu cozinhasse para ela.Parei, fixando o olhar nas pessoas à minha frente.— O Bruno mandou vocês me restringirem?Elas trocaram olhares, em silêncio, e no fim, não disseram mais nada.Eu franzi o cenho, fechei a expressão e, rapidamente, passei entre elas, fazendo meu caminho até o jardim. Luz já estava me esperando lá.— Vamos para o hospital! — Assim que entrei no carro, ouvi Luz dizer.Meu coração apertou. Hospital não é um lugar que inspire boas notícias. Sempre que alguém menciona um hospital, é porque algo grave está para acontecer. Além disso, Luz tinha falado
Tudo estava como Luz havia dito. Fora do quarto de Gisele, de fato, estavam algumas pessoas. Vários seguranças de preto, altos e musculosos, bloqueavam o estreito corredor, o que fazia com que até a luz ficasse mais fraca. De vez em quando, o som de soluços vindos do interior do quarto se destacava, se tornando ainda mais assustador. Mesmo sendo o meio-dia, quando o sol deveria brilhar com força, havia uma sensação de frio inexplicável.— Veja, veja! Eu não estava errada, estava? — Luz estava atrás de mim, batendo o pé impacientemente. Ela parecia nervosa. — Vamos, vamos, vamos entrar e ver o que está acontecendo!...Eu me virei para analisar sua expressão. Se antes ela parecia um pouco preocupada, agora exibia um leve sorriso de quem estava visivelmente animada.— Eu realmente duvido que tenha me chamado aqui porque estivesse preocupada. Acho que você me trouxe só para assistir ao espetáculo, não para me pedir ajuda... — Comentei.Luz riu.— Nada disso! Eu também estou preocupada. —
Bruno se aproximou e parou atrás de mim, trazendo consigo um pouco de luz e calor. Ele envolveu minha cintura com suas mãos, e o cheiro suave do sol, que parecia aquecer o ambiente, me deixou inquieta. De uma forma inexplicável, eu estava gelada, e meu corpo não conseguia conter os leves tremores.Enquanto Gisele me observava, seus olhos cheios de dor e desespero, Bruno inclinou suavemente o queixo sobre meu ombro e sussurrou em meu ouvido:— Desculpe, por todo o sofrimento que te causei.Gisele gritou, o som agudo e desesperado cortando o silêncio:— Irmão, irmão, me abraça, por favor! Eu não tenho mais pernas, não consigo andar! Só vou poder viver se você me carregar, senão... Senão eu vou morrer!Bruno virou a cabeça, e com uma frieza intransigente, respondeu a Gisele, sua voz cortante como uma lâmina:— Então morra.As palavras não eram dirigidas a mim, mas, ao ouvi-las, meu corpo não pôde evitar um tremor. Em um instante, parecia que o mundo ao redor havia parado. Eu estava prof
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.Eu estava muito nervosa.Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”Errei a senha várias
O celular de Bruno estava sobre o armário de relógios, preso entre duas caixas de relógio. A mão dele estava apoiada na superfície do armário, enquanto a outra se movia rapidamente abaixo dele.No chão, não muito longe dele, estava a toalha cinza que ele havia chutado. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido, não era difícil adivinhar o que ele estava fazendo.Sons de intimidade logo preencheram o closet, carregados de sensualidade.Meus dedos dos pés se cravaram no chão de madeira, e uma sensação de frio percorreu meu corpo. Meu corpo inteiro ficou paralisado como se eu estivesse enfeitiçada.Ele logo pegou algumas folhas de papel toalha. Achei que ele tinha terminado, mas, para minha surpresa, ele começou tudo de novo.Só agora a dor real tomou conta de mim. Cada movimento do braço dele parecia cortar meu coração profundamente.Algumas fotos de Gisele eram suficientes para tirar meu marido da nossa cama. Ele preferia resolver suas necessidades sozinho, olhando suas fotos
Eu costumava gostar de assistir a novelas com enredos exagerados e, por isso, entendia bem quais tipos de mulheres podiam causar grande impacto nos homens. Algumas mulheres, quanto mais os homens não conseguiam ter elas, mais as desejavam.Os dois estavam destinados a não ficar juntos por razões mundanas; a família Henriques era um clã de grande prestígio e, mesmo que não tivessem laços de sangue, não ousariam desonrar o nome da família.Se Bruno realmente gostasse de Gisele, provavelmente acharia até o excremento dela cheiroso. Como eu poderia competir com ela?A cirurgia prosseguiu em silêncio e sem problemas. Após sair, sentei-me no segundo andar, aguardando ser chamada para pegar os remédios.O cheiro do desinfetante do hospital parecia limpar minha mente, e então, completamente lúcida, mandei uma mensagem para Bruno."Se você tivesse que escolher entre mim e Gisele, quem você escolheria?"Se ele dissesse que escolheria Gisele, eu recuaria e desejaria a felicidade deles.Eu sabia