3. Capítulo

**Anya**

Ele disse, sem entrar em detalhes. Percebi que ele não queria que os outros ouvissem a conversa. Ergui as minhas sobrancelhas com curiosidade e estranheza.

— Sério? Eu nem posso imaginar o que seria, mas é um prazer te conhecer, Stefano. Agradeço verdadeiramente a sua ajuda.

— O prazer é meu! Você, não tem o que me agradecer. Isso é o mínimo que uma pessoa decente faria ao presenciar uma agressão como a que você estava sofrendo. — Ele suspirou afastando-se um pouco e passando as mãos pelo seu cabelo. — Olhe me desculpe, mas não pude deixar de ouvir sua conversa pelo telefone. Se você quiser, eu posso levá-la para casa, e se me permitir alguns minutos poderíamos conversar sobre o assunto que me trouxe aqui.

Nikolas, indignado por ter sido deixado de lado, interveio.

— Não, ela vai comigo para casa, não com um estranho. — Eu prefiro ir a pé até o Japão do que estar no mesmo ambiente que vocês dois.

Eu respondi, olhando para ele e Rina.

— Você conhece esse homem, prima? Vocês parecem íntimos, Anya.

Disse Rina constatando algo como se fosse o óbvio.

Revirei os olhos, resignada com atitude dela que se recusa a entender não é mais minha amiga ou família, e por tanto não temos intimidade para ela interferir na minha vida.

— Não é da sua conta, não me chame pelo nome! Na verdade, faça-me um favor e esqueça da minha existência.

A hipocrisia dela me deixa indignada, como ela pode acreditar que seremos amigas depois foder com meu noivo debaixo do meu nariz?

Em um ataque de raiva, Nikolas levantou, afastando Rina dele, e veio para cima de mim novamente, mas mais uma vez, Stefano me defendeu.

— Você não vai machucá-la. — Ele disse autoritário e firme. — Não se aproxime dela outra vez.

Mais uma vez, ele interferiu e me salvou para o meu alívio.

— Qual a sua resposta, Anya? Posso te chamar assim?

— Claro, pode me chamar de Anya, senhor Bianchi.

— Stefano! Me chame pelo meu primeiro nome. Você aceita o meu convite?

— Eu adoraria.

Como eu poderia recusar conversar com ele depois de me ajudar sem que isso fosse sua obrigação?

Ele nem é daqui, não me conhece, e mesmo assim me protegeu.

Diferente de muitas pessoas que presenciaram a briga e viram Nikolas me machucando e ficaram só olhando. São pessoas que me conhecem a vida inteira, que me viram crescer.

Eu concordei com ele e o acompanhei de volta para a lanchonete.

Ainda podia ouvir Nikolas me chamando aos gritos, dizendo que isso não ficaria assim, mas não nos importamos.

Stefano abriu a porta de entrada e fez um movimento com sua mão para que eu passasse à frente e entrasse no local.

— Você, vai querer algo?

Ele perguntou educado. Eu suspirei e respondi.

— Eu gostaria de um copo de água, por favor.

A menina que trabalhava lá sorriu e concordou.

— Eu quero um café e, além da água, poderia trazer um suco!

Ele me olhou em uma pergunta muda.

— Sim, pode ser suco de maracujá, obrigada!

Ela saiu e depois de alguns minutos, voltou com os pedidos.

Ele ficou calado, esperando; acho que queria evitar ser interrompido ou ter pessoas bisbilhotando.

— Bem, Anya, como eu disse, sou advogado e estou aqui em nome de um cliente. — Eu olhei para ele curiosa, pois não estava entendendo o que eu tinha a ver com isso. Eu não conheço ele e provavelmente não conheço seu cliente, já que nunca sair desse fim de mundo que todos chamam de cidade! —Eu redigi seu testamento e sua presença é indispensável para que ele seja lido...

— Espera, Stefano, eu não estou entendendo nada! Eu não conheço seu cliente, então por que minha presença seria imprescindível?

Ele suspirou e pareceu refletir antes de me dar a notícia.

— Sim, você não o conhece, mas ele te conhece. Estou aqui em nome do seu pai! Anya, ele fez um testamento e deixou algumas coisas a serem esclarecidas, pediu a presença de suas filhas.

— Espera, filhas? Aquele velho lembrou que tem uma filha depois de dezoito anos? — O meu tom de voz é seca e áspera, declarei batendo na mesa. — Não quero saber. Não tenho intenção de fazer nada que ele queira, não depois de ter me rejeitado antes mesmo do meu nascimento.

Aquele velho machista queria tanto um filho e, quando descobriu que era uma filha, me abandonou.

Ele suspirou com pesar, segurou a minha mão e olho diretamente em meus olhos.

— Eu conheço a história, Anya, e sinto por você. — Ele aperta aminha mão e eu não consigo desviar o meu olhar. — Olha, tanto você como suas irmãs são suas herdeiras.

Ele disse, mas eu não queria escutar.

— Já disse que não quero nada dele! Ele não é meu pai, e não preciso de mais um irmão ou irmã. O que tenho já é suficiente.

Não preciso de mais pessoas para me odiar, já tenho o meu irmão para isso eu pensei. Ele me olhou com compreensão e disse.

— Vamos fazer assim. Eu vou ficar por aqui durante um tempo. Então, se mudar de ideia, pode me procurar. Este é o meu número. — ele me entregou um cartão. — Olha só Anya, reflita sobre isso! É uma herança muito grande.

Eu não quero saber sobre isso, nem pensar nesse assunto.

Já tenho o suficiente para viver e não preciso do dinheiro desse homem repugnante.

Já me basta ter o sangue dele que corre em minhas veias. E isso eu não posso mudar, mas posso não ter mais nada daquele homem.

— Não vou mudar de ideia! Obrigada por me ajudar, mas acho que não nos veremos mais.

Eu falei isso, mas peguei o seu cartão antes de sair de lá. Corro sem direção sentido uma dor em meio peito que parece sufoca-me.

Já tinha se passado algum tempo após a confusão com Nikolas, e a descoberta inesperada que Stefano trouxe.

Andei sozinha pela praça para me calmar e também pensar. Mas agora eu percebi que não como voltar para casa.

A fazenda é longe da cidade e localizada em região erma, as pessoas não gostam de frequentar aquele lugar, principalmente tarde da noite.

Olhei em volta em busca de alguém conhecido para pedir carona, mas não encontrei ninguém com quem eu tivesse intimidade para tal.

Meu peito doía pelas revelações recentes e eu estava tão nervosa e chateada que mal enxergava o caminho à minha frente.

A imoralidade da situação me deixava perplexa. Meu pai biológico havia me rejeitado antes mesmo do meu nascimento por ser mulher.

Chamá-lo de machista, hipócrita e canalha é pouco comparado ao que ele merece.

Agora eu descobri que ele se lembrou de mim, a morte dele trouxe à tona a sua tentativa de me deixar algo, talvez para aliviar sua consciência ou evitar um julgamento pós-morte.

Mas isso importa? Para mim não, que ele apodreça no inferno. Eu não vou aceitar nada dele ou perdoá-lo.

Caminho sem rumo, saindo da cidade em direção à zona rural, seria uma caminhada longa, na verdade eu teria alguns quilômetros à frente até chegar em casa.

É claro que eu poderia ligar para meu padrasto, mas não quero lidar com a minha família agora, não estou pronta para a discussão que sei que está por vir.

Absorta e perdida em meus pensamentos, sigo pela estrada sem prestar atenção nos veículos ou no perigo a minha volta.

As buzinas ao longe me alertam de que estou no caminho dos carros. Mas nem isso me tira do torpor que me encontro.

Sinto um pingo de água em meu rosto e olho para o céu, que está nublado.

Em breve, a chuva começará a cair com intensidade. É hoje realmente não é o meu dia suspiro com a esperança que o tempo volte ficar firme.

Não demorou muito para isso acontecer e a chuva se intensificar sem trégua, realmente não é um bom dia, pensei com um suspiro.

Dei um passo em falso e a minha sandália quebra, com raiva eu arranco ele dos meus pés e as jogo no acostamento.

Mesmo assim, continuei a caminhar descalça, o. aguaceiro aumentando sem piedade, mas comparado a tudo o que descobri há poucas horas, isso não é realmente um problema.

Deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, misturando-se com as gotas de chuva.

Sinto a falta do meu padrasto, mas não quero levar mais problemas para ele. Como a minha diz, eu só trago dores de cabeça para ele.

E essa constatação aumenta a tristeza que me atinge.

Ao chegar em casa, sei que encontrarei a frieza da minha mãe, que provavelmente já estará a par do acontecido entre Nikolas e Stefano, e possivelmente me culpará por tudo, como sempre.

Fecho os meus levantando o meu rosto deixo a chuva lavar as minhas lágrimas.

Não sei quanto tempo passe nessa posição, quando sinto um toque em meu braço, um frio súbito e um arrepio percorrem minha espinha.

Olhei para trás e vi Stefano ao meu lado, segurando meus ombros.

— O que você está fazendo? Perguntei, surpresa por sua presença, assim como eu, ele estava encharcado.

Olho em seus olhos e agora que estamos frente a frente e tão perto, sem o perigo de uma briga, percebo que ele é poucos anos mais velho que meu padrasto, talvez uns trinta ou quarenta anos.

Ele me puxou para mais perto do acostamento e tirou sua jaqueta, colocando-a em meus ombros.

— Eu te segui! — Ergo as minhas sobrancelhas para essa informação. — Não fique chateada, eu fiquei preocupado com a forma como você reagiu à notícia. Quando você foi para aquela praça, eu fiquei observando de longe. — Ele suspira com suas mãos ainda em meus ombros. — Além disso, escutei sua ligação com sua mãe e sabia que você não tinha como ir para casa.

Fiquei abismada, ninguém se preocupa com meu estado emocional, além do meu padrasto, é claro.

— Por que?

Perguntei, sem entender suas ações. Ele não me conhece, então por que o meu bem estar é imponente?

— Você ficou mal com a situação. Fiquei com a consciência pesada por ter sido eu a trazer essa notícia. Acho que não falei com você da forma correta e peço desculpas por isso. Além do mais eu prometi que cuidaria de vocês três.

Três? É tão estranho pensar que tenho duas irmãs, e como a vida é estranha, ele quis tanto um filho e a vida lhe deu três filhas.

Olho para ele que estava me pedindo desculpas por algo que não fez.

Stefano não fez nada de errado; ele veio cumprir o seu trabalho e o fez da forma mais delicada e profissional possível.

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