Coração indomável
Coração indomável
Por: Cristal
1. Capítulo

**Anya**

Olho pela janela da lanchonete, suspiro enquanto observo a monotonia da cidade.

Sunset Valley é uma cidade do interior do Texas, como muitas é um lugar e pacata, onde todos se conhecem.

É o tipo de lugar onde as pessoas se cumprimentam na rua, as crianças brincam nas praças e as famílias se reúnem para eventos comunitários.

A cidade tem um charme acolhedor, com ruas arborizadas, casas antigas e uma praça central que é o coração da comunidade.

Mas apesar de todas essas qualidades Sunset Valley, é um inferno para pessoas introspectivas, todos sabem de tudo e falam sobre tudo.

Não existe segredos, a nossa vida é um livro aberto e isso já me incomodava quando a minha vida não era o alvo das fofocas, mas o incômodo passou a ser infernal.

Onde passo eu posso ouvir os sussurros sobre a minha triste desilusão.

Ele a trocou pela prima, ouvir dizer que ela é uma megera, Nikolas livrou-se de um destino terrível ao lado dela, não resta dúvidas que Rina é a melhor escolha, uma menina doce, educada, não existe nem comparação com essa harpia.

Ou mesmo algo do tipo ela é igual a mãe dela, como poderiam deixar de fazer a comparação, quando ela engravidou de um homem rico por interesses.

Só que eles esquecem ao falar sobre isso, que apesar de todos os meus erros eu nunca recebi um centavo dele, e trabalho naquela fazenda desde que me entendo por gente.

E mesmo essa tenha sido a sua intenção inicial, o tiro saiu pela culatra. Já que nem mesmo o seu sobrenome ele me deu.

Suspiro ao pensar nela, a minha mãe, responsável por essa viagem por mim eu estaria na fazenda lendo um livro ou ajudando o meu padrasto em alguma coisa, mas ela insistiu que teríamos que fazer compras e eu teria que ajudá-la, só que para a surpresa se ninguém ela me abandonou aqui e foi atrás de um dos seus amigos, como sempre.

No entanto ri com desgosto olhando as paredes coloridas da lanchonete, eu não poderia falar nada, não, quando para todos eu sou sempre a errada.

Não é que ela seja má ou me trate de forma abusiva e violenta, ela simplesmente não se importa.

Ela nunca me quis, na verdade; fui apenas um erro de uma noite que ela teve que carregar.

Quando minha mãe soube da gravidez, ficou feliz inicialmente, pois meu pai biológico é um homem rico, e ela tinha planos de ficar com a fortuna dele.

No entanto, seu golpe deu errado, ele queria um filho homem e, ao descobrir que seria uma menina, me rejeitou e se recusou até mesmo a me registrar.

Ele descartou a mim e a ela como lixo, não sei se parte da indiferença dela se deve a isso ou ela queria fazer o mesmo que ele descartar-me, mas não pode fazê-lo, não se ela ainda queria manter a sua pose de mulher honrada e bondosa.

Pelo menos hoje as pessoas já tem uma noção de que ela não é bem o que ela aparenta ser.

Ela até tentou lutar contra ele na justiça, mas na época, as leis e os costumes eram diferentes, e ele, como um homem de poder, não tinha muitas obrigações.

Hoje, sei que poderia reivindicar o que é meu por direito, mas não quero e nem necessito de nada daquele homem.

Minha mãe fica chateada com isso, ela acredita que eu deveria fazer algo a respeito, buscar receber dinheiro dele, mesmo que isso signifique me humilhar diante de um homem que nunca me quis, e não se cansa de jogar na minha cara que gastou comigo sem receber nada em troca.

Sinto uma brisa suave, escuto o barulho da porta da lanchonete sendo aberta. E quando viro-me para olhar quem chegou, notei que as pessoas estavam observando e admirando a presença de um forasteiro.

Todos aqui nos conhecemos, então não é difícil saber quando alguém de fora da cidade, e como sempre essa pessoa vira o algo dos comentários e da fofocas.

Não pude conter a minha curiosidade e observei o homem que parecia ser mais velho, arregalo os meus olhos com surpresa, realmente ele é muito bonito, mais do que bonito na verdade, é uma beleza quase angelical.

Ele sentou-se á mesa perto da minha, em frente na verdade. Desvio o meu olhar para a cadeira em que minha jaqueta com medo dele perceber que eu o estava observando.

Pego o meu suco de laranja e bebo um pouco observando ele fazer o seu pedido, era mais forte do que eu e não podia deixar de olhá-lo, algo nele me atraía.

Ele é extremamente atraente e esse pensamento foi algo que me surpreendeu, já que eu não me sentia atraída por um homem há muito tempo.

Suspiro mordendo o meu lábio inferior e continuei analisando ele que vestia uma camisa azul de mangas compridas, calça jeans e uma jaqueta de couro.

Ele é alto, com peito largo e bem definido, braços fortes e uma presença marcante.

Seus cabelos são de um castanho claro, cuidadosamente penteados de forma a realçar seu rosto angular e suas feições bem definidas.

Seus olhos verdes são penetrantes e expressivos, capazes de transmitir sentimentos intenso, e gerar um frio em minha espinha mesmo não sendo o alvo de seu olhar.

Ele estava concentrado, escrevendo em um caderno de couro preto.

Tive que rir quando percebi que ele não estava prestando atenção em mim, o que eu agradeci aos céus já que eu estava praticamente devorando com o olhar.

E isso é vergonhoso, olho em volta com medo de alguém ter visto, mas eles assim como eu só tinha olhos para o estranho.

Passo as minhas mãos pelos meus cabelos escuros, longos e cacheados, o que ele pensaria sobre mim? Que sou uma tarada ou uma mulher desesperada por atenção.

Depois do lanche, peguei meu celular em minha bolsa, e liguei para minha mãe.

— Mãe, quando você vem me buscar? Estou em uma lanchonete perto do centro da cidade. E já faz horas que saiu, eu estou cansada e quero ir para casa.

— Filha, houve um problema na fazenda, Dimitri, precisou de mim e eu já voltei para casa, mas não se preocupe, Rina e Nikolas estão na cidade, falei com eles para lhe dar uma carona.

Meu padrasto, Dimitri Kalderash, é um homem maravilhoso que me assumiu e criou como filha, é um bom pai, e todo amor e carinho que recebi em maior parte veio dele.

— Peça para o Tavian, peça a ele para vi me buscar.

— O seu irmão está viajando! Por Deus, minha filha onde está com a cabeça para ter esquecido. Isso não importa a sua prima vai chegar para te buscar a qualquer momento.

Suspiro com pesar o meu irmão, Tavian, por outro lado, parece não gostar muito de mim.

Ele recebeu todo o amor de minha mãe e foi mimado em demasia. É claro ele é filho do homem que ela ama, e eu não.

Às vezes acho que ele se ressente do amor que nosso pai me dá.

Nikolas é meu ex-noivo e Rina minha prima, os dois estão juntos e vão casar em dois meses.

Minha mãe diz que eles só se apaixonaram e que ninguém tem culpa.

Mas acho que é apenas uma desculpa dela para proteger Rina, sua sobrinha, que ela ama como a uma filha.

— Nunca, prefiro ir a pé para casa, caminhar dois quilômetros nesse sol escaldante é uma benção se comparado a ter que respirar o mesmo ar que sua querida sobrinha e o seu maldito noivo! Eu andaria até a China a pé, mas não iria com eles.

O que ela tinha na cabeça, o que eu fiz de tanto mal para que nem minha mãe fique do meu lado.

Olhei para cima para não deixar minhas lágrimas caírem, eles não merecem. O que fiz de errado para os espíritos, para Deus, para não ter ninguém do meu lado.

— Não começa Anya, não seja difícil. Eles já devem estar a caminho. Já está na hora de você deixar de ser essa criança mimada e superar o passado.

Eu suspirei com raiva, ela fala como se tivesse sido ela a me mimar. Se não fosse meu pai, eu já teria ido embora há muito tempo.

— Vá sonhando, mãe, vá sonhando.

Desliguei o telefone antes que ela dissesse mais alguma coisa.

Paguei a conta e saí daquele lugar antes que o Nikolas e a sua noiva hipócrita aparecessem.

A cidade é pequena e não seria difícil para ele me localizar, fora que minha mãe provavelmente disse a ele onde estou.

Eu posso até mesmo ouvir a sua voz: Oh, Nikolas, o que eu fiz para ter uma filha assim! Você escapou por pouco, teria que suportá-la se tivesse se casado com ela. Você fez bem em deixá-la plantada no altar e agora tem ao seu lado uma mulher maravilhosa, Rina.

Ela é um doce, inteligente, sensível e sensata, ao contrário da minha filha. Você tirou a sorte grande.

Para o inferno os três, eu que não vou aqui parada enquanto eles me humilham dessa forma.

Caminho apressada e quando eu virava a esquina, alguém segurou meu braço com força fazendo-me gemer de dor pelo aperto.

Após o impacto inicial eu olho para a frente e encontrei os olhos castanhos do meu ex, viro o meu rosto e vejo que ele estava junto com a sua noiva.

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