— Eu espero que sim...— Mordi o lábio inferior, a insegurança ainda me corroendo por dentro. — Às vezes eu me sinto tão… inadequada perto dele, sabe? Como se nunca fosse o suficiente.
Isabella me encarou com seriedade.
— Olha, você precisa parar de se menosprezar assim. Você é incrível, Clara, e merece muito mais do que esse chefe rabugento te tratando mal. — Ela fez uma pausa, seus olhos brilhando com determinação. — Se ele não consegue enxergar o seu valor, o problema é dele, não seu.
Suas palavras me acalmaram um pouco. Ela sempre sabia o que dizer para me fazer sentir melhor.
— Obrigada, Isa. Eu realmente não sei o que faria sem você.
— Ah, você sabe que eu sempre estarei aqui pra você.— Ela me deu um abraço apertado. — Agora vá se trocar logo, antes que o Sr. Grinch volte e fique bravo por você estar demorando.
Ri da comparação, me sentindo um pouco mais leve.
— Certo, certo. Já estou indo.
Me dirigi ao banheiro, a camisa de Isabella em mãos. Talvez, com o apoio da minha amiga, eu conseguisse lidar melhor com as exigências do meu chefe dificílimo. Eu precisava acreditar que, um dia, ele veria o quão capaz eu era.
Ao sair do escritório, meu coração ainda batia acelerado depois de mais um dia enfrentando as críticas implacáveis do Sr. Calderón. Aquele homem conseguia abalar minha confiança como ninguém. Mas, dessa vez, eu estava decidida a não deixar que suas palavras me atingissem tanto.
Ao chegar no hospital, meu estresse imediatamente se transformou em preocupação. Meu irmão Pedro, com apenas 17 anos, estava lutando contra uma doença misteriosa. Os médicos ainda não haviam conseguido diagnosticar seu problema, e eu me sentia tão impotente diante dessa situação.
Depois de me identificar na recepção, aguardei ansiosa pela chegada do médico. Quando ele finalmente se aproximou, meu coração afundou ao ouvir suas palavras.
—Senhorita Martins? Preciso te informar que Pedro irá precisar de uma cirurgia.
Cirurgia? Meu Deus, não.
—Cirurgia? — Minha voz saiu trêmula, a angústia crescendo dentro de mim.
O médico assentiu, seu semblante grave.
— Para ser exato, um transplante. Ele está entrando na fila para transplante de coração.
Senti meu mundo desmoronar. Transplante de coração? Isso significava mais despesas, mais contas a pagar. Com as dívidas do hospital aumentando e a clínica de dermatologia da minha mãe à beira da falência, não sei como conseguiríamos arcar com esse novo imprevisto.
Lembrando do dia em que meu pai partiu, sua luta contra o câncer, toda a dor e o sofrimento envolvidos, meus olhos se encheram de lágrimas. Agora, Pedro também precisava enfrentar uma batalha tão árdua. Eu não sei se teria forças para passar por tudo isso novamente.
Respirei fundo, tentando me recompor. Não podia me deixar abalar, precisava ser forte, não só por mim, mas por minha família. Eles estavam contando comigo.
— Obrigada por me informar, doutor. O que precisamos fazer agora? — Perguntei, a voz embargada pela emoção.
Ele explicou os próximos passos, os procedimentos e os cuidados que teríamos que ter. Eu ouvia tudo atentamente, determinada a fazer o que fosse necessário para ajudar meu irmão.
Ao final da conversa, caminhei lentamente até o quarto de Pedro, meu coração pesado. Quando o vi deitado naquela cama de hospital, tão frágil, não pude conter as lágrimas. Acariciei seu rosto, rezando para que ele conseguisse superar essa luta.
— Nós vamos ficar bem, Pedro. Eu prometo que vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para te ajudar — Murmurei, minha voz embargada pela emoção. — Você é a minha força, meu irmãozinho. Não desista, por favor.
Não pude deixar de notar que Pedro não havia sequer tocado na comida do hospital. Ele sempre foi tão seletivo com a alimentação, nada daquele aspecto apetitoso.
—Ei, maninho, você já comeu alguma coisa?— Perguntei, me aproximando de sua cama.
Pedro sacudiu a cabeça, seus olhos cansados.
—Não, não consigo comer essa comida daqui. Não tem gosto bom.
Meu coração se apertou ao vê-lo tão desanimado. Sabia que a internação e a incerteza sobre seu diagnóstico estavam o desgastando emocionalmente.
Disfarçadamente, chequei o saldo da minha conta bancária no celular. Infelizmente, não tinha muito a oferecer no momento. As dívidas do hospital e as contas da clínica de mamãe estavam me deixando cada vez mais preocupada.
Mesmo assim, não podia deixá-lo sem se alimentar direito. Precisava fazer algo.
—Espera um pouco, Pedro. Já volto, tá bom?— Dei-lhe um beijo carinhoso na testa e saí do quarto, rumando em direção ao corredor.
Ao virar a esquina, acabei esbarrando em alguém.
—Oh, me desculpe, eu não...— Minhas palavras morreram quando encontrei um par de olhos negros me encarando.
O homem era extremamente alto e elegante, vestido impecavelmente em um terno escuro. Seus traços me lembram vagamente de alguém, mas não consegui identificar quem.
—Não, a culpa foi minha. Eu estava distraído.— Ele sorriu levemente, sua voz grave soando suave. —Espero não ter lhe causado nenhum incômodo.
—Ah, não, imagina! Eu que peço desculpas.— Senti minhas bochechas esquentarem, me repreendendo mentalmente por ter ficado tão atrapalhada.
Ele acenou com a cabeça em despedida e seguiu seu caminho. Fiquei ali parada por alguns instantes, observando sua imponente figura se afastar.
Sacudindo a cabeça, voltei a caminhar até a máquina de lanches. Peguei um pacote de salgadinhos de batatas, decidida a levar algo que Pedro pudesse comer com prazer.
Ao retornar ao quarto, encontrei-o contemplando uma enorme caixa de frango frito ao lado de sua cama.
—Olha só o que me trouxeram!— Ele exclamou, seus olhos finalmente brilhando. —Prefiro mil vezes isso do que a refeição do hospital.
Sorri, aliviada por vê-lo mais animado.
—Quem trouxe?
— Melhor comermos antes que uma enfermeira nós pegue — disse mudando de assunto.
—Então vamos dividir essa delícia.— Entreguei-lhe o pacote de salgadinhos. —Espero que isso também ajude a matar sua fome.
Pedro pegou o pacote, seus lábios se curvando em um sorriso sincero.
—Você é a melhor, irmã.
Sentei-me ao seu lado, observando-o degustar o frango frito com tanto prazer. Meu coração se encheu de gratidão por poder estar ali, cuidando dele. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentávamos, ver Pedro se sentindo melhor já era o suficiente para me fazer sentir mais leve.
Enquanto me dirigia ao restaurante Boucherie Union Square, meu estômago revirava de nervosismo. Essa reunião com o advogado da Triton Technologies poderia definir os rumos de toda a negociação.Adrien Moreau era conhecido por ser um negociador astuto e implacável. Especializado em fusões e aquisições, ele era extremamente leal ao dono da Triton, Leonardo, agindo como seus olhos e ouvidos em todas as transações.Ao chegar, avistei-o sentado em uma das mesas reservadas, sério e impassível como sempre. Tomei um fôlego profundo antes de me aproximar.— Uma ótima escolha para o restaurante — ele comentou assim que me viu.— Perfeito para uma reunião como a nossa — respondi, tentando manter a calma.Fomos guiados até a mesa e nos acomodamos. O garçom trouxe os cardápios e nos deixou a sós.— Bem, Sr. Moreau, agradeço por aceitar esse encontro — comecei, desejando que minha voz não denunciasse meu nervosismo.— Pelo contrário, Sr. Calderón, o prazer é meu — ele respondeu, seus olhos me estud
"Fala, Max. Como sabia que eu já havia terminado a reunião com o advogado da Triton?" Perguntei, curioso."Oras, Victor, eu te conheço bem o suficiente." Sua voz soou divertida do outro lado da linha. "E então, como foi? O Adrien Moreau é tão implacável quanto me disseram?"Suspirei, passando a mão pelos cabelos. "Você tinha razão, Max. A Triton é uma empresa bastante tradicional, assim como o seu dono, Leonardo Duval.""Eu te disse!" Ele exclamou. "E você sabe o que isso significa, não é?"Relutantemente, assenti, mesmo que ele não pudesse me ver. "Sim, eu sei. Você acha que eu preciso me casar para fechar esse negócio.""Exatamente!" Max respondeu. "Esses caras da Triton querem ver uma imagem de família, de estabilidade. Um CEO solteiro de quase 40 anos não vai convencê-los."Resmunguei, tentando não soar tão inconformado. "Eu sei, Max. Mas isso é muito arriscado. Não posso simplesmente arrumar uma noiva da noite pro dia.""Mais arriscado do que perder esse contrato?" Sua voz ficou
Eu não conseguia parar de me perguntar onde o Sr. Calderón estaria. Aquela era uma exposição tão importante para a Calderón Enterprises, e eu precisava que tudo saísse perfeito.Enquanto caminhava apressadamente pelo corredor do Smart City Expo World, senti o suor se acumulando em minhas axilas. Meu Deus, isso não podia estar acontecendo! Corri para o banheiro feminino, puxando alguns papéis e passando-os em meus braços, tentando diminuir o incômodo.— Vai dar tudo certo, Clara, vai dar tudo certo — murmurei para mim mesma, enquanto me olhava no espelho. Retoquei a maquiagem e ajeitei a blusa, tentando parecer o mais apresentável possível.Quando cheguei ao estande da empresa, suspirei aliviada ao ver que tudo estava montado e pronto, exatamente como havíamos planejado. Agradeci aos funcionários em nome do Sr. Calderón, esperando que ele chegasse a qualquer momento.Então, lá estava ele, parado no meio do estande, com sua expressão séria e distante. Meu coração disparou, e eu me aprox
— Claro, Sr. Calderón — respondi, tentando manter a calma. — O que posso fazer por você?Ele me conduziu até fora do estande, em direção à saída do centro de eventos. Seu semblante parecia mais relaxado do que o usual.— Quero lhe agradecer pelo excelente trabalho que você realizou hoje — ele disse, surpreendendo-me. — Sua competência e dedicação foram fundamentais para o sucesso da nossa apresentação.Senti minhas bochechas esquentarem com o elogio. Não estava acostumada a receber tamanho reconhecimento do meu chefe tão reservado.— Muito obrigada, senhor — respondi, tentando manter a compostura. — Fico feliz em saber que meu desempenho foi satisfatório.Ele assentiu, pensativo.— Na verdade, gostaria de convidá-lo para jantar comigo — ele continuou. — É a minha forma de agradecer pelo seu esforço.Mal pude acreditar no que estava ouvindo. Um convite para jantar, vindo do próprio Sr. Calderón? Meu estômago se agitou, e eu senti uma pontada de ansiedade.— Eu… Eu ficaria honrada, senh
Ao carregar Clara em meus braços, não pude deixar de notar o quanto ela parecia frágil e vulnerável naquele momento. Sua expressão envergonhada e as lágrimas que ainda brilhavam em seus olhos me fizeram sentir uma pontada de arrependimento por tê-la colocado naquela situação constrangedora.Entrei no consultório do meu dentista particular, que já nos aguardava. Quando chegamos, Clara deu dois leves tapinhas em meu ombro, emitindo um som suave com a garganta, como se me lembrasse que ainda a estava carregando.— Oh, desculpe-me — disse, colocando-a delicadamente no chão. Ela ajeitou a roupa, o rosto completamente corado como um pimentão.— Doutor, peço perdão por estarmos aqui a esta hora, mas é um caso urgente — expliquei, sentindo a necessidade de me justificar.— Não se preocupe, meu amigo — respondeu o dentista, com um sorriso tranquilizador. — Vamos atender a senhorita imediatamente.Ele então conduziu Clara para a sala de atendimento, e eu os acompanhei, determinado a garantir qu
Reerguer a clínica de sua família seria uma excelente oportunidade para estreitar os laços com Clara. Afinal, ela precisava de ajuda, e eu poderia oferecer muito mais do que apenas um simples emprego. Essa poderia ser a chance perfeita de me aproximar dela.Com um sorriso satisfeito, comecei a traçar meu próximo passo. Estava determinado a fazer com que essa noite não se perdesse em vão. Pelo contrário, ela poderia ser o início de algo muito maior do que apenas um jantar.Clara, minha secretária, talvez fosse a mulher que eu estava procurando para ser minha noiva por contrato. E eu não iria desistir até ter a certeza de que ela aceitaria a minha proposta.Naquela manhã, quando cheguei ao escritório, percebi que Clara ainda não havia chegado. Isso não era novidade, afinal ela sempre tendia a se atrasar, mesmo depois de todas as minhas repreensões.No entanto, levando em conta os eventos da noite anterior, decidi ser um pouco mais compreensivo. Aquele acidente no restaurante deve ter si
Confesso que a noite passada foi uma verdadeira loucura. Depois de sair do consultório do dentista com meu chefe, Sr. Calderón, eu mal tinha cabeça para qualquer outra coisa além de correr para a clínica da minha família.— Mãe, como está o Miguel? — perguntei, aflita, assim que cheguei.Ela me olhou com aquele olhar sereno que só as mães conseguem ter.— Querida, o médico não deixou você visitar porque ele precisa de repouso. Mas não se preocupe, ele está bem.Bem? Como poderia estar bem se nem sequer podia vê-lo? Meu coração apertava só de imaginar meu irmãozinho sozinho naquele leito de hospital.— Mas mãe, eu preciso vê-lo! Ele deve estar se sentindo tão mal... — insisti, a voz embargada pela preocupação.— Filha, fique tranquila. O médico disse que as visitas frequentes podem deixá-lo mais doente. A imunidade dele ainda está frágil — ela explicou, tentando me acalmar.Mesmo assim, não conseguia me convencer. Mal dormi pensando no Miguel. E hoje, quando finalmente consegui visitar
Quando finalmente Victor desligou a ligação, ele me encarou com aquele olhar sério.— E então, Clara, como está o seu dente? — ele perguntou.Respirei aliviada por ele não ter tocado no meu atraso e no incidente com a xícara.— Ah, está ótimo, senhor! Bem firme e colado — respondi, tentando sorrir. Mas, ao ver sua expressão impassível, senti meu rosto queimar de vergonha.— Fico feliz em ouvir isso — ele disse, em um tom calmo. — Mas, ainda assim, acho justo que eu pague o seu tratamento. Aquilo não deveria ter acontecido.Abri a boca para protestar, mas ele me interrompeu:— Por favor, não insista. Eu me sinto responsável e gostaria de arcar com os custos.Assenti, relutantemente. Meu coração dizia que não deveria ter aceitado, que era uma atitude generosa demais de sua parte. Mas minha mente sabia que não poderia recusar, dada a situação financeira delicada da minha família.— Muito obrigada, senhor. Eu... eu aprecio muito a sua compreensão — gaguejei, sentindo-me ainda mais constra