Mal tinha chegado ao escritório e já podia sentir o olhar penetrante do Sr. Calderón sobre mim. Eu odiava quando ele me encarava daquele jeito, como se pudesse ver direto na minha alma. Aqueles olhos negros pareciam perscrutar cada movimento meu, cada gesto.
Estava apenas copo de café da Starbucks para o senhor Calderón, havia me atrasado cinco minutos por conta de um maldito ciclista passou na minha frente e me fazendo derrubar todo o meu café em minha camiseta. Precisei correr para o banheiro assim que cheguei no prédio para tentar tirar a grande mancha da camisa, mas foi em vão.
Estendi o copo de café, a mão tremendo levemente.
— Desculpe o atraso, senhor. Tive um pequeno imprevisto no caminho.— Engoli em seco, rezando para que ele não notasse a mancha em minha blusa.
Ele pegou o copo, os lábios se contraindo em uma careta.
— Senhorita Martins, você sabe muito bem que odeio atrasos — A voz grave e autoritária ecoou pelo escritório silencioso.
Abaixei o olhar, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha.
— Sim, senhor. Não vai se repetir. — Caminhei a passos rápidos até minha mesa, tentando esconder a mancha com o blazer.
Enquanto ele tomava o café caminhei para a minha mesa, minha sorte foi que meu blazer cinza do conjunto com a saia não havia sido manchada de café, assim podia esconder o banho que levei de café, mas o cheiro estava forte demais, uma mistura de café com sabonete líquido de erva-doce.
Assim que me sentei, o Sr. Calderón voltou a me chamar.
— Martins, preciso que você atualize o cronograma das reuniões de hoje. Mandou tudo para o meu e-mail?
— Sim, senhor. Enviei todos os detalhes logo cedo.— Respondi prontamente, tentando manter a voz firme.
Ele deu um gole no café e fez uma careta.
— Céus, isso está frio. — Balançou a cabeça em desaprovação e saiu, deixando-me ali, o coração acelerado.
Aquele homem conseguia me deixar completamente desarmada com apenas algumas palavras. Sua frieza e exigência me faziam sentir tão pequena, tão insignificante. Por que eu sempre me sentia assim na presença dele?
Assim que o Sr. Calderón saiu, deixei escapar um longo suspiro. Meus ombros caíram e eu me senti completamente derrotada. Aquela sensação de inadequação sempre me acompanhava quando estava perto dele.
Olhei para a mancha de café em minha blusa e balancei a cabeça, frustrada comigo mesma. Por que sempre tinha que acontecer algo assim justo quando estava prestes a me encontrar com ele? Parecia que o universo conspirava contra mim.
Levantei-me e caminhei em direção ao banheiro, precisava retocar a maquiagem e tentar disfarçar o quanto aquele homem me afetava. Não podia deixar transparecer o quanto suas palavras e seu olhar me atingiam.
Enquanto me observava no espelho, tentando esconder a angústia em meus olhos, lembrei da primeira vez que o vi. Aquele dia parecia tão distante, mas a sensação de admiração e nervosismo ainda estava gravada em minha memória.
Eu mal podia acreditar quando fui contratada para trabalhar no escritório do Sr. Calderón. Ele era um nome respeitado no mundo dos negócios, um empresário de sucesso. E ali estava eu, a jovem recém-formada, tendo a oportunidade de trabalhar ao lado de um homem tão influente.
No início, eu me esforçava ao máximo, querendo mostrar todo o meu potencial. Trabalhava horas a fio, sempre pronta para atender a qualquer demanda dele. Mas, aos poucos, percebi que nada que eu fizesse parecia ser o suficiente. Ele sempre exigia mais, suas críticas eram implacáveis.
E então, aquela admiração que eu sentia foi se transformando em uma crescente insegurança. Eu me questionava constantemente se era realmente capaz de atender às suas expectativas. Aquele homem intimidador parecia me sugar toda a confiança, deixando–me sempre à beira de um colapso.
Respirei fundo, tentando me recompor. Não podia deixar que ele continuasse a me afetar dessa maneira. Precisava encontrar uma forma de lidar com aquela situação, de não me deixar abalar por suas palavras ácidas e seu olhar gélido.
Saí do banheiro e voltei para minha mesa, pronta para enfrentar o resto do dia. Tinha muito o que fazer, o dia seria muito corrido e teria que passar no hospital para ver meu irmão antes de ir na clínica dos meus pais.
A manhã foi exatamente exaustiva, até chegar a hora de ir almoçar e meu chefe sair da sala dele passando a mão do rosto e se aproximando de mim.
— Irei almoçar, vê se troca de camiseta — Ele olhou em direção da grande mancha do tecido antes de sair do escritório.
Como iria trocar? Quando ele virou as costas apertando o botão para o elevador chegar no andar respirei fundo. Ele só podia estar fora de si hoje, tão exigente e rude.
Peguei o celular e mandei mensagem para minha melhor amiga Isabella:
— Amiga, você tem alguma camisa para me emprestar?
Não demorou muito para ela me responder dizendo que sim e que levaria agora, estava no almoço. Isabela Montfort é uma jornalista investigativa e incrível, trabalha aqui perto e sempre tem uma peça de roupa no carro ou no escritório para caso de emergência, precisava aprender com ela.
Isabella chegou poucos minutos depois, uma expressão divertida no rosto.
— Ei, amiga! O que aconteceu? — Ela estendeu a camisa, um sorriso animado no rosto — Parece que seu dia começou agitado, hein?
Peguei a camisa, sentindo o alívio tomar conta de mim.
— Você nem imagina! Um maluco de bicicleta quase me atropelou, fez eu derrubar café na blusa. E agora o Sr. Calderón está ainda mais insuportável do que o normal.
Isabella soltou uma gargalhada.
— Aquele homem é um pé no saco mesmo, não é? Parece que ele acorda todo dia com o pé esquerdo.
Assenti, suspirando.
— Hoje ele chegou reclamando do atraso, como se eu fizesse de propósito. E depois ainda me disse que o café estava frio!— Revirei os olhos, nervosa. — Às vezes eu me pergunto se algum dia vou conseguir agradar aquele homem.
Minha amiga me deu um tapinha no ombro, seus olhos transmitindo compreensão.
— Ei, não se preocupe. Você é uma ótima profissional, Clara. Cedo ou tarde, o Sr. Calderón vai perceber isso.
— Eu espero que sim...— Mordi o lábio inferior, a insegurança ainda me corroendo por dentro. — Às vezes eu me sinto tão… inadequada perto dele, sabe? Como se nunca fosse o suficiente.Isabella me encarou com seriedade. — Olha, você precisa parar de se menosprezar assim. Você é incrível, Clara, e merece muito mais do que esse chefe rabugento te tratando mal. — Ela fez uma pausa, seus olhos brilhando com determinação. — Se ele não consegue enxergar o seu valor, o problema é dele, não seu.Suas palavras me acalmaram um pouco. Ela sempre sabia o que dizer para me fazer sentir melhor. — Obrigada, Isa. Eu realmente não sei o que faria sem você.— Ah, você sabe que eu sempre estarei aqui pra você.— Ela me deu um abraço apertado. — Agora vá se trocar logo, antes que o Sr. Grinch volte e fique bravo por você estar demorando.Ri da comparação, me sentindo um pouco mais leve. — Certo, certo. Já estou indo.Me dirigi ao banheiro, a camisa de Isabella em mãos. Talvez, com o apoio da minha am
Enquanto me dirigia ao restaurante Boucherie Union Square, meu estômago revirava de nervosismo. Essa reunião com o advogado da Triton Technologies poderia definir os rumos de toda a negociação.Adrien Moreau era conhecido por ser um negociador astuto e implacável. Especializado em fusões e aquisições, ele era extremamente leal ao dono da Triton, Leonardo, agindo como seus olhos e ouvidos em todas as transações.Ao chegar, avistei-o sentado em uma das mesas reservadas, sério e impassível como sempre. Tomei um fôlego profundo antes de me aproximar.— Uma ótima escolha para o restaurante — ele comentou assim que me viu.— Perfeito para uma reunião como a nossa — respondi, tentando manter a calma.Fomos guiados até a mesa e nos acomodamos. O garçom trouxe os cardápios e nos deixou a sós.— Bem, Sr. Moreau, agradeço por aceitar esse encontro — comecei, desejando que minha voz não denunciasse meu nervosismo.— Pelo contrário, Sr. Calderón, o prazer é meu — ele respondeu, seus olhos me estud
"Fala, Max. Como sabia que eu já havia terminado a reunião com o advogado da Triton?" Perguntei, curioso."Oras, Victor, eu te conheço bem o suficiente." Sua voz soou divertida do outro lado da linha. "E então, como foi? O Adrien Moreau é tão implacável quanto me disseram?"Suspirei, passando a mão pelos cabelos. "Você tinha razão, Max. A Triton é uma empresa bastante tradicional, assim como o seu dono, Leonardo Duval.""Eu te disse!" Ele exclamou. "E você sabe o que isso significa, não é?"Relutantemente, assenti, mesmo que ele não pudesse me ver. "Sim, eu sei. Você acha que eu preciso me casar para fechar esse negócio.""Exatamente!" Max respondeu. "Esses caras da Triton querem ver uma imagem de família, de estabilidade. Um CEO solteiro de quase 40 anos não vai convencê-los."Resmunguei, tentando não soar tão inconformado. "Eu sei, Max. Mas isso é muito arriscado. Não posso simplesmente arrumar uma noiva da noite pro dia.""Mais arriscado do que perder esse contrato?" Sua voz ficou
Eu não conseguia parar de me perguntar onde o Sr. Calderón estaria. Aquela era uma exposição tão importante para a Calderón Enterprises, e eu precisava que tudo saísse perfeito.Enquanto caminhava apressadamente pelo corredor do Smart City Expo World, senti o suor se acumulando em minhas axilas. Meu Deus, isso não podia estar acontecendo! Corri para o banheiro feminino, puxando alguns papéis e passando-os em meus braços, tentando diminuir o incômodo.— Vai dar tudo certo, Clara, vai dar tudo certo — murmurei para mim mesma, enquanto me olhava no espelho. Retoquei a maquiagem e ajeitei a blusa, tentando parecer o mais apresentável possível.Quando cheguei ao estande da empresa, suspirei aliviada ao ver que tudo estava montado e pronto, exatamente como havíamos planejado. Agradeci aos funcionários em nome do Sr. Calderón, esperando que ele chegasse a qualquer momento.Então, lá estava ele, parado no meio do estande, com sua expressão séria e distante. Meu coração disparou, e eu me aprox
— Claro, Sr. Calderón — respondi, tentando manter a calma. — O que posso fazer por você?Ele me conduziu até fora do estande, em direção à saída do centro de eventos. Seu semblante parecia mais relaxado do que o usual.— Quero lhe agradecer pelo excelente trabalho que você realizou hoje — ele disse, surpreendendo-me. — Sua competência e dedicação foram fundamentais para o sucesso da nossa apresentação.Senti minhas bochechas esquentarem com o elogio. Não estava acostumada a receber tamanho reconhecimento do meu chefe tão reservado.— Muito obrigada, senhor — respondi, tentando manter a compostura. — Fico feliz em saber que meu desempenho foi satisfatório.Ele assentiu, pensativo.— Na verdade, gostaria de convidá-lo para jantar comigo — ele continuou. — É a minha forma de agradecer pelo seu esforço.Mal pude acreditar no que estava ouvindo. Um convite para jantar, vindo do próprio Sr. Calderón? Meu estômago se agitou, e eu senti uma pontada de ansiedade.— Eu… Eu ficaria honrada, senh
Ao carregar Clara em meus braços, não pude deixar de notar o quanto ela parecia frágil e vulnerável naquele momento. Sua expressão envergonhada e as lágrimas que ainda brilhavam em seus olhos me fizeram sentir uma pontada de arrependimento por tê-la colocado naquela situação constrangedora.Entrei no consultório do meu dentista particular, que já nos aguardava. Quando chegamos, Clara deu dois leves tapinhas em meu ombro, emitindo um som suave com a garganta, como se me lembrasse que ainda a estava carregando.— Oh, desculpe-me — disse, colocando-a delicadamente no chão. Ela ajeitou a roupa, o rosto completamente corado como um pimentão.— Doutor, peço perdão por estarmos aqui a esta hora, mas é um caso urgente — expliquei, sentindo a necessidade de me justificar.— Não se preocupe, meu amigo — respondeu o dentista, com um sorriso tranquilizador. — Vamos atender a senhorita imediatamente.Ele então conduziu Clara para a sala de atendimento, e eu os acompanhei, determinado a garantir qu
Reerguer a clínica de sua família seria uma excelente oportunidade para estreitar os laços com Clara. Afinal, ela precisava de ajuda, e eu poderia oferecer muito mais do que apenas um simples emprego. Essa poderia ser a chance perfeita de me aproximar dela.Com um sorriso satisfeito, comecei a traçar meu próximo passo. Estava determinado a fazer com que essa noite não se perdesse em vão. Pelo contrário, ela poderia ser o início de algo muito maior do que apenas um jantar.Clara, minha secretária, talvez fosse a mulher que eu estava procurando para ser minha noiva por contrato. E eu não iria desistir até ter a certeza de que ela aceitaria a minha proposta.Naquela manhã, quando cheguei ao escritório, percebi que Clara ainda não havia chegado. Isso não era novidade, afinal ela sempre tendia a se atrasar, mesmo depois de todas as minhas repreensões.No entanto, levando em conta os eventos da noite anterior, decidi ser um pouco mais compreensivo. Aquele acidente no restaurante deve ter si
Confesso que a noite passada foi uma verdadeira loucura. Depois de sair do consultório do dentista com meu chefe, Sr. Calderón, eu mal tinha cabeça para qualquer outra coisa além de correr para a clínica da minha família.— Mãe, como está o Miguel? — perguntei, aflita, assim que cheguei.Ela me olhou com aquele olhar sereno que só as mães conseguem ter.— Querida, o médico não deixou você visitar porque ele precisa de repouso. Mas não se preocupe, ele está bem.Bem? Como poderia estar bem se nem sequer podia vê-lo? Meu coração apertava só de imaginar meu irmãozinho sozinho naquele leito de hospital.— Mas mãe, eu preciso vê-lo! Ele deve estar se sentindo tão mal... — insisti, a voz embargada pela preocupação.— Filha, fique tranquila. O médico disse que as visitas frequentes podem deixá-lo mais doente. A imunidade dele ainda está frágil — ela explicou, tentando me acalmar.Mesmo assim, não conseguia me convencer. Mal dormi pensando no Miguel. E hoje, quando finalmente consegui visitar