— Claro, Sr. Calderón — respondi, tentando manter a calma. — O que posso fazer por você?
Ele me conduziu até fora do estande, em direção à saída do centro de eventos. Seu semblante parecia mais relaxado do que o usual.
— Quero lhe agradecer pelo excelente trabalho que você realizou hoje — ele disse, surpreendendo-me. — Sua competência e dedicação foram fundamentais para o sucesso da nossa apresentação.
Senti minhas bochechas esquentarem com o elogio. Não estava acostumada a receber tamanho reconhecimento do meu chefe tão reservado.
— Muito obrigada, senhor — respondi, tentando manter a compostura. — Fico feliz em saber que meu desempenho foi satisfatório.
Ele assentiu, pensativo.
— Na verdade, gostaria de convidá-lo para jantar comigo — ele continuou. — É a minha forma de agradecer pelo seu esforço.
Mal pude acreditar no que estava ouvindo. Um convite para jantar, vindo do próprio Sr. Calderón? Meu estômago se agitou, e eu senti uma pontada de ansiedade.
— Eu… Eu ficaria honrada, senhor — gaguejei, tentando controlar minha emoção.
Ele esboçou um breve sorriso, um gesto raro vindo dele.
— Ótimo. Então vamos, conheço um ótimo restaurante aqui perto.
Caminhamos lado a lado até seu carro, e eu não conseguia parar de me perguntar o que aquele jantar significava. Será que o Sr. Calderón estava finalmente reconhecendo meu valor?
Uma coisa eu sabia: essa era a minha chance de mostrar ao meu chefe que eu era muito mais do que apenas sua secretária. E eu não iria desperdiçá-la.
Durante todo o caminho até o restaurante, um silêncio incômodo pairava entre nós. Aquela situação era tão incomum que eu mal sabia o que pensar. Nunca imaginei que o Sr. Calderón me convidaria para almoças, muito um jantar.
Lançava olhares furtivos em sua direção, tentando ler sua expressão, mas seu rosto permanecia impenetrável como sempre. Será que havia feito algo errado? Talvez ele estivesse arrependido de ter me convidado?
Quando finalmente chegamos ao restaurante, meu coração disparou. Eu tinha tanto medo de cometer alguma gafe que pudesse estragar tudo. Tentei me concentrar em cada passo, em cada movimento.
Foi então que, ao entrar pela porta de vidro do estabelecimento, acabei batendo de frente com a parede. O barulho do impacto foi alto e eu senti uma pontada de dor em meu dente. Levei a mão imediatamente à boca, tentando conter o gemido.
Ao meu lado, o Sr. Calderón pareceu não notar o que havia acontecido. Será que ele não tinha percebido? Eu rezava para que ninguém tivesse visto aquela cena constrangedora.
— Está tudo bem, Clara? — ele perguntou, finalmente me encarando.
Eu apenas resmunguei um "uhum" em resposta, com a mão ainda pressionando minha boca. A dor era quase insuportável, e eu temia ter quebrado um dente.
Engoli em seco, rezando para que essa noite não se transformasse em um grande desastre. Não podia decepcionar o Sr. Calderón, não depois de ter me saído tão bem na exposição.
Respirando fundo, segui-o para dentro do restaurante, tentando manter a calma ainda com a mão na boca, foi quando senti o dente quebrado na língua.
Eu tentava ao máximo disfarçar a dor que sentia, mantendo a mão pressionada contra minha boca. Não queria que o Sr. Calderón percebesse o que havia acontecido.
Mas ele logo notou meu desconforto.
— Clara, está tudo bem? Você parece estar com algum problema — ele disse, sua voz carregada de preocupação.
Eu resmunguei algo inaudível, envergonhada demais para responder. Aquela situação era tão constrangedora que eu mal conseguia encará-lo.
— O que houve? Por que está com a mão na boca? — ele insistiu, seu tom se tornando mais firme.
Relutante, eu finalmente tirei a mão, revelando o dente quebrado que segurava entre os dedos. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, a vergonha consumindo cada parte de mim.
Ao ver meu estado, o Sr. Calderón imediatamente pegou o celular, e eu me encolhi, pensando que ele iria tirar uma foto minha naquela situação tão vexatória.
Mas para minha surpresa, ele não fez isso. Ao invés disso, discou um número e disse:
— Preciso de uma consulta urgente com o dentista. Sim, é importante. Estaremos aí em breve.
Assim que desligou, ele se voltou para mim, segurando minha mão suavemente.
— Vamos, Clara. Vou levá-la ao meu dentista particular. Não se preocupe, vamos resolver isso.
Sem hesitar, ele me guiou para fora do restaurante, sua mão ainda envolvendo a minha. Eu me sentia como uma criança perdida, incapaz de conter as lágrimas que escorriam por meu rosto.
Aquela não era a forma como eu queria que essa noite terminasse. Mas a preocupação e o cuidado que o Sr. Calderón demonstrava me surpreendiam, acalmando um pouco minha angústia.
Talvez, apenas talvez, essa noite ainda pudesse ter um final diferente do que eu imaginava.
Durante o trajeto até o consultório do dentista, eu não conseguia parar de pensar no quanto havia estragado tudo. Aquela situação tão embaraçosa havia arruinado completamente o jantar que o Sr. Calderón havia me convidado.
Envergonhada, evitava olhar em sua direção, imaginando o que ele deveria estar pensando de mim naquele momento. Será que ele havia percebido o quanto eu era desastrada e incompetente? Será que ele estava se arrependendo de ter me convidado?
Ah, como eu desejava poder ler a mente dele! Precisava saber o que ele realmente pensava a meu respeito. Afinal, havia me saído tão bem na exposição, e agora essa gafe tão ridícula.
Quando finalmente chegamos ao consultório, fiquei surpresa quando o Sr. Calderón saiu do carro e veio até a minha porta, a abrindo delicadamente.
— Venha, Clara, deixe-me ajudá-la — ele disse, em um tom gentil que eu nunca havia ouvido antes.
Antes que eu pudesse protestar, ele me pegou no colo, como se eu fosse uma criança. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha, ainda segurando o dente quebrado na mão.
— Mas, Sr. Calderón, não precisa disso — tentei argumentar, mas ele me silenciou com um breve gesto.
— Não se preocupe, é o mínimo que posso fazer. Essa foi uma falha do restaurante, por não ter a devida sinalização — ele disse, enquanto me carregava em direção à entrada. — Isso poderia ter sido muito pior.
Conforme me mantinha em seus braços, não pude deixar de notar o quão charmoso ele parecia. Talvez o impacto com a parede de vidro tivesse sido mais forte do que eu imaginava, pois de repente ele parecia um homem completamente diferente do meu distante e formal chefe.
Senti meu coração disparar, e uma pequena centelha de esperança se acendeu em meu peito.
Ao carregar Clara em meus braços, não pude deixar de notar o quanto ela parecia frágil e vulnerável naquele momento. Sua expressão envergonhada e as lágrimas que ainda brilhavam em seus olhos me fizeram sentir uma pontada de arrependimento por tê-la colocado naquela situação constrangedora.Entrei no consultório do meu dentista particular, que já nos aguardava. Quando chegamos, Clara deu dois leves tapinhas em meu ombro, emitindo um som suave com a garganta, como se me lembrasse que ainda a estava carregando.— Oh, desculpe-me — disse, colocando-a delicadamente no chão. Ela ajeitou a roupa, o rosto completamente corado como um pimentão.— Doutor, peço perdão por estarmos aqui a esta hora, mas é um caso urgente — expliquei, sentindo a necessidade de me justificar.— Não se preocupe, meu amigo — respondeu o dentista, com um sorriso tranquilizador. — Vamos atender a senhorita imediatamente.Ele então conduziu Clara para a sala de atendimento, e eu os acompanhei, determinado a garantir qu
Reerguer a clínica de sua família seria uma excelente oportunidade para estreitar os laços com Clara. Afinal, ela precisava de ajuda, e eu poderia oferecer muito mais do que apenas um simples emprego. Essa poderia ser a chance perfeita de me aproximar dela.Com um sorriso satisfeito, comecei a traçar meu próximo passo. Estava determinado a fazer com que essa noite não se perdesse em vão. Pelo contrário, ela poderia ser o início de algo muito maior do que apenas um jantar.Clara, minha secretária, talvez fosse a mulher que eu estava procurando para ser minha noiva por contrato. E eu não iria desistir até ter a certeza de que ela aceitaria a minha proposta.Naquela manhã, quando cheguei ao escritório, percebi que Clara ainda não havia chegado. Isso não era novidade, afinal ela sempre tendia a se atrasar, mesmo depois de todas as minhas repreensões.No entanto, levando em conta os eventos da noite anterior, decidi ser um pouco mais compreensivo. Aquele acidente no restaurante deve ter si
Confesso que a noite passada foi uma verdadeira loucura. Depois de sair do consultório do dentista com meu chefe, Sr. Calderón, eu mal tinha cabeça para qualquer outra coisa além de correr para a clínica da minha família.— Mãe, como está o Miguel? — perguntei, aflita, assim que cheguei.Ela me olhou com aquele olhar sereno que só as mães conseguem ter.— Querida, o médico não deixou você visitar porque ele precisa de repouso. Mas não se preocupe, ele está bem.Bem? Como poderia estar bem se nem sequer podia vê-lo? Meu coração apertava só de imaginar meu irmãozinho sozinho naquele leito de hospital.— Mas mãe, eu preciso vê-lo! Ele deve estar se sentindo tão mal... — insisti, a voz embargada pela preocupação.— Filha, fique tranquila. O médico disse que as visitas frequentes podem deixá-lo mais doente. A imunidade dele ainda está frágil — ela explicou, tentando me acalmar.Mesmo assim, não conseguia me convencer. Mal dormi pensando no Miguel. E hoje, quando finalmente consegui visitar
Quando finalmente Victor desligou a ligação, ele me encarou com aquele olhar sério.— E então, Clara, como está o seu dente? — ele perguntou.Respirei aliviada por ele não ter tocado no meu atraso e no incidente com a xícara.— Ah, está ótimo, senhor! Bem firme e colado — respondi, tentando sorrir. Mas, ao ver sua expressão impassível, senti meu rosto queimar de vergonha.— Fico feliz em ouvir isso — ele disse, em um tom calmo. — Mas, ainda assim, acho justo que eu pague o seu tratamento. Aquilo não deveria ter acontecido.Abri a boca para protestar, mas ele me interrompeu:— Por favor, não insista. Eu me sinto responsável e gostaria de arcar com os custos.Assenti, relutantemente. Meu coração dizia que não deveria ter aceitado, que era uma atitude generosa demais de sua parte. Mas minha mente sabia que não poderia recusar, dada a situação financeira delicada da minha família.— Muito obrigada, senhor. Eu... eu aprecio muito a sua compreensão — gaguejei, sentindo-me ainda mais constra
Enquanto saia do escritório, falei com o meu advogado para preparar o contrato com a Clara, colocando os prazos e minhas exigências, para que ela entenda como será o nosso acordo de casamento. Desliguei o telefone depois de instruir meu advogado a preparar o contrato de acordo com minhas exigências. Havia um prazo definido, não poderia perder essa oportunidade.A Triton Technologies, da família Duval, era um dos maiores grupos empresariais do país. Leonardo Duval, o patriarca, era constantemente alvo da mídia por sua imagem de homem de família e seus valores tradicionais. Até meu meio-irmão Max já havia dito que Duval confiaria mais nele por serem da mesma "família".Suspirei, irritado. Não havia tempo a perder. Precisava dessa parceria a todo custo, independentemente dos laços familiares de Duval.Saí do escritório e entrei em meu carro. Mal tinha me acomodado quando meu celular tocou. Era minha mãe.— Alô, mãe? — atendi, tentando manter a paciência.— Victor, você está indo para casa
Após o jantar, me despedi de minha mãe e irmã. Precisava voltar para casa e pensar com mais calma sobre a proposta que faria a Clara.Assim que entrei no carro, meu celular tocou. Atendi pelo viva-voz.— Fala, Max — disse, tentando manter a compostura.Meu meio-irmão foi direto ao assunto:— Ei, Vic, você já arrumou uma noiva, né? — ele perguntou, em tom urgente.Suspirei, sentindo a pressão aumentar.— Ainda estou resolvendo alguns detalhes, Max. Mas pode ser que Clara aceite a proposta — expliquei, tentando soar confiante.Max não perdeu tempo:— Ótimo, ótimo! Você precisa fechar esse negócio, Vic. Você sabe como as coisas estão difíceis na empresa do papai. Essa parceria com a Triton pode ser a salvação, mas não podemos deixar escapar.Senti meu maxilar se tensionar. Eu sabia muito bem a importância dessa parceria, era uma questão de vida ou morte para a empresa.— Pode deixar, Max. Vou fazer o possível para convencer a Clara — respondi, determinado.— Boa, irmão. Faça o que for pre
Assim que sai do escritório de Victor, não conseguia parar de pensar no absurdo daquele contrato. Como ele tinha a audácia de exigir que eu não pudesse me relacionar com outros homens, enquanto ele teria a liberdade de me trair quando bem entendesse?Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Precisava conversar com Isabella sobre isso, ela sempre me dava bons conselhos."Será que posso esperar até sexta-feira para falar com ela?" - me questionei, enquanto caminhava em direção ao metrô.O dia passou lentamente, com meu olhar desviando constantemente em direção à casa de Victor. Aquela proposta me deixara realmente intrigada. Será que eu deveria aceitar os termos dele e interpretar o papel de "esposa exemplar"?Terminei minhas tarefas no escritório com esmero, tentando não pensar muito no assunto. Quando finalmente saí, senti um cansaço enorme. Nem mesmo consegui ir visitar meu irmão no hospital, já que ele estava com a imunidade baixa. Apenas segui direto para casa.Ao chega
— Clara, você está um pouco mais calma? — ele perguntou.Assenti levemente, ainda preocupada com o estado de Pedro.— Sim, estou tentando me acalmar. Onde será que está o médico? Preciso falar com ele sobre o que está acontecendo — disse, minha voz ainda um pouco trêmula.Nesse momento, o médico entrou no quarto, aproximando-se de nós.— Senhorita Clara, fico feliz que tenha vindo tão rápido — ele disse, com semblante sério.Eu o encarei, esperando que ele continuasse.— Infelizmente, seu irmão foi sedado ainda hoje pela manhã. Ele estava muito agitado, e nossa equipe achou melhor contê-lo para não sobrecarregar ainda mais o seu coração — o médico explicou, com cuidado.Senti meu coração apertar ao ouvir aquilo. Meu irmão estava em perigo.— Entendo... Obrigada por cuidar dele, doutor. Faça o possível por Pedro, por favor — pedi, a preocupação evidente em minha voz.Victor ficou em silêncio ao meu lado, observando atentamente a conversa.O médico assentiu, com uma expressão mais suave