HeitorDe todas as coisas que já fiz na vida apenas duas foram as mais difíceis para mim. Uma delas foi trazer Isadora Dixon para dentro da minha casa e depois levá-la para a minha cama. Fazer amor com essa mulher sufocando os sentimentos dentro de mim que não podiam ser sufocados, pois por mais que eu quisesse matá-los, destruí-los, eles simplesmente ficavam mais fortes e sobreviviam a qualquer batalha minha. A segunda, bom, essa eu farei agora. Penso, entrando no carro e Charles imediatamente liga o motor seguindo direto para a minha casa, ou para a pior parte do meu destino, porque exatamente hoje deixarei a única pessoa que conseguiu penetrar o meu coração ir embora. Eu sei que serei atormentado pela solidão, mas Tadeu tem toda razão, ele sempre tem. Qual a graça de tê-la tão perto e tão inacessível para mim? Assim que o carro para em frente a mansão, eu solto uma respiração pesada e logo me forço a entrar na casa. Os meus pés parecem se rebelar contra mim pelo esforço sobrenatura
Heitor — Com os meus filhos? — indaga ainda incrédula, porém, posso sentir a esperança fluir nessa simples pergunta. Forço-me a balançar a minha cabeça, fazendo sim para ela porque não consigo usar as palavras agora. Ela leva as mãos ao rosto. Contudo, os mantém fixos nos meus.— Obrigada, Heitor! — Sua voz soa tão baixa que eu mal posso ouvi-la. E o restinho do meu mundo perfeito e inabalável simplesmente desabou. Não me resta mais nada além da maldita esperança. — Essa foi... a melhor coisa que fez por mim nesses últimos meses! — confessa com doçura. Deus, me ajude, eu estou sufocando! Eu só quero que ela saia logo da minha frente para eu poder respirar outra vez.— Tem mais uma coisa — Me forço a dizer.— Mais? — Meneio a cabeça e me afasto dela.— A Guadalupe vai acompanhá-la. Eu sei o quanto gosta dela e que ela ama cuidar das crianças, então...— Heitor, não! Eu não posso...— Por favor, Isadora! Eu sei que vai precisar de ajuda com os gêmeos — insisto, mas ela protela o meu p
HeitorMais tarde, no mesmo dia…— Boa tarde, Sara!— Boa tarde, querido! As crianças estão no quarto. — Ela avisa. Entretanto, eu respiro fundo e olho para as escadas, e depois para a senhora que tem o sorriso de sempre nos lábios.— E ela? — Procuro saber.— Você sabe. Trancada no escritório e com a cara enfiada no trabalho. — Trinco o maxilar.— Eu… vou ver os meus filhos — aviso.— Claro, querido! Pedirei para alguém ir acompanhá-lo.— Não precisa, Sara, eu sei o caminho.— Está bem, querido, mas antes… — Ela se aproxima e surpreendente me abraça demoradamente, deixando um beijo cálido em cada lado do meu rosto. Uma mão sua desliza pela lateral do meu rosto tão suavemente que faz o meu coração acelerar. — Eu amo você, Heitor! Você é como se fosse um filho para mim e a Isadora entenderá isso em breve.— Por que acha isso? — Porque ela te ama! — Faço uma linha fina com os meus lábios.— Eu não tenho tanta certeza assim, Sara. Eu a magoei muito e…— Entenda uma coisa sobre a minh
Heitor— O meu médico me pergunta a mesma coisa. A verdade é que eu não sei. Às vezes eu me sinto perdido e às vezes me encontro em alguma cena que havia me esquecido.— Como assim?— Como a música que acabei de cantar para os meus filhos. Eu não me lembrava dela, até segurá-los nos meus braços a poucos minutos.— Era a sua mãe quem cantava para você? — Dou de ombros outra vez.— Eu não sei, Isadora — sussurro. … Peça algo importante a ela, Heitor. Algo que signifique muito para você.As palavras de Sara se repetem dentro da minha cabeça e eu solto um suspiro, buscando coragem para dar mais esse passo.— Eu posso te fazer um pedido? — Ela para de andar e eu também, e paramos um de frente para outro.— O que você quer?— O meu psiquiatra disse que eu precisava perdoá-la. — Ela franze a testa. Parece confusa. — A minha mãe — esclareço.— Ah! E como pretende fazer isso? — Puxo mais uma respiração e a solto pela boca.— Eu pensei em ir visitar o seu túmulo, levar umas flores e… eu não
HeitorNo dia seguinte… — Eu te espero aqui, Heitor. — Isadora fala, largando a minha mão e imediatamente me sinto inseguro. — Eu... não sei se consigo! — sibilo, mas ela sorrir. É um sorriso bem pequeno e meigo. Então ela leva uma mão a lateral do meu rosto e no mesmo instante eu fecho os meus olhos para apreciar o seu toque.— Eu sei que você conseguirá. Esse é um momento só seu e dela, agora vai meu amor! — Meu amor? O meu coração bateu como um louco e imediatamente abro os olhos para encontrar seus olhos. E como um ímã sou puxado lentamente para mais perto dela, e os meus lábios encontram os seus em segundos. Oh Deus, um beijo lento, curto e calmo, e todo o meu corpo voltou a vida! Forço-me a me afastar em seguida e lhe dou as costas para ir ao encontro do meu passado.Você já viveu na escuridão? Eu vivi a minha vida toda na escuridão só não sabia disso… até agora. E quando percebi isso descobri que nada era real. A minha vida, as minhas conquistas, os meus sonhos… nada era real
Heitor— Se esforce, Heitor. Com certeza tem algo guardado aí dentro de você! — Volto o meu olhar para a sua imagem no túmulo. Diferente do que me lembrava, Lisa está usando uma blusa de alças finas na foto. Seus pescoço e braços estão expostos, e flashes dela segurando a minha mão e correndo como uma desesperada para a escadaria me vem imediatamente a minha mente.… Corra, querido, se esconda no último quarto e só saia de lá quando eu disser que pode!Lágrimas voltam a molhar o meu rosto. Não, ele não podia! Penso me sentindo desolado.— Heitor, escute quando digo que ela te amava!— ENTÃO, POR QUE ELA ME DEIXOU PARA TRÁS, PORRA?! — grito com desespero na alma, tremendo e louco para quebrar tudo a minha volta. As lágrimas dominam as minhas emoções, eu não tenho mais controle algum sobre mim, sobre os meus sentimentos e tenho vontade de gritar.— Você não entende. ele ia matá-la se ela continuasse naquela maldita casa! — Ele grita de volta. — Lisa teve que fugir com o meu pai. Com o h
Heitor— Ei, está tudo bem aí! — Em meio ao meu inferno escuto o som da sua doce voz. Ela está aqui. O meu anjo salvador veio para me resgatar, embora eu não seja merecedor de ser salvo. — Heitor, olhe pra mim! — Ela pede com voz baixa, porém, não quero que ela me veja assim. Estou quebrado, amargurado e entregue a minha cegueira. Porque sim, eu estive cego todo esse tempo. — Heitor, por favor! Por favor! — Em sua súplica sussurrada sinto o seu abraço e escuto os seus soluços. Ela está chorando por mim? Não chore, minha menina, eu sou um monstro e não mereço o seu sofrimento! Penso em afastá-la de mim. Queria que ela fosse embora, que me deixasse aqui, mas a sua presença fez toda a minha tormenta mover-se em câmera lenta. Todos os seus ruídos e destruições pararam no mesmo instante que ela me abraçou e eu me agarrei a esse gesto deixando-a me envolver nesse abraço. — Vem, eu vou te levar pra casa.— Não! Eu... não quero ficar sozinho lá! — lamento.— Tudo bem, Heitor! Vem comigo! — Is
IsadoraTrês dias depois...Após a nossa separação as coisas têm andado exatamente como eu queria, como sonhei para mim. Até chego a pensar que devido ao meu desespero acabei me antecipando em busca de um resultado imediato. Não serei ingrata ao ponto de não reconhecer que Heitor D’angelo fez muito por mim e por minha mãe também, mas o fato de se sentir o meu dono estava me incomodando e a nossa última briga foi o estopim para eu querer distância desse homem. Comparando a nossa situação de antes com a de Lisa e Roland D’angelo acredito que estávamos caminhando para o mesmo destino e isso me causa arrepios gelados na minha espinha dorsal. Hoje, posso dizer que definitivamente conheço Heitor D’angelo no profundo. Tudo o que ele escondia a sete chaves agora veio à tona e droga, eu nunca senti tanta raiva de um ser humano como sinto do seu pai, um homem que sequer conheci na vida. Saber que Heitor foi torturado até aceitar as ideias insanas do seu pai, ao ponto de desprezar e odiar a pess