Heitor— Como pode fazer isso comigo, pai? Como pode destruir o seu próprio filho desse jeito? — pergunto, me curvando sem forças enquanto os soluços de um choro descontrolado balança o meu corpo violentamente. — AAAAAAAAAAH! — grito sozinho no cômodo várias e várias vezes, tentando me livrar dessa dor, dessa angústia que parece me rasgar por dentro. Eu a perdi! Penso completamente desolado — AAAAAAAAAAH! Eu te odeio, pai! Odeio no que me transformou! Eu sou um maldito monstro e a culpa é toda sua! — Ofegante, eu paro e olho ao meu redor, e o silêncio quase toma conta do lugar se não fosse a minha respiração alterada se espalhar por todo ele! Paro o choro e as lamentações, respiro e tento pensar com clareza. — Tadeu! — digo com desespero e me sento no chão. Pego o meu celular e ligo imediatamente para ele.— E aí, você fez? — Ele pergunta com a sua habitual alegria assim que atende à ligação.— Eu a perdi, Tadeu! — sussurro com sofreguidão e entre novas lágrimas que começam a se derra
HeitorDe todas as coisas que já fiz na vida apenas duas foram as mais difíceis para mim. Uma delas foi trazer Isadora Dixon para dentro da minha casa e depois levá-la para a minha cama. Fazer amor com essa mulher sufocando os sentimentos dentro de mim que não podiam ser sufocados, pois por mais que eu quisesse matá-los, destruí-los, eles simplesmente ficavam mais fortes e sobreviviam a qualquer batalha minha. A segunda, bom, essa eu farei agora. Penso, entrando no carro e Charles imediatamente liga o motor seguindo direto para a minha casa, ou para a pior parte do meu destino, porque exatamente hoje deixarei a única pessoa que conseguiu penetrar o meu coração ir embora. Eu sei que serei atormentado pela solidão, mas Tadeu tem toda razão, ele sempre tem. Qual a graça de tê-la tão perto e tão inacessível para mim? Assim que o carro para em frente a mansão, eu solto uma respiração pesada e logo me forço a entrar na casa. Os meus pés parecem se rebelar contra mim pelo esforço sobrenatura
Heitor — Com os meus filhos? — indaga ainda incrédula, porém, posso sentir a esperança fluir nessa simples pergunta. Forço-me a balançar a minha cabeça, fazendo sim para ela porque não consigo usar as palavras agora. Ela leva as mãos ao rosto. Contudo, os mantém fixos nos meus.— Obrigada, Heitor! — Sua voz soa tão baixa que eu mal posso ouvi-la. E o restinho do meu mundo perfeito e inabalável simplesmente desabou. Não me resta mais nada além da maldita esperança. — Essa foi... a melhor coisa que fez por mim nesses últimos meses! — confessa com doçura. Deus, me ajude, eu estou sufocando! Eu só quero que ela saia logo da minha frente para eu poder respirar outra vez.— Tem mais uma coisa — Me forço a dizer.— Mais? — Meneio a cabeça e me afasto dela.— A Guadalupe vai acompanhá-la. Eu sei o quanto gosta dela e que ela ama cuidar das crianças, então...— Heitor, não! Eu não posso...— Por favor, Isadora! Eu sei que vai precisar de ajuda com os gêmeos — insisto, mas ela protela o meu p
HeitorMais tarde, no mesmo dia…— Boa tarde, Sara!— Boa tarde, querido! As crianças estão no quarto. — Ela avisa. Entretanto, eu respiro fundo e olho para as escadas, e depois para a senhora que tem o sorriso de sempre nos lábios.— E ela? — Procuro saber.— Você sabe. Trancada no escritório e com a cara enfiada no trabalho. — Trinco o maxilar.— Eu… vou ver os meus filhos — aviso.— Claro, querido! Pedirei para alguém ir acompanhá-lo.— Não precisa, Sara, eu sei o caminho.— Está bem, querido, mas antes… — Ela se aproxima e surpreendente me abraça demoradamente, deixando um beijo cálido em cada lado do meu rosto. Uma mão sua desliza pela lateral do meu rosto tão suavemente que faz o meu coração acelerar. — Eu amo você, Heitor! Você é como se fosse um filho para mim e a Isadora entenderá isso em breve.— Por que acha isso? — Porque ela te ama! — Faço uma linha fina com os meus lábios.— Eu não tenho tanta certeza assim, Sara. Eu a magoei muito e…— Entenda uma coisa sobre a minh
Heitor— O meu médico me pergunta a mesma coisa. A verdade é que eu não sei. Às vezes eu me sinto perdido e às vezes me encontro em alguma cena que havia me esquecido.— Como assim?— Como a música que acabei de cantar para os meus filhos. Eu não me lembrava dela, até segurá-los nos meus braços a poucos minutos.— Era a sua mãe quem cantava para você? — Dou de ombros outra vez.— Eu não sei, Isadora — sussurro. … Peça algo importante a ela, Heitor. Algo que signifique muito para você.As palavras de Sara se repetem dentro da minha cabeça e eu solto um suspiro, buscando coragem para dar mais esse passo.— Eu posso te fazer um pedido? — Ela para de andar e eu também, e paramos um de frente para outro.— O que você quer?— O meu psiquiatra disse que eu precisava perdoá-la. — Ela franze a testa. Parece confusa. — A minha mãe — esclareço.— Ah! E como pretende fazer isso? — Puxo mais uma respiração e a solto pela boca.— Eu pensei em ir visitar o seu túmulo, levar umas flores e… eu não
HeitorNo dia seguinte… — Eu te espero aqui, Heitor. — Isadora fala, largando a minha mão e imediatamente me sinto inseguro. — Eu... não sei se consigo! — sibilo, mas ela sorrir. É um sorriso bem pequeno e meigo. Então ela leva uma mão a lateral do meu rosto e no mesmo instante eu fecho os meus olhos para apreciar o seu toque.— Eu sei que você conseguirá. Esse é um momento só seu e dela, agora vai meu amor! — Meu amor? O meu coração bateu como um louco e imediatamente abro os olhos para encontrar seus olhos. E como um ímã sou puxado lentamente para mais perto dela, e os meus lábios encontram os seus em segundos. Oh Deus, um beijo lento, curto e calmo, e todo o meu corpo voltou a vida! Forço-me a me afastar em seguida e lhe dou as costas para ir ao encontro do meu passado.Você já viveu na escuridão? Eu vivi a minha vida toda na escuridão só não sabia disso… até agora. E quando percebi isso descobri que nada era real. A minha vida, as minhas conquistas, os meus sonhos… nada era real
Heitor— Se esforce, Heitor. Com certeza tem algo guardado aí dentro de você! — Volto o meu olhar para a sua imagem no túmulo. Diferente do que me lembrava, Lisa está usando uma blusa de alças finas na foto. Seus pescoço e braços estão expostos, e flashes dela segurando a minha mão e correndo como uma desesperada para a escadaria me vem imediatamente a minha mente.… Corra, querido, se esconda no último quarto e só saia de lá quando eu disser que pode!Lágrimas voltam a molhar o meu rosto. Não, ele não podia! Penso me sentindo desolado.— Heitor, escute quando digo que ela te amava!— ENTÃO, POR QUE ELA ME DEIXOU PARA TRÁS, PORRA?! — grito com desespero na alma, tremendo e louco para quebrar tudo a minha volta. As lágrimas dominam as minhas emoções, eu não tenho mais controle algum sobre mim, sobre os meus sentimentos e tenho vontade de gritar.— Você não entende. ele ia matá-la se ela continuasse naquela maldita casa! — Ele grita de volta. — Lisa teve que fugir com o meu pai. Com o h
Heitor— Ei, está tudo bem aí! — Em meio ao meu inferno escuto o som da sua doce voz. Ela está aqui. O meu anjo salvador veio para me resgatar, embora eu não seja merecedor de ser salvo. — Heitor, olhe pra mim! — Ela pede com voz baixa, porém, não quero que ela me veja assim. Estou quebrado, amargurado e entregue a minha cegueira. Porque sim, eu estive cego todo esse tempo. — Heitor, por favor! Por favor! — Em sua súplica sussurrada sinto o seu abraço e escuto os seus soluços. Ela está chorando por mim? Não chore, minha menina, eu sou um monstro e não mereço o seu sofrimento! Penso em afastá-la de mim. Queria que ela fosse embora, que me deixasse aqui, mas a sua presença fez toda a minha tormenta mover-se em câmera lenta. Todos os seus ruídos e destruições pararam no mesmo instante que ela me abraçou e eu me agarrei a esse gesto deixando-a me envolver nesse abraço. — Vem, eu vou te levar pra casa.— Não! Eu... não quero ficar sozinho lá! — lamento.— Tudo bem, Heitor! Vem comigo! — Is