O quarto do hotel-fazenda estava tranquilo, com a luz suave da noite entrando pelas cortinas. A cama estava vazia, mas uma sensação de expectativa pairava no ar. Bernardo fechou a porta atrás de nós, e eu pude ver como seus olhos estavam mais sérios agora, sem as brincadeiras e a fachada de antes. Bernardo pegou uma garrafa de vinho, serviu duas taças e me entregou uma. O gesto parecia normal, mas dentro de mim havia um turbilhão. Estava claro que ambos sabíamos que essa noite seria diferente. Não havia mais nada para esconder ou encenar. — À nós — Bernardo disse, e eu respondi com um simples sorriso, erguendo minha taça. O líquido desceu suavemente pela minha garganta, mas ao invés de me acalmar, ele apenas parecia intensificar a tensão entre nós. Claro, era normal. Fazia um tempo que eu não tinha sexo. Meu corpo estava respondendo ao dele — isso era fisiológico, um simples desejo. Bernardo colocou a taça na mesa e se aproximou de mim. Ele ainda não disse nada, mas seus olhos
Bernardo e eu retornamos à fazenda na manhã seguinte, o silêncio entre nós era desconfortável, como se tudo o que passamos na noite anterior tivesse ficado em segundo plano, mas ainda assim, de alguma forma, ecoasse. O casamento fora apenas uma formalidade, um acordo, mas a noite não passou despercebida. De qualquer forma, estávamos mais focados em manter a aparência e não deixar a família desconfiada. Ao chegarmos, a casa parecia ainda mais movimentada. A mãe de Bernardo, Beatrice, e a irmã dele, Bianca, estavam ali, além de Diogo e Helena, todos se reunindo para o café da manhã. Quando pisei na entrada, senti os olhares de todos sobre mim. Beatrice foi a primeira a se aproximar, com um sorriso acolhedor. Ela se levantou para nos abraçar, mas de uma forma um pouco reservada, como se estivesse avaliando nossa chegada. — Não esperávamos ver os recém-casados por tão cedo. — Ela falou, o sorriso no rosto, mas com uma expressão que refletia mais satisfação do que qualquer outra coi
Me viro na cama ao som insistente do celular. Atendo sem olhar quem é. — Alô? — Laura, desculpa te acordar. — A voz de Diogo ressoa do outro lado da linha. Meu cérebro ainda está despertando, mas algo no tom dele me faz sentar na cama, alerta. — O que aconteceu? — É a Helena… Você é psicóloga e nossa amiga. Eu preciso de você aqui. Estou vendo meu casamento desmoronar e não sei o que fazer. Minha mente ainda luta para processar as palavras. — Diogo, o que exatamente está acontecendo? — Vou viajar para a pecuária, e não quero deixar a Helena sozinha. A fazenda tem funcionários, claro, mas ela precisa de alguém próximo. Solto um suspiro, coço os olhos. Não faz sentido discutir pelo telefone. — Ok. Quando eu chegar, entendo melhor. — Obrigado, Laura. O silêncio se instala depois que a ligação é encerrada. Olho as horas no celular. 5h25. Muito cedo. Tento deitar novamente, mas o peso do pedido de Diogo não me deixa relaxar. Ele não é o tipo de pessoa que pede ajuda
Helena e eu decidimos ir conversar na varanda e aproveitar um pouco do ar fresco. Ela me falava sobre sua rotina na fazenda quando o som de um carro se aproximando chamou nossa atenção. O motor desligou, e em poucos segundos a porta do veículo se abriu. Diogo foi o primeiro a sair, ajeitando a aba do chapéu enquanto subia os degraus da varanda com a postura rígida de sempre. O olhar atento percorreu a cena diante dele antes de se fixar em mim. — Olha só quem resolveu aparecer — comentou, e sorriu - estou feliz que tenha vindo, Laura. A Lena sempre comenta o quanto sente sua falta. Antes que eu pudesse responder, a outra porta se abriu. E então eu o vi. O homem que desceu do carro tinha uma presença marcante, algo difícil de ignorar. Era alto, de ombros largos e porte elegante, mas sem a rigidez do irmão. Sua expressão trazia um ar de confiança descontraída, como alguém acostumado a ser notado sem fazer esforço. O cabelo escuro, ligeiramente bagunçado, dava a impressão de que
O tempo passou sem que eu percebesse. Depois de um banho revigorante e um tempo para me organizar, desci para o jantar, sentindo o aroma reconfortante da comida caseira se espalhando pela casa.A mesa estava posta na sala de jantar, e Helena conversava animadamente com Diogo sobre algum problema na fazenda. Bernardo, ao lado do irmão, participava ocasionalmente da conversa, mas parecia mais interessado na comida do que em qualquer outra coisa.— Você vai gostar do ritmo daqui, Laura. O Rio de Janeiro é muito barulhento — Helena comentou, lançando-me um olhar cúmplice.Dei de ombros, tentando manter a neutralidade.— Ainda estou me acostumando. Mas é um lugar agradável.— Não é a sua primeira vez aqui, Laura, mas acredito que será a primeira vez que passará mais do que um fim de semana com a gente. — Diogo comentou.Assenti levemente, pegando o copo d’água à minha frente.— Algumas coisas me lembram a fazenda do meu avô. Não é igual, claro, mas tem um clima parecido.Helena sorriu, sat
A casa ainda estava silenciosa quando desci para a cozinha. O sol mal tinha nascido, e um tom alaranjado banhava os móveis de madeira, criando um cenário quase acolhedor. O cheiro de café fresco preenchia o ambiente, e foi esse aroma familiar que me guiou até ali.Mas não era só o café que me esperava.Bernardo estava encostado no balcão, vestido com jeans e uma camisa de botões com as mangas dobradas até os antebraços. Era o tipo de descuido calculado que só alguém absurdamente confiante conseguia carregar.Ele ergueu os olhos ao me ver e sorriu de canto, daquele jeito preguiçoso que parecia provocar sem esforço.— Bom dia, dorminhoca. Achei que ia perder a gente saindo.Tentei ignorar a forma como aquele tom rouco soava mais intimista no silêncio da cozinha.— Não sou de acordar tão tarde — respondi, indo até a cafeteira. — Só não costumo ter motivos para madrugar.Peguei uma xícara e servi o café, sentindo o peso do olhar dele sobre mim. Bernardo observava de um jeito intenso, como
Não demorou muito para minha prima descer as escadas, ainda com os cabelos levemente bagunçados e um sorriso acolhedor no rosto. A casa começava a se movimentar à medida que a manhã avançava. Rosa já circulava pela cozinha, o cheiro de café fresco e pão assado preenchendo o ambiente. Do lado de fora, pela janela entreaberta, observei a rotina pulsante da fazenda: funcionários caminhavam apressados em direção à hípica, outros seguiam para a plantação de café, enquanto os caminhões da transportadora iam e vinham carregados de insumos. Era um mundo muito diferente da minha rotina no Rio, mas algo naquela energia movimentada me trazia uma sensação estranha de pertencimento. Lena se aproximou e se sentou ao meu lado no sofá, com uma xícara de café na mão, puxando os joelhos para perto do corpo, como fazia quando queria uma conversa mais longa. — Como foi sua primeira noite aqui? — perguntou, olhando para mim com curiosidade genuína. — Foi tranquila. Talvez esse lugar seja exatamente o q
Os últimos cinco dias tinham sido surpreendentemente tranquilos. Com Diogo e Bernardo fora, a fazenda parecia ter um ritmo mais leve, e eu comecei a me acostumar àquele ambiente. Helena e eu passamos as manhãs explorando os arredores. Caminhamos pelos cafezais enquanto ela me explicava todo o processo da colheita, algo que eu nunca tinha parado para pensar antes. Passamos um tempo na hípica, onde ela tentou, sem sucesso, me convencer a montar um cavalo. Também fomos até o pequeno vilarejo próximo para comprar algumas coisas, e eu me peguei gostando da rotina desacelerada que a vida ali oferecia. Nos momentos em que Helena estava ocupada com as responsabilidades da fazenda, eu me dedicava à minha tese. O escritório que ela disponibilizou para mim tinha uma vista linda dos campos, e pela primeira vez em muito tempo, eu conseguia trabalhar sem distrações. Foi um período de calma. Um período onde eu quase me senti em paz. Até hoje. A noite estava quente, mas a brisa que soprava