O sol da manhã entrou suavemente pela janela, aquecendo o quarto de forma calma e silenciosa. Eu acordei com uma leve sensação de desconforto, como se estivesse tentando processar o que havia acontecido na noite anterior. Bernardo estava ao meu lado, seu corpo ainda espalhado pela cama, respirando de forma tranquila, sem se preocupar com nada. Eu me virei lentamente, tentando não fazer barulho, e me sentei na beirada da cama. Esses momentos estavam se tornando perigosos… o Bernardo e eu passamos a dividir a cama desde que nos “casamos”, até porque precisamos manter as aparências para sua mãe quando ela estava na fazenda e agora precisávamos manter as aparências para os funcionários, já que a Lena e o Diogo sabiam do nosso acordo desde o início. Mas momentos como esses entre nós dois estavam se tornando perigosos, já que além de um contrato, estávamos fazendo sexo. Nosso casamento era real nesse sentido, estávamos casados perante a lei e transávamos, então a única coisa que não exist
BernardoJá fazia alguns dias desde a nossa conversa na cidade, e algo entre nós tinha mudado. Laura não parecia diferente continuava com aquele olhar distante, com aquele jeito de quem não se apega a nada. Mas eu… eu estava diferente. Eu já tinha conhecido mulheres difíceis antes, mulheres que jogavam charme fingindo ser inacessíveis, esperando que alguém insistisse o suficiente para quebrar a barreira delas. Mas Laura não era assim. Ela não jogava charme, não flertava, não dava brechas. Ela simplesmente se trancava. E o que mais me incomodava era o que ela disse antes de sairmos do carro. Não era só sobre mim. Era sobre qualquer um. Sobre o fato de que ela realmente acreditava que não existia nada de bonito dentro dela para alguém encontrar. E aquilo ficou na minha cabeça. Eu tentei me afastar dela, tentei não tocá-la… Mas dividíamos a mesma cama, então o sexo entre nós era algo recorrente. Era algo consensual, algo que acontecia sem esforço, sem culpa, sem discussões. L
O dia seguinte amanheceu com um céu limpo, sem nenhuma nuvem. O sol entrava pela janela do quarto, trazendo uma claridade dourada que contrastava com o frio da manhã. Me espreguicei, sentindo o lençol macio contra minha pele e, ao virar para o lado, vi Laura ainda adormecida. O cabelo bagunçado caía sobre o rosto, e seu jeito despreocupado de dormir me fez sorrir. Mas aquele momento de paz não durou muito. Um barulho no andar de baixo chamou minha atenção. Vozes animadas ecoavam pela casa, seguidas pelo som de passos rápidos na cozinha. Me levantei devagar para não acordar Laura e fui até a varanda, de onde dava para ver o quintal. Foi então que eu a vi. Uma mulher de cabelos castanhos, presos em um coque desalinhado, estava abraçando Rosa, a cozinheira. Ela falava animada, gesticulando bastante, enquanto Rosa segurava seu rosto com carinho, como se estivesse vendo um fantasma depois de anos. - Mariana, meu amor. Não acredito que está aqui, filha. Bom… a verdade nem eu ac
Laura Fechei a porta do banheiro atrás de mim e soltei um suspiro. Minha expressão no espelho estava impassível, mas por dentro… por dentro, eu sabia que aquela conversa tinha me afetado. Bernardo queria me testar. Jogar comigo. E eu não podia permitir que ele vencesse. Abri o hobby, deixando-o escorregar pelos meus ombros antes de entrar no chuveiro. A água quente caiu sobre minha pele, mas não levou embora a tensão que se instalou no meu corpo. Eu sabia que ele estava irritado. Sabia que, naquele exato momento, ele provavelmente estava se perguntando o que fazer comigo. E, no fundo, isso me divertia. Bernardo sempre gostou de ter o controle. Gostava de me provocar, de me desafiar, de ver até onde eu aguentava sem demonstrar fraqueza. O problema era que eu jogava esse jogo há muito mais tempo do que ele. E, por mais que uma parte de mim quisesse acreditar que nada daquilo me atingia, eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Porque quando ele perguntou se ter
— É mesmo, Laura? Porque na mesa o clima entre você e o Bernardo parecia bem amistoso. E você estava tentando mostrar pra Mariana que o Bernardo era seu. Eu parei por um instante, a pergunta de Lena me atingindo de forma inesperada. Ela sabia como fazer os toques sutis para testar os limites, mas eu não estava disposta a me deixar abalar agora. — E não é? — Respondi com calma, tentando não deixar transparecer nenhuma insegurança. — Bernardo é meu marido, Lena. Mesmo que seja apenas um contrato com prazo de validade, as pessoas não sabem disso. Então, é justo que a Mariana entenda que o ex dela está casado. E eu tenho que representar bem esse papel, não? Lena soltou uma risada e balançou a cabeça, como se estivesse me dando razão, mas sem perder o tom leve. — Claro. Os funcionários não podem desconfiar. — Ela disse, enquanto desligava o carro e estacionava no centro do povoado Bela Vista. Eu e Lena saímos do carro e caminhamos até a feirinha. Ela começou a escolher frutas fresc
— A única pessoa que eu quero é emocionalmente inacessível. — Bernardo murmurou contra meus lábios, antes de me dar um selinho lento, como se fosse um castigo, uma punição por algo que nem eu mesma entendia. Minha respiração estava descompassada, e meu corpo ainda vibrava com o toque dele, como se meu cérebro não tivesse controle sobre a forma como reagia a Bernardo. Eu queria dizer algo, rebater de alguma forma, mas antes que qualquer palavra deixasse meus lábios, a porta do escritório se abriu. Diogo entrou sem cerimônia, mas parou no meio do caminho, visivelmente surpreso ao me ver ali. — Vocês não sabem trancar a porta, não? — Ele brincou, cruzando os braços. Bernardo revirou os olhos e se afastou de mim, visivelmente frustrado. — Você não sabe bater, Diogo? A Camila não avisou que a Laura estava aqui? Eu me sentei rapidamente na cadeira, tentando recuperar a compostura, enquanto Diogo sorria de canto, divertido com a situação. — Foi mal, mas eu deveria ter imaginado
Na manhã seguinte, acordei cedo, mas o quarto estava vazio. Bernardo não estava lá, e eu nem percebi quando ele entrou para dormir na noite anterior. Também não apareceu para o jantar, depois da nossa discussão. Eu estava irritada, e, honestamente, começava a me sentir perdida em meio a tudo aquilo. Era difícil admitir, mas meus sentimentos estavam começando a me trair. Eu não queria sentir, mas não conseguia evitar. Levantei-me da cama, sentindo o peso do silêncio entre nós, e fui direto para o chuveiro, na esperança de que a água quente me trouxesse um pouco de consolo e alívio. Quando terminei o banho, sequei meu cabelo com pressa, vesti uma calça confortável, botas e uma blusa de manga comprida, tentando ignorar a sensação de vazio que estava sentindo. Foi então que ouvi batidas na porta, seguidas da entrada de Lena. Ela estava vestida de maneira prática, com calças e botas, o que me fez perceber que provavelmente passaria o dia fora da fazenda. — Bom dia, Laurinha — ela di
Os dias foram passando, e, em vez de um afastamento entre Bernardo e Mariana, o que acontecia era justamente o contrário: eles estavam cada vez mais próximos. Eu observava tudo de longe, sem reagir, mas sentia que aquela situação me corroía por dentro. Já havia tentado conversar com Bernardo sobre isso, mas, no fim das contas, talvez eu estivesse errada ao pensar que ele queria me provocar. Talvez ele realmente ainda fosse apaixonado por Mariana. Se esse fosse o caso, então eu não tinha mais nada a fazer ali. Era hora de sair de cena. Além disso, eu precisava viajar para o Rio. Havia algumas pendências no consultório com a Cris, que exigiam minha atenção, e minha orientadora do mestrado também queria uma reunião comigo. Essa viagem parecia a desculpa perfeita para me afastar de tudo e, quem sabe, colocar minha cabeça no lugar. Enquanto fechava minha mala, perdida nos próprios pensamentos, a porta do quarto se abriu. — Pra onde você vai, Laura? — Bernardo perguntou, encostando-