Na manhã seguinte, acordei cedo, mas o quarto estava vazio. Bernardo não estava lá, e eu nem percebi quando ele entrou para dormir na noite anterior. Também não apareceu para o jantar, depois da nossa discussão. Eu estava irritada, e, honestamente, começava a me sentir perdida em meio a tudo aquilo. Era difícil admitir, mas meus sentimentos estavam começando a me trair. Eu não queria sentir, mas não conseguia evitar. Levantei-me da cama, sentindo o peso do silêncio entre nós, e fui direto para o chuveiro, na esperança de que a água quente me trouxesse um pouco de consolo e alívio. Quando terminei o banho, sequei meu cabelo com pressa, vesti uma calça confortável, botas e uma blusa de manga comprida, tentando ignorar a sensação de vazio que estava sentindo. Foi então que ouvi batidas na porta, seguidas da entrada de Lena. Ela estava vestida de maneira prática, com calças e botas, o que me fez perceber que provavelmente passaria o dia fora da fazenda. — Bom dia, Laurinha — ela di
Os dias foram passando, e, em vez de um afastamento entre Bernardo e Mariana, o que acontecia era justamente o contrário: eles estavam cada vez mais próximos. Eu observava tudo de longe, sem reagir, mas sentia que aquela situação me corroía por dentro. Já havia tentado conversar com Bernardo sobre isso, mas, no fim das contas, talvez eu estivesse errada ao pensar que ele queria me provocar. Talvez ele realmente ainda fosse apaixonado por Mariana. Se esse fosse o caso, então eu não tinha mais nada a fazer ali. Era hora de sair de cena. Além disso, eu precisava viajar para o Rio. Havia algumas pendências no consultório com a Cris, que exigiam minha atenção, e minha orientadora do mestrado também queria uma reunião comigo. Essa viagem parecia a desculpa perfeita para me afastar de tudo e, quem sabe, colocar minha cabeça no lugar. Enquanto fechava minha mala, perdida nos próprios pensamentos, a porta do quarto se abriu. — Pra onde você vai, Laura? — Bernardo perguntou, encostando-
Laura O Rio de Janeiro sempre foi um refúgio para mim. A cidade tinha sua própria energia, algo vibrante, que me fazia sentir viva. Mas, dessa vez, nem mesmo o caos organizado das ruas, o som do mar ou o movimento das pessoas ao redor conseguiam me distrair do turbilhão de pensamentos que me acompanhavam desde que cheguei. Eu precisava me concentrar. Tinha reuniões importantes no consultório , decisões a tomar e minha orientadora do mestrado esperando atualizações sobre minha pesquisa. Mas, no fundo, sabia que estava aqui também para fugir.Fugir dele. — Laurinha, está tão aérea. Não vai me dizer que tem alguma coisa tirando o seu sono. Encontrou um príncipe encantado em Minas Gerais? — Cris perguntou, com aquele tom divertido que só ela conseguia usar sem soar irritante. Revirei os olhos, mexendo distraidamente no meu café. — Para de falar bobagem, Cristina. — Respondi, tentando desviar do assunto. Ela riu, como se já esperasse essa resposta. Cris me conhecia bem demais.
Laura havia voltado do Rio de Janeiro, e sua presença parecia preencher o casarão de forma quase tangível. A beleza dela, o jeito sereno e, ao mesmo tempo, implacável com que entrou na sala, tudo isso me atingiu com uma força que eu não esperava. Ela estava ali, de volta, mas não como a mulher que eu conhecia. Ela estava exigente, decidida, e aquela frieza que ela mantinha comigo parecia mais cortante do que nunca. Mas o que mais me atingiu não foi só a presença dela. Foi o tom da voz, a maneira como ela me olhou, como se já soubesse exatamente o que eu iria dizer antes mesmo de eu abrir a boca. Ela havia voltado, mas com uma raiva silenciosa que eu sabia que não podia ignorar. – Olha, Laura, você não está em posição de exigir nada… – tentei começar, mas fui interrompido por ela, como se minhas palavras não tivessem o menor valor. – Se ela ficar nesta casa, eu vou embora e peço a anulação do casamento. Então você vai poder se casar com ela, a mulher que você ama. – Ela disse, e
Na manhã seguinte, acordei mais tarde do que o normal. Assim que desci para o café, percebi que a casa estava silenciosa. A mesa ainda estava posta, intacta, como se ninguém tivesse passado por ali. Me servi de uma xícara de café e me sentei, sem vontade de comer nada. — Bom dia, dona Laura. — Rosa apareceu, me cumprimentando com seu tom sempre gentil. Levantei o olhar para ela, sem pressa. A Rosa parecia alheia ao conflito que sua filha estava causando ao estar hospedada no casarão, mas eu não mencionaria isso. Ela era uma pessoa querida demais para que eu a colocasse no meio daquela situação. — Como está, Rosa? Onde está todo mundo? — Tudo tranquilo, dona Laura. A Helena saiu cedo com o Diogo, o Bernardo também foi cedo pra a fábrica. — E a Mariana? — perguntei sem hesitar. — Ela foi pra BH resolver algumas coisas. Assenti, levando a xícara de café aos lábios, mas sem realmente sentir o gosto. O nome de Mariana ainda me causava um incômodo difícil de ignorar, mas p
Os dias foram passando, e percebi que Bernardo estava se afastando. Não apenas de Mariana, mas de todos ao redor. Ele saía cedo, chegava tarde e evitava qualquer interação desnecessária. Não que ele me devesse satisfações, mas, por algum motivo, esse distanciamento me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Talvez fosse pelo contraste, pelo fato de que, até pouco tempo atrás, ele parecia disposto a me enfrentar a qualquer custo. Agora, simplesmente… desistiu. Mas eu tinha outras coisas em que pensar. A presença de Mariana no casarão continuava sendo um incômodo, mas, diante do que estava acontecendo com Lena, aquilo parecia insignificante. Minha prima estava cada dia mais abatida, mais silenciosa. Ela tentava manter a rotina, tentava fingir que tudo estava bem, mas eu a conhecia bem demais para cair nessa mentira. O Diogo mal parava em casa. E, quando estava, parecia distante, ausente. Lena ainda tentava manter o casamento, ainda se esforçava para puxá-lo de volta. Mas eu
Aos poucos, fui voltando à consciência. Meu corpo parecia pesado, e uma sensação de cansaço tomava conta de mim. Minhas pálpebras tremularam antes de se abrirem completamente, e a luz branca do quarto me cegou por alguns instantes. Pisquei algumas vezes até conseguir focar melhor no ambiente. Foi então que percebi a presença ao meu lado. Bernardo estava sentado ali, com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa, como se estivesse perdido em pensamentos. Segurava minha mão entre as dele, o toque quente contrastando com o frio que eu sentia. Soltei um suspiro fraco, chamando sua atenção. Ele ergueu a cabeça no mesmo instante, e o alívio estampado em seu rosto foi tão intenso que me pegou desprevenida. — Laura… — Sua voz saiu rouca, carregada de algo que não consegui decifrar. — Como está se sentindo? Tentei responder, mas minha garganta estava seca. Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, Bernardo pegou um copo de água e me ajudou a beber. — Melhor — respondi
Subi as escadas com dificuldade, mas Bernardo estava ao meu lado o tempo todo, seus braços firmes ao redor da minha cintura, me dando apoio a cada passo. Ele se mantinha próximo, sempre atento ao meu equilíbrio, como se tivesse medo de que eu caísse a qualquer momento. Mesmo sendo teimosa e querendo fazer tudo sozinha, sabia que não conseguiria sem ele. Quando chegamos ao meu quarto, ele me olhou com preocupação, mas não disse nada. Apenas deu um passo à frente, como se já soubesse o que eu precisava. — Vou preparar o banho para você — disse ele, com a voz suave, mas carregada de cuidado. Eu apenas assenti, sentindo a necessidade de me deitar e descansar um pouco antes de entrar na água. Ele entrou no banheiro, deixando a porta aberta e pude ver ele ligar a torneira da banheira e a ajustar a temperatura da água, enquanto eu me recostava na cama, fechando os olhos por um instante. — Você vai precisar de alguma coisa? — Bernardo perguntou, ainda de costas para mim, ajustando os