Quando acordei, o outro lado da cama estava vazio. Passei a mão pelo meu tornozelo e ainda senti um leve incômodo, mas nada preocupante. A marca da mordida continuava um pouco inchada, mas eu estava bem. Levantei com cuidado e fui direto para o banheiro. Tomei um banho rápido, deixando a água morna relaxar meu corpo. Depois, vesti um short jeans, uma regata leve e calcei sandálias confortáveis. O sol brilhando pela janela indicava que o dia seria quente. Desci as escadas devagar e, assim que cheguei à sala, meu olhar foi direto para a varanda. Bernardo estava lá, conversando com Mariana. Meu corpo ficou tenso no mesmo instante. Meu primeiro impulso foi desviar o olhar, seguir para a cozinha e ignorar a cena. Mas, por alguma razão, fiquei ali parada por alguns segundos, observando. Mariana sorria e falava algo, enquanto Bernardo mantinha uma expressão séria. Mariana sorria e gesticulava enquanto falava, a voz baixa e suave, mas Bernardo mantinha a expressão séria, os braços c
BernardoEu estava sentado na mesa do escritório, os papéis espalhados à minha frente, mas minha mente estava distante. O som dos passos ecoando pelo corredor parecia abafado, como se eu estivesse preso em uma bolha, longe de tudo. A fazenda, a administração, os negócios… tudo parecia um pouco mais pesado hoje. Minha mente voltava para Laura. A forma como ela estava vulnerável ontem, como segurou minha mão quando a dor da picada da cobra se intensificou, confiando em mim, ainda que contra sua vontade. Como, pela primeira vez em muito tempo, ela não ergueu barreiras quando a ajudei a tomar banho, passando a esponja por seus ombros, suas costas… O silêncio dela naquela hora foi diferente. Não foi desconfortável, não foi de resistência. Foi como se, por um breve momento, ela tivesse se permitido apenas estar ali comigo. E depois, quando se deitou ao meu lado, adormeceu sem esforço, como se estivesse segura. Como se eu fosse alguém em quem ela pudesse confiar. Mas eu sabia a verdade
Queridas leitoras, Chegamos a um número muito especial neste livro: as primeiras mil leituras! Eu nem sei por onde começar a agradecer. Só sei que meu coração está cheio de gratidão por cada uma de vocês que dedicou um tempinho do seu dia para mergulhar nessa história. Algumas de vocês me acompanham desde o primeiro livro que publiquei aqui na plataforma, e é impossível colocar em palavras o quanto isso me emociona. Outras chegaram agora e já me acolheram com tanto carinho que parece que estamos juntas há tempos. Eu leio cada comentário com muito carinho. Mesmo quando não consigo responder a todos, saibam que eu vejo, sinto e me emociono com cada palavra. Vocês me inspiram a continuar escrevendo mesmo nos dias mais cansativos — e, acreditem, esse semestre tem sido puxado. A faculdade está em período integral, e isso tem me impedido de postar mais de um capítulo por dia. Eu queria muito poder publicar mais, mas infelizmente meu tempo está corrido. Ainda assim, faço o possível para m
Não fiquei na cama remoendo o fragmento que Laura havia deixado escapar sobre o passado. Eu queria, mas não podia. Me levantei, tirei a roupa e entrei no chuveiro. A água morna escorria pelos meus ombros, trazendo um alívio momentâneo, como se pudesse lavar as dúvidas e a tensão que cresciam dentro de mim. Fechei os olhos e deixei a testa encostar na parede fria, tentando organizar os pensamentos. Foi quando ouvi a porta do banheiro se abrir. Não me movi, tampouco abri os olhos. Eu sabia quem era. Senti seu perfume doce se espalhar pelo ambiente — um cheiro que agora parecia inevitavelmente ligado à ideia de casa, embora eu soubesse que talvez nunca tivesse isso de verdade com ela. Meu peito se apertou. Estava cansado de tentar entender a Laura. Senti sua presença se aproximar lentamente, seus passos leves no piso do banheiro. A porta do boxe se abriu devagar, deixando entrar uma lufada de ar mais frio. Não precisei olhar para saber que era ela. Laura entrou em silêncio, como se es
Laura Acordei levemente desorientada, com os olhos ainda pesados pela noite anterior. Pisquei algumas vezes, tentando me situar, e só então olhei para o relógio da cabeceira — já era manhã do dia seguinte. Virei o rosto lentamente, e percebi que estava sozinha na cama. O lençol ao meu lado ainda guardava o calor tênue do Bernardo que já havia saído. Suspirei baixo, sentindo uma mistura de vazio e confusão tomar conta de mim. A noite anterior tinha sido intensa. Em todos os sentidos. Física, emocional… e, de alguma forma, até silenciosamente vulnerável. Por um momento, tive a impressão de que havíamos atravessado uma barreira invisível. Mas agora, tudo parecia nebuloso. Levantei-me da cama e fui para o banheiro, tomei um banho e fiquei pensativa. Amanhã seria o aniversário da Lena. Eu precisava sair para comprar um presente para ela. Após o banho, vesti um vestido leve e confortável, penteei os cabelos ainda úmidos e saí do quarto. O clima estava fresco, agradável, e meu es
A batida leve na porta interrompeu meus pensamentos. — Pode entrar — respondi, sem tirar os olhos da planilha aberta no computador. Quando a porta se abriu, levantei o olhar e vi Laura. Ela continuava do mesmo jeito, linda mas assim que coloquei os olhos nela, algo estava diferente. Os ombros rígidos, o rosto mais pálido, os olhos… distantes. Nada nela lembrava a mulher que geralmente entrava como uma tempestade tranquila, cheia de presença. E também não estava a mesma mulher receptiva e quente de ontem a noite. — Achei que ia tomar café com sua tia hoje, por isso saí cedo e não fiquei na cama. — comentei, tentando manter o tom leve. Ela fechou a porta devagar, como se o som pudesse quebrá-la por dentro. Encostou-se ali, sem dizer nada por alguns segundos. Então soltou, num tom curto: — Mudei de ideia. Minha atenção se prendeu nela de vez. O jeito como ela falava, como olhava para o chão… Laura sempre foi intensa, mas aquilo era diferente. Como se estivesse tentando se pro
A água escorria do meu corpo enquanto eu subia pela margem, os pés afundando levemente na terra úmida. Peguei o vestido sobre a pedra e vesti ali mesmo, sentindo o tecido grudar na pele molhada. Não me importei. Pela primeira vez em horas, minha mente estava em silêncio. Bernardo saiu logo atrás de mim, os cabelos pingando e um sorriso calmo nos lábios. A brisa leve arrepiava minha pele, e cruzei os braços instintivamente. — Está com frio? — ele perguntou, a voz baixa, como se não quisesse espantar o que quer que existisse entre nós naquele instante. Assenti com um gesto sutil. Ele se aproximou, e por um segundo apenas ficou ali, me olhando. Já tínhamos nos visto em muito menos do que estávamos agora, mas aquilo era diferente. Porque agora havia significado. Porque, naquele momento, eu não era só corpo — era coração exposto, era passado pulsando sob a pele. Ele passou os braços ao redor dos meus ombros, me puxando contra o peito dele. E eu deixei. Me encostei ali, ouvindo o so
O cheiro de bolo caseiro e pão quentinho invadiu o andar de cima antes mesmo que eu abrisse os olhos. Ainda era cedo, mas a movimentação no casarão já denunciava que o dia seria longo e especial. Me espreguicei devagar, deixando o peso dos lençóis escorrer pelo corpo ainda meio adormecido. Quando me sentei na cama, ouvi a porta do banheiro se abrir. Laura saiu de lá envolta por aquele aroma fresco de sabonete e perfume suave que já se tornara familiar e viciante. O cabelo dela estava solto, úmido, caindo em ondas suaves sobre os ombros. Vestia um vestido curto e estampado com flores pequenas, que deixava as pernas à mostra e os ombros delicadamente expostos. Por um segundo, esqueci de respirar. — Bom dia. — ela disse, ao me ver, com um sorriso tranquilo nos lábios. Laura estava mais suave hoje. Mais presente. Nada como a mulher tensa e silenciosa do dia anterior, que mal conseguiu encarar o próprio passado sem estremecer por dentro. — Bom dia… — respondi, ainda com a voz ro