No horário de almoço, Bernardo e eu voltamos para o casarão.— Nossa, é tudo muito bem calculado, não é? Qualquer erro em uma etapa na fabricação pode comprometer a produção inteira — comentei, ainda refletindo sobre o que tinha aprendido na fábrica durante a manhã. A conversa com o Bernardo me distraiu bastante, me ajudando a focar mais no trabalho do que na presença de sua mãe e irmã. Mas, quando voltamos para a fazenda, elas continuavam lá, claro. — Sim, por isso mantemos nosso padrão — respondeu Bernardo com um tom sério, já acostumado com o ritmo da fazenda. Entramos no casarão, ainda conversando sobre a logística e os detalhes da produção. No instante em que passamos pela porta, avistamos a mãe de Bernardo na sala. Ela estava com óculos de leitura, lendo algo que parecia ser uma revista, mas assim que nos viu, sorriu. — Aí estão vocês. Sumiram a manhã toda, porque não tomaram café com a gente? — perguntou Beatrice, a voz suave, mas com um toque de curiosidade. Bernardo s
No dia seguinte, a mãe e a irmã do Bernardo já haviam partido, e, com isso, senti um alívio imediato. Sem os olhares avaliadores das duas sobre mim, era como se a fazenda finalmente voltasse a ter um pouco de paz. Fernando e Diogo saíram cedo para cuidar dos negócios na fábrica e na transportadora, deixando o casarão mais silencioso. Eu estava terminando meu café quando Lena apareceu na cozinha, animada. — Vou até a lavoura de café verificar algumas coisas. Quer ir comigo? — perguntou, apoiando-se no balcão. A ideia de sair um pouco e conhecer melhor essa parte da fazenda me pareceu bem mais interessante do que passar o dia dentro do casarão. — Claro — respondi, me levantando. — Só me dá um minuto para pegar um chapéu. Lena sorriu, satisfeita, e esperou enquanto eu me preparava. Eu sabia que aquele passeio não era apenas sobre café. Lena sempre gostava de conversar e, provavelmente, queria aproveitar a oportunidade para falar sobre algo além do trabalho na fazenda. Saímos
O dia passou rápido, e aproveitei a tarde para focar na minha tese. Consegui estudar bastante e organizar melhor algumas ideias para a dissertação. Também aproveitei para ligar para a Cris, minha sócia e amiga, que me atualizou sobre os projetos do escritório. Conversamos por um bom tempo, e eu contei que estava gostando de passar um tempo na fazenda com minha prima, mas, obviamente, omiti a parte do casamento. Ainda não sabia como explicaria isso a ela, ou se algum dia explicaria. Mais tarde, minha mãe também me ligou. Dessa vez, estava na Suíça. Ela nunca parava em lugar nenhum por muito tempo. Cada dia era um destino diferente, uma nova experiência bancada pelo dinheiro que conseguiu no divórcio, depois que meu pai destruiu o casamento com uma traição. A lembrança da traição dele ainda ecoava dentro de mim, como uma ferida que nunca sarava completamente. Eu via a dor da minha mãe, a raiva e o vazio nos olhos dela, quando soubera da mentira. Mas não era apenas isso que me fazia
O sol da manhã entrou suavemente pela janela, aquecendo o quarto de forma calma e silenciosa. Eu acordei com uma leve sensação de desconforto, como se estivesse tentando processar o que havia acontecido na noite anterior. Bernardo estava ao meu lado, seu corpo ainda espalhado pela cama, respirando de forma tranquila, sem se preocupar com nada. Eu me virei lentamente, tentando não fazer barulho, e me sentei na beirada da cama. Esses momentos estavam se tornando perigosos… o Bernardo e eu passamos a dividir a cama desde que nos “casamos”, até porque precisamos manter as aparências para sua mãe quando ela estava na fazenda e agora precisávamos manter as aparências para os funcionários, já que a Lena e o Diogo sabiam do nosso acordo desde o início. Mas momentos como esses entre nós dois estavam se tornando perigosos, já que além de um contrato, estávamos fazendo sexo. Nosso casamento era real nesse sentido, estávamos casados perante a lei e transávamos, então a única coisa que não exist
BernardoJá fazia alguns dias desde a nossa conversa na cidade, e algo entre nós tinha mudado. Laura não parecia diferente continuava com aquele olhar distante, com aquele jeito de quem não se apega a nada. Mas eu… eu estava diferente. Eu já tinha conhecido mulheres difíceis antes, mulheres que jogavam charme fingindo ser inacessíveis, esperando que alguém insistisse o suficiente para quebrar a barreira delas. Mas Laura não era assim. Ela não jogava charme, não flertava, não dava brechas. Ela simplesmente se trancava. E o que mais me incomodava era o que ela disse antes de sairmos do carro. Não era só sobre mim. Era sobre qualquer um. Sobre o fato de que ela realmente acreditava que não existia nada de bonito dentro dela para alguém encontrar. E aquilo ficou na minha cabeça. Eu tentei me afastar dela, tentei não tocá-la… Mas dividíamos a mesma cama, então o sexo entre nós era algo recorrente. Era algo consensual, algo que acontecia sem esforço, sem culpa, sem discussões. L
O dia seguinte amanheceu com um céu limpo, sem nenhuma nuvem. O sol entrava pela janela do quarto, trazendo uma claridade dourada que contrastava com o frio da manhã. Me espreguicei, sentindo o lençol macio contra minha pele e, ao virar para o lado, vi Laura ainda adormecida. O cabelo bagunçado caía sobre o rosto, e seu jeito despreocupado de dormir me fez sorrir. Mas aquele momento de paz não durou muito. Um barulho no andar de baixo chamou minha atenção. Vozes animadas ecoavam pela casa, seguidas pelo som de passos rápidos na cozinha. Me levantei devagar para não acordar Laura e fui até a varanda, de onde dava para ver o quintal. Foi então que eu a vi. Uma mulher de cabelos castanhos, presos em um coque desalinhado, estava abraçando Rosa, a cozinheira. Ela falava animada, gesticulando bastante, enquanto Rosa segurava seu rosto com carinho, como se estivesse vendo um fantasma depois de anos. - Mariana, meu amor. Não acredito que está aqui, filha. Bom… a verdade nem eu ac
Laura Fechei a porta do banheiro atrás de mim e soltei um suspiro. Minha expressão no espelho estava impassível, mas por dentro… por dentro, eu sabia que aquela conversa tinha me afetado. Bernardo queria me testar. Jogar comigo. E eu não podia permitir que ele vencesse. Abri o hobby, deixando-o escorregar pelos meus ombros antes de entrar no chuveiro. A água quente caiu sobre minha pele, mas não levou embora a tensão que se instalou no meu corpo. Eu sabia que ele estava irritado. Sabia que, naquele exato momento, ele provavelmente estava se perguntando o que fazer comigo. E, no fundo, isso me divertia. Bernardo sempre gostou de ter o controle. Gostava de me provocar, de me desafiar, de ver até onde eu aguentava sem demonstrar fraqueza. O problema era que eu jogava esse jogo há muito mais tempo do que ele. E, por mais que uma parte de mim quisesse acreditar que nada daquilo me atingia, eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Porque quando ele perguntou se ter
— É mesmo, Laura? Porque na mesa o clima entre você e o Bernardo parecia bem amistoso. E você estava tentando mostrar pra Mariana que o Bernardo era seu. Eu parei por um instante, a pergunta de Lena me atingindo de forma inesperada. Ela sabia como fazer os toques sutis para testar os limites, mas eu não estava disposta a me deixar abalar agora. — E não é? — Respondi com calma, tentando não deixar transparecer nenhuma insegurança. — Bernardo é meu marido, Lena. Mesmo que seja apenas um contrato com prazo de validade, as pessoas não sabem disso. Então, é justo que a Mariana entenda que o ex dela está casado. E eu tenho que representar bem esse papel, não? Lena soltou uma risada e balançou a cabeça, como se estivesse me dando razão, mas sem perder o tom leve. — Claro. Os funcionários não podem desconfiar. — Ela disse, enquanto desligava o carro e estacionava no centro do povoado Bela Vista. Eu e Lena saímos do carro e caminhamos até a feirinha. Ela começou a escolher frutas fresc