O dia do casamento chegou antes mesmo que eu pudesse assimilar completamente tudo o que estava acontecendo. Não houve grandes preparações ou longas provas de vestido. A celebração seria simples, civil, sem floreios ou romantizações. Apenas um acordo formalizado diante de algumas testemunhas. Na manhã da cerimônia, vesti um vestido branco discreto, de tecido leve, sem brilhos ou rendas exageradas. Meu cabelo estava solto, caindo em ondas naturais sobre os ombros, e a maquiagem era mínima. Quando me olhei no espelho, parecia apenas mais um dia comum. Mas não era. Helena e algumas funcionárias ajudaram nos preparativos simples para a recepção na fazenda. Bernardo, como sempre, parecia despreocupado, vestindo um terno leve, com o primeiro botão da camisa aberto, o que apenas realçava sua aparência descontraída. Ele me lançou um olhar divertido quando cheguei ao local da cerimônia. — Linda. — murmurou, baixo o suficiente para que apenas eu ouvisse. Revirei os olhos, recusando-me a
O quarto do hotel-fazenda estava tranquilo, com a luz suave da noite entrando pelas cortinas. A cama estava vazia, mas uma sensação de expectativa pairava no ar. Bernardo fechou a porta atrás de nós, e eu pude ver como seus olhos estavam mais sérios agora, sem as brincadeiras e a fachada de antes. Bernardo pegou uma garrafa de vinho, serviu duas taças e me entregou uma. O gesto parecia normal, mas dentro de mim havia um turbilhão. Estava claro que ambos sabíamos que essa noite seria diferente. Não havia mais nada para esconder ou encenar. — À nós — Bernardo disse, e eu respondi com um simples sorriso, erguendo minha taça. O líquido desceu suavemente pela minha garganta, mas ao invés de me acalmar, ele apenas parecia intensificar a tensão entre nós. Claro, era normal. Fazia um tempo que eu não tinha sexo. Meu corpo estava respondendo ao dele — isso era fisiológico, um simples desejo. Bernardo colocou a taça na mesa e se aproximou de mim. Ele ainda não disse nada, mas seus olhos
Bernardo e eu retornamos à fazenda na manhã seguinte, o silêncio entre nós era desconfortável, como se tudo o que passamos na noite anterior tivesse ficado em segundo plano, mas ainda assim, de alguma forma, ecoasse. O casamento fora apenas uma formalidade, um acordo, mas a noite não passou despercebida. De qualquer forma, estávamos mais focados em manter a aparência e não deixar a família desconfiada. Ao chegarmos, a casa parecia ainda mais movimentada. A mãe de Bernardo, Beatrice, e a irmã dele, Bianca, estavam ali, além de Diogo e Helena, todos se reunindo para o café da manhã. Quando pisei na entrada, senti os olhares de todos sobre mim. Beatrice foi a primeira a se aproximar, com um sorriso acolhedor. Ela se levantou para nos abraçar, mas de uma forma um pouco reservada, como se estivesse avaliando nossa chegada. — Não esperávamos ver os recém-casados por tão cedo. — Ela falou, o sorriso no rosto, mas com uma expressão que refletia mais satisfação do que qualquer outra coi
Depois do café, subi para o quarto, mas a inquietação me consumia. O sono não vinha, minha pesquisa de mestrado parecia impossível de focar, e ficar parada só tornava tudo pior. Mas sair do quarto também não era uma opção — não queria encarar os olhares inquisidores da Beatrice e da Bianca, cada uma com suas próprias suspeitas e julgamentos silenciosos. Suspirei e me sentei no sofá, tentando acalmar minha mente. Fechei os olhos por um instante, buscando um resquício de paz, mas um som abrupto me fez sobressaltar. A porta se abriu de repente, e meu coração disparou por reflexo. Só relaxei quando vi que era a Lena. — Eu não deveria ter aceitado essa loucura, Lena — murmurei, passando as mãos pelo rosto, sentindo a tensão presa nos músculos. Ela apenas ergueu a mão em um gesto para que eu me acalmasse e se sentou ao meu lado, sua expressão serena contrastando com a tempestade que eu sentia por dentro. — Calma, Laura. Vai dar tudo certo. Vocês estão se saindo muito bem — disse, sua vo
No dia seguinte, acordei com a movimentação no quarto. Bernardo já estava de pé. Notei que ele já havia tomado banho e estava vestido como um perfeito fazendeiro. As roupas, bem ajustadas, deixavam à mostra sua musculatura, e ele calçava botas de couro que completavam o visual. Ele parecia ter saído de um catálogo de fazendeiro, e eu não pude deixar de notar o quão bonito ele estava. Era difícil não perceber o quanto ele era atraente, especialmente agora, com sua postura confiante e o ar de quem dominava aquele ambiente. Nossa noite foi exatamente como deveria ter sido. Ele se deitou ao meu lado em silêncio, sem me tocar, e a cama, felizmente, era grande o suficiente para que cada um ficasse em seu canto. Apesar de termos concordado com sexo, eu não queria que aquilo se tornasse uma rotina, um relacionamento real. Não éramos um casal de verdade, e eu tinha plena consciência disso. — De pé tão cedo? — Perguntei, me sentando na cama, espreguiçando os braços. — Eu acordo cedo, Laur
Bernardo se sentou à mesa comigo, servindo-se de uma fatia generosa de pão caseiro e de um pedaço do queijo produzido ali mesmo. Enquanto comia, começou a me contar mais sobre a fábrica. — A gente começou há mais de quinze anos. No início, a produção era pequena, basicamente para consumo da fazenda e para alguns mercados locais. Mas com o tempo, investimos mais, ampliamos a estrutura e agora nossos produtos chegam a várias regiões do Brasil. — Ele falou com naturalidade, como se fosse apenas um detalhe. — Você sempre esteve envolvido nisso? — Perguntei, curiosa. Bernardo soltou um meio sorriso e balançou a cabeça. — Na verdade, não. Meu pai insistia, mas eu nunca fiz muita questão. Passei anos fora, tentei outras coisas, mas acabei voltando. — Ele deu de ombros, como se ainda estivesse se acostumando com a ideia. — Tem muita coisa que preciso aprender, mas estou pegando o jeito. — Então você está gostando? — Perguntei, cortando um pedaço de bolo de fubá que também estava na
No horário de almoço, Bernardo e eu voltamos para o casarão.— Nossa, é tudo muito bem calculado, não é? Qualquer erro em uma etapa na fabricação pode comprometer a produção inteira — comentei, ainda refletindo sobre o que tinha aprendido na fábrica durante a manhã. A conversa com o Bernardo me distraiu bastante, me ajudando a focar mais no trabalho do que na presença de sua mãe e irmã. Mas, quando voltamos para a fazenda, elas continuavam lá, claro. — Sim, por isso mantemos nosso padrão — respondeu Bernardo com um tom sério, já acostumado com o ritmo da fazenda. Entramos no casarão, ainda conversando sobre a logística e os detalhes da produção. No instante em que passamos pela porta, avistamos a mãe de Bernardo na sala. Ela estava com óculos de leitura, lendo algo que parecia ser uma revista, mas assim que nos viu, sorriu. — Aí estão vocês. Sumiram a manhã toda, porque não tomaram café com a gente? — perguntou Beatrice, a voz suave, mas com um toque de curiosidade. Bernardo s
No dia seguinte, a mãe e a irmã do Bernardo já haviam partido, e, com isso, senti um alívio imediato. Sem os olhares avaliadores das duas sobre mim, era como se a fazenda finalmente voltasse a ter um pouco de paz. Fernando e Diogo saíram cedo para cuidar dos negócios na fábrica e na transportadora, deixando o casarão mais silencioso. Eu estava terminando meu café quando Lena apareceu na cozinha, animada. — Vou até a lavoura de café verificar algumas coisas. Quer ir comigo? — perguntou, apoiando-se no balcão. A ideia de sair um pouco e conhecer melhor essa parte da fazenda me pareceu bem mais interessante do que passar o dia dentro do casarão. — Claro — respondi, me levantando. — Só me dá um minuto para pegar um chapéu. Lena sorriu, satisfeita, e esperou enquanto eu me preparava. Eu sabia que aquele passeio não era apenas sobre café. Lena sempre gostava de conversar e, provavelmente, queria aproveitar a oportunidade para falar sobre algo além do trabalho na fazenda. Saímos