Theo e Heather se entreolharam, enquanto Wendy não tirou os olhos daquele homem irônico. — Wendy? — Ethan pergunta, aparecendo na porta. As pessoas que estavam na fila começaram a ficar agitadas ao ver Ethan tão de perto, o que deixou Clifton agoniado. — Vão entrar ou não? Heather foi a primeira a fazer, seguida de Theodore. Wendy entrou em câmera lenta, sem deixando de encarar o treinador em momento algum. — Você é um lutador! — Theo diz, olhando para o seu cunhado. — Quantos segredos você tem mais? Ethan soltou uma risada curta, tentando aliviar a tensão. — Segredos? Não, Theo, acho que já esgotei a cota por hoje. — Ele brincou, tentando trazer um pouco de leveza à situação. Ignorando o treinador, Wendy, sentindo o alívio no tom de Ethan, se aproximou dele e o beijou suavemente. Quando se afastou, ela olhou para o marido com um sorriso carinhoso. — Parabéns pela vitória, amor. — Ela disse, com orgulho evidente na voz. — Trouxe o Theo porque ele precisava estar em um ambi
Quando as persianas automáticas subiram, inundando o apartamento com a luz suave da manhã, Wendy despertou. Seus olhos ainda estavam pesados de sono, e o corpo doía de ter passado a noite no sofá. Esfregando os olhos com lentidão, ela se sentou, os pensamentos ainda confusos enquanto tentava se situar. Ela olhou em volta, esperando encontrar Ethan em algum canto, mas o apartamento estava estranhamente quieto. Wendy franziu a testa e se levantou, andando descalça pelo chão frio da sala. — Ethan? — chamou, a voz ainda rouca de sono. Nenhuma resposta. Ela se dirigiu até o quarto, abrindo a porta com cautela, mas a cama estava vazia e impecavelmente arrumada. O banheiro, igualmente silencioso. Wendy começou a sentir um leve desconforto crescer no peito. Voltando para a sala, pegou o celular na mesa de centro e discou o número de Ethan. O telefone sequer tocou e foi direto para a caixa postal. Wendy tentou de novo, e mais uma vez foi recebida pelo som automático da gravação. "Oi, é
— Eu não deixei nada acontecer! — Clifton respondeu, a tensão em sua voz ficando clara. — Ele saiu antes de mim, eu não sabia que... — Ele tentou manter o controle da situação, mas Wendy não estava pronta para escutar desculpas. — Você é o maldito treinador dele! Era sua responsabilidade garantir que ele estivesse bem! — Wendy gritou, as lágrimas escorrendo pelo rosto agora. — Eu não consigo... eu não consigo acreditar nisso! Clifton respirou fundo, seu tom mudando para algo mais calmo, mas ainda firme. — Wendy, eu não tive como impedir. Ethan saiu após as fotos e eu ainda fiquei resolvendo algumas coisas. Quando ouvi um barulho alto, eu e algumas coisas pessoas corremos para fora e foi aí que vimos Ethan no chão. — Ele fez uma pausa, olhando diretamente para ela. — Minha única preocupação desde então, foi saber como ele estava. E estava à espera de mais detalhes, para ligar e te informar do acontecido. — Esperando mais detalhes? — Wendy soltou uma risada incrédula, cheia de dor.
O caminho até a UTI parecia interminável, cada passo mais difícil que o anterior. A ideia de ver Ethan naquele estado a enchia de medo, mas ela sabia que precisava estar ao lado dele, mesmo que fosse apenas por alguns minutos. Quando finalmente entrou no quarto, seu coração quase parou ao vê-lo. Ethan estava deitado na cama, cercado por máquinas e tubos que monitoravam sua condição. Seu rosto estava pálido, coberto por pequenos cortes e hematomas. O peito tatuado dele, subia e descia com dificuldade, cada respiração parecendo um esforço doloroso. O som rítmico do monitor cardíaco preenchia o ambiente, criando um contraste perturbador com o silêncio que parecia envolver Wendy. Ela se aproximou lentamente, quase com medo de tocá-lo, como se o contato pudesse quebrá-lo de alguma forma. Finalmente, ela se sentou ao lado da cama, pegando a mão dele com suavidade. A pele dele estava fria, e o calor da mão dela parecia incapaz de aquecê-lo. — Ethan… — sua voz saiu em um sussurro quase ina
No segundo dia, Wendy mal havia dormido. O cansaço começava a cobrar seu preço, mas ela não se permitia descansar de verdade. Estava sentada em uma poltrona desconfortável, quando sentiu um leve movimento na mão de Ethan. Ela se endireitou imediatamente, o coração acelerado. Olhou para o rosto dele, e viu as pálpebras dele tremerem ligeiramente. — Ethan? — ela sussurrou, quase sem fôlego. Os dedos dele apertaram sua mão de leve, e os olhos de Ethan começaram a se abrir lentamente, como se o simples ato de acordar fosse uma batalha monumental. Wendy sentiu as lágrimas voltarem, mas dessa vez eram de alívio. — Ethan... você está me ouvindo? — ela perguntou, segurando a respiração. Ele abriu os olhos por completo, piscando com dificuldade, ainda desorientado, mas o olhar dele encontrou o dela, e um sorriso fraco e dolorido surgiu em seus lábios. — Wendy... — ele murmurou, a voz rouca e fraca. Ela se inclinou para perto dele, as lágrimas escorrendo novamente, mas dessa vez acompanh
Londres, 2013. — Isso é ridículo! Eu não posso aparecer na frente de toda aquela gente, usando essa coisa horrenda. — Seu pai escolheu. Você está mais do que careca que saber, que as decisões do seu pai são irrefutáveis. Wendy encara o espelho mais uma vez e cruza os braços, extremamente irritada. Ela chega à conclusão de que seu pai só pode enxergá-la como uma palhaça, para fazer com que vista aquele vestido roxo todo armado e com mangas bufantes. — É meu aniversário de quinze anos. Eu deveria ter pelo menos o direito de escolher o que vestir. Abby, a babá de Wendy, apenas encolhe os ombros e sorri para a menina através do espelho. — Você sabe que não é apenas o seu aniversário. — a velha mulher diz, abraçando a garota de lado. — E não importa a roupa que você vista, menina. Você sempre estará linda. — Sua opinião não vale, babá. Eu duvido que Steve vá me achar bonita dentro desse troço enorme e roxo. — Claro que... Abby teve sua fala cortada, pela presença de uma das em
Londres, 2023. — Por dirigir alcoolizada, não respeitar o sinal vermelho e quase atropelar um homem na calçada, cinco mil dólares. — O QUE? ISSO É... — Sem gritos, senhorita Montenegro. Isso aqui não é a sua casa. Wendy fecha os olhos e respira fundo. Não era sua intenção sair presa da corte. — Desculpe, meritíssimo. Eu só... eu não tenho esse dinheiro. Não tenho de onde tirar. O homem de cabelos brancos e paciência zero, encara Wendy de cima a baixo. Geralmente ele enviaria a pessoa diretamente para a cadeia, devido a gravidade da multa, mas ele sentiu um pouco de empatia por Wendy. Talvez fosse os olhos lacrimejados; talvez a expressão genuína de arrependimento em seu rosto, ou a percepção de que ela não representava uma ameaça direta à sociedade. O juiz pondera por um momento antes de falar: — Senhorita Montenegro, suas ações foram extremamente irresponsáveis e poderiam ter causado danos irreversíveis. No entanto, considerando que esta é sua primeira ofensa e levando em cont
Passaram-se muitos anos desde a última vez que Wendy tinha visto seu pai pela última vez. A vida a havia levado por caminhos diferentes dos planos que ele tinha para ela, e isso havia causado um distanciamento entre os dois. No entanto, agora, ela estava prestes a enfrentar uma visita ao cemitério da família para o enterro de seu pai. Wendy estava nervosa enquanto dirigia pelo caminho familiar que a levava ao cemitério. A paisagem ao redor estava repleta de memórias de sua infância, as quais havia tentado suprimir ao longo dos anos. Mas agora, elas vinham à tona com força total. Ao chegar ao cemitério, Wendy sentiu um aperto no peito. O ambiente tranquilo e sereno transmitia uma sensação de solenidade, ecoando o peso do momento que estava por vir. Ela desceu do carro que lhe fora enviado e respirou fundo, buscando coragem para enfrentar a situação. Ao adentrar o cemitério, Wendy caminhou entre os túmulos da família. Cada lápide era um lembrete tangível de suas raízes, uma conexão c