— Agora? Ah, meu Deus! Estou indo!Uma semana após o atropelamento, Ethan finalmente estava recebendo alta.Wendy desligou o celular, fechou a tampa do notebook, agarrou em sua bolsa e saiu de sua sala apressadamente.— Desmarque toda e qualquer coisa que eu tenha para hoje. — ela diz para a sua secretária, sem sequer parar de andar. — Não volto hoje!Durante a semana que se seguiu ao atropelamento, o hospital se tornou o segundo lar de Wendy. Ela passava horas ao lado de Ethan, tentando ajudar da maneira que podia enquanto ele se recuperava lentamente dos ferimentos graves.No terceiro dia, Ethan teve sua primeira sessão de fisioterapia. Apesar das múltiplas fraturas, especialmente nas costelas e na perna, o fisioterapeuta acreditava que iniciar com pequenos movimentos ajudaria a prevenir a rigidez muscular. A sessão foi exaustiva. Ethan, que sempre foi ativo e orgulhoso de sua força física, ficou frustrado com o quão limitado se sentia. Cada movimento, por mais simples que fosse, ca
Após a fala de Wendy, um silêncio se instaurou pelo lugar. Clifton pegou o celular e fingiu atender uma ligação. Ele se despede de Ethan e deixa o quarto.— Eu odeio esse homem! — Wendy diz, indo até sua bolsa. — Como que pode pensar apenas nele mesmo? Você sofreu um acidente, sequer consegue ficar em pé sozinho e ele quer te forçar a voltar aos treinos logo? Ele é um...— Wendy!A mulher para de falar e olha na direção do seu marido, que tinha um sorriso de orelha a orelha. Wendy se pergunta como um sorriso pode se alargar tanto.— Qual a graça? — ela pergunta.— Você estava me defendendo. — ele disse, sua voz suave, mas carregada de afeto. — Nunca te vi assim, tão... feroz.Wendy parou, segurando sua bolsa com força, mas não pôde evitar o pequeno sorriso que brotou em seu rosto ao ouvir aquilo. Seu corpo ainda estava tenso, mas o comentário de Ethan suavizou um pouco o ambiente.— Eu entendo que você precisa se vingar daquele homem. — Wendy diz, se aproximando de Ethan e segurando a
Wendy estava na cozinha servindo mais alguns canapés em uma bandeja, quando Theo se juntou a ela.— Ethan realmente tem uma filha, hein... — ele murmura, ocupando um dos bancos do balcão. — Uma garota formada e grávida. Você vai ser vovó!Wendy revirou os olhos e lançou um canapé na direção de Theo, que riu e o pegou com agilidade, colocando-o na boca.— Vovó? Não exagera! — ela retrucou com uma leve risada, mas logo seu olhar ficou pensativo.Enquanto Theo mastigava, Wendy pegou outra bandeja de canapés e colocou no balcão ao lado dele. Ela olhou para o irmão por um instante antes de falar, tentando manter o tom casual.— O que você achou da Claire? — perguntou, evitando encará-lo diretamente, como se estivesse testando o terreno.Theo ergueu uma sobrancelha e olhou para a sala, onde Claire conversava animadamente com Emily e Ethan.— A ex do Ethan? — ele perguntou, limpando os dedos com um guardanapo. — Ela parece bem disposta a ajudar. Mas... — ele fez uma pausa, olhando de volta p
Londres, 2013. — Isso é ridículo! Eu não posso aparecer na frente de toda aquela gente, usando essa coisa horrenda. — Seu pai escolheu. Você está mais do que careca que saber, que as decisões do seu pai são irrefutáveis. Wendy encara o espelho mais uma vez e cruza os braços, extremamente irritada. Ela chega à conclusão de que seu pai só pode enxergá-la como uma palhaça, para fazer com que vista aquele vestido roxo todo armado e com mangas bufantes. — É meu aniversário de quinze anos. Eu deveria ter pelo menos o direito de escolher o que vestir. Abby, a babá de Wendy, apenas encolhe os ombros e sorri para a menina através do espelho. — Você sabe que não é apenas o seu aniversário. — a velha mulher diz, abraçando a garota de lado. — E não importa a roupa que você vista, menina. Você sempre estará linda. — Sua opinião não vale, babá. Eu duvido que Steve vá me achar bonita dentro desse troço enorme e roxo. — Claro que... Abby teve sua fala cortada, pela presença de uma das em
Londres, 2023. — Por dirigir alcoolizada, não respeitar o sinal vermelho e quase atropelar um homem na calçada, cinco mil dólares. — O QUE? ISSO É... — Sem gritos, senhorita Montenegro. Isso aqui não é a sua casa. Wendy fecha os olhos e respira fundo. Não era sua intenção sair presa da corte. — Desculpe, meritíssimo. Eu só... eu não tenho esse dinheiro. Não tenho de onde tirar. O homem de cabelos brancos e paciência zero, encara Wendy de cima a baixo. Geralmente ele enviaria a pessoa diretamente para a cadeia, devido a gravidade da multa, mas ele sentiu um pouco de empatia por Wendy. Talvez fosse os olhos lacrimejados; talvez a expressão genuína de arrependimento em seu rosto, ou a percepção de que ela não representava uma ameaça direta à sociedade. O juiz pondera por um momento antes de falar: — Senhorita Montenegro, suas ações foram extremamente irresponsáveis e poderiam ter causado danos irreversíveis. No entanto, considerando que esta é sua primeira ofensa e levando em cont
Passaram-se muitos anos desde a última vez que Wendy tinha visto seu pai pela última vez. A vida a havia levado por caminhos diferentes dos planos que ele tinha para ela, e isso havia causado um distanciamento entre os dois. No entanto, agora, ela estava prestes a enfrentar uma visita ao cemitério da família para o enterro de seu pai. Wendy estava nervosa enquanto dirigia pelo caminho familiar que a levava ao cemitério. A paisagem ao redor estava repleta de memórias de sua infância, as quais havia tentado suprimir ao longo dos anos. Mas agora, elas vinham à tona com força total. Ao chegar ao cemitério, Wendy sentiu um aperto no peito. O ambiente tranquilo e sereno transmitia uma sensação de solenidade, ecoando o peso do momento que estava por vir. Ela desceu do carro que lhe fora enviado e respirou fundo, buscando coragem para enfrentar a situação. Ao adentrar o cemitério, Wendy caminhou entre os túmulos da família. Cada lápide era um lembrete tangível de suas raízes, uma conexão c
Assim que o advogado terminou a leitura, a sala se tornou um completo silêncio. Aquilo durou apenas alguns segundos, até que Wendy soltou uma gargalhada alta e estridente, fazendo com que todos os seus irmãos a olhassem. — Muito bom. — ela diz, ainda rindo. — Eu não sei com qual intuito vocês fizeram essa pegadinha comigo, mas foi boa. — Pegadinha? — Pietra pergunta, encarando sua gêmea. — Wendy, nós não temos nada a ver com isso. Ao perceber que seus irmãos mantinham o semblante sério, tão confusos quanto ela com aquele final de testamento, ela se vira para o advogado. — Então foi uma pegadinha do meu pai. Não foi, Guilhermo? Guilhermo não precisava reler aquele documento, para responder à pergunta de Wendy. Ele era advogado da família há tantos anos, que esteve em todas as reuniões que Oliver teve. Principalmente aquela em que fora incluído o adendo do testamento. — O seu pai sempre foi um homem muito sério e odiava brincadeiras sem graça. O testamento é válido. Cada lacu
Londres, 2019. — Não é possível. Vazio? — Totalmente vazio. — Não pode ser! — Oliver arrasta sua cadeira e se levanta, caminhando de um lado para o outro de sua sala. — Nós fundamos a primeira e única vinícola de vinho em Londres. Nossos cofres não podem estar vazios! — Eu entendo sua frustração, Oliver. Parece inacreditável que nossos cofres estejam vazios, especialmente considerando todo o trabalho duro que investimos na fundação da vinícola. No entanto, é importante mantermos a calma e abordarmos a situação de forma racional. — Primeiro, como isso aconteceu? Será que houve algum problema contábil ou financeiro? Será que houve alguma fraude ou erro? Aidan, o secretário e braço direito de Oliver, olha diretamente para Guilhermo, o advogado e pondera. Ele tinha certeza que seu chefe não iria gostar do real motivo. — O que foi? — Oliver questiona, notando a troca de olhares entre os outros dois homens. — O que foi? Falem. — Bem, senhor... não houve nenhum erro. Foram apenas...