Londres, 2013.
— Isso é ridículo! Eu não posso aparecer na frente de toda aquela gente, usando essa coisa horrenda.
— Seu pai escolheu. Você está mais do que careca que saber, que as decisões do seu pai são irrefutáveis.
Wendy encara o espelho mais uma vez e cruza os braços, extremamente irritada. Ela chega à conclusão de que seu pai só pode enxergá-la como uma palhaça, para fazer com que vista aquele vestido roxo todo armado e com mangas bufantes.
— É meu aniversário de quinze anos. Eu deveria ter pelo menos o direito de escolher o que vestir.
Abby, a babá de Wendy, apenas encolhe os ombros e sorri para a menina através do espelho.
— Você sabe que não é apenas o seu aniversário. — a velha mulher diz, abraçando a garota de lado. — E não importa a roupa que você vista, menina. Você sempre estará linda.
— Sua opinião não vale, babá. Eu duvido que Steve vá me achar bonita dentro desse troço enorme e roxo.
— Claro que...
Abby teve sua fala cortada, pela presença de uma das empregadas, informando que o pai de Wendy está a chamando. A festa já tinha mais de uma hora de duração e a aniversariante ainda não havia saído do quarto.
— Babá...
Ignorando aquela voz arrastada, Abby conduz Wendy para fora do quarto. Ela se ocupa em arrumar o longo e dourado cabelos da menina, antes que ela descesse a escada do castelo.
Wendy não conhecia quase ninguém que estava no enorme salão. As pessoas engravatadas e mais velhas, lhe faziam perceber que não importava aquele vestido feio que estava usando. Apesar de ser seu aniversário, aquela festa não era para ela.
No dia em que estava vindo ao mundo, seu pai, Oliver Montenegro, fundava a grandiosa fábrica de vinhos, que viria a ser a maior fonte de renda da família. Por esse motivo, ele não esteve no nascimento de sua primogênita. Por esse motivo, aquela festa era para comemorar os quinze anos de grande sucesso da Vinhos Montenegro.
Ela olha em volta, procurando algum resquício de que sua melhor amiga esteja por ali. Se Antonella não estivesse no aniversário de Wendy, a garota podia se declarar oficialmente não amada.
Ao ter um vislumbre de um cabelo tingido de roxo, passando pelas portas que dava para os fundos do castelo, Wendy resolve ir até lá. Aquele breve caminho, leva alguns minutos a mais para ser feito, devido a algumas pessoas terem a parado para parabenizá-la.
— Isso está tão chato! Quem comemora o aniversário de quinze anos, junto com o de uma empresa?
Wendy estava prestes a responder sua amiga, quando ela escutou a resposta vir de uma voz masculina.
— Quem liga? Nós não viemos aqui por causa de festa algum mesmo.
A aniversariante para e pisca repetidas vezes. Ela não acreditava na voz que tinha acabado de escutar.
— Steve? – ela murmura para si mesma, procurando uma brecha para espiar o que estava acontecendo.
M*****a foi a hora em que ela encontrou um buraco em um arbusto. Wendy viu a sua melhor amiga de infância, aos beijos com o garoto que ele é apaixonada há mais de um ano.
— Você é tão linda, Antonella. – Steve diz, passando a mão por baixo do vestido liso da garota. – Eu não entendo por que temos que ficar as escondidas.
— Eu já te expliquei. Wendy é apaixonada por você. Eu não posso furar o olho da minha melhor amiga.
— Isso não é justo! – o garoto reclama, se afastando de Antonella. – Não há nada que eu goste naquela garota. Além de nerd, sem graça, usa aquelas roupas estranhas e parece que nunca cortou o cabelo. Ela é feia. Jamais ficaria com aquela menina.
Aquela última frase foi o suficiente para que Wendy desabasse. Se ela já se sentia feia com aquele vestido roxo, era melhor nem se olhar no espelho. A maquiagem da mesma cor, estava derretida por todo o rosto branco da menina.
Ao invés de se revelar e expor tudo o que sabe para aqueles dois traidores, chorando, Wendy da meia volta e entra no castelo. Ninguém ali se importava com o estado em que ela estava e se importou menos ainda, ao vê-la pegar uma garrafa de champanhe e ir para a parte mais alta do castelo.
Wendy parou diante do pequeno muro e não foi capaz de visualizar a beleza da paisagem a sua frente. Seu coração estava partido. Duas vezes. E a solução que ela encontrou para curar aquilo, foi o álcool.
— Eca. – ela cospe, sendo incapaz de engolir aquilo.
— Champanhe para um primeiro porre não é uma boa escolha.
Wendy se assusta com a voz grossa atrás dela e deixa a garrafa cair.
— Merda. – Wendy murmura, olhando o vidro se espatifar na grama. Ela olha para trás e limpa o nariz com as costas da mão, enquanto encara o homem desconhecido. — Quem é você?
— Por que estava prestes a se embebedar? – ele questiona, ignorando a pergunta feita por ela. – Uma menina tão linda como você, não deveria estar aqui em cima sozinha. É perigoso.
— Eu não sou bonita e gosto de ficar sozinha. Não tem perigo nenhum aqui.
O homem da alguns passos para a frente e para ao lado de Wendy. Ela olha para cima, encarando-o diretamente nos olhos verdes. Wendy gostava de olhos verdes.
— Você é a menina mais linda que eu já vi na vida. – ele tenta tocar o rosto dela, mas Wendy faz uma careta e se desvencilha. – O que foi?
— Está dando em cima de mim? Você tem idade para ser o meu pai.
— Nossa, não. – o homem solta uma risada baixa. – Você tem apenas a metade da minha idade.
— O que já é muito. – Wendy balança a cabeça. Aquela conversa estranha já estava levando tempo demais. Ela sequer conhecia aquele cara e estava sozinha com ele. – Vou embora.
Antes que ela pudesse se afastar, o homem segura em seu braço. Ela encara a mão que a agarrava e depois os olhos verdes que tanto havia gostado.
— Eu gostei de você. Acho que vou esperá-la crescer.
— Eca, seu maluco. Deus me livre.
Como o homem não segurava com força o seu braço, Wendy fez um simples movimento e se soltou, saindo o mais depressa que conseguia, daquele homem estranho.
Mas com lindos olhos verdes.
Londres, 2023. — Por dirigir alcoolizada, não respeitar o sinal vermelho e quase atropelar um homem na calçada, cinco mil dólares. — O QUE? ISSO É... — Sem gritos, senhorita Montenegro. Isso aqui não é a sua casa. Wendy fecha os olhos e respira fundo. Não era sua intenção sair presa da corte. — Desculpe, meritíssimo. Eu só... eu não tenho esse dinheiro. Não tenho de onde tirar. O homem de cabelos brancos e paciência zero, encara Wendy de cima a baixo. Geralmente ele enviaria a pessoa diretamente para a cadeia, devido a gravidade da multa, mas ele sentiu um pouco de empatia por Wendy. Talvez fosse os olhos lacrimejados; talvez a expressão genuína de arrependimento em seu rosto, ou a percepção de que ela não representava uma ameaça direta à sociedade. O juiz pondera por um momento antes de falar: — Senhorita Montenegro, suas ações foram extremamente irresponsáveis e poderiam ter causado danos irreversíveis. No entanto, considerando que esta é sua primeira ofensa e levando em cont
Passaram-se muitos anos desde a última vez que Wendy tinha visto seu pai pela última vez. A vida a havia levado por caminhos diferentes dos planos que ele tinha para ela, e isso havia causado um distanciamento entre os dois. No entanto, agora, ela estava prestes a enfrentar uma visita ao cemitério da família para o enterro de seu pai. Wendy estava nervosa enquanto dirigia pelo caminho familiar que a levava ao cemitério. A paisagem ao redor estava repleta de memórias de sua infância, as quais havia tentado suprimir ao longo dos anos. Mas agora, elas vinham à tona com força total. Ao chegar ao cemitério, Wendy sentiu um aperto no peito. O ambiente tranquilo e sereno transmitia uma sensação de solenidade, ecoando o peso do momento que estava por vir. Ela desceu do carro que lhe fora enviado e respirou fundo, buscando coragem para enfrentar a situação. Ao adentrar o cemitério, Wendy caminhou entre os túmulos da família. Cada lápide era um lembrete tangível de suas raízes, uma conexão c
Assim que o advogado terminou a leitura, a sala se tornou um completo silêncio. Aquilo durou apenas alguns segundos, até que Wendy soltou uma gargalhada alta e estridente, fazendo com que todos os seus irmãos a olhassem. — Muito bom. — ela diz, ainda rindo. — Eu não sei com qual intuito vocês fizeram essa pegadinha comigo, mas foi boa. — Pegadinha? — Pietra pergunta, encarando sua gêmea. — Wendy, nós não temos nada a ver com isso. Ao perceber que seus irmãos mantinham o semblante sério, tão confusos quanto ela com aquele final de testamento, ela se vira para o advogado. — Então foi uma pegadinha do meu pai. Não foi, Guilhermo? Guilhermo não precisava reler aquele documento, para responder à pergunta de Wendy. Ele era advogado da família há tantos anos, que esteve em todas as reuniões que Oliver teve. Principalmente aquela em que fora incluído o adendo do testamento. — O seu pai sempre foi um homem muito sério e odiava brincadeiras sem graça. O testamento é válido. Cada lacu
Londres, 2019. — Não é possível. Vazio? — Totalmente vazio. — Não pode ser! — Oliver arrasta sua cadeira e se levanta, caminhando de um lado para o outro de sua sala. — Nós fundamos a primeira e única vinícola de vinho em Londres. Nossos cofres não podem estar vazios! — Eu entendo sua frustração, Oliver. Parece inacreditável que nossos cofres estejam vazios, especialmente considerando todo o trabalho duro que investimos na fundação da vinícola. No entanto, é importante mantermos a calma e abordarmos a situação de forma racional. — Primeiro, como isso aconteceu? Será que houve algum problema contábil ou financeiro? Será que houve alguma fraude ou erro? Aidan, o secretário e braço direito de Oliver, olha diretamente para Guilhermo, o advogado e pondera. Ele tinha certeza que seu chefe não iria gostar do real motivo. — O que foi? — Oliver questiona, notando a troca de olhares entre os outros dois homens. — O que foi? Falem. — Bem, senhor... não houve nenhum erro. Foram apenas...
Londres, 2023. — O meu pai não faria isso. Theo diz, assim que Ethan termina o seu relato de como chegaram àquele acordo sobre o casamento por contrato com Wendy. Já ela, permanecia em silêncio e imóvel. E ao mesmo tempo que evitava enfrentar os olhos verdes dele, se questionava como um quarentão podia ser tão bonito quanto Ethan era. — Você trabalhava ao lado dele na fábrica, Theodore. Realmente acha que ele se importava com alguma coisa, tanto quanto com a vinícola? Wendy finalmente ergue o olhar para encarar Ethan, seus olhos azuis brilhando com uma mistura de tristeza e determinação. — Theo, eu sei que para você pode parecer difícil de acreditar, mas... Nosso pai nunca foi realmente presente. Ele sempre esteve obcecado com a Vinhos Montenegro e deixou muitas responsabilidades pessoais de lado. Eu cresci vendo isso, sentindo a falta dele. Aí quando a empresa esteve à beira da falência e ele poderia perder tudo o que mais amou, papai não hesitou em me vender. Theo suspira pro
Wendy e Ethan concordaram em se encontrar naquele mesmo dia, para determinar todos os próximos passos. Ele enviou um carro de aplicativo para buscá-la e levá-la até o restaurante mais chique da cidade. Antes de entrar no restaurante, Wendy se olhou no vidro do lugar e teve certeza de que seria julgada pela sua escolha de roupa. Jeans e moletom não parecia ser o modelito que os clientes daquele lugar usariam. — Olá... — a recepcionista a encara de lado. — Tem reserva? — Blackwell? É. Ethan. A recepcionista sai de trás do balcão para direcionar Wendy até a mesa em que Ethan está, mas ela não faz isso sem antes dar uma boa encarada na garota. Wendy sente-se desconfortável com o olhar da recepcionista, mas mantém a compostura e a acompanha até a mesa onde Ethan está sentado. Ela dá um sorriso nervoso ao se aproximar. — Desculpe a demora. O trânsito estava terrível. — Wendy cumprimenta-o, tentando disfarçar sua insegurança. Ethan olha para Wendy, notando sua expressão preocupada e o
Após o almoço, Ethan se propôs a levar Wendy de volta para o seu apartamento. Eles não trocaram uma palavra sequer durante o caminho. Ethan permaneceu com a cara enfiada no celular, enquanto a mulher se perguntava o que iria comer a noite. — Ainda hoje alguém virá trazer opções de vestidos para você escolher. — ele diz, sem olhar para ela. — Não acha que eu deveria saber mais informações sobre amanhã? Como onde será... o horário. Ethan lançou um olhar de relance para Wendy, seus olhos carregados de desinteresse. — Escolha o que quiser, Wendy. Não faz diferença. Seu irmão e o advogado da sua família só estarão lá, porque precisamos de testemunhas. Wendy sentiu um nó no estômago com a falta de interesse de Ethan e a forma desinteressada com que ele abordava os detalhes do casamento. Ela queria que fosse algo mais significativo, mesmo que fosse apenas um casamento por contrato. — Não é porque esse casamento é mera formalidade e minha opinião não é válida para nada, que eu não
Não era dez da manhã ainda, quando a campainha do apartamento de Wendy começou a soar como uma sinfonia. Ela abandonou suas cobertas extremamente irritada e foi até a porta, louca para gritar com quem estava do outro lado. — Chegamoooos! — Pierre cantarola, assim que Wendy abre a porta. — Vamos! Entre todos. Há bastante espaço na sala. — O que é tudo isso? Wendy questiona, ao ver diversas pessoas desconhecidas tomando posse de seu apartamento. Enquanto alguns improvisavam um salão de beleza próximo a janela, outros arrumavam uma farta mesa com diversos alimentos e bebidas, deixando tudo em um completo caos. — O que está acontecendo aqui? Eu não autorizei tudo isso! — Wendy exclama, sua irritação evidente em sua voz. Pierre Dubois se aproxima, com um sorriso presunçoso no rosto e começa a enrolar o cabelo escorrido de Wendy, em seu dedo. — Queridinha, você não precisa autorizar nada. O seu noivo nos enviou para transformar você em uma noiva digna e tentar deixá-la bonita. Ele até