Ethan
— Por que você vive com essa cara enfiada nesses livros? — resmungo assim que entro na sala de visitas da casa dos meus pais e encontro Lisa, a minha irmã caçula deitada em um dos sofás e lendo um livro de romance.
Meninas!
Por que elas acreditam nessas baboseiras? Estão sempre suspirando pelos cantos e sonhando acordadas. Eu entendo que o amor existe. Eu tenho vários exemplos clássicos girando ao meu redor. O Tadeu, o Max, Tio Zyan e até mesmo o meu pai. Cada um deles tem uma história para contar. Mas vamos ser sinceros? Não dá para viver de sonhos. Não sou um homem de coração duro e nem nada assim. Estou mais para pragmático. Atualmente eu sou o vice-presidente da D’angelo Corporation e logo serei o presidente dessa empresa, mas não cheguei até aqui com sonhos e suspiros. Eu estudei, me esforcei e dei o meu melhor para ser visto pelo meu pai, e reconhecido pelos meus méritos. Sou determinado e tenho os meus pés fixados no chão.
— Eu amo acompanhar o amor crescendo em seus corações. Você deveria tentar. — Ela diz fechando o exemplar e salta para fora do sofá, me envolvendo com os seus braços em seguida. Retribuo o seu gesto, deixando um beijo no topo da sua cabeça.
— A Marie já chegou? — Procuro saber assim que me afasto dela.
— Deve estar na varanda agarrada ao pescoço daquele monumento do David. — Rolo os olhos para esse comentário. O que há de errado com essas garotas de hoje em dia? Resmungo mentalmente e olho para o relógio o meu pulso. — Vou falar com o papai, dar um beijo na mamãe. Sairemos vinte minutos após os parabéns — aviso e me afasto imediatamente, direto para o seu escritório.
Não vou dizer que não quero um amor como o dos meus pais, mas eu bem sei que ele é um sentimento tardio, que chega desavisadamente e que adora nos dar as suas rasteiras. Contudo, conheço bem os seus sintomas e estou atento a cada um deles. Pode ter certeza de saberei quando baterá a minha porta. Mas principalmente, eu saberei o momento exato de abri-la para ele. No entanto, enquanto isso não acontece estarei brincando de fazer amor, se é que me entendem. Duas batidas leves na madeira anunciam a minha chegada e logo que abro a porta recebo uma visão um tanto constrangedora de Isadora – a minha mãe sentada no colo do meu pai por trás da sua mesa. Fecho imediatamente a porta, abrindo um sorriso nervoso. Droga, eles precisam ficar se pegando o tempo todo? Segundos depois, a porta se abre e a mamãe surge no meu campo de visão. Devo dizer que não foi exatamente um flagrante porque eles não estavam fazendo nada demais, mas ainda assim é constrangedor.
— Oi, querido!
— Boa noite, mamãe, e meus parabéns! — Beijo carinhosamente o seu rosto, recebendo o seu afago e encontro o seu sorriso assim que me afasto dos seus braços.
— Obrigada, querido! As suas irmãs já chegaram?
— A Marie está na varanda com o namorado e a Lisa está lendo um livro na sala.
— Entendi. O seu pai pediu para entrar. — É claro que ele pediu! Ralho mentalmente. Se tem uma coisa que o meu pai tem de sobra é o poder. Mesmo que as nossas garotas não percebam isso ele mantém tudo sobre o seu olhar altivo e está sempre atento. — Penso e assim que ela se afasta, adentro a sala. Heitor D’angelo é mais do que o meu pai. Ele é o meu herói, o meu exemplo de luta e de sobrevivência, o homem que me ensinou tudo o que eu sei, inclusive sobre as coisas do coração. A sua história de amor é um ícone para Lisa e a Marie, mas para mim não passa de um romance estendido. É claro que amo os ver juntos e aos beijos, sempre trocando olhares, sempre se declarando. Mas de verdade? Não quero um amor pegajoso assim para mim. Eu prefiro aquele amor comportado, com tudo sobre controle, na medida certa e com hora certa para explodir. Eu sei, pareço pedir demais. Entretanto, me encarregarei de manter as rédeas desse sentimento ou serei eu a ser controlado por ele. E sinceramente, ninguém me controla. — Mandou me chamar? — indago assim que ocupo a cadeira de frente para a sua mesa.
— Mandei. Hoje é aniversário da sua mãe.
— Eu sei. — Sim, eu sei por que esse é o motivo real de estarmos reunidos aqui essa noite.
— E após cantarmos os parabéns eu quero levá-la para Roma. Você pode cuidar da empresa para mim por uma semana inteira? — CA. RA. LHO! — rosno mentalmente eufórico. Eu esperei por esse momento praticamente a minha vida inteira! Ok, é só maneira de dizer, a final, vinte e quatro anos não se trata da minha vida inteira. Mas voltando ao assunto. Se Heitor, o presidente da D’angelo quer entregar a empresa em minhas mãos, isso quer dizer que já estou preparado. Yes! Chego a vibrar por dentro, mas como um homem de negócios lhe respondo como tal.
— Claro! — Firme e calmo. Pareço controlador? Ótimo, é isso mesmo que eu quero.
— Perfeito! Avisarei para o Tadeu e para o Max que estarei fora por alguns dias. Fique de olho nos meus e-mails e se precisar de mim... — Não tenho dúvidas de que herdei a sua perspicácia, o seu jeito mandão e autoritário, entre outras qualidades profissionais que me renderão muito sucesso em minha carreira. Por fim, não demorou para estarmos reunidos na sala, cantando parabéns e assistindo mamãe apagar as velas com um sorriso estravagante no rosto. E logo após isso eles saíram apressados para o aeroporto, e nós para uma danceteria. A fina, somos jovens e diversão nunca é demais.
A Vênus é a nossa casa noturna preferida e devo confessar que adoro me aventurar nesse lugar. É aqui que costumo caçar e depois me proporciono uma noite maravilhosa de prazer. A coisa é bem simples. Eu arrasto os olhos de um canto a outro do lugar, avalio a multidão e paro bem em cima do meu alvo. A escolha não é feita à primeira vista e sim, na quinta vista. Ou seja, primeiro o contato visual, depois presto a atenção nas suas curvas, em seguida observo o comportamento da garota. Então procuro ter a certeza de que ela está sozinha e por fim o meu ataque. E falando em presa. Eu já encontrei a dessa noite. Morena, corpo esguio, sorriso fácil e pelo jeito ela gosta de dançar. Falo isso porque ela está na pista de dança desde que cheguei aqui. Os seus movimentos e a sua sensualidade em conjunto com o seu sorriso é de tirar o fôlego. A melhor parte? Ela está sozinha. E como eu sei disso? Já tem quase uma hora que ela está dançando e nenhum marmanjo chegou perto ainda.
— Eu vou pegar uma bebida para as meninas. Você quer? — David, o namorado da Marie pergunta e sem olhá-lo faço não com a cabeça, e sigo para a escadaria de ferro. Como se fosse atraído por ela vou direto para a pista, bem no meio da multidão de corpos suados e paro bem atrás dela. Ousadamente as minhas mãos tomam posse da sua cintura. Ela dá aquela olhadinha de lado, o seu sorriso se amplia e eu tenho a minha carta branca. Portanto, me encosto no seu corpo delicioso e me mexo seguindo o seu ritmo. A coisa toda é uma droga sensual que me embriaga, que me envolve e me deixa completamente alucinado. O meu corpo inteiro está fervilhando e porra, eu estou louco para provar do seu sabor. Mas calma, Ethan, você precisa ir devagar. Primeiro alimente o seu desejo, desperte o seu fogo adormecido, faça-a querer mais e aí já estará no papo. Não demora para os nossos corpos estrem colados e suados. As nossas respirações estão pesadas e ofegantes, e para completar já estamos no terceiro copo.
Está na hora de levá-la para a cama!
Ethan Conhecem a expressão aos trancos e barrancos? Foi exatamente assim que entramos no seu apartamento e eu tenho certeza de que nada ficou inteiro pelo caminho. No meio da madrugada os nossos sons se misturaram e se espalharam pelo seu quarto, enquanto suávamos os seus lençóis. O seu calor e o seu aperto me deixaram fora de órbita e em algum momento fiz questão de fazê-la gritar o meu nome, enquanto a fodia com força por três vezes consecutivas. E quando ela literalmente apagou o dia já estava amanhecendo. Ninguém sabia o nome de ninguém e nem era preciso. A final, isso não passou de uma transa de uma noite só. Portanto, assim ela que começou a ressonar, vesti as minhas roupas, peguei a minha carteira e as chaves, e saí do AP de fininho com uma única certeza. Nunca mais a verei de novo. *** — Bom dia, Senhor D’angelo! — A secretária do meu pai diz assim que saio de dentro do elevador. — Bom dia, Lena! A sala de reuniões já está pronta? — pergunto caminhando apressado devido a um
Samanta — O que houve com você? — Emily questiona me olhando de alto a baixo assim que entro no elevador. — Nada. Por quê? — Você não se olhou no espelho essa manhã, não é? — Ah... não. Não tive tempo — respondo abrindo a minha bolsa para pegar um espelho de mão, soltando um grito de horror em seguida. Uma das melhores noites da minha vida, que teve a duração de pelo menos três horas consecutivas. Após o pior acidente geográfico que eu tive na minha vida eu jurei que homem nenhum teria o meu coração nas mãos outra vez e desde então, vivo a vida como se ela fosse uma festa. Mas, essa festa nunca teve um tempo tão longo e tão... fabuloso... e... erótico... delicioso e... Limpo a minha garganta incomodada com os meus pensamentos, tentando voltar a minha realidade. O fato é que no final sempre sou eu quem os põe para correr, mas não foi assim dessa vez. Dessa vez eu acordei e me encontrei sozinha na minha cama espaçosa. Ele nem se deu o trabalho de deixar um recadinho dizendo o quanto
Samanta No dia seguinte... — Alô? — Sua voz grossa e imponente soa do outro lado da linha me fazendo arfar. Arfar, que droga! — Por que não compareceu ao jantar na noite passada, Senhor D’angelo? — O quê? Como conseguiu esse número? — E isso importa? — É o meu número pessoal, Senhorita Morissette. Então sim, isso importa! — Eu só preciso saber por que não compareceu ao jantar? — insisto me sentindo irritada. — Porque não julguei importante. — Como não?! — rosno ainda mais irritada. — Senhorita Morissette, nós tivemos uma reunião, conversamos sobre todos os pontos positivos e negativos. Portanto, não havia dúvidas a serem esclarecidas. O jantar era irrelevante. — Irrelevante? Não é você quem determina isso, Senhor D’angelo Junior! — Não me chame assim! E quer saber? Eu tinha coisas mais importantes para fazer do que ter que escutar uma garota mimada como você! — Ele esbraveja e eu bufo. Garota mimada? Ele não me conhece para me julgar dessa maneira! Com uma respiração const
Ethan Hoje é um grande dia. Digo para mim mesmo ajeitando a gravata impecável no meu pescoço. Além de fechar alguns contratos importantes para a D’angelo e de conseguir um bônus extra para a empresa, recebi a notícia de que o meu pai deseja fazer uma reunião rápida comigo através de uma chamada de vídeo. Provavelmente ele já sabe dos meus feitos nesses poucos dias e muito provavelmente anunciará a minha sucessão a cadeira da presidência. Eu nunca tive dúvidas do meu potencial e sabia que era só uma questão de tempo para chegar até aqui. Satisfeito, abro um sorriso largo e pressiono os braços da cadeira executiva entre os meus dedos. É isso. Ethan D’angelo presidente da D’angelo Corporation. — Bom dia, Senhor futuro presidente! — David, meu futuro cunhado adentra a sala trazendo um champanhe e duas taças vazias em suas mãos. — Eu ainda não sou. — Mas falta pouco, certo? — Ele ralha, colocando a garrafa e as taças em cima da mesa, e se senta logo em seguida. — Precisamos comemorar.
Ethan Essa garota é mesmo inacreditável! Bufo irado enquanto saio do elevador, direto para o meu quarto. É incrível como ela consegue me levar ao limite, ao extremo mesmo. E eu pensando que ela seria uma exceção. Bonita, sexy, sensata e inteligente. Meu Deus, como as aparências enganam! Foda é sair do seu prédio carregando comigo o seu perfume que acabou ficando entranhado na minha camisa. Solto uma lufada de ar pesada pela boca, levo a chave na ignição e ligo o motor, rasgando pneus para sair dali. No meio do trânsito um tanto calmo agora, o desenho da sua boca carnuda preenche a minha visão e puto da vida, freio o carro bruscamente recebendo alguns xingamentos dos motoristas atrás de mim. Que grande merda! Penso fechando os meus olhos e inclino a cabeça sobre o volante, buscando o meu autocontrole. Ele deve estar aqui em algum lugar. Como uma garota mimada conseguiu me desestabilizar dessa maneira? Como ela consegue infernizar a minha vida com tão pouco? O pior é permitir a sua asso
Ethan À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um
SamantaCrosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no Google e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinad
Samanta— Ah... é... — Eu gaguejo e ele arqueia as sobrancelhas para mim. De alguma forma sinto que Ethan D'angelo está se divertindo com o constrangimento, que com certeza eu não deveria deixar transparecer. Não para ele. — Preciso que finja ser o meu namorado. — Pronto, falei! Se estou aliviada? Isso soou ridículo, portanto, alívio é o que menos sinto agora. O pior é fitar seu semblante sério e o olhar igualmente sério, sem dizer uma palavra. A coisa piorou quando um risinho escroto surgiu na sua face e logo ele se tornou levemente sonoro, até ganhar uma proporção ainda mais constrangedora. Bufo audivelmente.— Desculpa, mas acho que não entendi direito. Você quer que eu finja ser o seu namorado? — Sua pergunta vem acompanhada de um sorrisinho debochado, tão irritante quanto o seu olhar divertido.— Isso.— Meu Deus, isso é tão... — Ele volta a gargalhar e incomodada, volto a me mexer em cima da cadeira, olhando sutilmente para alguns clientes em suas mesas, e para alguns funcionári