Ethan
Essa garota é mesmo inacreditável! Bufo irado enquanto saio do elevador, direto para o meu quarto. É incrível como ela consegue me levar ao limite, ao extremo mesmo. E eu pensando que ela seria uma exceção. Bonita, sexy, sensata e inteligente. Meu Deus, como as aparências enganam! Foda é sair do seu prédio carregando comigo o seu perfume que acabou ficando entranhado na minha camisa. Solto uma lufada de ar pesada pela boca, levo a chave na ignição e ligo o motor, rasgando pneus para sair dali. No meio do trânsito um tanto calmo agora, o desenho da sua boca carnuda preenche a minha visão e puto da vida, freio o carro bruscamente recebendo alguns xingamentos dos motoristas atrás de mim. Que grande merda! Penso fechando os meus olhos e inclino a cabeça sobre o volante, buscando o meu autocontrole. Ele deve estar aqui em algum lugar. Como uma garota mimada conseguiu me desestabilizar dessa maneira? Como ela consegue infernizar a minha vida com tão pouco? O pior é permitir a sua assombração ao longo do meu caminho. Sei que o papai exigiu uma refeição de negócios, retratar uma situação que ela mesma criou, mas, cara não dá! Com ela não. Penso entrando no meu apartamento e para a minha felicidade recebo o seu silêncio, e a quietude do meu lar. Estou faminto ao ponto de devorar um leão, mas não penso duas vezes sem subir as escadas e ir para o meu quarto, louco para me livrar dessa camisa e de desse cheiro que está me fazendo ferver de dentro para fora. Contudo, garanto que não é de tesão. Não por aquela maluca destrambelhada. Agitado, largo as peças de todo jeito pelo chão e respiro fundo, entrando debaixo do chuveiro. Um banho calmo, quente e relaxante. Era disso que eu precisava. Meu Deus, dá para sentir toda aquela tensão se esvair junto com a água e imediatamente ela surte o efeito esperado. Meia hora depois, estou usando apenas um short folgado, chinelos de dedo e entro na minha cozinha preparando um espaguete ao gorgonzola e assim que separo os ingredientes para o gran finali, o sinal de uma chamada de vídeo me faz parar.
— Oi, lindinha! — falo carinhosamente para a Marie, a minha irmã gêmea que tem um lindo sorriso no rosto e um brilho esfuziante no olhar. — Por que está me ligando a essa hora?
— Oi, maninho! Por quê? Eu não posso te ligar?
— Até pode, mas a essa hora você costuma ficar atracada no seu namorado.
— Eu estou ouvindo isso, hein? — David rosna sem ao menos aparecer na tela e eu reviso os olhos. O sorriso de Marie parece crescer ainda mais.
— Eu tenho um convite pra você.
— Olha, que diferente! Para onde vamos?
— Jantar na casa dos nossos pais amanhã.
— Mas amanhã não é final de semana — retruco colocando o celular em um suporte e começo a me dedicar em finalizar a minha refeição.
— Não é, mas temos uma notícia para dar a todos, então... — Ela deixa a frase no ar e eu paro o que estou fazendo.
— O que estão aprontando? Não me diga, que eu vou ser titio por esses?
— Deixa de ser bisbilhoteiro, Ethan D’angelo! Você saberá de tudo junto com todos. — David ralha um tanto presunçoso surgindo na tela no mesmo instante.
— Eu sou o seu melhor amigo e ela é a minha irmã gêmea. Então não me venha com essa de esperar! — retruco com humor, mas a verdade, é que estou curioso com o que esses dois estão aprontando.
— Essas posições não lhe dão privilégios, meu caro amigo. Até amanhã na hora do jantar!
— David Thornton, não se atreva a... Filho da mãe! — rosno quando ele encerra a chamada bem na minha cara e me pego rindo do seu atrevimento. Não demora para eu estar acomodado a uma mesa retangular de vidro de oito cadeiras em um jantar solo, lendo o jornal do dia e devorando o meu prato.
***
No dia seguinte...
Entrar no escritório da presidência e encarar o Senhor Heitor D’angelo – o meu pai depois do nosso último empasse foi difícil, mas mantive a minha postura profissional e conversamos como dois bons executivos que somos. Logo que trocamos algumas informações fomos para a primeira reunião do dia. Voltar a ser expectador dessas reuniões não estava nos meus planos. Isso é tão irritante quanto frustrante e só me faz pensar que manter a distância daquela maluca é a melhor coisa a se fazer no momento. É isso ou ela me levar para dentro de um buraco negro. No meio da apresentação de um quadro financeiro de uma megaempresa de cosmético o meu celular começa a vibrar em cima da mesa e o nome Stalking Maluca começa a brilhar na tela. Incomodado, eu me ajeito em cima da cadeira e olho para os empresários ao redor da mesa. Contudo, encontro o olhar repreensivo do meu pai me fitando.
— Desculpa! — falo sem emitir som e guardo o aparelho imediatamente dentro do meu bolso, o sentindo vibrar por precisamente meia hora consecutiva. Que merda, ela não tem o que fazer não?! Bufo internamente e após isso foi quase impossível me concentrar na m*****a reunião.
— O que foi aquilo lá na reunião? — David indaga enquanto caminha ao meu lado pelo longo corredor da D’angelo. Apenas respiro fundo, porque eu não sei como explicar para ele que a presidente da Morissette LTDA resolveu me perseguir com um instinto quase psicopata. Contudo, não aguento mais ficar com isso guardado só para mim. Quer dizer, no começo esse comportamento soou divertido e até um tanto engraçado, mas agora está ficando assustador.
— Tem um minuto? — Pergunto o convidando a vir a minha sala. Sirvo-lhe um copo de uísque e me sirvo logo em seguida, me acomodando na cadeira executiva atrás da minha mesa e ele faz o mesmo se sentando de frente para mim.
— O que está pegando? — Ele inquire e sorvo um gole da minha bebida.
— Tem uma garota.
— Hum! — Ele arqueia as sobrancelhas com diversão.
— A Samanta Morissette.
— A gostosa da Morissette LTDA? — comenta empolgado e solta um assobio apreciativo.
— Ela está me enlouquecendo, David.
— Mas já? — O som da sua gargalhada se espalha pela sala e eu suspiro o encarando sério. — Isso não é bom? — indaga engolindo a sua risada sonora e eu meneio a cabeça fazendo não.
— Ela conseguiu adiar a minha ida para a presidência.
— Opa, como assim? — Abro a boca para falar, mas o telefone volta a tocar. Portanto, ergo o aparelho e lhe mostro a chamada. — Stalking Maluca? — E lá vem mais gargalhadas. — Tadinha dela, Ethan!
— Tadinha dela?! Tadinho de mim! Ela não para de perseguir, ligou para o meu pai falando mal de mim e a consequência dos seus atos o fez adiar todos os meus planos. E você diz tadinha dela?! — rosno impaciente e esvazio o meu copo.
— Por que não a atende e descobre o que ela quer?
— Eu sei o que ela quer, David. Ela quer roubar a minha paz. É isso o que ela quer. — Me encosto na cadeira e levo dois dedos as minhas têmporas, massageando-as em seguida. — Me pergunto por que ela está fazendo isso comigo? — sibilo baixinho. — Será que foi pelo sexo? Eu não a satisfiz e ela quer me punir por isso?
— Espera aí. Você a Samanta Morissette... porra!
— Eu não sabia que era ela, tá bom? Você sabe que eu não misturo prazer com sexo. Eu só... eu estava levemente embriagado, mas me lembro que fiz tudo direitinho.
— Deixa de ser idiota, Ethan e não fale o que fez ou deixou de fazer com a sua dama!
— Ela não é a minha dama!
— Mas devia ser!
— Você é um péssimo ouvinte, sabia? — ralho forçando um sorriso de desagrado. — Quer saber, eu vou trabalhar e você péssimo amigo. Está dispensado. — Ele se levanta da cadeira e me aponta um dedo.
— Estou me sentindo usado, hein?!
— Vai se foder, David! — Ele libera outra risada sonora.
— Uma coisa sobre mim, D’angelo. Eu não sou fodido, eu fodo!
— Idiota! — rebato quando ele finalmente abre a porta e se retira da minha sala. Volto a me sentar no exato instante que o celular volta a tocar e irritado, o jogo dentro da minha gaveta.
Ethan À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um
SamantaCrosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no Google e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinad
Samanta— Ah... é... — Eu gaguejo e ele arqueia as sobrancelhas para mim. De alguma forma sinto que Ethan D'angelo está se divertindo com o constrangimento, que com certeza eu não deveria deixar transparecer. Não para ele. — Preciso que finja ser o meu namorado. — Pronto, falei! Se estou aliviada? Isso soou ridículo, portanto, alívio é o que menos sinto agora. O pior é fitar seu semblante sério e o olhar igualmente sério, sem dizer uma palavra. A coisa piorou quando um risinho escroto surgiu na sua face e logo ele se tornou levemente sonoro, até ganhar uma proporção ainda mais constrangedora. Bufo audivelmente.— Desculpa, mas acho que não entendi direito. Você quer que eu finja ser o seu namorado? — Sua pergunta vem acompanhada de um sorrisinho debochado, tão irritante quanto o seu olhar divertido.— Isso.— Meu Deus, isso é tão... — Ele volta a gargalhar e incomodada, volto a me mexer em cima da cadeira, olhando sutilmente para alguns clientes em suas mesas, e para alguns funcionári
EthanMaluca, é isso que ela é! Maluca com M maiúsculo! Onde já se viu um contrato de casamento? Pior ainda, com filhos? Onde estava com a cabeça para entrar de cabeça nas loucuras dessa menina? Céus, se o meu pai sonhar eu estou fodido! A campainha do meu apartamento começa a tocar e eu esvazio o meu drink para ir abrir a porta.— O que tem de tão urgente que não podia esperar até amanhã? — Meu advogado ralha meio mal-humorado, adentrando o hall.— Eu preciso que redija um contrato para mim — falo de uma vez, fechando a porta atrás de mim. David me lança um olhar furioso, parando bem no meio da minha sala de estar.— Trabalho, a uma hora dessas? Sério, Ethan? Que droga, eu estava nos braços da minha noiva, trocando deliciosas carícias e já estávamos quase indo para o nosso quarto quando me estr
Ethan— A sala de reuniões está pronta, Senhor D'angelo. — Minha secretária avisa entrando na minha sala. Não é uma reunião de praxe, nem mesmo um horário convencional. Na verdade, nada nessa reunião é normal. Já passa de oito horas da noite e quase todos os funcionários já se foram. Contudo, mantive a minha secretária ocupada por mais algumas horas após o seu horário, para que ela desse o seu toque feminino para um jantar de negócios. Posso assim dizer. — Precisa de mais alguma coisa?— Não, Ângela. Já pode ir e obrigado por tudo!— Não foi nada, Senhor D'angelo! — Ela diz e sai fechando a porta. Com um suspiro eu esvazio o meu copo de uísque, me afasto da parede de vidros, de onde tenho a esplendida imagem noturna de Seattle e vou até a minha mesa. Fito os dois envelopes com
EthanNo dia seguinte...— Bom dia, Senhor D'angelo, o seu pai pediu para avisar que o aguarda na sala de reuniões número seis. — Ângela avisa assim que saio do elevador. Aturdido olho para trás, para o elevador que acaba de fechar as suas portas e depois para a moça em pé na minha frente com um belo sorriso profissional.— Ele disse do que se trata? — pergunto meio confuso. Ela faz não com a cabeça e eu respiro fundo. — Tudo bem! Prepare a minha agenda do dia, eu volto logo — aviso, dando-lhe as costas e aperto o botão do elevador outra vez. Em segundos às portas voltam a se abrir para mim e após adentrar o cômodo apertado, aperto o botão do sexto andar. Uma reunião surpresa? O que será que aconteceu dessa vez? Não é que eu esteja nervoso ou algo assim. Eu sei o que tenho feito nesses últimos di
Samanta— Como estão as coisas, Itália? — pergunto um tanto ansiosa, adentrando a sala de jantar que tem uma mesa posta para dez pessoas. A Senhora de porte elegante se afasta de um dos empregados, que está colocando um elegante arranjo floral no centro da mesa retangular e sorri para mim, transmitindo segurança de que preciso.— Como vê, está tudo saindo perfeitamente, querida. — Perceberam o termo querida que ela usou para falar comigo? Não é qualquer empregado que tem essa liberdade, nem comigo e nem com o meu pai. Itália Davis chegou a essa casa com cerca de vinte e seis anos e embora fosse casada e com um casal de filhos, foi ela quem se dedicou a m criar desde que cheguei da maternidade. Mas isso só acontecia quando papai não podia estar comigo. No mais, ele sempre esteve presente na minha vida. Agora ela está viúva e seus filhos já se casaram,
Samanta— Ah, eu não esperava por isso! — Papai fala completamente estarrecido. Sim, todos na mesa foram pegos de surpresa, menos o advogado do outro lado que parece assistir de camarote uma peça romântica de Mozart.— Calma aí, filho, não está muito cedo para um pedido como esse? — Senhor D’angelo contesta.— Eu penso da mesma maneira. Vocês não preferem dar um tempo antes de darem um passo gigantesco como esse? — Papai completa. Eu engulo o meu sorriso, porém, Ethan não desiste.— O que é o tempo para o amor, papai e Senhor Morissette? Como eu disse, estamos apaixonados e isso é o que interessa. — Olha isso, o DJ está me saindo melhor do que encomenda! Chego a vibrar por dentro e a sua mamãe parece receber a resposta do filho com extrema satisfação, já que abriu