8

Ethan

À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um sorriso doce em seguida. Morena, de cabelos caracolados, entrando para o primeiro período de advocacia. O seu corpo é um espetáculo, devo assim dizer e ela seria perfeita se não fosse um único defeito. A sua idade. A garota está entrando na casa dos 19 agora, portanto, é intocável para mim. Desperto dos meus pensamentos, desviando os meus olhos dos seus quando percebo a tela do meu celular e eu trinco o maxilar no mesmo instante. Rejeito a ligação e tento me enturmar com a família. O tilintar do garfo na taça chama a atenção de todos na mesa e David logo se põe de pé. Marie abre um sorriso de felicidade e mamãe se ajeita em cima da sua cadeira em expectativas.

— Senhoras, Senhores e... Senhorita, eu pedi esse jantar especial porque percebi que Marie D’angelo é a mulher da minha vida e... — Os meus olhos são atraídos para a tela outra vez e mais uma vez rejeito a sua ligação sentindo-me incomodado com a sua insistência. Que droga de mulher infernal! No segundo seguinte os aplausos e eu fito o lindo anel de brilhantes no anelas da minha irão.

— Meus parabéns, meu filho! — Flora Thornton diz abraçando o seu filho com comoção e não demora para darmos as felicitações ao casal. Outro tilintar e o Senhor Heitor está de pé para fazer o seu discurso. Entretanto, o celular volta a vibrar e ele solta um rugido até educado.

— Por que não atende logo essa droga de telefone?! — respiro fundo, pego o aparelho e desligo, o guardando em seguida.

— Me desculpe por isso! — peço, recebendo o toque de Lisa na minha mão. Ela me abre um sorriso doce e eu retribuo um sorriso apreensivo.

De verdade, não sei por que permito isso. Eu sempre fui um cara centrado, do tipo que sabe o que quer e luta pelo que quer. E se não quero simplesmente descarto da minha trajetória. Mas não a Samanta Morissette. Ela ridiculamente está tentando me fazer de gato e sapato e eu não posso aceitar isso. A coisa é bem simples. Irei procurá-la, falarei algumas verdades e a porei no seu lugar. E fim, não terei que vê-la outra vez.

***

No dia seguinte...

No meio da tarde Ângela, a minha secretária deixa uma pilha de contratos em cima da minha mesa para análise de renovação e minutos depois ela deixa uma xícara de café forte, e fumegante do jeito que eu gosto. Penso que receber essa função só deve ser um castigo pelo telefonema daquela maluca durante a reunião e o jantar em família. Quer dizer, eu sei que é uma regra imprescindível que não devemos deixar o aparelho a vista durante uma reunião e essa punição teria sido maior se eu tivesse atendido. Só que eu nunca precisei manter o meu telefone guardado ou até desligado. A final, quem me ligaria durante o dia se não fosse algo com horários programados? Droga, eu preciso de foco aqui, ou frei alguma merda. Rosno mentalmente e fixo os meus olhos em uma cláusula antiga do contrato da editora PaperMay, quando percebo a porta do meu escritório se abrir e sem erguer a cabeça falo:

— Que bom que já veio, David. Pode ver uma mudança para essa clausu... — Paro de falar quando vejo a morena em pé próximo a uma parede de vidro transparente e inevitavelmente os meus olhos deslizam pelo salto agulha de um tom negro, subindo por suas panturrilhas em seguida e alcançam a barra da saia lápis cinza escuro, que desenha com perfeição o quadril largo. Logo me vejo escorregando pelas suas curvas e encontro a blusa de um tom bege, que quase deixa transparecer o feixe do seu sutiã igualmente claro. Os cabelos ondulados de um castanho escuro estão soltos e parecem relaxar em suas costas. E a merda do perfume logo se espalha por todo o ambiente, preenchendo as minhas narinas, e por algum motivo faz o meu coração acelerar. A minha realidade cai como uma luva quando ela se vira de frente para mim e abre a porra da boca atrevida.

— Por que atendeu os meus telefonemas? — Uno as sobrancelhas.

— O que você faz aqui? — A observo fazer um biquinho com a boca e entortá-lo para o lado em seguida. Merda, eu prendi o ar apenas com esse gesto!

— Por que não me atendeu, D’angelo?

— Eu trabalho, sabia? Mas você pelo visto não tem nada para fazer porque no meu celular tem um registro de mais de 150 ligações! — rebato baixo, porém a minha vontade é de gritar com ela. Samanta suspira, mas parece ignorar o meu comportamento e se senta com classe na cadeira de frente para a minha mesa, depositando a sua bolsa no seu colo.

— Ethan, eu tenho uma proposta pra você. — É a primeira vez que ela diz algo sem a sua habitual prepotência e arrogância.

— Você precisa tratar isso direto com o presidente, já que fez questão de retirar de mim esse cargo! — rebato baixo e rancoroso, voltando a fixar os meus olhos nos papéis.

— Eu disse que tenho uma proposta pra você e não para o seu pai — rebate. Respiro fundo e volto a encará-la. Contudo, a porta se abre e David passa por ela estancando bem na entrada.

— Opa, desculpa! Eu volto outra hora... — Ele pensa em dar meia volta.

— Não, fique!

— Ah, não. Pode nos deixar a sós, por favor? — Ela pede. Eu a olho possesso e ela me olha interrogativa. No entanto, David nos olha desnorteado.

— Eu volto em outro momento. — Ele repete e sai me fazendo fechar as mãos em punho.

— Por um a caso está com medo de mim, Senhor D’angelo Junior?

— D’angelo Junior é a puta que te...

— Oh, olhe os modos, Senhor vice-presidente! — Ela me adverte um tanto debochada e eu afrouxo a minha gravata tentando respirar melhor.

— Samanta, por favor, por que está fazendo isso comigo? Foi algo que te fiz? Eu disse algo que a desagradou e por isso quer me punir? — Não sei se vi direito, mas ela... se desarmou?

— Quanta infantilidade, Ethan, sinceramente! Eu estou te ligando desde ontem porque preciso da sua ajuda. — Franzo o cenho outra vez.

— Da minha aju... como assim? Pra que? — Ela olha de um lado para o outro da sala e após soltar uma respiração alta, volta a me olhar nos olhos.

— Será que podemos ir para um outro lugar? — Penso em dizer que não e mandá-la ir embora de vez, mas me pego aceitando.

— Você terá que ser rápida, eu tenho um dia cheio. — E em troca recebo um sorriso espontâneo. O primeiro desde que nos conhecemos de verdade e ele é... perfeito!

— Ótimo, porque eu fiz uma reserva em um restaurante italiano para nós dois. Eu sei que adora massas! — Ela diz se levantando da sua cadeira e me dar as costas, caminhando direto para a saída. Extasiado eu me ponho de pé e fito perplexo as suas costas.

— Você o quê?!

— Vamos, Ethan! Estamos perdendo tempo aqui! — Ela ralha impetuosa e eu bufo irritadiço com o fato de ela me manter sobre no seu cabrestro. Sim, porque imediatamente eu peguei o meu terno que estava largado no encosto da minha cadeira e saí rapidamente ao seu encontro no corredor da empresa. — Como sabia que eu ia aceitar? E como descobriu que eu gosto de massas? — Ela mexe os ombros com desdém.

— Eu só sei.

— Presunçosa! — ralho. Contudo, ela abre um sorriso de acordo com o adjetivo que acabei de lhe dar.

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