Ethan
À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um sorriso doce em seguida. Morena, de cabelos caracolados, entrando para o primeiro período de advocacia. O seu corpo é um espetáculo, devo assim dizer e ela seria perfeita se não fosse um único defeito. A sua idade. A garota está entrando na casa dos 19 agora, portanto, é intocável para mim. Desperto dos meus pensamentos, desviando os meus olhos dos seus quando percebo a tela do meu celular e eu trinco o maxilar no mesmo instante. Rejeito a ligação e tento me enturmar com a família. O tilintar do garfo na taça chama a atenção de todos na mesa e David logo se põe de pé. Marie abre um sorriso de felicidade e mamãe se ajeita em cima da sua cadeira em expectativas.
— Senhoras, Senhores e... Senhorita, eu pedi esse jantar especial porque percebi que Marie D’angelo é a mulher da minha vida e... — Os meus olhos são atraídos para a tela outra vez e mais uma vez rejeito a sua ligação sentindo-me incomodado com a sua insistência. Que droga de mulher infernal! No segundo seguinte os aplausos e eu fito o lindo anel de brilhantes no anelas da minha irão.
— Meus parabéns, meu filho! — Flora Thornton diz abraçando o seu filho com comoção e não demora para darmos as felicitações ao casal. Outro tilintar e o Senhor Heitor está de pé para fazer o seu discurso. Entretanto, o celular volta a vibrar e ele solta um rugido até educado.
— Por que não atende logo essa droga de telefone?! — respiro fundo, pego o aparelho e desligo, o guardando em seguida.
— Me desculpe por isso! — peço, recebendo o toque de Lisa na minha mão. Ela me abre um sorriso doce e eu retribuo um sorriso apreensivo.
De verdade, não sei por que permito isso. Eu sempre fui um cara centrado, do tipo que sabe o que quer e luta pelo que quer. E se não quero simplesmente descarto da minha trajetória. Mas não a Samanta Morissette. Ela ridiculamente está tentando me fazer de gato e sapato e eu não posso aceitar isso. A coisa é bem simples. Irei procurá-la, falarei algumas verdades e a porei no seu lugar. E fim, não terei que vê-la outra vez.
***
No dia seguinte...
No meio da tarde Ângela, a minha secretária deixa uma pilha de contratos em cima da minha mesa para análise de renovação e minutos depois ela deixa uma xícara de café forte, e fumegante do jeito que eu gosto. Penso que receber essa função só deve ser um castigo pelo telefonema daquela maluca durante a reunião e o jantar em família. Quer dizer, eu sei que é uma regra imprescindível que não devemos deixar o aparelho a vista durante uma reunião e essa punição teria sido maior se eu tivesse atendido. Só que eu nunca precisei manter o meu telefone guardado ou até desligado. A final, quem me ligaria durante o dia se não fosse algo com horários programados? Droga, eu preciso de foco aqui, ou frei alguma merda. Rosno mentalmente e fixo os meus olhos em uma cláusula antiga do contrato da editora PaperMay, quando percebo a porta do meu escritório se abrir e sem erguer a cabeça falo:
— Que bom que já veio, David. Pode ver uma mudança para essa clausu... — Paro de falar quando vejo a morena em pé próximo a uma parede de vidro transparente e inevitavelmente os meus olhos deslizam pelo salto agulha de um tom negro, subindo por suas panturrilhas em seguida e alcançam a barra da saia lápis cinza escuro, que desenha com perfeição o quadril largo. Logo me vejo escorregando pelas suas curvas e encontro a blusa de um tom bege, que quase deixa transparecer o feixe do seu sutiã igualmente claro. Os cabelos ondulados de um castanho escuro estão soltos e parecem relaxar em suas costas. E a merda do perfume logo se espalha por todo o ambiente, preenchendo as minhas narinas, e por algum motivo faz o meu coração acelerar. A minha realidade cai como uma luva quando ela se vira de frente para mim e abre a porra da boca atrevida.
— Por que atendeu os meus telefonemas? — Uno as sobrancelhas.
— O que você faz aqui? — A observo fazer um biquinho com a boca e entortá-lo para o lado em seguida. Merda, eu prendi o ar apenas com esse gesto!
— Por que não me atendeu, D’angelo?
— Eu trabalho, sabia? Mas você pelo visto não tem nada para fazer porque no meu celular tem um registro de mais de 150 ligações! — rebato baixo, porém a minha vontade é de gritar com ela. Samanta suspira, mas parece ignorar o meu comportamento e se senta com classe na cadeira de frente para a minha mesa, depositando a sua bolsa no seu colo.
— Ethan, eu tenho uma proposta pra você. — É a primeira vez que ela diz algo sem a sua habitual prepotência e arrogância.
— Você precisa tratar isso direto com o presidente, já que fez questão de retirar de mim esse cargo! — rebato baixo e rancoroso, voltando a fixar os meus olhos nos papéis.
— Eu disse que tenho uma proposta pra você e não para o seu pai — rebate. Respiro fundo e volto a encará-la. Contudo, a porta se abre e David passa por ela estancando bem na entrada.
— Opa, desculpa! Eu volto outra hora... — Ele pensa em dar meia volta.
— Não, fique!
— Ah, não. Pode nos deixar a sós, por favor? — Ela pede. Eu a olho possesso e ela me olha interrogativa. No entanto, David nos olha desnorteado.
— Eu volto em outro momento. — Ele repete e sai me fazendo fechar as mãos em punho.
— Por um a caso está com medo de mim, Senhor D’angelo Junior?
— D’angelo Junior é a puta que te...
— Oh, olhe os modos, Senhor vice-presidente! — Ela me adverte um tanto debochada e eu afrouxo a minha gravata tentando respirar melhor.
— Samanta, por favor, por que está fazendo isso comigo? Foi algo que te fiz? Eu disse algo que a desagradou e por isso quer me punir? — Não sei se vi direito, mas ela... se desarmou?
— Quanta infantilidade, Ethan, sinceramente! Eu estou te ligando desde ontem porque preciso da sua ajuda. — Franzo o cenho outra vez.
— Da minha aju... como assim? Pra que? — Ela olha de um lado para o outro da sala e após soltar uma respiração alta, volta a me olhar nos olhos.
— Será que podemos ir para um outro lugar? — Penso em dizer que não e mandá-la ir embora de vez, mas me pego aceitando.
— Você terá que ser rápida, eu tenho um dia cheio. — E em troca recebo um sorriso espontâneo. O primeiro desde que nos conhecemos de verdade e ele é... perfeito!
— Ótimo, porque eu fiz uma reserva em um restaurante italiano para nós dois. Eu sei que adora massas! — Ela diz se levantando da sua cadeira e me dar as costas, caminhando direto para a saída. Extasiado eu me ponho de pé e fito perplexo as suas costas.
— Você o quê?!
— Vamos, Ethan! Estamos perdendo tempo aqui! — Ela ralha impetuosa e eu bufo irritadiço com o fato de ela me manter sobre no seu cabrestro. Sim, porque imediatamente eu peguei o meu terno que estava largado no encosto da minha cadeira e saí rapidamente ao seu encontro no corredor da empresa. — Como sabia que eu ia aceitar? E como descobriu que eu gosto de massas? — Ela mexe os ombros com desdém.
— Eu só sei.
— Presunçosa! — ralho. Contudo, ela abre um sorriso de acordo com o adjetivo que acabei de lhe dar.
SamantaCrosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no Google e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinad
Samanta— Ah... é... — Eu gaguejo e ele arqueia as sobrancelhas para mim. De alguma forma sinto que Ethan D'angelo está se divertindo com o constrangimento, que com certeza eu não deveria deixar transparecer. Não para ele. — Preciso que finja ser o meu namorado. — Pronto, falei! Se estou aliviada? Isso soou ridículo, portanto, alívio é o que menos sinto agora. O pior é fitar seu semblante sério e o olhar igualmente sério, sem dizer uma palavra. A coisa piorou quando um risinho escroto surgiu na sua face e logo ele se tornou levemente sonoro, até ganhar uma proporção ainda mais constrangedora. Bufo audivelmente.— Desculpa, mas acho que não entendi direito. Você quer que eu finja ser o seu namorado? — Sua pergunta vem acompanhada de um sorrisinho debochado, tão irritante quanto o seu olhar divertido.— Isso.— Meu Deus, isso é tão... — Ele volta a gargalhar e incomodada, volto a me mexer em cima da cadeira, olhando sutilmente para alguns clientes em suas mesas, e para alguns funcionári
EthanMaluca, é isso que ela é! Maluca com M maiúsculo! Onde já se viu um contrato de casamento? Pior ainda, com filhos? Onde estava com a cabeça para entrar de cabeça nas loucuras dessa menina? Céus, se o meu pai sonhar eu estou fodido! A campainha do meu apartamento começa a tocar e eu esvazio o meu drink para ir abrir a porta.— O que tem de tão urgente que não podia esperar até amanhã? — Meu advogado ralha meio mal-humorado, adentrando o hall.— Eu preciso que redija um contrato para mim — falo de uma vez, fechando a porta atrás de mim. David me lança um olhar furioso, parando bem no meio da minha sala de estar.— Trabalho, a uma hora dessas? Sério, Ethan? Que droga, eu estava nos braços da minha noiva, trocando deliciosas carícias e já estávamos quase indo para o nosso quarto quando me estr
Ethan— A sala de reuniões está pronta, Senhor D'angelo. — Minha secretária avisa entrando na minha sala. Não é uma reunião de praxe, nem mesmo um horário convencional. Na verdade, nada nessa reunião é normal. Já passa de oito horas da noite e quase todos os funcionários já se foram. Contudo, mantive a minha secretária ocupada por mais algumas horas após o seu horário, para que ela desse o seu toque feminino para um jantar de negócios. Posso assim dizer. — Precisa de mais alguma coisa?— Não, Ângela. Já pode ir e obrigado por tudo!— Não foi nada, Senhor D'angelo! — Ela diz e sai fechando a porta. Com um suspiro eu esvazio o meu copo de uísque, me afasto da parede de vidros, de onde tenho a esplendida imagem noturna de Seattle e vou até a minha mesa. Fito os dois envelopes com
EthanNo dia seguinte...— Bom dia, Senhor D'angelo, o seu pai pediu para avisar que o aguarda na sala de reuniões número seis. — Ângela avisa assim que saio do elevador. Aturdido olho para trás, para o elevador que acaba de fechar as suas portas e depois para a moça em pé na minha frente com um belo sorriso profissional.— Ele disse do que se trata? — pergunto meio confuso. Ela faz não com a cabeça e eu respiro fundo. — Tudo bem! Prepare a minha agenda do dia, eu volto logo — aviso, dando-lhe as costas e aperto o botão do elevador outra vez. Em segundos às portas voltam a se abrir para mim e após adentrar o cômodo apertado, aperto o botão do sexto andar. Uma reunião surpresa? O que será que aconteceu dessa vez? Não é que eu esteja nervoso ou algo assim. Eu sei o que tenho feito nesses últimos di
Samanta— Como estão as coisas, Itália? — pergunto um tanto ansiosa, adentrando a sala de jantar que tem uma mesa posta para dez pessoas. A Senhora de porte elegante se afasta de um dos empregados, que está colocando um elegante arranjo floral no centro da mesa retangular e sorri para mim, transmitindo segurança de que preciso.— Como vê, está tudo saindo perfeitamente, querida. — Perceberam o termo querida que ela usou para falar comigo? Não é qualquer empregado que tem essa liberdade, nem comigo e nem com o meu pai. Itália Davis chegou a essa casa com cerca de vinte e seis anos e embora fosse casada e com um casal de filhos, foi ela quem se dedicou a m criar desde que cheguei da maternidade. Mas isso só acontecia quando papai não podia estar comigo. No mais, ele sempre esteve presente na minha vida. Agora ela está viúva e seus filhos já se casaram,
Samanta— Ah, eu não esperava por isso! — Papai fala completamente estarrecido. Sim, todos na mesa foram pegos de surpresa, menos o advogado do outro lado que parece assistir de camarote uma peça romântica de Mozart.— Calma aí, filho, não está muito cedo para um pedido como esse? — Senhor D’angelo contesta.— Eu penso da mesma maneira. Vocês não preferem dar um tempo antes de darem um passo gigantesco como esse? — Papai completa. Eu engulo o meu sorriso, porém, Ethan não desiste.— O que é o tempo para o amor, papai e Senhor Morissette? Como eu disse, estamos apaixonados e isso é o que interessa. — Olha isso, o DJ está me saindo melhor do que encomenda! Chego a vibrar por dentro e a sua mamãe parece receber a resposta do filho com extrema satisfação, já que abriu
EthanAssumir a presidência da D.C está sendo exatamente como imaginei que seria. Uma puta dor de cabeça. A primeira semana tende a ser a mais estressante e exaustiva. As mudanças mexem com cada parte dessa megaempresa, cada setor é atingido de formas diferentes e sem piedade. Contudo, eu não esperava pelo afastamento de Lena das suas atividades exatamente no momento mais complicado dessa transição. Portanto, além de uma série de reuniões com as esquipes dos setores, também terei que encontrar uma boa secretária em tempo record. Os novos contratados e contratantes terão que ser revisados por mim e é exatamente isso que estou fazendo aqui com o advogado da D.C. No entanto, quando a porta do meu escritório se abre de repente e Samanta passa por ela usando uma saia de couro negra, com uma fenda enorme, exibindo boa parte da sua coxa direita, me sinto inquieto por dentro