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Samanta

Crosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no G****e e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.

Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinada quando preciso ser, ainda mais quando há tanto em jogo a se perder.

— Vamos lá, seu ogro atende essa droga de telefone! — resmungo tão baixo quanto áspera. Bufo contrariada quando mais uma vez sou rejeitada — Você é mesmo um imbecil, um mal-educado, um arrogante, petulante, prepotente e um... burro, e... um...

— O que você está resmungando aí sozinha? — Emily indaga adentrando o meu escritório repentinamente, fazendo-me sobressaltar em cima da minha cadeira e imediatamente olho na sua direção. Já perceberam que ela não larga do meu pé, não é? Isso porque Emily Green além de ser uma ótima e presente amiga, ela é também a minha assessora e aquele maldito tablet que ela mantém debaixo do seu braço é para ficar por dentro das informações a meu respeito, e assim me livrar de certas confusões. Mas acredite, essa criatura consegue ficar por dentro da vida de todo mundo.

— Nada! — retruco com um certo desgosto e encerro mais uma ligação frustrada.

— Você tem feito muito isso ultimamente.

— Isso o que, Emily?

— Nada. — Reviro os olhos.

— Eu vou sair — aviso repentina e pego a minha bolsa que está disposta em cima da minha mesa, e caminho um tanto apressada para a saída.

— Agora? Mas ainda é cedo para...

— O quê? Vai ficar controlando os meus passos e horários agora? — Eu sei, estou sendo uma babaca com ela. Um par de olhos arregalados me encaram quando ela ergue as mãos em sua defesa.

— Não vou.

— Ótimo!

Definitivamente todo esse transtorno poderia ser sido evitado apenas com um comando de voz do meu pai. Se o Senhor Morissette me nomeasse presidente do nosso império, eu não precisaria viver correndo atrás de alternativas como tentar convencer um certo aspirante a CEO a me cortejar e depois a pôr uma aliança no meu dedo apenas para ocupar o meu lugar de direito. E claro, que se Erick Morissette não fosse um descarado metido a perfeitinho ficaria bem mais fácil conseguir o meu objetivo.

Não demora e eu estacionando o meu carro em frente ao prédio da D'angelo Corporation e determinada, ponho um pé após o outro para fora do veículo. Enquanto caminho para dentro do hall ajeito a minha bolsa no meu ombro, sacudindo algumas mechas dos meus cabelos para trás dos ombros e fito o ambiente elegante através das lentes escuras dos meus óculos. Dentro do elevador espelhado encaro impaciente o painel e inevitavelmente bato com o peito do meu pé no piso encapetado, mas quando o elevador faz o seu habitual Tim, me vejo um tanto nervosa. Não é hora para faniquitos, Morissette, você precisa manter a cabeça erguida e criar um texto atrativo o suficiente para convencê-lo a te ajudar. Simples assim. E com esse pensamento invado o escritório do DJ... digo, do D'angelo Júnior e sinto o impacto da sua visão imponente atrás de sua mesa retangular escura com a cara enfiada em uma pilha de papéis. É impossível não reparar nas mechas caindo em sua testa, que agora está levemente franzida, enquanto estuda algo naqueles documentos. Lindo, sexy, atraente o suficiente para quase me puxar para a sua direção. Contudo, pego a minha tesoura invisível e resolvo cortar esse fio antes que seja tarde demais, e desvio o meu olhar, contradizendo esse desejo de estar perto dele. A visão de Seattle é bem-vinda para mim agora.

— Que bom que já veio, David. Pode ver uma mudança para essa clausu... — Ah, essa voz tem o dom de me fazer estremecer inteira por dentro. No entanto, não me permito deixar essa informação vazar e me mantenho firme em cima dos meus saltos agulha, virando-me lentamente para fitá-lo. E, droga, acabo de ter a consciência de que isso não será tão fácil assim! Penso quando os nossos olhos se encontram. Os dele bem frios e determinados, porém, esse é o problema. Essa frieza e determinação mexem comigo e eu nem sei o porquê. O fato é que Ethan D'angelo é bem jovem e eu posso dizer que se não temos a mesma idade, a diferença entre nós deve ser de um ou dois anos. Devo dizer que os meus gostos por homens mais velhos e experientes sempre estiveram no topo. Mas esse garoto me deixou no chinelo na nossa primeira noite e não posso dizer que aquela boca ainda me assalta nas noites mais frias e solitárias. Desde a minha última experiência com compromissos sérios, não tenho facilitado as conquistas de alguns homens, que devo mencionar eram bem atraentes e sexys e me apagar na cama nunca aconteceu. No geral sou eu quem os bota para correr no final. Pensar nisso me causa um misto diferenciado que eu sei exatamente como explicar. Só sei que não gosto do que sinto. Um diálogo afiado começa e o meu ataque é inevitável. Eu preciso mantê-lo a uma certa distância de mim, ou posso perder o que mais prezo depois da minha carreira na presidência da Morissette LTDA. A minha liberdade. Uma vez conquistada, jamais me permitirei perdê-la outra vez.

Agora estamos aqui sentados, um de frente para o outro e nos olhando como se fossemos gladiadores no meio de uma arena, com as nossas armas grotescas e pesadas em mãos, esperando o próximo ataque. Quem será o primeiro a dar continuidade a esse confronto, você ou eu? Definitivamente não serei eu. A final, eu preciso dele desarmado para mim, disposto a me ouvir e a aceitar a proposta mais louca que eu já fiz na minha vida inteirinha.

— E então? — Ele pergunta assim que o garçom se aproxima da mesa.

Il menu, signorina.

— Vamos pedir primeiro, depois conversamos.

— Ok, você quem manda! — Isso, sou eu quem manda. Penso um pouco arrogante. É algo que eu não consigo evitar quando estamos juntos. Ethan D'angelo exala um poder sobre mim que me irrita, que me faz repeli-lo e isso porque essa... coisa me causa medo. E medo é algo que eu odeio sentir. — Voglio una porzione di cacio e p**e. Per favore!  — Um som perfeitamente italiano saiu da sua boca me fazendo suar frio e a minha respiração ficou imediatamente pesada. Viu o que eu falei? Isso é irritante! No entanto, mantenho os meus olhos fixos no menu.

Si signore, D'angelo! E signorina?

— Ah, é... una porzione di ossobuco. — O rapaz faz um gesto positivo com a cabeça e sorri.

Mi scusi! — diz se afastando em seguida. Contudo, ao voltar os meus olhos para o homem do outro lado da mesa encontro um par de olhos avaliadores em cima de mim.

— E então?

— Como disse antes, eu tenho uma proposta pra você.

— Continue. — Ok, eu sei exatamente o que eu quero e como eu quero que a coisa toda aconteça, mas como dizer para esse homem que quero que ele finja ser o meu namorado? Pior ainda, como dizer para ele que preciso levar essa pequena mentira ao extremo? — Estou esperando, Senhorita Morissette — insiste me fazendo soltar uma respiração sutil pela boca.

Calma, homem irritante, não ver que estou pensando?!

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