Samanta
No dia seguinte...
— Alô? — Sua voz grossa e imponente soa do outro lado da linha me fazendo arfar. Arfar, que droga!
— Por que não compareceu ao jantar na noite passada, Senhor D’angelo?
— O quê? Como conseguiu esse número?
— E isso importa?
— É o meu número pessoal, Senhorita Morissette. Então sim, isso importa!
— Eu só preciso saber por que não compareceu ao jantar? — insisto me sentindo irritada.
— Porque não julguei importante.
— Como não?! — rosno ainda mais irritada.
— Senhorita Morissette, nós tivemos uma reunião, conversamos sobre todos os pontos positivos e negativos. Portanto, não havia dúvidas a serem esclarecidas. O jantar era irrelevante.
— Irrelevante? Não é você quem determina isso, Senhor D’angelo Junior!
— Não me chame assim! E quer saber? Eu tinha coisas mais importantes para fazer do que ter que escutar uma garota mimada como você! — Ele esbraveja e eu bufo. Garota mimada? Ele não me conhece para me julgar dessa maneira! Com uma respiração consternada eu fito a tela do meu computador e encaro a foto do vice-presidente da D’angelo na companhia de alguns amigos em uma despedida de solteiro.
— É claro que estava! — ralho.
— Só uma coisa, Senhorita Morissette.
— Sim?
— Apague o meu número da sua agenda e não me ligue mais. — Ora, seu! Penso em rebater, mas a ligação é encerrada.
— Você está vermelha feito um tomate maduro. — Emily comenta extremamente espantada. Faço um bico com a boca o entortando para o lado. — O que vai aprontar?
— Quem? Eu? Nada! — Minha amiga aponta um dedo para mim.
— Eu te conheço, Samanta Morissette e quando você faz esse bico quer dizer que vem chumbo grosso por aí. — Abro um sorriso malévolo e pego o meu telefone, fazendo uma ligação logo em seguida.
Ainda não sei por que me importo tanto com esse ogro. Sério, eu não sou de pegar no pé de ninguém, mas esse garoto consegue extrair o pior de mim. Sei que sou determinada e largar o osso quando eu percebo uma grande conquista não é do meu feitio. Ethan estava certo. Não havia dúvidas, nada a ser acertado e mesmo assim eu não consigo deixar pra lá. Acho que estou ficando maluca! Nada que um dia inteiro de trabalho não deva resolver. Eu só preciso ocupar a minha cabeça com outras coisas e desligar esse botão vermelho de alto destruição, mas não sem antes fazê-lo pagar por me dar um belo chá de cadeira... digo, algumas taças de vinho e uma puta dor de cabeça.
***
— Você já viu o Erick? — Emily inquire invadindo repentinamente a minha sala com o seu tablet erguido em uma mão. Automaticamente tiro os meus olhos dos papéis para encará-la.
— Não. O que tem o Erick?
— Ele está na sala da presidência exatamente agora e advinha? — Me afasto da minha mesa para me encostar na cadeira.
— O que? — Em resposta, Emily vira o tablet de frente para mim, exibindo uma foto do meu primo ao lado da sua namorada e ambos estão sorrindo, e erguendo uma taça de champanhe. — Isso é o que eu estou pensando? — indago me sentindo suspensa.
— O que você acha? Ele veio exibir a aliança de noivado para o seu pai.
— Merda!
— Conseguiu o contrato com a D’angelo, não é? Está tudo certo e devidamente assinado?
— Então, sobre isso...
— Merda, Samanta, o que foi que você fez?
— Uma grande merda! Eu liguei para o presidente da D’angelo para fazer uma reclamação. Era para ser apenas um puxão de orelhas no D’angelo Junior, mas ele adiou o contrato. — Em choque, a minha amiga ergue as sobrancelhas para mim.
— Deixe-me ver se entendi. — Ela pede se sentando na cadeira de frente para a minha mesa. — Ligou para o Heitor D’angelo para fazer uma reclamação sobre o filho dele? — Meneio a cabeça em resposta. — Posso saber qual foi a reclamação? — bufo alto e desvio o meu olhar do seu me sentindo péssima.
— Atrasos e descasos.
— Atrasos e descasos? — Faço outro sim com a cabeça. — Eu não estou te reconhecendo, Morissette! — bufo desanimada.
— Eu sei! Eu também não — resmungo chorosa.
— Que merda, Samanta!
— É que ele me incomoda! Eu não sei, algo me impulsiona a provocá-lo. Eu sei que é absurdo, mas eu não consigo evitar! — rosno exasperada. Ela solta uma respira alta pelas narinas e me encara séria.
— Não adianta chorar o leite derramado. Eu sendo você correria para a sala da presidência antes que a concorrência consiga o seu objetivo.
— É exatamente isso que farei agora! — Levanto-me rapidamente e caminho igualmente apressada para o escritório do meu pai. Contudo, encontro Erick Morissette no meio do caminho. No rosto largo e jovial tem um sorriso satisfeito que ao me vir se enlargueceu com perfeição. Diminuo os meus passos à medida que nos aproximamos e quando paramos um de frente para o outro, ele leva as mãos aos bolsos da calça social. Um gesto elegante e imponente devo admitir.
— Samanta!
— Erick! Eu soube do seu noivado. Meus parabéns!
— Obrigado! O meu tio adorou a notícia! Pelo visto ele já tem em vista um novo presidente, já que a sua filha está longe da responsabilidade de um bom casamento. O último foi um fiasco. — Filho da puta presunçoso! Rosno mentalmente quando ele menciona esse assunto e cruzo os meus braços e abrindo um sorriso para ele.
— Você não poderia estar mais enganado, priminho? — Ele arqueia as sobrancelhas e um sorrisinho sínico de lado surge em seguida.
— Ah é?
— É!
— E eu posso saber onde está o meu engano? — Meu coração erra algumas batidas quando uma frase estúpida escapa da minha boca.
— Bom, eu estava esperando o momento certo para contar para o meu pai, mas vou abrir o jogo com você. O Ethan D’angelo e eu estamos namorando. Acho que o seu partido não se compara com o meu nem de longe, não é? — Ver esse sorrisinho desgraçado sair da sua face me fez sentir um gostinho de vitória e inquieto o meu primo retirou as mãos dos bolsos, fitando-me com incredulidade.
— Está me dizendo que você e o... D’angelo. O mesmo da D’angelo Corporation... que vocês estão juntos? — Ah essas palavras embaralhadas só serviram para me dizer que alcancei o meu objetivo. Eu o desestabilizei. O problema é que eu me menti em uma puta enrascada agora.
— Exatamente!
— Eu duvido!
— Problema seu! Não é para você que eu tenho que apresentá-lo como o meu namorado, então fica esperando na fila como todos os outros, queridinho! — ralho um tanto debochada e saio dali com a mesma pressa anterior, direto para o escritório de Tyler Harris. Invado a sua sala sem esperar ser anunciada e vou direto para o bar de canto. Encho um copo de uísque e o bebo como se fosse água. — Aaah, que coisa horrível! — rosno fazendo uma careta horrenda na sequência, mas logo sinto o ardor do álcool me esquentar demasiado por dentro.
— O que foi isso? — Tyler resmunga com um risinho, contornando a sua mesa e aturdida fito os olhos divertidos do advogado da Morissette LTDA.
— Nada demais, eu só... estou fodida!
Ethan Hoje é um grande dia. Digo para mim mesmo ajeitando a gravata impecável no meu pescoço. Além de fechar alguns contratos importantes para a D’angelo e de conseguir um bônus extra para a empresa, recebi a notícia de que o meu pai deseja fazer uma reunião rápida comigo através de uma chamada de vídeo. Provavelmente ele já sabe dos meus feitos nesses poucos dias e muito provavelmente anunciará a minha sucessão a cadeira da presidência. Eu nunca tive dúvidas do meu potencial e sabia que era só uma questão de tempo para chegar até aqui. Satisfeito, abro um sorriso largo e pressiono os braços da cadeira executiva entre os meus dedos. É isso. Ethan D’angelo presidente da D’angelo Corporation. — Bom dia, Senhor futuro presidente! — David, meu futuro cunhado adentra a sala trazendo um champanhe e duas taças vazias em suas mãos. — Eu ainda não sou. — Mas falta pouco, certo? — Ele ralha, colocando a garrafa e as taças em cima da mesa, e se senta logo em seguida. — Precisamos comemorar.
Ethan Essa garota é mesmo inacreditável! Bufo irado enquanto saio do elevador, direto para o meu quarto. É incrível como ela consegue me levar ao limite, ao extremo mesmo. E eu pensando que ela seria uma exceção. Bonita, sexy, sensata e inteligente. Meu Deus, como as aparências enganam! Foda é sair do seu prédio carregando comigo o seu perfume que acabou ficando entranhado na minha camisa. Solto uma lufada de ar pesada pela boca, levo a chave na ignição e ligo o motor, rasgando pneus para sair dali. No meio do trânsito um tanto calmo agora, o desenho da sua boca carnuda preenche a minha visão e puto da vida, freio o carro bruscamente recebendo alguns xingamentos dos motoristas atrás de mim. Que grande merda! Penso fechando os meus olhos e inclino a cabeça sobre o volante, buscando o meu autocontrole. Ele deve estar aqui em algum lugar. Como uma garota mimada conseguiu me desestabilizar dessa maneira? Como ela consegue infernizar a minha vida com tão pouco? O pior é permitir a sua asso
Ethan À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um
SamantaCrosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no Google e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinad
Samanta— Ah... é... — Eu gaguejo e ele arqueia as sobrancelhas para mim. De alguma forma sinto que Ethan D'angelo está se divertindo com o constrangimento, que com certeza eu não deveria deixar transparecer. Não para ele. — Preciso que finja ser o meu namorado. — Pronto, falei! Se estou aliviada? Isso soou ridículo, portanto, alívio é o que menos sinto agora. O pior é fitar seu semblante sério e o olhar igualmente sério, sem dizer uma palavra. A coisa piorou quando um risinho escroto surgiu na sua face e logo ele se tornou levemente sonoro, até ganhar uma proporção ainda mais constrangedora. Bufo audivelmente.— Desculpa, mas acho que não entendi direito. Você quer que eu finja ser o seu namorado? — Sua pergunta vem acompanhada de um sorrisinho debochado, tão irritante quanto o seu olhar divertido.— Isso.— Meu Deus, isso é tão... — Ele volta a gargalhar e incomodada, volto a me mexer em cima da cadeira, olhando sutilmente para alguns clientes em suas mesas, e para alguns funcionári
EthanMaluca, é isso que ela é! Maluca com M maiúsculo! Onde já se viu um contrato de casamento? Pior ainda, com filhos? Onde estava com a cabeça para entrar de cabeça nas loucuras dessa menina? Céus, se o meu pai sonhar eu estou fodido! A campainha do meu apartamento começa a tocar e eu esvazio o meu drink para ir abrir a porta.— O que tem de tão urgente que não podia esperar até amanhã? — Meu advogado ralha meio mal-humorado, adentrando o hall.— Eu preciso que redija um contrato para mim — falo de uma vez, fechando a porta atrás de mim. David me lança um olhar furioso, parando bem no meio da minha sala de estar.— Trabalho, a uma hora dessas? Sério, Ethan? Que droga, eu estava nos braços da minha noiva, trocando deliciosas carícias e já estávamos quase indo para o nosso quarto quando me estr
Ethan— A sala de reuniões está pronta, Senhor D'angelo. — Minha secretária avisa entrando na minha sala. Não é uma reunião de praxe, nem mesmo um horário convencional. Na verdade, nada nessa reunião é normal. Já passa de oito horas da noite e quase todos os funcionários já se foram. Contudo, mantive a minha secretária ocupada por mais algumas horas após o seu horário, para que ela desse o seu toque feminino para um jantar de negócios. Posso assim dizer. — Precisa de mais alguma coisa?— Não, Ângela. Já pode ir e obrigado por tudo!— Não foi nada, Senhor D'angelo! — Ela diz e sai fechando a porta. Com um suspiro eu esvazio o meu copo de uísque, me afasto da parede de vidros, de onde tenho a esplendida imagem noturna de Seattle e vou até a minha mesa. Fito os dois envelopes com
EthanNo dia seguinte...— Bom dia, Senhor D'angelo, o seu pai pediu para avisar que o aguarda na sala de reuniões número seis. — Ângela avisa assim que saio do elevador. Aturdido olho para trás, para o elevador que acaba de fechar as suas portas e depois para a moça em pé na minha frente com um belo sorriso profissional.— Ele disse do que se trata? — pergunto meio confuso. Ela faz não com a cabeça e eu respiro fundo. — Tudo bem! Prepare a minha agenda do dia, eu volto logo — aviso, dando-lhe as costas e aperto o botão do elevador outra vez. Em segundos às portas voltam a se abrir para mim e após adentrar o cômodo apertado, aperto o botão do sexto andar. Uma reunião surpresa? O que será que aconteceu dessa vez? Não é que eu esteja nervoso ou algo assim. Eu sei o que tenho feito nesses últimos di