Samanta
Para uma família com o alto escalão e dona de uma rede farmacêutica reconhecida no mundo inteiro o ideal seria nascer homem e assim assumir as empresas sem ser observado pelos olhos julgadores dos associados o tempo todo. Infelizmente Hugo Morissette – meu pai não teve essa sorte. O jovem CEO descobriu muito o cedo o sucesso de criar um dos melhores laboratórios e acabou se casando muito cedo também. Uma linda história de amor que eu conheço de cor. Contudo, uma história bem curta também, pois Leslie Morissette morreu na sala de parto. Ou seja, eu deveria ser duas vezes menos indesejada, mas o presidente da Morissette LTDA nunca me menosprezou por roubar a vida do seu grande amor e menos ainda por eu ter ousado nascer menina. Pelo contrário. Ele se doou para me educar e me amou incondicionalmente ao ponto de não se casar outra vez. Portanto, como gratidão me empenhei a vida inteira para lhe agradar. Fiz um curso de administração, outro de empreendedorismo e estudei três línguas estrangeiras. Tudo para ser o seu orgulho e me tornar a melhor presidente que essa rede industrial já teve. Estão se perguntando se eu consegui? Quase. Sabe o fator nascida mulher? Pesou um pouco, pois os assédios masculinos caíram como uma onda gigante sobre a minha cabeça e logo me vi apaixonada, e isso me distanciou um pouco do meu propósito. Mas não vamos entrar nos detalhes sórdidos dos meus erros e sim dos meus acertos, porque nesse exato momento estou dando alguns passos largos pelo corredor comprido, que me levará a sala de Hugo Morissette. O motivo? Já tem algumas semanas que ele fala em aposentadoria e em viagens. E o que isso quer dizer? Que logo estarei sentada no seu lugar comandando todo esse universo e fazendo tanto sucesso quanto ele fez. Portanto, com um sorriso profissional eu levo a mão a maçaneta da porta e assim que adentro o seu amplo e bem iluminado escritório vou ao seu encontro para beijar-lhe o rosto.
— Bom dia para o pai mais lindo desse mundo! — sibilo amorosamente e acredite, não é falsidade. Papai e eu temos um relacionamento pai e filha perfeito. Ele conhece tudo sobre a minha vida, principalmente um fato que eu pretensiosamente mantenho escondidinho lá no fundo de um poço escuro. Devo dizer que foi um grande... grande não. Um enorme erro que pretendo não cometer mais. No entanto, o Senhor Hugo Morissette se manteve firme do meu lado e os seus conselhos muito bem-vindos foram prontamente ignorados. Confuso? Basta saber que eu sei exatamente do que estou falando. — Mandou me chamar?
— Mandei. — Ele faz um gesto para eu me sentar, mas só faço isso após deixar outro beijo carinhoso na sua bochecha. Ok, vamos nos preparar para a boa notícia do dia. — Não é novidade que pretendo me afastar da empresa definitivamente. — Não, não é. Penso ansiosa pela continuação dessa conversa. — Você sabe, longos anos preso a essas quatro paredes e me dedicando unicamente a você. Eu não estou reclamando. Sabe disso, não é? — Meu sorriso se alarga.
— Eu sei disso, pai.
— Ótimo! Filha, eu sei o quanto você se preparou para esse momento. O seu desempenho não passou despercebido aos meus olhos em nenhum momento. Você é simplesmente fantástica no que faz! Essa sua força, a sua autoridade, o jeito como resolve as coisas e como pensa... — Agora me diz se não é satisfatório ouvir tantos adjetivos da boca do seu próprio pai? Confesso que estou quase redonda de tanto inflar. — Mas... — O quê?! De onde veio esse, mas?! O que ele quer dizer com, mas?
— Mas?
— Eu preciso de mais.
— Como assim precisa de mais, papai?
— Querida, você já fez vinte e três anos, está formada, e preparada para assumir uma empresa de grande porte como essa.
— Por que estou sentindo que vem algo bem desagradável por trás desse mais? — ralho. Ele solta uma respiração profunda, se levanta da sua cadeira e vai para perto de uma parede de vidro transparente.
— Relacionamentos. — Reviro os olhos para essa palavra. — Você sabe o que quase aconteceu da última vez.
— Papai, você não precisa se preocupar com isso. — Me levanto e vou ao seu encontro. — Eu não pretendo me casar...
— Como não? — Ele me interrompe bruscamente. — Eu quero ter netos, Samanta! — Sorrio confiante.
— Nada que uma adoção não resolva, papai.
— Você não entendeu. Eu quero netos legítimos.
— Pai, vê não fode!
— Olha essa boca suja, mocinha! — Ele rosna mal-humorado e eu bufo em resposta. — Você quer muito assumir a Morissette LTDA, não é?
— Você sabe que sim.
— Ótimo! Então me traga um marido.
— O QUÊ?! — grito a indagação.
— Mas, eu não quero qualquer marido, Samanta Morissette.
— Pai, se isso é algum tipo de brincadeira...
— Eu não brinco quando o assunto é a minha única filha e essa empresa! — Ele brada me deixando extasiada. — Eu preciso ter certeza de esse patrimônio estará seguro, Sam e para isso você tem trinta dias para me apresentar o marido perfeito. — Abro a boca para rebater uma malcriação, mas o seu telefone começa a tocar e ele faz um gesto de mão me pedindo para esperar. — Eu preciso atender, filha.
— Como assim? Essa conversa ainda não acabou!
— Você tem razão. Então lá vai. Se você se recusar aos meus termos, eu ficarei feliz em torná-la vice-presidente da Morissette LTDA e o seu primo Erick assumirá a presidência definitivamente. — Mais uma vez penso em rebater, porém, ele me dar as costas e atende o maldito telefone. — Erick, meu querido! Estávamos falando de você agora... — Solto um grunhido irritado e saio pisando duro do escritório, direto para a minha sala. Assim que entro bato a porta com força e me sento na minha cadeira, girando-a de frente para uma parede de vidro e fito a nebulosa Seattle em um dia chuvoso.
— Ele não tem o direito de fazer isso comigo! — sibilo baixo, segurando uma explosão.
— Samanta Morissette, se antes existia alguma dúvida sobre os seus dotes persuasivos, agora eu não os tenho mais. — Emily ralha invadindo o meu escritório, provavelmente abraçada ao seu tablet de estimação. Impaciente, reviro os olhos. Emily Green é a minha melhor amiga dos tempos do colegial. Ela é uma garota bem tagarela e gosta de falar sobre tudo o que pensa, principalmente sobre o seu relacionamento maluco com Tyler Harris. Ela é também a garota que me aguenta porque eu sei que às vezes eu posso ser um pouquinho difícil desde que... Enfim, sempre que estou na merda, é para ela que eu corro. — Acabei de receber o e-mail da D’angelo Corporation e advinha? — Giro a cadeira para olhá-la com interesse no assunto. — Eles querem uma reunião amanhã de manhã. — Abro um sorriso amplo.
— Isso é perfeito! Quem sabe essa parceria fará o meu pai mudar de ideia?
— Ideia? Que ideia?
— Papai quer que eu me case.
— O quê?
— Ele pensa que uma mulher sozinha no controle não é capaz de administrar uma empresa. Puro machismo!
— Você sabe que não se trata disso, não é?
— Uma vez! Eu errei apenas uma vez e juro que aprendi com o meu erro. Quem ele pensa que é para determinar o que devo ou não fazer?!
— O dono da porra toda? — Ela ralha e enfia a cara no seu tablet. — Você já viu a família D’angelo?
— E isso é importante? — rebato com nítida irritação.
— Gente, Heitor D’angelo é uma perdição de bonito! — Ela continua com os seus comentários, ignorando a minha rabugice. — A esposa dele é muito linda! Olha para essa pele de pêssego! — bufo audivelmente e volto a girar a minha cadeira de frente para a parede. — O casal tem três filhos, você sabia disso? Quê que isso, gente!
— Você não vai parar, não é? — ralho incomodada.
— Já viu a carinha de bebê desse Ethan D’angelo? Ele é o deus da perdição. Eu não pegava, simplesmente o devorava.
— Seu namorado sabe desse seu desejo descabido pelo primogênito D’angelo!
— Quer ver essa lindeza?
— Não tenho interesse, Emily!
— Eu tenho certeza de que o seu pai o aprovaria.
— Não importa, porque eu não vou me casar!
— Você sabe que nem todos são como ele, não é?
— Que se foda! Eu vou mostrar para esses machistas de merda do que uma mulher como eu é capaz!
— Ok, entendi, você hoje está impenetrável. Que tal sairmos essa noite? — Volto a fitá-la. — Dançar, hum? — Ela se remexe em cima da cadeira me fazendo abrir um meio sorriso. — Prometo que vamos beber até as nossas pernas tremerem e perdemos a consciência.
— Meu Deus, você é louca!
— Topa? — Ela ignora o meu comentário e o meu sorriso se amplia.
— Topo!
Ethan — Por que você vive com essa cara enfiada nesses livros? — resmungo assim que entro na sala de visitas da casa dos meus pais e encontro Lisa, a minha irmã caçula deitada em um dos sofás e lendo um livro de romance. Meninas! Por que elas acreditam nessas baboseiras? Estão sempre suspirando pelos cantos e sonhando acordadas. Eu entendo que o amor existe. Eu tenho vários exemplos clássicos girando ao meu redor. O Tadeu, o Max, Tio Zyan e até mesmo o meu pai. Cada um deles tem uma história para contar. Mas vamos ser sinceros? Não dá para viver de sonhos. Não sou um homem de coração duro e nem nada assim. Estou mais para pragmático. Atualmente eu sou o vice-presidente da D’angelo Corporation e logo serei o presidente dessa empresa, mas não cheguei até aqui com sonhos e suspiros. Eu estudei, me esforcei e dei o meu melhor para ser visto pelo meu pai, e reconhecido pelos meus méritos. Sou determinado e tenho os meus pés fixados no chão. — Eu amo acompanhar o amor crescendo em seus c
Ethan Conhecem a expressão aos trancos e barrancos? Foi exatamente assim que entramos no seu apartamento e eu tenho certeza de que nada ficou inteiro pelo caminho. No meio da madrugada os nossos sons se misturaram e se espalharam pelo seu quarto, enquanto suávamos os seus lençóis. O seu calor e o seu aperto me deixaram fora de órbita e em algum momento fiz questão de fazê-la gritar o meu nome, enquanto a fodia com força por três vezes consecutivas. E quando ela literalmente apagou o dia já estava amanhecendo. Ninguém sabia o nome de ninguém e nem era preciso. A final, isso não passou de uma transa de uma noite só. Portanto, assim ela que começou a ressonar, vesti as minhas roupas, peguei a minha carteira e as chaves, e saí do AP de fininho com uma única certeza. Nunca mais a verei de novo. *** — Bom dia, Senhor D’angelo! — A secretária do meu pai diz assim que saio de dentro do elevador. — Bom dia, Lena! A sala de reuniões já está pronta? — pergunto caminhando apressado devido a um
Samanta — O que houve com você? — Emily questiona me olhando de alto a baixo assim que entro no elevador. — Nada. Por quê? — Você não se olhou no espelho essa manhã, não é? — Ah... não. Não tive tempo — respondo abrindo a minha bolsa para pegar um espelho de mão, soltando um grito de horror em seguida. Uma das melhores noites da minha vida, que teve a duração de pelo menos três horas consecutivas. Após o pior acidente geográfico que eu tive na minha vida eu jurei que homem nenhum teria o meu coração nas mãos outra vez e desde então, vivo a vida como se ela fosse uma festa. Mas, essa festa nunca teve um tempo tão longo e tão... fabuloso... e... erótico... delicioso e... Limpo a minha garganta incomodada com os meus pensamentos, tentando voltar a minha realidade. O fato é que no final sempre sou eu quem os põe para correr, mas não foi assim dessa vez. Dessa vez eu acordei e me encontrei sozinha na minha cama espaçosa. Ele nem se deu o trabalho de deixar um recadinho dizendo o quanto
Samanta No dia seguinte... — Alô? — Sua voz grossa e imponente soa do outro lado da linha me fazendo arfar. Arfar, que droga! — Por que não compareceu ao jantar na noite passada, Senhor D’angelo? — O quê? Como conseguiu esse número? — E isso importa? — É o meu número pessoal, Senhorita Morissette. Então sim, isso importa! — Eu só preciso saber por que não compareceu ao jantar? — insisto me sentindo irritada. — Porque não julguei importante. — Como não?! — rosno ainda mais irritada. — Senhorita Morissette, nós tivemos uma reunião, conversamos sobre todos os pontos positivos e negativos. Portanto, não havia dúvidas a serem esclarecidas. O jantar era irrelevante. — Irrelevante? Não é você quem determina isso, Senhor D’angelo Junior! — Não me chame assim! E quer saber? Eu tinha coisas mais importantes para fazer do que ter que escutar uma garota mimada como você! — Ele esbraveja e eu bufo. Garota mimada? Ele não me conhece para me julgar dessa maneira! Com uma respiração const
Ethan Hoje é um grande dia. Digo para mim mesmo ajeitando a gravata impecável no meu pescoço. Além de fechar alguns contratos importantes para a D’angelo e de conseguir um bônus extra para a empresa, recebi a notícia de que o meu pai deseja fazer uma reunião rápida comigo através de uma chamada de vídeo. Provavelmente ele já sabe dos meus feitos nesses poucos dias e muito provavelmente anunciará a minha sucessão a cadeira da presidência. Eu nunca tive dúvidas do meu potencial e sabia que era só uma questão de tempo para chegar até aqui. Satisfeito, abro um sorriso largo e pressiono os braços da cadeira executiva entre os meus dedos. É isso. Ethan D’angelo presidente da D’angelo Corporation. — Bom dia, Senhor futuro presidente! — David, meu futuro cunhado adentra a sala trazendo um champanhe e duas taças vazias em suas mãos. — Eu ainda não sou. — Mas falta pouco, certo? — Ele ralha, colocando a garrafa e as taças em cima da mesa, e se senta logo em seguida. — Precisamos comemorar.
Ethan Essa garota é mesmo inacreditável! Bufo irado enquanto saio do elevador, direto para o meu quarto. É incrível como ela consegue me levar ao limite, ao extremo mesmo. E eu pensando que ela seria uma exceção. Bonita, sexy, sensata e inteligente. Meu Deus, como as aparências enganam! Foda é sair do seu prédio carregando comigo o seu perfume que acabou ficando entranhado na minha camisa. Solto uma lufada de ar pesada pela boca, levo a chave na ignição e ligo o motor, rasgando pneus para sair dali. No meio do trânsito um tanto calmo agora, o desenho da sua boca carnuda preenche a minha visão e puto da vida, freio o carro bruscamente recebendo alguns xingamentos dos motoristas atrás de mim. Que grande merda! Penso fechando os meus olhos e inclino a cabeça sobre o volante, buscando o meu autocontrole. Ele deve estar aqui em algum lugar. Como uma garota mimada conseguiu me desestabilizar dessa maneira? Como ela consegue infernizar a minha vida com tão pouco? O pior é permitir a sua asso
Ethan À noite, estamos reunidos a mesa na mansão D’angelo em um jantar inesperado e bem requintado, com alguns convidados surpresa. Os pais e as irmãs de David também estão a mesa e isso me diz que Marie D’angelo e David Thornton logo estarão as portas de um altar. Bom para eles! Devo confessar que sinto uma certa inveja da minha irmã agora. Quer dizer, ela encontrou o amor tão rápido que foi algo quase imperceptível. Em um momento os olhos desses dois se encontram e no outro eles estavam praticamente entregues aos beijos e as promessas. E agora isso. Rápido demais? Talvez. Mas para que esperar quando se ama de verdade? E por que ir contra esse sentimento quando é tudo o que eles mais querem agora é ficar juntos? Meu pai nos ensinou a não desperdiçar o tempo quando o coração estiver cheio e é exatamente isso que eles estão fazendo agora. Penso enquanto observo todos conversarem durante o jantar e no meio da minha especulação percebo Valery Thornton me lançar um olhar brilhante com um
SamantaCrosta Sottile não é um restaurante muito fácil de se conseguir uma reserva, ainda mais quando o turismo aflora nessa cidade. Mas devo dizer que tenho sorte de o meu papai ser o padrinho do atual dono dessa casa italiana. Admito que não sou muito fã das massas, mas já que o D'angelo Júnior gosta é o jeito agradar o seu paladar e assim alcançar alguns meios para chegar aonde eu realmente preciso. E como eu sei que ele gosta de massas? É bem simples. Após o meu surto de dizer para o meu arrogante primo que estamos namorando, me dediquei a fazer a minha tarefa de casa pesquisando sobre o meu alvo perfeito no Google e percebi que a maior parte de suas fotos nos tabloides são em restaurantes italianos. Mama mia, essa vitória está no papo! Eu só preciso convencer o Senhor perfeitinho a mentir para mim por um tempo e depois... Bom, depois eu vejo o resto.Ok, última tentativa. Penso enquanto faço a minha enésima ligação para esse CEO arrogante-petulante. Ah sim, eu sou bem determinad