O cheiro de biscoitos recém-assados preenchia a sala enquanto eu ajeitava as luzes da árvore de Natal com Ane.Sentada no chão, eu observava minha pequena com um sorriso que escondia o turbilhão de pensamentos na minha cabeça. Ela estava tão animada, segurando as luzinhas piscantes com cuidado, como se fossem a coisa mais preciosa para ela.E então Ane soltou um suspiro e trouxe seus pequenos olhos brilhantes até os meus, deixando uma certa interrogação no ar. De repente a voz dela soou com suavidade.— Mamãe, eu quero colocar a estrela! — pediu ela, erguendo o enfeite brilhante como se fosse o maior troféu do mundo.Não consegui conter o riso e então, toquei a ponta do nariz dela a fazendo soltar um riso fofo.— Vamos esperar um pouquinho, meu amor. Ainda temos que terminar as luzes. - Falei a vendo assentir com um aceno de cabeça.Enquanto terminávamos, notei que ela ficou mais quieta de repente. Ane segurava um enfeite em forma de anjo e o olhava fixamente, como se estivesse perdid
Estava uma manhã fria, mas o céu limpo trazia um pouco de conforto.Acordamos cedo e fomos a um café no centro da cidade que tinha um playground no canto, onde Ane poderia brincar a vontade.Era o meu lugar de refúgio quando a mente estava a mil. Lá, eu podia observar minha pequena brincar enquanto tentava organizar meus pensamentos.Ane logo se empolgou com as crianças no parquinho, correndo com sua energia contagiante. Eu, por outro lado, estava inquieta.Meu estômago estava embrulhado, e minhas mãos tremiam levemente enquanto mexia no café que havia pedido. Ele viria? Será que eu estava mesmo certa em procurá-lo? - Soltei um suspiro profundo com tais pensamentos.Ouvi o sino na porta do café soar e então, meu coração disparou ao vê-lo.Ele estava ali. Sempre tão impecável, com seu terno elegante e óculos escuros. - Ele não havia mudado nada nesses quase cinco anos. Ainda era o mesmo homem charmoso de sempre.Enquanto eu o observava, nossos olhos se encoontraram e então, ele sorriu,
A proposta dele me pegou completamente desprevenida. Ficar juntos? A confusão na minha mente só aumentava. — O quê? Perguntei mostrando meu espanto.Rangel me olhou com uma expressão séria, mas havia algo de provocador naquele sorriso que sempre parecia estar à espreita. — Vamos lá, Luiza. Não finja surpresa. Você sabe que sempre teve algo entre nós, mesmo que você tenha escolhido Augusto naquela época. — Rangel, isso não é sobre nós. — Minha voz saiu firme, mas meu coração batia descompassado. — É sobre Ane. Ele cruzou os braços e se inclinou na cadeira, me observando com calma. — E exatamente por isso minha proposta faz sentido. - Ele deu de ombros, como se estivesse falando de algo óbvio. — Se eu fingir ser o pai dela, as pessoas vão começar a perguntar. Inclusive Ane. Você acha que vai conseguir sustentar isso sem algo mais sólido entre nós? Engoli em seco, desviando o olhar. Claro que ele tinha razão. Fingir que ele era o pai de Ane já era um plano insano. Fazer isso
Depois do café, precisei voltar para casa, pois, eu ainda tinha que ir trabalhar.Deixei Ane com Judith no apartamento antes de sair com Rangel.Ane protestou um pouco, como sempre fazia quando queria que eu ficasse mais tempo, mas Judith logo a distraiu com um quebra-cabeça, deixando-a entertida.Confesso que meu coração apertava cada vez que eu precisava deixá-la, mas, por ela, eu enfrentaria qualquer coisa.Assim que saimos do prédio, ameacei pedir um táxi, mas Rangel segurou minha mão e me olhou nos olhos mantendo-se bem perto—Vamos para o mesmo lugar. Você não está pensando que vou te deixar solta ppor aí, não é mesmo? - perguntou ele com humor, mantendo seus olhos em mim. —Vem, eu te levo!Entrei no carro ao lado de Rangel aceitando a carona, mas confesso que foi entediante, já que nos mantivemos calados até chegarmos no nosso destino.Ao chegarmos na empresa, o ambiente me causou uma sensação de frieza que parecia refletir a personalidade de quem o comandava.De repente, os fu
Rangel se sentou em uma das cadeiras com a naturalidade de quem não se importava com formalidades. Ele me observava enquanto eu tentava organizar os papéis na mesa, ainda tentando ignorar o tumulto que Augusto havia deixado em mim. —Sabe... - começou Rangel, rompendo o silêncio com seu tom leve e zombeteiro. —Faz tempo que eu não vejo o Augusto tão frio assim com alguém. Normalmente, ele só faz isso com quem realmente importa pra ele. Ergui os olhos para ele, franzindo a testa. —Você é ridículo, Rangel. Por favor, are de colocar coisas na minha cabeça! - Pedi voltando a organizar os papéis sobre a minha mesa, me sentando em seguida. De repente a voz dele continuou. —Ou talvez ele só esteja tentando entender por que você ainda o afeta tanto. - respondeu ele, inclinando-se na cadeira e me olhando com aquele sorriso cheio de segundas intenções. —Você está inventando coisas! Rangel não se intimidou. Ele se levantou devagar e antes que eu pudesse perceber, estava ao meu lado. Suas m
O salão estava deslumbrante. Cada detalhe exalava luxo, desde os lustres de cristal que refletiam as luzes como estrelas, até as mesas decoradas com flores e velas cintilantes. Tudo parecia um cenário perfeito de filme, mas a tensão no ar era palpável — ou talvez fosse coisa da minha cabeça. Respirei fundo e entrei de braço dado com Rangel, sentindo olhares confusos sore nós. Também pudera, aquele lugar que eu estava ocupando era almejado por muitas que estavam ali presentes. Eu definitivamente seria odiada! Tentei ignorar e respirei fundo, vendo Rangel se virar para me olhar. —Está pronta? - Questionou ele, como se estivesse me levando para guerra. E antes que déssemos um passo, Rangel se abaixou para cochichar. —Você está muito elegante com essa roupa! O vestido preto e justo ao meu corpo que eu estava usando, havia sido escolhido por ele mesmo. - Rangel e seu fanatismo por moda! Rangel havia acertado no look, já que muitos olhavam para mim, deixando na cara que eu estava des
A sacada estava iluminada apenas pela luz fraca da lua e pelas lanternas decorativas que davam ao espaço uma atmosfera acolhedora. O ar fresco da noite era um alívio bem-vindo depois do calor sufocante do salão. Peguei uma taça de vinho e fui para lá, esperando que o silêncio me ajudasse a organizar os pensamentos. - Augusto ainda conseguia fazer uma bagunça dentro de mim. Encostei-me na grade, olhando para o horizonte, enquanto respirava fundo tentando manter minha cabeça no lugar. As luzes da cidade brilhavam como estrelas e a minha mente não focava exatamente nelas, pois estava a quilômetros dali. O peso de tudo que eu vinha carregando parecia mais intenso agora. Eu estava tão absorta que não percebi a aproximação de Rangel até ouvi-lo atrás de mim. —Achei que te encontraria aqui! - Disse ele com a voz séria, sem o habitual tom brincalhão. Virei lentamente para encará-lo, e ele parecia... diferente. Não era o Rangel provocador de sempre. Havia algo mais genuíno no olhar
O mundo parecia congelar naquele momento. O toque de Rangel era suave, sua proximidade inegável, mas meu coração estava em outro lugar, preso em memórias e sentimentos que eu ainda não tinha conseguido enterrar. Quando seus lábios quase tocaram os meus, virei o rosto no último instante, me afastando ligeiramente dele. Senti a respiração de Rangel contra minha pele, e isso foi suficiente para me tirar completamente do momento. — Rangel, não! - Murmurei, dando um passo para trás, me sentindo completamente perdida —Eu... não posso! Ele parou, claramente frustrado, mas não insistiu. Seus olhos estavam fixos nos meus, um misto de dor e determinação. — Por quê, Luiza? Por que você continua se agarrando a alguém que não merece seu amor? -Perguntou ele com sua voz mais firme. Eu respirei fundo, tentando organizar os pensamentos, mas as palavras saíram antes que eu pudesse filtrá-las: —Porque ele é o pai da minha filha, Rangel. E, mesmo depois de tudo, ele ainda é... tudo o que meu co