Já fazia quase uma semana desde que desembarquei no Brasil. Iria me encontrar com minha mãe hoje, para discutimos sobre a empresa e quando eu assumiria o cargo na Jones. Terminei de fazer o nó da minha gravata e coloquei o terno, abotoando o único botão que havia nele. Me admirei no espelho, gostando do reflexo que me olhava de volta. Os cabelos penteados para trás, o terno azul-marinho de uma linha italiana que gostava muito, por baixo do terno vestia uma camisa branca e a gravata preta por cima, combinando com os sapatos que brilhavam tanto que era possível ver meu reflexo neles. — Uma água com gás, por favor. — Cheguei no restaurante combinado 20 minutos antes do horário que marquei com mamãe. A ansiedade me corroía por dentro e minha perna balançava tanto que era capaz de derrubar a mesa. — Vai acabar tendo um ataque de ansiedade. — A voz de minha mãe atrás de mim me fez relaxar e respirar fundo de alívio. — Oi, meu bem. — Ela se inclinou na minha direção, depositando um l
— Não faria isso se fosse você! — David ergueu o olhar novamente a mim, a confusão era nítida em seu rosto. — Só vim te dar um recado. — Ergui as mãos. — Não quero brigar. — Enfiei as mãos no bolso da calça, tentando conter o sorriso irônico que teimava em aparecer. — O que você quer Caleb? — Ele sibilou. — Só vim falar de negócios. — Voltei a me sentar, cruzando as mãos no joelho, despretensiosamente. Estava calmo, como uma cobra, pronto para dar o bote. A tormenta antes da tempestade. Ele nem saberia por onde viria o último golpe. David se sentou na enorme poltrona de couro e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos no encosto da cadeira. — Fala logo moleque! Não tenho o dia inteiro! — Ele respondeu, mal-humorado. — Vim te avisar que vou assumir a Jones dentro de alguns dias! — Minha voz era tão calma que surpreendia até a mim no momento. Ele ergueu uma sobrancelha, provavelmente pensando se havia escutado certo e alguns segundos depois o som da sua risada ecoou pela sala
O prazo que dei ao meu pai já estava na metade e até o momento nada havia mudado na empresa. Enquanto arrumava algumas coisas no apartamento novo, ouvi meu celular tocar, tateei a cama e olhei no visor. Era minha mãe, por algum motivo um arrepio percorreu minha espinha, como se fosse um mal pressagio. — Oi, mãe! — Apoiei o aparelho no ombro, pressionando a orelha sob ele e continuei a dobrar as roupas na cama. — Mãe? — Minha mãe não havia respondido e aquilo fez meu peito se apertar. Havia algo de errado. — O que houve? — Perguntei aflito, sentindo o ar fugir dos pulmões. — Se… — Ela respirou fundo, dava para ouvir os soluços devido ao choro. — Seu pai. Ele sofreu um AVC e está no hospital. Senti o quarto girar em 360º graus e um soluço prender em minha garganta. Por mais que tivéssemos nossas brigas, nunca lhe desejei mal e mesmo não sendo meu pai de sangue, ele foi o homem que me criou. — Onde? — Levantei da cama com cuidado, ainda sentia o quarto rodar sob a minha cabeça.
A médica a olhava com compaixão, ficamos quietos por alguns segundos, até ela interromper o silêncio. — Nos casos de acidente vascular cerebral isquêmico, ou mais conhecido AVCI, a chance de tratamento é positiva quando diagnosticado cedo, que foi o caso do seu pai. Mas, mesmo assim, ainda tem a possibilidade de ele ficar com algumas sequelas. Dificuldades para andar, ou falar, perda de memória, mas não tem como dar certeza se serão sequelas passageiras ou permanentes. Mas, uma coisa posso afirmar, ele terá que levar uma vida muito mais leve, sem consumo de álcool, tabagismo, mudar a alimentação e diminuir o ritmo no trabalho quase que drasticamente. — Ela falava tudo isso olhando para a minha mãe, que apenas aquiesceu. — Ele trabalha demais? — Sim! — Respondi rapidamente, fazendo-a voltar o olhar em minha direção. — Pode ser um dos motivos dele ter tido o AVC. Excesso de trabalho ocasiona muitas vezes ao estresse, alto consumo de álcool ou tabagismo, como um meio de “desestress
— Senhor Caleb? — A voz de Andy me fez tirar a atenção da enorme papelada em cima da mesa e olhar para ela. — Eles já estão te esperando na sala de reunião. Contratei Andrea na primeira semana em que assumi a Jones e não me arrependi um só momento por isso, ela era eficaz e ágil em tudo que lhe era proposto. Inicialmente a contratei para ser minha secretária, mas vi que precisaria mudar ela para ser secretária do andar de marketing e contratar mais uma para mim, mas depois eu veria isso, ou ela. — Tudo bem. — Me levantei, peguei a pasta com os documentos que precisava, coloquei o terno e caminhei até a porta. — O projetor está… — Ela fez que sim antes que eu terminasse a frase. — Seu segundo nome é agilidade. — Ela sorriu, me fazendo sorrir também. — Espera aí. — Ela me parou, segurando meu braço. — Sei que você odeia essas coisas. — Andy começou a arrumar minha gravata. — Mas duvido muito que eles te levem a sério com essa gravata toda desgrenhada e frouxa. — Ela terminou de ar
— Você precisa de uma mulher, urgentemente! — Andy zombou enquanto terminava de beber sua longneck. Bebi alguns goles da minha enquanto revirava os olhos. Meu psicólogo não gostaria de ver isso, mas foda-se, não aguentava mais ficar sem colocar uma gota sequer de álcool em minha boca. — Sem essa! — Brinquei, me recostando na cadeira e cruzando os braços. — Mulher só traz problema e o tipo de relação que quero não vai agradar nenhuma delas. — Dei de ombros, rindo. — Credo, parece até um serial killer falando. Tenho gostos peculiares, você não entenderia. — Ela balançava as mãos enquanto falava, tentando imitar minha voz e isso arrancou gargalhadas de mim. — Fala sério, que gostos estranhos são esses? Bebe cerveja de canudinho de madrugada? Dorme de pantufa? — Eu ria tanto que minha barriga doía e me faltava o ar. Só então percebi que era essa a intenção dela. Andy queria me fazer esquecer dos problemas, por isso quase me arrastou pela gravata para o pub que ficava duas esquinas
Terminei de colocar as roupas e olhei em volta, procurando um papel e uma caneta em algum lugar do apartamento de Cassie. Achei um pequeno bloco de post-it em cima da mesa dela, escrevi rapidamente um bilhete agradecendo pela noite, deixando-o em sua cabeceira e fui embora. Nunca gostei de dormir fora de casa, ou em casas desconhecidas e já havia aberto exceções demais para uma noite, essa estaria fora de cogitação. Precisava de uma longa chuveirada e minha cama. Estacionei a Bugatti na garagem e apoiei a cabeça no banco, respirando fundo, o relógio do carro marcavam 3:30 da manhã e me xinguei mentalmente por chegar tão tarde, sendo que precisaria estar na Jones as 7 horas para fazer as entrevistas com os futuros funcionários. Me arrastei até meu apartamento, fui tirando a roupa assim que bati a porta e corri para o chuveiro, tomando uma ducha rápida e me jogando na cama em seguida, sem me dar o mínimo de trabalho de colocar a roupa. Mal havia pego no sono quando ouvi algum barulho
— Quanto mais incapaz você me julga, mais sucesso vou esfregar na sua cara! — Sussurrei, tentando manter a raiva sob controle. Minha mandíbula doía devido à força que fazia na tentativa de não despejar contra ele tudo que estava entalado dentro de mim a anos. Toda a frustração, a raiva, as humilhações, insinuações que ele sempre fez questão de fazer contra mim. Mas, isso não adiantaria, só mostraria a ele minhas fraquezas, armando ainda mais seu ataque, lhe dando ainda mais munição. Ele não merecia nem um segundo mais do meu tempo, não valia a pena. — Agora se você já terminou — Apontei para a porta. — Peço que saia, porque preciso trabalhar. — Você está me expulsando da minha empresa? — Ele deu tanta ênfase na palavra minha que era capaz de poder tocar as letras saindo de sua boca. — Não. — Dei a volta na mesa e me sentei novamente na cadeira. — Estou te pedindo com educação que saia da minha sala. Agora o que você fará depois é um problema exclusivamente seu! — Esse des