O prazo que dei ao meu pai já estava na metade e até o momento nada havia mudado na empresa. Enquanto arrumava algumas coisas no apartamento novo, ouvi meu celular tocar, tateei a cama e olhei no visor. Era minha mãe, por algum motivo um arrepio percorreu minha espinha, como se fosse um mal pressagio. — Oi, mãe! — Apoiei o aparelho no ombro, pressionando a orelha sob ele e continuei a dobrar as roupas na cama. — Mãe? — Minha mãe não havia respondido e aquilo fez meu peito se apertar. Havia algo de errado. — O que houve? — Perguntei aflito, sentindo o ar fugir dos pulmões. — Se… — Ela respirou fundo, dava para ouvir os soluços devido ao choro. — Seu pai. Ele sofreu um AVC e está no hospital. Senti o quarto girar em 360º graus e um soluço prender em minha garganta. Por mais que tivéssemos nossas brigas, nunca lhe desejei mal e mesmo não sendo meu pai de sangue, ele foi o homem que me criou. — Onde? — Levantei da cama com cuidado, ainda sentia o quarto rodar sob a minha cabeça.
A médica a olhava com compaixão, ficamos quietos por alguns segundos, até ela interromper o silêncio. — Nos casos de acidente vascular cerebral isquêmico, ou mais conhecido AVCI, a chance de tratamento é positiva quando diagnosticado cedo, que foi o caso do seu pai. Mas, mesmo assim, ainda tem a possibilidade de ele ficar com algumas sequelas. Dificuldades para andar, ou falar, perda de memória, mas não tem como dar certeza se serão sequelas passageiras ou permanentes. Mas, uma coisa posso afirmar, ele terá que levar uma vida muito mais leve, sem consumo de álcool, tabagismo, mudar a alimentação e diminuir o ritmo no trabalho quase que drasticamente. — Ela falava tudo isso olhando para a minha mãe, que apenas aquiesceu. — Ele trabalha demais? — Sim! — Respondi rapidamente, fazendo-a voltar o olhar em minha direção. — Pode ser um dos motivos dele ter tido o AVC. Excesso de trabalho ocasiona muitas vezes ao estresse, alto consumo de álcool ou tabagismo, como um meio de “desestress
— Senhor Caleb? — A voz de Andy me fez tirar a atenção da enorme papelada em cima da mesa e olhar para ela. — Eles já estão te esperando na sala de reunião. Contratei Andrea na primeira semana em que assumi a Jones e não me arrependi um só momento por isso, ela era eficaz e ágil em tudo que lhe era proposto. Inicialmente a contratei para ser minha secretária, mas vi que precisaria mudar ela para ser secretária do andar de marketing e contratar mais uma para mim, mas depois eu veria isso, ou ela. — Tudo bem. — Me levantei, peguei a pasta com os documentos que precisava, coloquei o terno e caminhei até a porta. — O projetor está… — Ela fez que sim antes que eu terminasse a frase. — Seu segundo nome é agilidade. — Ela sorriu, me fazendo sorrir também. — Espera aí. — Ela me parou, segurando meu braço. — Sei que você odeia essas coisas. — Andy começou a arrumar minha gravata. — Mas duvido muito que eles te levem a sério com essa gravata toda desgrenhada e frouxa. — Ela terminou de ar
— Você precisa de uma mulher, urgentemente! — Andy zombou enquanto terminava de beber sua longneck. Bebi alguns goles da minha enquanto revirava os olhos. Meu psicólogo não gostaria de ver isso, mas foda-se, não aguentava mais ficar sem colocar uma gota sequer de álcool em minha boca. — Sem essa! — Brinquei, me recostando na cadeira e cruzando os braços. — Mulher só traz problema e o tipo de relação que quero não vai agradar nenhuma delas. — Dei de ombros, rindo. — Credo, parece até um serial killer falando. Tenho gostos peculiares, você não entenderia. — Ela balançava as mãos enquanto falava, tentando imitar minha voz e isso arrancou gargalhadas de mim. — Fala sério, que gostos estranhos são esses? Bebe cerveja de canudinho de madrugada? Dorme de pantufa? — Eu ria tanto que minha barriga doía e me faltava o ar. Só então percebi que era essa a intenção dela. Andy queria me fazer esquecer dos problemas, por isso quase me arrastou pela gravata para o pub que ficava duas esquinas
Terminei de colocar as roupas e olhei em volta, procurando um papel e uma caneta em algum lugar do apartamento de Cassie. Achei um pequeno bloco de post-it em cima da mesa dela, escrevi rapidamente um bilhete agradecendo pela noite, deixando-o em sua cabeceira e fui embora. Nunca gostei de dormir fora de casa, ou em casas desconhecidas e já havia aberto exceções demais para uma noite, essa estaria fora de cogitação. Precisava de uma longa chuveirada e minha cama. Estacionei a Bugatti na garagem e apoiei a cabeça no banco, respirando fundo, o relógio do carro marcavam 3:30 da manhã e me xinguei mentalmente por chegar tão tarde, sendo que precisaria estar na Jones as 7 horas para fazer as entrevistas com os futuros funcionários. Me arrastei até meu apartamento, fui tirando a roupa assim que bati a porta e corri para o chuveiro, tomando uma ducha rápida e me jogando na cama em seguida, sem me dar o mínimo de trabalho de colocar a roupa. Mal havia pego no sono quando ouvi algum barulho
— Quanto mais incapaz você me julga, mais sucesso vou esfregar na sua cara! — Sussurrei, tentando manter a raiva sob controle. Minha mandíbula doía devido à força que fazia na tentativa de não despejar contra ele tudo que estava entalado dentro de mim a anos. Toda a frustração, a raiva, as humilhações, insinuações que ele sempre fez questão de fazer contra mim. Mas, isso não adiantaria, só mostraria a ele minhas fraquezas, armando ainda mais seu ataque, lhe dando ainda mais munição. Ele não merecia nem um segundo mais do meu tempo, não valia a pena. — Agora se você já terminou — Apontei para a porta. — Peço que saia, porque preciso trabalhar. — Você está me expulsando da minha empresa? — Ele deu tanta ênfase na palavra minha que era capaz de poder tocar as letras saindo de sua boca. — Não. — Dei a volta na mesa e me sentei novamente na cadeira. — Estou te pedindo com educação que saia da minha sala. Agora o que você fará depois é um problema exclusivamente seu! — Esse des
Finalmente era sexta feira, não via a hora de cair na cama e dormir sem me preocupar com a hora, mas ainda precisaria aguentar mais um dia de trabalho. Ontem na volta para casa liguei para minha mãe para saber como estavam as coisas. Descobri que o David havia tido alta no começo da semana, por isso a visita inesperada a Jones ontem. Mas continuaria o tratamento de casa, fazendo fisioterapia e terapia da fala para evitar futuros problemas, fora isso, faria exames periodicamente para que não tivesse outro avc e para evitar outros transtornos de saúde também. — Bom dia meninas! — Falo assim que passo pela recepção e encontro as novas recepcionistas sentadas. — Bom dia senhor! — Ambas respondem em uníssono, mas percebo que uma delas me olha com segundas intenções. Valentina. Algo me diz que terei algumas dores de cabeça com ela em relação a isso. Rebecca já parecia mais na dela, educada, mas sem ultrapassar a linha tênue que dividia o profissional do passar dos limites. — Onde
Minha mãe faz contato visual comigo e seus olhos quase imploram para que eu deixe essa história no passado. E por ela, somente por ela, estico a mão e aperto a dele. Por hora, vou tentar acreditar nele. — Agora vamos deixar você trabalhar, Leb. — Me levantei e fui até ela. — Tenta aparecer em casa esse final de semana. — Ela arrumava minha gravata enquanto falava. — Sinto sua falta, aquela casa fica tão vazia sem você. — Seus olhos marejaram e ela teve que piscar diversas vezes para impedir que as lagrimas caíssem. — Eu te ligo, combinando tudo mãe. — Dei um beijo em sua testa e outro em sua bochecha, demorando mais que o necessário. — Te amo. Ela assentiu e caminhou até a porta, onde David já a esperava, ele acenou para mim antes de sair e apenas concordei levemente com a cabeça. Assim que a porta se fechou, me joguei na cadeira, desafrouxando a gravata que me sufocava, mas sabia que não era ela. Sempre ficava assim depois da visita dele. Porra. A porta se abriu e estav