Já haviam passado quase uma semana desde que levei um tiro. O lugar da bala ainda doía e os pontos ainda estavam lá. Mas aos poucos fui conseguindo voltar a fazer algumas coisas. Treinava tiro com o Albert todos os dias pela manhã e a tarde ensinávamos a Duda, com tiro e defesa pessoal. Ela era boa, aprenderá tudo muito rápido e se divertia com tudo. Claro, que não perdia a chance de me provocar. E a noite, aproveitávamos a companhia um do outro e sempre acabávamos transando no tapete, em frente a lareira. Ela dizia que a lembrava dos dias no chalé. Que nesses dias escuros, eram essas lembranças que a faziam manter a sanidade intacta e a esperança de que isso logo acabaria. Tínhamos um código nosso, toda vez que alguém entrava no chalé, depois de ter saído por algum tempo. — Delta entrando. — Albert falou, passando pela porta da frente. Usávamos o alfa, ômega ou delta, não tínhamos um codinome para cada um, mas tínhamos que falar uma das três palavras toda vez que en
Não... Não! Não! Isso não podia estar acontecendo! Andava de um lado para o outro, dentro do maldito quarto do pânico. Mas sentia que era eu que estava em pânico. Sentia as paredes de titânio se fechando ao meu redor, meu peito doía, implorando por ar e sabia que estava tendo um ataque de pânico. Estava claustrofóbica ali dentro e tudo só piorou ainda mais, quando vi pelos monitores, eles pegando o Caleb. Lagrimas escorriam pelo meu rosto, embaçando minha visão, mas não bastante para me impedir de enxergar, enquanto eu os via carregando para fora. Totalmente desacordado. Pensei em sair do quarto, mas a ordem do mais alto me fez paralisar onde eu estava. — Revira a porra da casa inteira e a encontre! — Faço o que quando acha-la chefe? — o mais baixo perguntou. Na noite em que eles me esperavam ao lado do meu carro, o mais baixo usava um taco de beisebol, mas hoje ele vira muito bem armado. — Faz o que você quiser. — O mais alto deu de ombros. — Contanto que ela
Já fazia 24 horas. Vinte e quatro horas desde o seu desaparecimento e não tínhamos a mínima noção do que havia acontecido com ele. A policia não conseguiu rastrear a picape preta, pois a placa era clonada e eles perderem o paradeiro dela assim que o irmão do Caleb entrou na avenida principal da cidade. Ele provavelmente trocou de carro. Estávamos num completo estado de choque. E o pior disso tudo, era que não podíamos ficar juntos. Albert conseguiu avisar a Scarlett, mas por segurança de todos, optamos em continuar separados. Por que claramente o foco deles era causar dor para o Caleb, não importa como. Albert ainda mantinha o Henrico — descobri o nome dele através do Albert — e mesmo após horas de violência, que eu preferi não ver, ele continuava não querendo falar. A única coisa que ele fez, foi cuspir na cara do Albert, mandá-lo se foder e dizer que a gente nunca mais veria o Caleb. Pelo menos, não com vida. E essa parte, acabou comigo. Ao ponto deu perder o cont
— Não acho que seja uma boa ideia a senhorita ir. — Albert falou. — É muito perigoso e não sei ao certo o que vamos encontrar lá. — Ele coçou a cabeça, visivelmente preocupado. — Pelo que parece, é um lugar afastado e com seguranças. Apoiei as mãos no pescoço, olhando para o teto e pesando na balança se seria prudente eu ir. — Mesmo depois de você me ensinar tiro, defesa pessoal e eu ir com colete... — baixei os olhos para ele. — Mesmo assim, ainda seria perigoso? — Mordi a ponta da unha do meu indicador. Ele tombou a cabeça de lado, analisando. Começou a andar de um lado para o outro, sussurrando algo somente para ele, provavelmente pesando os prós e contras de tudo isso. — Iremos em cinco seguranças, além de você e alguns policiais que ficarão do lado de fora. — Ele parou de andar e se voltou para mim. — Você vai ter que seguir à risca todas as ordens que eu te der. — Ele me observava, o semblante sério. Albert levantou os dedos, enumerando cada coisa. — Um — Ele ergueu o
Acordei assustado, com algo sendo jogado na minha cara. — Acorda porra! — alguém gritou. Minha cabeça latejou e senti as têmporas doendo, devido à forte enxaqueca que me turvava a visão. Apertei os olhos, tentando enxergar onde eu estava, mas tudo que conseguia ver era a escuridão, há não ser por uma sombra, parada a alguns passos de mim. — A bela adormecida acordou. — a voz dele fez meus pelos se eriçarem, como o de um felino assustado. A voz do cara que eu mais admirava no mundo, agora, era a voz do meu algoz. Do meu agressor e do homem que tentou matar a mim e a mulher que eu amava. — Jason? — sussurrei, as palavras quase não saiam da minha boca. Tentei mexer os braços, mas foi em vão, balancei os punhos e ouvi o som de correntes. Só então a concepção de que estava algemado me assolou com força, o metal apertava ao redor tanto das minhas mãos, quanto dos meus pés, me impossibilitando de me mexer. Estava pendurado e além da voz dele, a única coisa que ouvia era um gote
Oito anos antes... A última coisa que eu vi, foram os olhos dele. Do meu irmão caçula, me agarrando e me implorando para não morrer. Senti suas lagrimas me molhando o rosto, conforme meu corpo se desligava de tudo e a escuridão me sugava para longe. Pensei que seria meu fim, que nunca mais veria meu irmão, ou a minha mãe e até mesmo o patife do meu pai. Mas, quando acordei num galpão, frio e úmido, jogado as traças pensei que estava no inferno. Que ali seria o meu purgatório. Mas estava muito longe de ser o meu próprio inferno. Seria pior do que isso, porque o inferno seria fichinha para o que me aguardava naquele lugar. A ferida da bala estava costurada de qualquer jeito e duvido muito que o cara que me costurou era médico. Até um açougueiro seria mais esperto que ele. — Você deve ter comprado a porra do seu diploma. — gemi, tentando não me mexer demais enquanto ele verificava a ferida. — Quieto. — o armário na minha frente falou. O médico deveria ter o tamanh
O que te dá prazer na vida? Se essa pergunta for feita para algumas pessoas normais irão responder o comum entre muitos: dinheiro, amor, saúde… Essas coisas básicas. Mas, para mim, é o controle! Nada me agrada mais do que ter o controle de tudo, bem na palma da minha mão. Só funciono se for assim, meu mundo gira em torno disso e vivo muito bem dessa forma. Mesmo meu psicólogo dizendo o oposto! Sou movido de forma que tudo que acontece em minha vida é metodicamente controlado. Não posso abdicar disso. Não se eu quiser continuar sobrevivendo e mantendo o resto de saúde mental que ainda tenho sob controle. Os demônios dos traumas, os malditos traumas, me cercam desde muito novo e fui obrigado a aprender lidar com eles sozinho. Aos três anos tive que engolir o medo, a solidão, o sentimento de rejeição e da culpa, para conseguir sobreviver nesse maldito mundo em que fui posto. Depois que uma criança passa por toda a merda que passei, é impossível sair sã de tudo isso. Isso deixa cic
PS: Para melhor entendimento da história, sugiro a leitura do primeiro livro — Até a última folha. Seis anos antes… Estava tudo escuro, eu sentia meu coração acelerado e o medo tomando conta de cada centímetro do meu pequeno corpo, ainda estava atordoado devido ao sono. Lágrimas inundavam meu rosto, dava para sentir o gosto salgado delas ao parar em meus lábios. Meu corpo inteiro tremia, era difícil saber a causa ao certo, se era por conta do medo, ou do frio, mas qual fosse o motivo me assustava de todo jeito. Comecei a chamar por ela diversas vezes. — Mamãe? Mamãe, estou com fome… Cadê você? — me pendurei nas barras divisórias do meu berço e fui escalando até meus pés encostarem no piso frio. Um leve arrepio percorreu meu corpo assim que senti a madeira gelada sob meus pequenos dedos.Senti meu estomago doer de fome, em pequenos passos fui andando pela casa, a procura de algo que matasse um pouco da minha fome. As luzes estavam apagadas, o que me assustava cada vez mais. Sorte que