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Prólogo Oficial - A MENINA DE CAPUZ VERMELHO (Parte 1)

RAOUL

Estou sentado em um parquinho, desses públicos onde tem aparelhos para adultos se balançarem como idiotas e chamarem de exercícios físicos. Um segurança me segue de perto. O vejo no carro do outro lado da rua, ele e o motorista estão prontos para qualquer coisa, é a rotina deles.

Saí da escola sem permissão, e não é a primeira vez. Odeio estudar aos sábados.

Os seguranças não interferem nessas coisas, apenas relata para o meu pai, que vai falar sozinho por alguns minutos sobre futuro e a necessidade de estudar.

Talvez eu fique de castigo, o que não é uma má ideia. Gosto de ficar sozinho no meu quarto, sem fazer nada, apenas deitado encarando as pequenas imperfeições do teto.

É mais divertido que ser obrigado a aturar as crianças da minha idade. Elas parecem que não foram fabricadas com o mesmo material que eu, são todas tolas e pegajosas. Não as suporto.

Desde o primeiro incidente que sou vigiado com muito rigor. Parece que não posso matar alguém por me contrariar. E matar o professor que puxou minha orelha foi exagero, segundo o meu pai.

Uma palhaçada toda essa baboseira. Por que aquele adulto sem noção podia me castigar por ser mais inteligente que ele e eu não poderia revidar? Não faz nenhum sentido.

O “adulto” ficava batendo na minha cabeça e falando sem parar. O estilete estava sobre a mesa, chamando por mim. Foi um alivio calar a boca daquele professor.

Mas parece que foi errado.

Suspiro, de puro tédio.

De onde estou, vejo uma criança pedalando uma bicicleta infantil na calçada.

Ela vai e volta na bicicleta cor de rosa.

Até ai não é nada incomum, já vi outras crianças fazendo o mesmo. O diferente é que essa menina está usando um capuz vermelho com uma capa tão longa que estou esperando pacientemente o momento em que vai enganchar em alguma parte da bicicleta e a derrubar.

Mal noto as outras pessoas, muito menos as outras crianças que me chamaram para um jogo qualquer. Parece que tudo ao meu redor foi abduzido e só resta aquela criatura de vermelho.

Eu quero ver essa menina cair. Quero ver ela aprender que não deve brincar com o perigo.

Ela vai e volta.

Percebo que a pele do seu braço é exatamente igual ao meu doce favorito: chocolate.

Ela vai e volta.

Percebo que é magra e pequena.

Ela vai e volta.

E mais nada.

Droga!

Uma, duas, três, quatro... várias vezes. A menina ri do perigo. A capa passa por um triz de enganchar, mas nada acontece.  Nem uma quedinha. Fico intrigado. Isso deve estar errado.

Me levanto e caminho até a calçada, parando na sua frente.

Vejo a curiosidade em seu rosto de acordo com que se aproxima pedalando devagar, sem intenção de parar, como se soubesse que o obstáculo sairia da sua frente.

Ela está tão curiosa sobre o fato de que continuo parado — só pode ser isso — que não vê o filho da puta adulto e cego que também pedala pela calçada como uma criança aprendendo. O desgraçado a assusta ao passar colado a ela. Isso sim faz a menina de capuz vermelho cair quase aos meus pés, em um baque e um gemido de dor.

Sem graça e com os olhos castanhos claros — um tom tão brilhante quanto mel — cheios de lágrimas, ela levanta. O capuz finalmente caído sobre suas costas, revelando ondas de cachos de uma cor marrom que nunca vi em ninguém antes. É como sua pele, só que vários tons mais escuro.

Ainda estou parado, olhando para ela.

Não sei bem o que me chama a atenção nela, agora que já a vi caindo. Talvez sua cor, talvez seus cachos bagunçados... Sei lá.

Estou dividido. Parte de mim quer ir tentar alcançar o homem e o derrubar da bicicleta por ele ter atrapalhado a lição que a menina aprenderia ao cair sozinha. Enquanto a outra parte está presa ao chão, vidrado na menina que nesse momento estende um doce para mim. É uma barra de chocolate de uma marca barata. Seus olhos ainda brilham com as lágrimas causadas pela queda, como se fosse uma folha molhada da chuva que vejo no jardim da minha casa. Mas ela sorri, um sorriso pequeno que não mostra os dentes, apenas curva seus lábios.

Olho dela para o doce. E simplesmente me pergunto: O que acontece se aceitar?

Meu pai sempre faz de tudo para que eu enturme com as crianças da minha idade, sempre em vão. Ele ficaria feliz se eu levasse essa menina para casa?

Eu gosto de ficar sozinho. As pessoas me irritam e cansam facilmente. Tenho dez anos, mas prefiro conversar com os amigos do meu pai que com crianças.

Então por que ainda estou aqui?

— Não quer? — a menina pergunta. E não espera resposta. — Eu sou Carmine Lopes da Rocha. Tenho dez anos. Qual o seu nome?

Tão pequena e tem a minha idade.

— Eu esperei você cair — digo simplesmente.

— É um prazer te conhecer “eu esperei você cair”.

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