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Prólogo Oficial - A MENINA DE CAPUZ VERMELHO (Parte 2)

Reviro os olhos diante da brincadeira sem sentido.

— Já que não quer... — ela se abaixa para levantar a bicicleta que ficou no chão e coloca o doce na cestinha da mesma. Durante o ato, ela pragueja várias vezes, muitos palavrões que meu pai proíbe em casa. Não se parece com as meninas ou meninos do meu colégio, sempre certinhos.

— Você tem sorte, menina — digo, decidido a tê-la como minha primeira e única amiga.

— A porra do meu joelho dói, não acho que seja sorte.

Parece que ela não sabe falar sem incluir um palavrão.

— Tem sorte porque chamou a minha atenção. Seremos amigos a partir de agora.

Ela me olha por alguns segundos e simplesmente diz:

— Eu não quero. Obrigada.

O que? Até parece que essa menina vai me dizer não assim. Atrevida.

— Por que não quer ser a primeira ami...

— Primeira? — me interrompe, levantando a cabeça para olhar novamente meu rosto com interesse.

Dou de ombros.

— Possivelmente única. Não gosto de pessoas.

— Mas eu sou uma pessoa. — Ela volta a colocar o capuz na cabeça. Parece me analisar em busca de sinais evidentes de loucura. Não a culpo. Afinal, estou aqui convidando uma estranha para ser minha amiga.

— Tenho minhas dúvidas sobre isso.

— De qualquer forma, não seremos amigos. Não é assim que uma amizade começa.

— E como começa? — questiono confuso. Nunca me falaram que existem regras para se começar uma amizade.

— Primeiro, um pretendente a amigo não fica encarando só a espera do outro cair. O normal é amparar o amigo.

— Em minha defesa, eu não queria ser seu amigo enquanto esperava você cair. Além disso, não sou normal.

— Percebi — diz empurrando a bicicleta para longe.

— Vou com você. — A sigo, caminhando ao seu lado enquanto ela empurra a bicicleta.

— Nem sabe onde vou.

— Não importa.

Ela dá de ombros e continua andando.

— Quer mesmo ser meu amigo? — pergunta depois de uns cinco minutos andando em silêncio.

— Por que mais eu andaria com uma estranha?

— Vai saber! — Ela para e me oferece o chocolate novamente. Dessa vez aceito. — Se é isso, me fale sobre você.

— Eu moro com meu pai e meus irmãos. Minha mãe morreu — digo o que acho básico.

— Sinto muito pela sua mãe. — Faz uma careta estranha, uma mistura de pena com sei lá o que.

— Não a conheci, não posso dizer que faz falta. — Coloco as mãos nos bolsos da calça do uniforme. Oculto o fato de que ela morreu no meu parto. Essa menina parece o tipo que faz grandes demonstrações de pena. Não quero presenciar isso. — Sua vez.

— Eu moro com minha mãe e meu padrasto, que eu amo como se fosse meu pai de sangue. Meu pai de verdade é um maldito viciado que nos deixou na sarjeta. Pelo menos é isso que escuto minha mãe dizer pra vovó, eu nunca o vi.

— Quer que eu peça ao meu pai para matar o seu pai? — ofereço.

Um homem que deixa a família na sarjeta, deve ser permitido matar. São tantas regras que o senhor Seven impõe. Tedioso.

— Como? — ela para, me olha e cai na gargalhada. — Você é estranho, um estranho lobinho mauzinho.

— Prefiro que me chame de Raoul, Chapeuzinho Vermelho. — Chamar ela assim faz com que a menina toque o seu capuz, como se fosse a primeira vez que alguém a compara a garotinha sem noção dos contos de fadas.

Lobinho? Essa menina precisa levantar a cabeça para me encarar. Não tenho nada de “inho”.

— Não, eu gosto de lobinho mauzinho. Vou te chamar assim para sempre, agora que seremos amigos.

Devo me arrepender agora, eu sei.

— Por que quer me chamar assim?

— Eu vi você me olhando um tempão. Parecia um animal mau esperando para atacar a ovelha indefesa. Só que se engana, eu sou brava. Já fiquei de castigo por bater em garotos maiores que você.

Parece mais indefesa que brava. E eu não consigo imaginá-la batendo em alguém.

Não falamos nada por mais de um minuto, foi o bastante para ela achar tempo demais.

— Já que seremos amigos para sempre, vou te chamar de lobinho mauzinho, depois de lobo mau e quando ficar velho de lobão mauzão.

Eu tento não rir, mas é impossível.

O que eu estou fazendo com essa menina empurrando essa bicicleta rosa ao meu lado?

— Por que me chama de Chapeuzinho Vermelho?

— Obviamente pelos seus trajes.

— Não tem chapéu. É um capuz.

— Capuz iria estragar o apelido. Você é a Chapeuzinho Vermelho, como nos contos.

— Não gosto de histórias infantis.

— Nem eu. Caso não conheça, te apresento a versão dos Irmãos Grimm.

Ela dá de ombros.

— Minha mãe diz que vermelho espanta mau olhado e manda as energias ruins para longe. É a cor da proteção. Uso esse manto com capuz quase sempre, e sempre levo uma fita no pulso. — Ela levanta o braço mostrando uma fita vermelha gasta. O capuz também já teve dias melhores.

Continuamos conversando sobre qualquer coisa até chegar em uma casa pequena com portão de madeira e fachada amarela. Essa é uma parte da cidade que nunca visitei.

— Até mais, Chapeuzinho — digo dando meia volta, sabendo que o carro com motorista e segurança me segue discretamente.

— Espera. E quando vou te ver de novo?

Dou de ombros e respondo:

— Em breve.

Vou embora sem olhar para trás. Tenho planos.

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