Capítulo 1

– Meus parabéns, Aline. – Minha professora me parabeniza. – Não tenho mais o que elogiar. Suas notas são perfeitas. – Ela me olhou sorrindo. – Eu tenho muito orgulho de você.

– Muito obrigada. – Eu agradeci e sorri.

Tenho me saído muito bem nas matérias e fico feliz comigo mesmo pelo meu desempenho. Ela me entregou a prova corrigida e eu guardei em minha bolsa. Me despedir e vou em direção a porta para poder ir embora.

– Olha, a aluna de medicina preferida. – Dou um pulo ao passar pela porta e Shari apareceu do nada. – Não é novidade para ninguém que você é a aluna perfeita dessa faculdade.

Com a mão ainda contra o peito, eu respiro fundo. Shari sempre surgia do nada. Shari Watkins é minha melhor amiga, ela é estudante de fisioterapia. Uma mulher bem agitada, mas às vezes me questiono como ela consegue ter tanta energia assim. Somos amigas desde do meu primeiro ano de faculdade. Estamos no terceiro ano.

Pode-se dizer que Shari e eu somos um pouco parecidas na aparência. Ambas com cabelos longos, mas o seu é um castanho claro e o meu é preto. Shari e eu temos olhos escuros, um detalhe que acho muito injusto já que minha mãe tem olhos claros e eu não puxei dela. Shari consegue ser um pouco mais alta que eu e se gaba por isso.

– Eu me esforço demais para ter esse posto. – Seguimos andando pelo corredor. – Você também deveria ter esse posto.

Shari é boa no que faz. Se ela pensasse mais nos estudos em vez de festas, com certeza seria a melhor na sua área. Shari dá de ombros, fazendo pouco caso do assunto. Esse é o problema de minha amiga, mas acredito que ela vai se tornar uma ótima fisioterapeuta.

– Vamos parar com esse assunto chato. – Passamos pela entrada da faculdade. – Bem que podíamos sair hoje. Pode ser para comer alguma coisa. Quero distrair um pouco a mente e você precisar sair também.

Parei de andar e me virei para ela.

– Está tudo bem?

– Sim, amiga. – Ela sorriu. – Não se preocupe.

Preferi deixar o assunto de lado.Tenho sempre me esforçado e não deixo minhas notas caírem nunca. Vou conseguir realizar meu sonho de ser médica e a cada dia vejo quão perto estou de conseguir. Acho que posso me permitir sair um pouco hoje.

– Tá bom. – Peguei o dinheiro da minha passagem na carteira. – Hoje à noite podemos sair. Deixo até você escolher o lugar.

– Isso! – Shari dá um pulo levando as mãos ao ar.

Eu ri, negando com a cabeça. Ficamos conversando por um tempo até meu ônibus chegar e nos despimos. Moro em Nova York desde que nasci, meus pais são daqui e acredito que nunca tenha saído. Eu tenho vontade de estudar fora, talvez depois que me formar, mas não é uma certeza. Sou muito apegada aos meus pais.

Infelizmente minha faculdade não é perto de casa e acabei cochilando um pouco no ônibus. Quando finalmente cheguei em casa, eu fui direto para meu quarto. Meus pais estão trabalhando nesse horário, minha mãe é diarista e meu pai é guarda de uma escola aqui perto. Ambos fizeram de tudo para que eu pudesse fazer faculdade e agradeço muito por isso. 

Shari me mandou uma mensagem avisando para onde irmos hoje. É uma boate famosa na cidade, não estou muito animada, mas prometi para mim mesma que estou precisando me divertir um pouco. Ainda tenho tempo, então eu aproveito para poder dormir um pouco ou não teria forças para sair mais tarde. Acordei ouvindo vozes no andar de baixo. Me espreguiço antes de levantar.

Falta pouco para as oito horas da noite. Caminho para o banheiro em passos lentos. Sinceramente estou quase desistindo de sair com a Shari, acho que seria mais vantajoso se eu passasse o final de semana dormindo. Um banho. Preciso tomar um banho. Com água morna caindo pelo meu corpo, me senti mais leve, mas ainda estou quase desistindo de sair. Ok, eu tenho me empenhado demais desde que entrei na faculdade. Mas meus pais deram muito duro e não é um curso fácil. Preciso dar o meu melhor sempre.

Terminei meu banho e me olhei pelo espelho. Não é só minha vida pessoal que está precisando de cuidados, meu cabelo está precisando de cuidados também. Meu cabelo é bem liso e preto, comprimento até a cintura. Preciso de um corte. Suspirei com a minha aparência. Hoje é sexta, saindo hoje posso passar o resto do final de semana em casa. E o melhor de tudo, dormindo. Ouço um grito no andar de baixo o que me deixa assustada. Corri para poder colocar uma roupa e sair do meu quarto às pressas. Prendo a respiração ao ver minha mãe caída no chão e meu pai segurando ela em seus braços.

– Aline! Corre aqui, minha filha. – Meu pai me chama desesperado. – A sua mãe… Ela… ela não me responde.

Corri até eles e quase cai na escada. Segurei o braço da minha mãe para poder sentir a sua pulsação e fiquei um pouco aliviada, ela está viva. Chamei por ela algumas vezes, mas não tive resposta.

– Pai, pegue o carro…

– Não temos mais carro. – Ele falou apreensivo.

Olhei para ele.

– Como assim não temos carro?

Não era um dos melhores, mas estava em boa condição.

– Foi preciso vender ele, mas isso não vem ao caso agora. – Ele olha para minha mãe. – O que vamos fazer?

– Chame a ambulância agora!

[...]

– A pressão da sua mãe subiu em um nível de assustar. – O Doutor suspirou, olhando a prancheta. – Estou surpreso que ela tenha chegado com vida aqui.

Senti meu coração apertar pelo modo que ele falou. Meu pai me abraçava.

– Minha esposa vai ficar bem, não é? – Meu pai perguntou.

– Ela está descansando agora. – O médico evitou a pergunta. – Pela manhã vamos fazer mais exames para entender o que está acontecendo.

Fechei meus olhos, tentando controlar meus sentimentos. Preciso ser forte pelo meu pai, tinha alguma coisa acontecendo e o médico não queria dizer. Minha mãe anda muito estressada ultimamente e percebi as brigas constantes entre ela e meu pai. Será que eles brigaram hoje? A venda do carro foi o motivo? Quando o médico foi embora eu me aproximei da porta do quarto da minha mãe.

– O que aconteceu antes dela desmaiar? – Minha voz saiu baixa, mas ele conseguiu ouvir.

– Filha, eu não sei…

– Como não? – Me virei para ele não acreditando. – Pai, vocês tem brigado tanto nos últimos dias. Para a pressão da mamãe subir daquele jeito, ela se estressou com alguma coisa. Qual foi o motivo da briga dessa vez? Por que venderam o carro?

- Precisávamos de dinheiro.

– Para que? Estou ajudando em casa, não é o suficiente? Posso arranjar outro emprego…

– Querida, fique calma. – Ele me abraçou. – Não se preocupe. Tudo vai dar certo.

Deitei minha cabeça no seu peito e deixei minhas lágrimas virem.

[...]

Passei o final de semana no hospital. O atendimento está péssimo e os exames demoram tanto para chegar, mas o que posso fazer se não temos condições para ir em um hospital melhor. Não tenho conseguido dormir desde que minha mãe entrou no hospital, meu pai tem saído de vez em quando para ver a casa. As poucas vezes que a minha mãe se manteve acordada ela mal conversava. Está ficando fraca.

Eu sei que meus pais estão me escondendo alguma coisa. As brigas em casa tem sido constante, mas sempre que eu perguntava alguma coisa eles mudavam de assunto. Sempre dizendo que está tudo bem. É óbvio que as coisas não estão nada bem e isso tem causado estresse na minha mãe, a ponto de fazer ela parar no hospital.

- Aline? - Olhei para o médico que se aproximava com uns papéis em mãos. - Onde está seu pai?

- São os resultados dos exames da minha mãe? - Me levantei da cadeira. - Qual é o resultado?

- Não quer esperar...

- Pode me dizer. - Interrompi ele. - Preciso saber.

Ele não consegue mais esconder a situação. Está sério de mais de vez e outra suspirando, ele já imaginava qual seria o resultado, mas não poderia falar até ter a prova. Agora tem os exames no chão e não posso esperar meu pai chegar para saber. O médico suspirou novamente.

- Sua mãe está com câncer. Câncer no cólon precisando começar com os cuidados o quanto antes. Você como uma futura médica sabe como é perigoso se demoramos.

Balancei a cabeça concordando.

- É maligno, não é?

- Sim.

Virei meu rosto sentindo minhas lágrimas. Desde que a minha mãe entrou aqui não sai do lado dela para poder acompanhar o estado da sua saúde e assim passei o final de semana examinando apenas pelo olhar. Cheguei em vários resultados e ainda sim estava confiante em acreditar que não seria câncer, principalmente um câncer maligno. E agora tenho a certeza, certeza que preciso arranjar o dinheiro mais rápido possível para ajudá-la. Esses tratamentos são caros.

- Aline, você precisa ser forte. - O médico colocou a mão em meu ombro. Olhei para ele. - Seja confiante. Temos chances.

Eu apenas balancei a cabeça concordando. Não posso perder minha mãe. Fechei meus olhos. Quando o médico saiu meu celular tocou. Peguei o meu celular no bolso vendo o nome da Shari na tela.

- Oi? - Falei quando atendi.

- Amiga, ainda está no hospital? Estou aqui por perto. Eu pensei em te acompanhar até em casa. O que acha?

- Os resultados saíram. - Abaixei minha cabeça. - Ela está com câncer. O câncer no cólon é maligno. - Senti minhas lágrimas novamente. - Não sei onde vou conseguir arranjar o dinheiro para o tratamento.

- Aline, calma! Fique calma. - Shari pediu. - Vamos encontrar um jeito...

- Como Shari?! Não ganho bem no estágio e muito menos o meu pai em seu trabalho. O médico falou que precisamos fazer o tratamento logo.

- Amiga...

- Filha? - Olhei para trás vendo o meu pai. - Por que você está chorando? Sua mãe está bem?

- Shari, depois nós nos falamos. - Avisei e desliguei a ligação.

Coloquei o meu celular no bolso e olhei para meu pai. Ele se aproximou mais me olhando preocupado. Pedi para que ele se sentasse e assim fez, quando comecei a contar para meu pai sobre o resultado dos exames ele começou a balançar a cabeça de um lado para o outro se negando. Eu cheguei a ficar tonta com aquela cena.

Minutos depois Shari apareceu no hospital, eu abracei minha amiga com tanta força. Meus pais, as pessoas que tanto amo estão em um hospital agora. Eu sabia que meu pai não aceitaria bem a doença de minha mãe. Preciso me manter o mais forte possível para conseguirmos passar por tudo isso. Fomos para a lanchonete do hospital.

- Você precisa comer, Aline.

- Estou sem fome. - Recusei o sanduíche.

Ela suspirou.

- Olha, eu sei como você pode conseguir dinheiro. - Olhei para ela. - Acredito que seja o jeito mais rápido.

- Como? Me diz Shari. - Puxei minha cadeira para se aproximar mais dela. - Eu faço o que for.

- Até ser barriga de aluguel?

- Barriga de aluguel?

- Sim. Uma conhecida minha fez, ela aceitou ser barriga de aluguel para um ricaço e ganhou um bom dinheiro com isso. - Shari me olhou séria. - É de certeza. Você não precisa se preocupar, apenas precisa seguir as regras deles. Através de uma empresa que mantém você em contato com esses ricos sendo uma forma segura para todos. Terá contrato e esses tipos de coisas. Se um deles gostar do seu perfil você vai ganhar o dinheiro.

Barriga de aluguel. Nunca pensei nessa hipótese. Ser mãe também não estava nos meus planos, a criança não ficará comigo. Vou ter que entregar ela depois de nascer. Isso é tão estranho. Será que vou conseguir? É meu filho, não é? Fechei meus olhos, suspirando. Não tenho escolha. Se eu aceitar vou ter que fazer isto. A criança ficará bem de qualquer jeito, terá uma boa vida e não vai passar necessidades. Preciso pensar no dinheiro, não importa as consequências. O quanto antes ela começar o tratamento vamos ter uma chance de ter sucesso.

- Shari, quero saber mais sobre essa empresa.

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Oi, tudo bem? Meu nome é Ana Elói e sou escritora desde 2016. Tenho outros livros aqui mesmo na plataforma da uma olhada lá e venha mergulhar comigo com esses casais apaixonante.

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