P.V. CHARLES
Hoje Filipe tirou o dia para me encher o saco. Ele queria um neto e eu arranjei um para ele, por que tem que continuar me estressando? Precisei voltar cedo da casa de campo. Minha cabeça dói e com as reclamações do Filipe só piorou para mim. Tenho que conviver com aquela mulher até que o bebê nasça, pelo menos ela não fala pelos cotovelos. É uma interesseira, mas uma interesseira na dela. Quando cheguei em sua casa, apressei os passos para entrar logo. Me avisaram que ele estaria no escritório, nem para receber o próprio filho.
Filipe estava fumando seu charuto e apagou assim que me viu. Já vejo que a conversa será longa, ele só apaga o charuto quando o assunto é sério e ele está pronto para falar. Coitado dos meus ouvidos. Sentei na cadeira em sua frente e massageei as têmporas.
– Charles, não me venha com essa cara. – Sua testa levemente enrugada mostra sua tensão. – Que história é essa que terei um neto? – Ele perguntou.
– Você queria e eu consegui. – Dou de ombros. – Não se preocupe, não é adotado. É sangue do meu sangue e eu tenho certeza disso.
Tratei logo de explicar isso para ele. Não quero começar a ouvir seu discurso que precisa ter um neto com o sangue da família Grant e que não poderia ser adotado, eu até considerei adotar, mas conhecendo o mau pai. Ele daria um jeito de fazer um teste de DNA sem eu saber. Então para evitar confusão, eu preferi procurar a clínica.
– Como assim, Charles?! Você está namorando e eu não estou sabendo? É isso? Quem você engravidou?
– Se acalma, homem…
– Não, eu tenho que conhecer a mãe do meu neto. Essa mulher seja quem for é mãe de um Grant, ela entende o tamanho da responsabilidade?
Revirei os olhos. Como ele exagera tanto? É apenas um bebê. Ele deveria parar de tratar as coisas como propriedade e achar que esse sobrenome tem tanto poder assim. É um fanático igual ao meu avô. Protegem tanto esse sobrenome.
– Você quer um neto e daqui a alguns meses você terá. – Ergui uma sobrancelha. – Isso não é o suficiente?
– Não! – Ele diz irritado. – Quero saber quem é a mãe da criança.
Por que tanto estresse? Ele acabará tendo um infarto desse jeito. Filipe só complica as coisas, antes as discussões eram para ter um neto. Eu consegui um neto para ele, e agora quer encher o saco para saber quem é a mãe da criança.
– Entrei em contato com uma clínica de minha confiança. – Resolvi contar para ele. – A mulher que escolhi está em período fértil, então as chances dela engravidar de primeira são grandes.
– Você o quê?! – Ele perguntou abismado.
– Não venha arranjar confusão…
– O que você tem na cabeça garoto?! Terá um filho com uma qualquer. Não sabe do histórico da pessoa. – Ele começou a brigar. – Vai manchar o nome da nossa família. O tanto de mulher que escolhi para você. Agora você vem me dar esse desgosto.
Engoli em seco.
– Bem, agora está feito. – Me limitei a dar uma resposta maior.
– Quanta irresponsabilidade, Charles. Por que não deixou que eu mesmo resolvesse isso? Você poderia continuar trabalhando…
Ele continuou com suas reclamações e eu tentei ignorar. Parece que nem tentando dar um neto a ele terei o seu orgulho. Não importa absolutamente nada que eu faça, Filipe quer que tudo aconteça do seu jeito, ele quer ter as rédeas de tudo. Até mesmo quando ele diz o que temos que fazer e ainda, sim, não se contenta. Suspirei, negando com a cabeça. Por que ainda estou aqui? Preciso trabalhar. Me levantei fazendo ele parar de falar.
– Tenho que ir trabalhar agora, talvez depois eu tire um tempo para continuar ouvindo você falar igual um papagaio. – Falei e me virei para sair dali.
Felipe me chamou diversas vezes, mas ignorei.
P.V. FILIPE GRANT
Sentei na minha poltrona e acendi um charuto. Não é possível que até depois de adulto este garoto continue me trazendo tanto desgosto. Procurar uma clínica? Tem um filho por uma clínica com uma desconhecida? Charles está ficando maluco, só pode. Agora não posso descartar a garota, ela pode estar mesmo grávida de um neto meu. Charles, Charles parece que você nada aprendeu com a vida. Ele não entende que nem sempre estarei aqui?
Era para eu ter cuidado desse assunto sobre o meu neto. É como dizem se você quer uma coisa bem feita faça você mesmo. Não aceito que seja qualquer uma, a carregar um bebê da nossa família. Charles deveria ter pensado bem antes de fazer tal coisa, quantas vezes falei para ele que eu mesmo podia cuidar disso e me ignorou dizendo que iria resolver. E esse é o resultado dele. Patético. Dou trago no meu charuto.
Sei que não conseguirei mais informações através dele. Não importa o quanto eu reclame ou exige saber, esse garoto errou e vai continuar com seu erro. Olhei para o alto, onde foi que errei com ele? Agora está bem ter que consertar as coisas e torcer para essa mulher não ter uma ficha criminal. Coitado do meu neto. A mãe dele é uma sanguessuga de dinheiro. Que mulher em sã consciência procura uma clínica para ficar grávida que uma pessoa que nem conhece.
Esse mundo está perdido!
Porque é mais do que óbvio que ela só está nessa vida por causa de dinheiro, não consegue arranjar um trabalho. E agora quer um dinheiro fácil. Então mulheres como ela decidem engravidar e vai que consegue dar o famoso golpe de barriga não é mesmo sair do nada e acabar rica por causa ter um bebê com um homem rico idiota. Agora vejo que meu filho é o homem rico idiota que vai acabar caindo na lábia dessa mulherzinha. Ela jogará um papo para cima dele e vi logo, logo Charles já está caindo em suas graças. Mais uma vez terei que intervir e salvar esse garoto. Parece que realmente não aprendeu nada comigo, pelo menos faz um bom serviço na empresa, até porque agora está em suas mãos espero que também não me decepcione nisso.
Charles Grant são os genes e sua mãe que te deixou mole desse jeito. É a única explicação.
Verei essa mulher pessoalmente.
P.V. ALINE Essa casa é tão grande e mesmo assim não tem nada para se fazer nela. Tenho passado boa parte do tempo no meu quarto, procurando até estudar um pouco, mas estou bem desanimada para isso. Sem foco no momento, cheguei a procurar alguns trabalhos home office, mas nada no momento. Nunca achei que na casa de rico seria tão tédio assim. Charles e eu não temos conversado muito e também não procuro ter contato com ele. Conversamos o necessário. Não quero me estressar com suas indiretas do que ele pensa que eu sou. É lindo, mas é um arrogante, metido e chato. Sair do meu quarto andando pela casa, os próprios empregados vão me deixando um pouco agoniada. Eu sei que é o trabalho deles, mas está sendo bem chato ter alguém atrás de mim toda hora querendo saber se estou bem ou se quer alguma coisa. Se fosse no mínimo de uma a uma hora, mas é de dez em dez minutos. Ou menos. Ontem eu cheguei a ir até os cavalos e acariciei alguns. São mais lindos do que os outros, mas ainda não cheguei
P.V. CHARLES GRANTComo podem ter aceitado a Aline na clínica? Essa mulher é uma louca! Deveria estar no hospício e não solta por aí. Ela ainda teve a coragem de me ameaçar a chutar minha bolas. É uma desbocada sem classe alguma. Além de ter me molhado. Eu tive o trabalho de vir resgatá-la do rio para ela fazer isso? Ah, se ela não tivesse carregando um filho meu.Mas ela ainda tem muito para ouvir. Vou atrás dela. Quem ela pensa que é para virar as costas para mim e me deixar falando sozinho? Eu sei muito bem que gravidez não é doença, mas tem que ter suas coisas e é algo que ela não está fazendo. E ainda está querendo ser médica. Atrás do espelho vi a Aline encostada quando a parede com a mão na barriga. Viu já está passando mal, vou até ela mais parei quando escutei o que ela disse.&nda
Acordei sentindo que passou um caminhão por cima de mim. Essa cama é maravilhosa, mas hoje parece que dormi em cima de uma pedra. Tenho ficado estressada facilmente e com sono, muito sono. Vou para o banheiro, preciso de um banho. Quem sabe não relaxa um pouco, eu demorei mais tempo que o necessário. Mas foi muito bom. Estou sentindo meu corpo pesado. Respirei fundo e coloquei uma roupa. Sai do quarto em passos lentos, o banho ajudou um pouco, mas não estou animada.– Oi, querida. – Matilde se aproximou de mim. – Você está bem?Sorri para ela.– Só estou um pouco desanimada, mas estou bem.– Posso fazer alguma coisa por você…– Aline. – Olhei pra trás. Charles vinha com uma bolsa em mãos. – Suba e troque de roupa. – Ele me entregou a bolsa. – Vamos andar a cavalo hoje.Olhei para ele não a
P.V. CHARLES GRANTHoje eu acordei mais cedo do que o normal. Estavam precisando de mim na empresa e não teria como faltar. Sim, eu estava pensando em faltar hoje para tentar me acertar com a Aline. Não consegui dormir direito ontem, pensando que poderia ter julgado ela mal. Eu estou incomodado por saber que ela está chateada comigo. Não acho que deveria estar me sentindo assim. Posso não conhecer ela direito, mas ela também não me conhece.Eu nunca me importei com o que os outros pensavam sobre mim, ainda mais aqueles que não me conhecem bem o suficiente para poder dizer alguma coisa, mas com Aline está sendo diferente. Não sei o quão bom isso é. É possível que eu esteja tendo algum sentimento por ela ou é apenas por causa
P.V. CHARLES GRANT– Você é muito engraçadinha não é Aline? Continua rindo aí, mas sabe o que você é? Uma insensível! Não vê que eu estou tentando consertar as coisas entre a gente. Continua aí com as suas provocações, mas eu tentei.– Ah, vai se fazer de vítima agora?– Vítima? Você é realmente uma insensível levei tempo para preparar tudo isso.– O máximo de tempo que você gastou foi esperar que fizesse isso por você e forrou o lençol no chão. E eu não sou mais insensível!– Não importa gastei meu tempo. – Já estamos aos gritos um com o outro. – Você é sim um insensível. Não vê os sentimentos das emoções dos outros. Aposto que é por isso que você está solteira até hoje. Quer dinheiro para quê? Pagar alguém para namorar contigo?– Pagar alguém para namorar comigo? – Ela riu, mas dessa vez um sorriso de deboche. – Eu aposto que já namorei mais do que você, riquinho mimado. Eu não preciso pagar ninguém para estar comigo e já você, eu não duvido. Não precisa estar cheio de grana para ter
P.V. ALINETerminei o meu café da manhã e juntei o que tinha sujado e fui até a pia para poder lavar. Eu mal abri a torneira e uma empregada da casa veio até mim. Respirei fundo, porque já sei o que iria acontecer. É só uma moça que eu poderia muito bem lavar.- Pode deixar que eu cuido disso, senhorita Aline. - Ela não deixou contrariar e começou a lavar a louça. - Você deseja mais alguma coisa? Quer comer algo?- Acabei de tomar o café da manhã.- Se quiser alguma fruta ou beber alguma coisa pode me avisar que pego para você.Apenas sorri em agradecimento e suspirei saindo da cozinha. Sei que ela não deixaria eu fazer nada ali e que esse é o trabalho dela, mas não posso negar que isso me estressa. Nessa casa deve ter uns sete empregados sem contar com a Matilde. A Matilde até dá para relevar, ela parece notar que eu não gosto muito de toda essa atenção e gente fazendo coisas para mim o tempo todo. Ao contrário dos outros, se eu respiro alto já tem um na minha cola e querendo saber s
P.V. CHARLES GRANTHoje faz quase duas semanas que Aline e eu não nos falamos. Não mandei os empregados voltarem, mas manteve a Matilde aqui. Depois das palavras da Aline me senti bem mal e ver a reação que causei nessa... É um sentimento que nunca senti. Fiquei uns dois dias sem voltar para casa de campo. Eu não queria vê-la chorar e ser o motivo. Sei bem que naquele dia quando ela saiu da cozinha, Aline se segurou para não chorar na minha frente.Isso me deixou pior.Não conseguia tirar essa imagem na cabeça. Na hora eu sabia que se falasse alguma coisa poderia ser interpretado mal e bem não sabia o que dizer para ela, mesmo que no fundo eu quisesse dizer alguma coisa. Algo que de algum jeito ela fosse se senti bem. Não queria vê-la daquele jeito. Não quero ser o motivo da sua tristeza. Matilde ouviu toda nossa discussão naquele dia e pediu para que eu ficasse quando fui em direção ao meu carro, eu só pedi para que ela cuidasse da Aline e fui embora.Voltei dois dias depois e mesmo
P.V. ALINECharles tem mudado bastante nesses últimos dias. Vejo que ele está realmente querendo tentar e quando vemos que estamos quase brigando, ele muda o foco da conversa. Não é só ele que está querendo paz. Meu humor vem mudando constantemente e está sendo totalmente novo para mim e para ele. Charles na maioria das vezes tem sido compreensível com a ajuda de Matilde é claro, ela vem ajudando nós dois. Às vezes estou surtando do nada, Charles fica sem saber o que fazer e só ela para me acalmar. Mas não posso negar que gosto de ter ele por perto. Charles não é tão ruim quanto eu pensei.Minha mãe começou o tratamento dela e acordei mais animada com essa notícia. Estou muito esperançosa e confiante. Charles ainda não estava na cozinha para tomar o café. Vou até a geladeira para pegar a caixinha de leite condensado e em cima da mesa pega um pedaço de melancia. Coloquei uma pequena quantidade de leite condensado em cima da melancia e dei uma mordida. Está maravilhoso. Faço isso umas t