P.V. ALINE
Essa casa é tão grande e mesmo assim não tem nada para se fazer nela. Tenho passado boa parte do tempo no meu quarto, procurando até estudar um pouco, mas estou bem desanimada para isso. Sem foco no momento, cheguei a procurar alguns trabalhos home office, mas nada no momento. Nunca achei que na casa de rico seria tão tédio assim.
Charles e eu não temos conversado muito e também não procuro ter contato com ele. Conversamos o necessário. Não quero me estressar com suas indiretas do que ele pensa que eu sou. É lindo, mas é um arrogante, metido e chato. Sair do meu quarto andando pela casa, os próprios empregados vão me deixando um pouco agoniada. Eu sei que é o trabalho deles, mas está sendo bem chato ter alguém atrás de mim toda hora querendo saber se estou bem ou se quer alguma coisa. Se fosse no mínimo de uma a uma hora, mas é de dez em dez minutos. Ou menos.
Ontem eu cheguei a ir até os cavalos e acariciei alguns. São mais lindos do que os outros, mas ainda não cheguei a montar. Decidir sair de casa, o céu está muito lindo e bem iluminado e o sol brilha bem forte no alto. Hoje não iria chover com toda certeza, cheguei a conversar com a minha mãe pelo telefone. Foi uma conversa bem rápida, ela estava se sentindo cansada e isso me preocupou. Conversei com seus médicos e pedi para que começassem o tratamento. Meu coração se apertou mais uma vez porque não pude acompanhar de perto. Caminhei até o grande rio que tem ali perto. Aqui é realmente muito lindo e se minha família pudesse estar aqui eu ficaria bem feliz.
Porque infelizmente está sendo bem tedioso. Uma das empregadas falou que quando Charles era pequeno vivia tomando banho neste rio. Do jeito que ela me descreveu um Charles criança, eu pude notar que agora adulto é um Charles totalmente diferente. Se tornou um adulto amargo com a vida. Fiquei curiosa em saber o que o deixou desse jeito. A faculdade está me fazendo falta, sinto falta da Shari também, não temos mantido muito contato. Ainda mais com a rotina da faculdade e com muita dor no coração precisei trancar a minha.
Caminhei até o lado e me sentei perto. Fechei meus olhos sentindo o vento em meu rosto. Ainda bem que está ventando um pouco, porque está bem quente. Olhei para o lado novamente. Por que estou reclamando do calor se eu posso me refrescar? Estou com um vestido solto no corpo e que vai até a altura do joelho. Me levantei e fiz um copo no cabelo. Caminhei até a água e para minha surpresa até que estava tão gelada. Tinha alguns peixes que logo trataram de fugir. Com a água na altura da minha coxa me abaixei um pouco pegando em minha mão e passando pelo rosto.
– Você está louca?! – Tomei um susto caindo para frente. – Saia daí agora.
Mal me recuperei do susto e senti meu corpo sendo levantado. Charles me pegou no colo e começou a sair do lado.
– Tira suas mãos de mim! – Bati no peito dele duas vezes. Ele ficou confuso e me colocou no chão. – O que você está fazendo?!
Ainda estamos no rio, a água batendo no tornozelo.
– Eu que pergunto. – Ele abriu os braços. – O que está fazendo nesse rio?
– Adivinha? – Perguntei debochada e ele apertou o olhar em minha direção. – Estou me refrescando!
Estou cansada desse homem.
– Ficou maluca?!
– Por que?
A gente já estava gritando um com o outro.
– Você está grávida, não pode ficar se arriscando desse jeito. Já fiquei sabendo que você estava no estábulo, o que tem na cabeça? Para você que tem as melhores notas na faculdade de medicina, me parece que estão faltando alguns neurônios aí.
– Me arriscando?! Sério? Fiz carinho em alguns cavalos…
– Poderia ter levado um coice.
– Estou apenas me refrescando no rio…
– As correntes podem te levar. Ou pior vou escorregar em alguma pedra ai e b**e a cabeça e a correnteza vai te levar.
Eu olhei para ele abismada.
– Você é louco.
Eu poderia até considerar que ele está preocupado comigo, mas com toda certeza é com o filho dele. Charles está vendo coisas e criando teorias totalmente loucas. Eu já estou com medo de ver como será a vida dessa criança. Tendo um pai louco como Charles. Por que com toda certeza o louco aqui é ele.
– Louca é você! Tanta coisa para fazer e você que fica em lugares que pode te matar.
– Ah, é? Então me diz uma coisa que posso fazer nesse lugar? – Ele pensou e nada disse. – Viu! Estou ficando sufocado nesse lugar e não faz nem uma semana. Eu tinha uma rotina antes e tudo mudou agora. As melhores coisas que se pode fazer nesse lugar não vou poder fazer?
– Não deveria está reclamando…
– Eu sei o que você pensa de mim e isso já está começando a me estressar. – Apontei o dedo em sua direção. – Se você me chamar de interesseira ou dar a entender… – Olhei ao redor e sorri. – Eu vou jogar água em você!
Charles está de terno. Ele tinha tirado os sapatos e meias e dobrando a calça para entrar, mas molhou um pouco da sua calça.
– Você não é nem louca. – Charles da um sorriso debochado. – Sua interesseira.
Meu sangue esquentou e peguei uma boa quantidade de água e joguei nele. Fiz isso duas vezes, molhando seu rosto e sua roupa.
– Sua filha da…
– Me xinga! Me xinga para você ver se não chuto suas bolas. – Ameacei ele.
Charles me olhou indignado. Minha raiva era tão grande que eu poderia ir para cima dele agora mesmo. Nunca briguei antes, principalmente com um homem que dá dois de mim, mas não deve ser tão difícil assim. Preciso acertar ele em pontos estratégicos e ele que será levado pelo rio.
– Você deveria estar internada em um hospício e não indo em uma clínica para ter um bebê.
– Não vou falar onde você deveria estar, porque eu respeito as pessoas mesmo que elas não mereçam.
– Você não é nem louca de falta com respeito a mim. E vou logo dizendo que não quero você no estábulo e muito menos aqui no rio.
– Deixa eu te dizer uma coisa, Charles Grant. – Olhei para ele. – Gravidez não é doença!
Sai dali batendo o pé com força como uma criança birrenta. Preciso me acalmar ou perco o dinheiro para o tratamento de minha mãe e vou parar na cadeia por matar esse empresario idiota. Coloquei a mão contra minha barriga quando entrei em casa.
– Por favor, não seja igual a ele. – Pedi. – Seja uma boa pessoa e procure conhecer os outros antes de julgar. Você também terá uma parte de mim também, mesmo que… seja dele. Eu vou está longe de você, mas saiba que estarei orgulhosa. Orgulhosa de ter gerado você.
P.V. CHARLES GRANTComo podem ter aceitado a Aline na clínica? Essa mulher é uma louca! Deveria estar no hospício e não solta por aí. Ela ainda teve a coragem de me ameaçar a chutar minha bolas. É uma desbocada sem classe alguma. Além de ter me molhado. Eu tive o trabalho de vir resgatá-la do rio para ela fazer isso? Ah, se ela não tivesse carregando um filho meu.Mas ela ainda tem muito para ouvir. Vou atrás dela. Quem ela pensa que é para virar as costas para mim e me deixar falando sozinho? Eu sei muito bem que gravidez não é doença, mas tem que ter suas coisas e é algo que ela não está fazendo. E ainda está querendo ser médica. Atrás do espelho vi a Aline encostada quando a parede com a mão na barriga. Viu já está passando mal, vou até ela mais parei quando escutei o que ela disse.&nda
Acordei sentindo que passou um caminhão por cima de mim. Essa cama é maravilhosa, mas hoje parece que dormi em cima de uma pedra. Tenho ficado estressada facilmente e com sono, muito sono. Vou para o banheiro, preciso de um banho. Quem sabe não relaxa um pouco, eu demorei mais tempo que o necessário. Mas foi muito bom. Estou sentindo meu corpo pesado. Respirei fundo e coloquei uma roupa. Sai do quarto em passos lentos, o banho ajudou um pouco, mas não estou animada.– Oi, querida. – Matilde se aproximou de mim. – Você está bem?Sorri para ela.– Só estou um pouco desanimada, mas estou bem.– Posso fazer alguma coisa por você…– Aline. – Olhei pra trás. Charles vinha com uma bolsa em mãos. – Suba e troque de roupa. – Ele me entregou a bolsa. – Vamos andar a cavalo hoje.Olhei para ele não a
P.V. CHARLES GRANTHoje eu acordei mais cedo do que o normal. Estavam precisando de mim na empresa e não teria como faltar. Sim, eu estava pensando em faltar hoje para tentar me acertar com a Aline. Não consegui dormir direito ontem, pensando que poderia ter julgado ela mal. Eu estou incomodado por saber que ela está chateada comigo. Não acho que deveria estar me sentindo assim. Posso não conhecer ela direito, mas ela também não me conhece.Eu nunca me importei com o que os outros pensavam sobre mim, ainda mais aqueles que não me conhecem bem o suficiente para poder dizer alguma coisa, mas com Aline está sendo diferente. Não sei o quão bom isso é. É possível que eu esteja tendo algum sentimento por ela ou é apenas por causa
P.V. CHARLES GRANT– Você é muito engraçadinha não é Aline? Continua rindo aí, mas sabe o que você é? Uma insensível! Não vê que eu estou tentando consertar as coisas entre a gente. Continua aí com as suas provocações, mas eu tentei.– Ah, vai se fazer de vítima agora?– Vítima? Você é realmente uma insensível levei tempo para preparar tudo isso.– O máximo de tempo que você gastou foi esperar que fizesse isso por você e forrou o lençol no chão. E eu não sou mais insensível!– Não importa gastei meu tempo. – Já estamos aos gritos um com o outro. – Você é sim um insensível. Não vê os sentimentos das emoções dos outros. Aposto que é por isso que você está solteira até hoje. Quer dinheiro para quê? Pagar alguém para namorar contigo?– Pagar alguém para namorar comigo? – Ela riu, mas dessa vez um sorriso de deboche. – Eu aposto que já namorei mais do que você, riquinho mimado. Eu não preciso pagar ninguém para estar comigo e já você, eu não duvido. Não precisa estar cheio de grana para ter
P.V. ALINETerminei o meu café da manhã e juntei o que tinha sujado e fui até a pia para poder lavar. Eu mal abri a torneira e uma empregada da casa veio até mim. Respirei fundo, porque já sei o que iria acontecer. É só uma moça que eu poderia muito bem lavar.- Pode deixar que eu cuido disso, senhorita Aline. - Ela não deixou contrariar e começou a lavar a louça. - Você deseja mais alguma coisa? Quer comer algo?- Acabei de tomar o café da manhã.- Se quiser alguma fruta ou beber alguma coisa pode me avisar que pego para você.Apenas sorri em agradecimento e suspirei saindo da cozinha. Sei que ela não deixaria eu fazer nada ali e que esse é o trabalho dela, mas não posso negar que isso me estressa. Nessa casa deve ter uns sete empregados sem contar com a Matilde. A Matilde até dá para relevar, ela parece notar que eu não gosto muito de toda essa atenção e gente fazendo coisas para mim o tempo todo. Ao contrário dos outros, se eu respiro alto já tem um na minha cola e querendo saber s
P.V. CHARLES GRANTHoje faz quase duas semanas que Aline e eu não nos falamos. Não mandei os empregados voltarem, mas manteve a Matilde aqui. Depois das palavras da Aline me senti bem mal e ver a reação que causei nessa... É um sentimento que nunca senti. Fiquei uns dois dias sem voltar para casa de campo. Eu não queria vê-la chorar e ser o motivo. Sei bem que naquele dia quando ela saiu da cozinha, Aline se segurou para não chorar na minha frente.Isso me deixou pior.Não conseguia tirar essa imagem na cabeça. Na hora eu sabia que se falasse alguma coisa poderia ser interpretado mal e bem não sabia o que dizer para ela, mesmo que no fundo eu quisesse dizer alguma coisa. Algo que de algum jeito ela fosse se senti bem. Não queria vê-la daquele jeito. Não quero ser o motivo da sua tristeza. Matilde ouviu toda nossa discussão naquele dia e pediu para que eu ficasse quando fui em direção ao meu carro, eu só pedi para que ela cuidasse da Aline e fui embora.Voltei dois dias depois e mesmo
P.V. ALINECharles tem mudado bastante nesses últimos dias. Vejo que ele está realmente querendo tentar e quando vemos que estamos quase brigando, ele muda o foco da conversa. Não é só ele que está querendo paz. Meu humor vem mudando constantemente e está sendo totalmente novo para mim e para ele. Charles na maioria das vezes tem sido compreensível com a ajuda de Matilde é claro, ela vem ajudando nós dois. Às vezes estou surtando do nada, Charles fica sem saber o que fazer e só ela para me acalmar. Mas não posso negar que gosto de ter ele por perto. Charles não é tão ruim quanto eu pensei.Minha mãe começou o tratamento dela e acordei mais animada com essa notícia. Estou muito esperançosa e confiante. Charles ainda não estava na cozinha para tomar o café. Vou até a geladeira para pegar a caixinha de leite condensado e em cima da mesa pega um pedaço de melancia. Coloquei uma pequena quantidade de leite condensado em cima da melancia e dei uma mordida. Está maravilhoso. Faço isso umas t
P.V. CHARLES GRANTEu sabia que ela não iria aguentar ver o filme e dormiu bem rápido. Puxei a coberta para cobrir seu corpo, hesitei um pouco mais levei minha mão ao seu rosto. Aline dormia tranquilamente. Talvez não seja uma boa ideia continuar aqui e ela estando dormindo, mas eu não queria sair dali agora.Hoje ela me deu um grande susto. Aline precisa mesmo comer aquelas coisas estranhas? Ela se mexeu e eu parei com o carinho. Quando tive certeza que ela estava dormindo, me ajeitei na cama e acabei dormindo também. Quando acordei estava mais perto da Aline do que um dia imaginei, abracei ela por trás e estou com o rosto no seu cabelo. Ela tem um cheiro tão bom e eu não resisto trazendo ela para mais perto de mim. Cada vez fica difícil de acreditar que não esteja me apaixonando por ela. Aline é difícil de lidar, mas também não sou a pessoa mais fácil do mundo.Passei meu nariz entre seu cabelo. Sorri. Aline, o que você está fazendo comigo? Vou mesmo me permitir ter esse sentimento?