6. LUNA

Após sair da entrevista um tanto quanto perturbada, fui encarar meu próximo desafio que era pedir demissão do meu antigo emprego.

Não foi fácil sair e me despedir de todos assim de hora para outra, mas era necessário e urgente, afinal era a vida de uma criança que estava em jogo e não poderia mais pensar apenas em mim.

Todos do escritório ficaram surpresos e curiosos para saber onde seria o meu novo trabalho, mas deixei o suspense no ar e fui embora o mais rápido possível para contar a novidade para a minha tia Luísa que já estava me esperando.

— Luna, ainda bem que chegou, filha! Enquanto almoçamos, conte como foi a entrevista. — Tia Luísa fala e dei um abraço nela, que retribuiu.

— Está desanimada. Não vai dizer que te maltrataram nessa entrevista de emprego.

— Deu tudo certo, inclusive já começo amanhã. Vou passar por um período de experiência. Tive que mentir dizendo que não tenho filhos, o dono exige alguém que não os tenha. Inclusive, presenciei uma demissão por causa disso, acredita? Mas o salário é maravilhoso. Conheci o meu chefe, ele é... — Não consegui terminar a frase, pois me lembrei do Célio fazendo inúmeras exigências.

— Ele é bonitão e educado, ou um velho feio e ranzinza que ninguém aguenta?

— Ele é lindo, alto, sério, forte, cabelos castanhos bem-arrumados que nem o vento bagunça, seus olhos são claros, preconceituoso e jovem, mas com o espírito de um velho que ninguém aguenta. Porém, a minha meta de conseguir o que quero é maior que toda a arrogância dele.

— Meu amor, o seu foco é a guarda da Elisa, mas não deixe ninguém te humilhar por mais que o dinheiro seja maior.

— Eu sei, tia. — Peguei Elisa do berço e nos sentamos ao redor da mesa simples.

Aqui o amor é maior que tudo, é uma pena os juízes não reconhecerem isso e não me darem a guarda definitiva da minha pequena.

Pelo restante da tarde descansei bastante, organizei tudo e procurei saber mais sobre a empresa.

No dia seguinte, eu me vesti de forma simples, mas condizente com a minha posição. Quando receber o primeiro salário comprarei roupas novas, pois as que

eu tenho estão precárias. Faço um penteado simples e maquiagem leve, pretendo chegar bem antes do meu horário.

Assim que entrei na empresa, recebi um recado do senhor Eduardo para ir até a sua sala e quando cheguei fui recebida pela sua simpática secretária, Lili, que me leva até ele.

— Bom dia, senhorita Luna, vejo que você e Lily combinam e chegam muito cedo. Pedi para você passar por aqui para avisar que a minha secretária irá te auxiliar.

— Nossa, ficarei eternamente agradecida. Ela pode ir comigo agora?

— Sim, já avisei a ela.

Cheguei na recepção e ela já estava na minha espera. Fomos para a sala da presidência e começamos a organizar a sala do Célio, atenta a tudo o que ela me ensinava.

— Luna, não trabalho com o senhor Célio, mas vou dar uma dica de ouro. Hoje iremos arrumar a mesa dele do nosso jeito, mas fica atenta aos gostos dele, como ele gosta da mesa arrumada e tudo mais.

— Obrigada, não sei como te agradecer.

— Vamos ter mais trabalho pela frente.

Ela me ensinou como funcionava a agenda eletrônica dele e vi que tinha uma reunião agendada para a parte da manhã. Teria que receber os executivos e foi um corre, corre. Lily foi embora me deixando sozinha e olhei para o relógio percebendo que ainda falta uma hora para a reunião. Entrei na sala de reuniões, organizei os documentos sobre a mesa enorme e percebi que o chefe estava atrasado. Quando voltei para a mesa, o telefone estava tocando, com várias pessoas querendo saber onde esse homem estava, mas até o telefone pessoal dele estava desligado.

Olhei de lado e percebi que trabalho era o que não faltava, mas tive que adiar tudo com a chegada do executivo para a bendita reunião.

— Olá, senhorita, temos uma reunião marcada com o senhor Célio daqui a alguns minutos.

— Claro, peço a compreensão dos senhores, mas o doutor Célio teve um contratempo, caso de saúde. Ele vai demorar um pouco, mas enquanto não chega convido a todos que me acompanhem para conhecer melhor a nossa empresa, se não for um incômodo.

Os homens se entreolham e fico pensando se fiz o certo, mesmo que não conheça nada aqui dentro.

— Sim, por favor, nos mostre. Ficaremos felizes, assim poderemos ver com os nossos olhos a empresa com a qual fecharemos um grande negócio hoje.

— Me acompanhe. — Estava sorridente e segura de mim, mas o coração estava batendo fortemente e cruzei os dedos, pedindo ajuda divina.

No passeio pela empresa, cruzei com Eduardo, que me apoiou e conversou um pouco com os executivos. Ele nem perguntou o porquê de ter levado aqueles homens comigo, para visitar a empresa, pois certamente sabe do atraso do Célio e que fiz tudo isso para salvar a vida do chefe.

No fim, saiu tudo como planejei e eles decidiram fechar o grande negócio, sem mesmo precisar da reunião.

Na volta para a sala de reunião, eu já estava tensa, sem saber mais o que fazer ou falar, mas quando abri a sala de reuniões Célio estava presente, como um rei. Sorri timidamente, mas foi de felicidade. Parecia que um peso tinha saído das minhas costas naquele instante.

Após isso, ele conduziu a reunião, enquanto fiz anotações e o contrato foi assinado. Recebi elogios e fiquei muito feliz.

No final, o primeiro dia de trabalho não foi ruim, mas a arrogância do senhor Célio foi horrível.

Me sentei na frente do computador e comecei a trabalhar entre atender um telefonema e outro, inclusive não parei nem para tomar água.

Eduardo foi até a sala do chefe e, no horário do almoço, Célio saiu da sua sala parecendo um príncipe sem falar nada.

Como a vida de secretária e assistente desse homem é horrível!

Saí para almoçar e quando voltei vi o tanto de planilhas para organizar, mas fui informada que serei contratada e vibrei de felicidade por isso.

Sentada na frente do computador, com meus óculos de grau, recomecei meu trabalho, dando o melhor de mim.

As horas se passam e estava tão focada trabalhando que nem vi o chefe voltar para a empresa. É quando sinto que estou sendo observada e ao levantar a cabeça devagar, noto que seus olhos estão sobre mim, analisando-me.

— Enviei documentos para o e-mail, imprima e leve-os para mim. Rápido.

— Sim, senhor. — É a única palavra que sai da minha boca.

Célio segue para o seu escritório, olho para o relógio e vejo que já é noite. Está quase na hora de ir embora. Levo os benditos documentos até a ele, bem organizados, que confere um a um.

Fico feliz que ele não faça nenhuma reclamação.

— Senhorita Luna, irá trabalhar como minha secretária e assistente de hoje em diante.

— Mas, senhor Célio. — Quero questioná-lo sobre a alta carga de trabalho.

— Não tem mais, senhorita Luna. Na hora que eu precisar de você, terá que vir ao meu encontro, o que inclui viagens e reuniões. Ah, o salário será ótimo.

— Sim, senhor Célio. — Não contesto, lembrando-me da minha Elisa. Tudo é por ela.

— Deseja mais alguma coisa? — pergunto. — Ele responde que não e saio.

Estou exausta, imaginando que ainda tenho que ir para casa a essa hora.

Passou o dia todo e ele sequer me agradeceu por tê-lo ajudado hoje pela manhã. Ele foi incapaz de agradecer tudo o que fiz.

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