Após sair da empresa, faço o mesmo trajeto de antes, só que agora pela noite e chego em casa muito cansada. Entro na cozinha e vejo um recado deixado pela minha tia avisando que saiu com Elisa. Aproveito o momento para ir ao banheiro e tomar um belo banho.
Ao sair me olho no espelho e meu semblante cansado diz o quanto foi duro o meu dia. Pergunto a mim mesmo se conseguirei permanecer trabalhando naquele local, pois já vi o quanto o doutor Célio é difícil e bipolar. Mas me lembro do salário e planos não me faltam para esse dinheiro, como me mudar para uma casa maior. Ouço baterem à porta e já imaginando que seja a minha flor que chegou. — É você, tia? Pode entrar. — Sim, minha filha. Olha, Elisa, sua mãe já está em casa. Como foi no trabalho? — Estou aprendendo bastante, é difícil, mas me saí muito bem. Tia, quando receber o meu primeiro salário, quero alugar uma casa maior, num bairro melhor... Talvez, assim eu consiga logo a guarda da Elisa. — Filha, você sabe que a avó da Elisa pode aparecer e saber que sua filha lhe deu uma neta. Para onde vocês forem eu irei. Vocês duas são a minha família. É claro que ela faz parte dos meus planos, não ficaria sem a tia Luísa por nada. — É algo inevitável, tia. Queria tanto ganhar a guarda dela, antes que ela reivindique os seus direitos. A Mary fugiu do seu estado para viver com o meu irmão e só em pensar nisso já estou com medo. *** Visto uma roupa confortável e aproveito cada segundo perto da minha pequena, colocando-a para dormir. Em seguida, vou descansar para estar bem psicologicamente amanhã. Pela madrugada, acordo com o pesadelo que tive, sobre uma mulher vindo buscar Elisa e me levanto rapidamente, indo em direção ao berço. Ela dorme lindamente para o meu alívio, beijo seu rostinho e volto para a cama sem entender se isso realmente é um aviso, enquanto a angústia toma conta de mim. *** O celular pela manhã toca incessantemente e é Lily me ligando, perguntando se posso ir trabalhar mais cedo. Ela irá organizar uma festa surpresa para o rapaz que trabalha na faxina e teremos que comemorar antes do senhor Célio chegar. Mais uma que tem medo dele. Me arrumo rapidamente, pois nunca fui convidada para sair nem comemorar quase nada nessa vida e não posso perder essa oportunidade. Não posso desanimar jamais, somente ser positiva. Após deixar Elisa aos cuidados da tia Luíza, chego ao trabalho e Lily já me espera para irmos até onde seu Josafá está para fazer a surpresa. — Venha, Luna. Vamos, você leva o bolo e eu os balões — Lily fala animada. Pelo jeito, encontrei alguém na empresa parecida comigo. — Pensei que estaria presente mais pessoas. — Falo. — Aqui é cada um por si. As pessoas não têm sentimentos por ninguém! Nem o dono de tudo isso aqui comemora seu próprio aniversário. — Lili fala. Seu Josafá foi abandonado por seus pais e o vi chorar uma vez por ninguém lhe parabenizar no dia do seu aniversário. — Nossa que triste! — falo enxugando a lágrima que insiste em cair. Chegamos aonde seu Josafá está, já cantando parabéns com o bolo e velas nas mãos e ele começa a chorar. — Meu Deus, dona Lily e Luna, que surpresa! Lily e eu já estamos chorando e o abraçamos, desejando tudo de bom. Partimos o bolo e como bastante, pois não tinha me alimentado antes de sair de casa, sempre de olho no relógio para chegar a tempo de organizar o escritório do senhor Célio. Ao terminar a nossa festa, subo para o meu local de trabalho e guardo a minha bolsa feliz. Abro a porta do escritório cantarolando uma música, organizo as pastas dos documentos em cima da mesa dele e quando me afasto da mesa ficando de costas, olhando se está tudo no lugar exato, para não receber reclamação, canto mais alto um pouco. Porém, quando me viro, encontro Célio me olhando com a sobrancelha arqueada. Neste momento, só o meu corpo está presente aqui, porque a alma, não sei em que planeta está por vê-lo parado me observando. “Por onde ele entrou?” — Bom dia, senhor Célio? É? — Olho para o relógio a fim de saber se não estou louca, com as horas. — Estava arrumando as coisas, desculpa se o incomodei. Não foi a minha intenção. Cheguei um pouco mais cedo. — Não quero saber das suas desculpas, quero organização e silêncio. Prezo por isso aqui. Peça um café bem forte para mim e trate de sair da minha sala. — Com licença — falo com vergonha. “Meu Deus, que homem grosso!” Fico sempre sem entender o porquê desse homem ser tão amargo, tem tudo aos seus pés e ficou incomodado só porque eu estava cantando. Providencio o seu café e levo até ele. Com todo cuidado, bato à porta e entro colocando o café sobre a mesa. — O senhor precisa de algo mais, senhor Célio? — Terá que me acompanhar a um evento luxuoso nesta semana. Vá vestida com roupa de gala. Quando ele me faz o convite, fico imaginando o vestido luxuoso que terei que comprar, que é muito caro por sinal. Sem contar que nunca fui a um evento como esse. — Senhorita, está me ouvindo? — Sim estou, mas... — Sem mas, senhorita Luna, estou dando uma ordem. — Sim, irei acompanhá-lo — falo confirmando antes que ele derrube o escritório sobre a minha cabeça. — Agora saia — ele ordena. — Ah, já adianto que teremos hora extra. Meneio a cabeça que sim, saindo da sua sala. — Meu Deus, que dia é esse? Esse homem hoje está um verdadeiro capeta — falo sozinha e Eduardo aparece e me olha. — Costuma conversar sozinha, Luna? — Ah, não! Só estou falando o quanto o dia está belo. — Ele sorri e entra na toca do leão. Com esse temperamento, ninguém o aguentará na velhice.Ficar sozinho é a melhor coisa, mas o único amigo que tenho do meu lado só vem à minha casa para me tirar a paciência. Já não bastava o tanto de problemas que tenho, ele veio insinuar que estou interessado na Luna. Era só o que me faltava! Mulheres, como ela, parecem ser inocentes, despertando assim a nossa atenção, mas nada que seja paixão. Luna, então, não tem nada a ver comigo. No fim, tirei da cabeça a mentira que Eduardo inventou e fui tentar dormir. Na manhã seguinte, levantei-me mais cedo do que o habitual e fui diretamente para a empresa antes de todos. Entrei na minha sala de descanso, que fica em um anexo no meu escritório e só eu tenho acesso a ela. Quer dizer, o rapaz da limpeza também tem. Após pegar uns documentos para analisar, percebi que Luna entrou no meu escritório e está organizando a minha mesa enquanto cantarola, parecendo estar muito feliz. Sai devagar do quarto e fiquei observando a sua dedicação. Vi quando ela deu passos para trás, observando se estav
Se Célio não fosse tão perfeccionista até com o seu cabelo, diria que ele está me testando, pois é trabalho por cima de trabalho e isso está me deixando quase sem tempo de cuidar da minha filha. Mas a gratificação é maravilhosa e não posso dizer não a ele. Por isso, quando fui convidada por Célio para trabalhar na sua casa logo a noite, foi algo que eu não esperava, mas fingi naturalidade em tudo, imaginando mil e uma coisas. Porém, ao chegar à sua casa foi um sonho ao ver o jardim perfeito. Acompanhei o senhor Célio que deve ser bipolar. Ele nunca sorri e muito menos sei decifrar o que está sentindo. Meu chefe foi entrando na imensidão da casa luxuosa, até entrarmos no escritório que é bem maior do que o da empresa. Ele saiu me deixando sozinha, enquanto olhava o porta-retratos, que com certeza, se tratava de sua família. Confesso que tenho muita vontade de saber um pouco da sua vida, mas ele tem um bloqueio que me impede de ao menos perguntar se está se sentindo bem. Trab
Estava me arrumando no quarto, quando Ilda, minha empregada, bateu na porta. Quando abri, ela veio me perguntar se Carlos, o meu motorista, poderia buscar Luna. Confirmei que sim, pois não tinha escolha. Eu a tinha convidado, por isso me restava esperar o que ela iria aprontar, já que percebi a sua simplicidade. Ela definitivamente não era uma mulher da sociedade. Vesti o meu smoking, deixei meu cabelo bem alinhado, escolhi o relógio mais valioso que tinha e coloquei no braço. Em seguida, me perfumei e quando desci tomei uma dose de uísque com gelo. Passaram-se alguns minutos até que finalmente Carlos chegou e fui até o carro. Ele abriu a porta do carro para mim, sentei-me do lado de Luna que olhei ela rápido de cima a baixo. Luna estava linda com o vestido decotado, que revelava demais os seus seios, mas não queria que ela percebesse que estava a admirando. Ela me desejou uma boa noite, mas não respondi, já que não poderia criar laços de amizade. Por mais que Luna pensasse o pio
Célio estava completamente raivoso e não sei explicar o motivo de tanto ódio no seu coração. Depois da noite de hoje, percebi que ele não gosta de mim, e se arrependeu de ter me levado como sua acompanhante. Durante o caminho para casa, segurei o troféu que ele não quis saber e ainda dói as palavras que proferiu contra mim. As lágrimas descem e enxugo uma a uma. — Chegamos, senhorita! — Obrigada, Carlos. Tenha uma ótima noite. — Igualmente, senhorita. Desço do carro agradecendo, e ele vai embora quando entro na minha casa. Vou imediatamente ver a minha pequena Elisa que dorme como um anjo no seu quarto, já minha tia dorme na sua cama, ao lado do berço. Elas não sabem o inferno que estou passando, já que quero muito poupá-las de todo o sofrimento do mundo. Ao chegar no meu quarto, choro copiosamente sentada no chão, onde me permito derramar toda lágrima que segurei durante a festa. *** Acordo bem cedo com o barulho da Elisa, que já está acordada. Me levanto, vou até o s
Dormir foi quase impossível depois da noite de ontem, em que pensei em Luna. Além de ser minha secretária, sinto que ela quer se aproximar de mim, para talvez tentar entender o mundo estressado em que vivo. Mas o meu lado frio não deixa. Ao acordar vou para a academia da minha casa, onde extravaso toda a tensão que está sobre os meus ombros. Ao terminar, tomo um banho e visto a minha armadura. É assim que chamo o meu terno. Sigo para o trabalho e ao chegar, vejo Luna com o cabelo trançado e observo que ela é linda. Ao passar do seu lado exijo a sua presença no meu escritório e a primeira coisa que vejo é o troféu numa prateleira. Sorrio ao entrar no escritório devido ao olhar da Luna, que esperava que eu brigasse com ela. Mas não fiz isso. Luna é rápida e pensa em tudo. Falamos somente de trabalho, sobre a minha agenda e ainda tem um almoço de negócios para hoje, que penso em levá-la comigo, mesmo sabendo que não irei precisar dela, só mesmo pela companhia. Assim que ela sa
Célio me viu com Eduardo e se isolou no escritório. Ele quase não me chamou para nada e imagino que talvez não tenha conseguido fechar a negociação ficando triste ou até mesmo estressado. Feliz ele não é. Mesmo ele me maltratando tanto sem razão, não consigo ter ódio dele. Não preciso tocá-lo nem viver sob o mesmo teto que ele para saber que é um homem vazio. Olho para o relógio e já está na hora de ir embora. Vou ao seu escritório e bato levemente à porta. Quando entro, ele está de costas olhando para os carros lá embaixo. — Senhor Célio, já estou indo. Ainda precisará de mim? — Pode ir — ele fala sem ao menos me olhar. Fico preocupada com ele. Será que está se sentindo bem? Vou embora com a cabeça cheia de interrogação, a vinda daquela mulher aqui, se eles dois tem um caso. Durante o caminho para casa, lembro-me dela, Ivana. Ela, sim, é uma mulher com classe e tem o homem que quiser aos seus pés. Talvez os dois tenham brigado, pois Célio estava muito distante. Chegando em
Não consegui tomar o meu café da manhã, pois estava apressado para chegar no trabalho e quando cheguei me deparei mais uma vez com a cena de Eduardo conversando com Luna e Ivana. Aí foi demais para mim. Será que vai ser sempre assim, esses dois de paquerinha? Nem me ver o Eduardo veio e me pergunto se ele ainda trabalha para mim, porque não parece! Entro diretamente no meu escritório e Ivana me acompanha. — O que está acontecendo entre os dois, Ivana? — pergunto, furioso. — Nada de mais, só conversa entre amigos. — Ela se senta. — Estava marcando com Eduardo para sairmos juntos mais tarde, como nos velhos tempos. — Não irei a lugar nenhum — falo nervoso, ficando em pé, virando as costas para ela. — Nem mesmo se a Luna for conosco? — Ivana pergunta sorrindo. Viro-me rapidamente para ela, passando a mão no cabelo. — É sério? A Luna irá? Se você estiver brincando comigo, irei cortar suas regalias. — Ela vai, sim, e está solteira, não gosta de boate. Na verdade, ela nunca f
Após Eduardo sair do escritório do Célio, olho preocupada para a porta fechada, pois sei que aconteceu algo bem pesado entre os dois. — Cuide do Célio que irei conversar com Eduardo. — Ivana sai atrás do Eduardo. Fico me perguntando como irei entrar naquele escritório, sem ele brigar comigo. Célio é muito reservado. Respiro fundo e quando entro, fico horrorizada com o que vejo, Célio está machucado e todos seus pertences estão no chão. O que de fato aconteceu para chegarem às vias de fato? Cuido dele com toda a dedicação, enquanto ele me olha de um jeito diferente. Seu olhar não é o mesmo. Percebo que depois da discussão, ele está diferente e não contesto nada. Desmarco todos os seus compromissos, como ele mandou, e providencio um chá calmante. Notei que ele está muito inquieto e nervoso.Após ele tomar o chá, saio do escritório e cruzo com a Ivana. — Acalmou o Célio, Luna? — Acho que sim. Ele está bem machucado, a mão ferida, mas já fiz um curativo. — Ele não ficou nervoso? Ai