8. LUNA

Após sair da empresa, faço o mesmo trajeto de antes, só que agora pela noite e chego em casa muito cansada. Entro na cozinha e vejo um recado deixado pela minha tia avisando que saiu com Elisa. Aproveito o momento para ir ao banheiro e tomar um belo banho.

Ao sair me olho no espelho e meu semblante cansado diz o quanto foi duro o meu dia. Pergunto a mim mesmo se conseguirei permanecer trabalhando naquele local, pois já vi o quanto o doutor Célio é difícil e bipolar. Mas me lembro do salário e planos não me faltam para esse dinheiro, como me mudar para uma casa maior.

Ouço baterem à porta e já imaginando que seja a minha flor que chegou.

— É você, tia? Pode entrar.

— Sim, minha filha. Olha, Elisa, sua mãe já está em casa. Como foi no trabalho?

— Estou aprendendo bastante, é difícil, mas me saí muito bem. Tia, quando receber o meu primeiro salário, quero alugar uma casa maior, num bairro melhor... Talvez, assim eu consiga logo a guarda da Elisa.

— Filha, você sabe que a avó da Elisa pode aparecer e saber que sua filha lhe deu uma neta. Para onde vocês forem eu irei. Vocês duas são a minha família.

É claro que ela faz parte dos meus planos, não ficaria sem a tia Luísa por

nada.

— É algo inevitável, tia. Queria tanto ganhar a guarda dela, antes que ela

reivindique os seus direitos.

A Mary fugiu do seu estado para viver com o meu irmão e só em pensar nisso já estou com medo.

***

Visto uma roupa confortável e aproveito cada segundo perto da minha pequena, colocando-a para dormir. Em seguida, vou descansar para estar bem psicologicamente amanhã.

Pela madrugada, acordo com o pesadelo que tive, sobre uma mulher vindo buscar Elisa e me levanto rapidamente, indo em direção ao berço. Ela dorme lindamente para o meu alívio, beijo seu rostinho e volto para a cama sem entender se isso realmente é um aviso, enquanto a angústia toma conta de mim.

***

O celular pela manhã toca incessantemente e é Lily me ligando, perguntando se posso ir trabalhar mais cedo. Ela irá organizar uma festa surpresa para o rapaz que trabalha na faxina e teremos que comemorar antes do senhor Célio chegar. Mais uma que tem medo dele.

Me arrumo rapidamente, pois nunca fui convidada para sair nem comemorar quase nada nessa vida e não posso perder essa oportunidade. Não posso desanimar jamais, somente ser positiva.

Após deixar Elisa aos cuidados da tia Luíza, chego ao trabalho e Lily já me espera para irmos até onde seu Josafá está para fazer a surpresa.

— Venha, Luna. Vamos, você leva o bolo e eu os balões — Lily fala animada.

Pelo jeito, encontrei alguém na empresa parecida comigo.

— Pensei que estaria presente mais pessoas. — Falo.

— Aqui é cada um por si. As pessoas não têm sentimentos por ninguém! Nem o dono de tudo isso aqui comemora seu próprio aniversário. — Lili fala.

Seu Josafá foi abandonado por seus pais e o vi chorar uma vez por ninguém lhe parabenizar no dia do seu aniversário.

— Nossa que triste! — falo enxugando a lágrima que insiste em cair.

Chegamos aonde seu Josafá está, já cantando parabéns com o bolo e velas nas mãos e ele começa a chorar.

— Meu Deus, dona Lily e Luna, que surpresa!

Lily e eu já estamos chorando e o abraçamos, desejando tudo de bom.

Partimos o bolo e como bastante, pois não tinha me alimentado antes de sair de casa, sempre de olho no relógio para chegar a tempo de organizar o escritório do senhor Célio.

Ao terminar a nossa festa, subo para o meu local de trabalho e guardo a minha bolsa feliz. Abro a porta do escritório cantarolando uma música, organizo as pastas dos documentos em cima da mesa dele e quando me afasto da mesa ficando de costas, olhando se está tudo no lugar exato, para não receber reclamação, canto mais alto um pouco.

Porém, quando me viro, encontro Célio me olhando com a sobrancelha arqueada.

Neste momento, só o meu corpo está presente aqui, porque a alma, não sei em que planeta está por vê-lo parado me observando. “Por onde ele entrou?”

— Bom dia, senhor Célio? É? — Olho para o relógio a fim de saber se não estou louca, com as horas. — Estava arrumando as coisas, desculpa se o incomodei. Não foi a minha intenção. Cheguei um pouco mais cedo.

— Não quero saber das suas desculpas, quero organização e silêncio. Prezo por isso aqui. Peça um café bem forte para mim e trate de sair da minha sala.

— Com licença — falo com vergonha.

“Meu Deus, que homem grosso!”

Fico sempre sem entender o porquê desse homem ser tão amargo, tem tudo aos seus pés e ficou incomodado só porque eu estava cantando.

Providencio o seu café e levo até ele. Com todo cuidado, bato à porta e entro colocando o café sobre a mesa.

— O senhor precisa de algo mais, senhor Célio?

— Terá que me acompanhar a um evento luxuoso nesta semana. Vá vestida com roupa de gala.

Quando ele me faz o convite, fico imaginando o vestido luxuoso que terei que comprar, que é muito caro por sinal. Sem contar que nunca fui a um evento como esse.

— Senhorita, está me ouvindo?

— Sim estou, mas...

— Sem mas, senhorita Luna, estou dando uma ordem.

— Sim, irei acompanhá-lo — falo confirmando antes que ele derrube o escritório sobre a minha cabeça.

— Agora saia — ele ordena. — Ah, já adianto que teremos hora extra.

Meneio a cabeça que sim, saindo da sua sala.

— Meu Deus, que dia é esse? Esse homem hoje está um verdadeiro capeta — falo sozinha e Eduardo aparece e me olha.

— Costuma conversar sozinha, Luna?

— Ah, não! Só estou falando o quanto o dia está belo. — Ele sorri e entra na toca do leão.

Com esse temperamento, ninguém o aguentará na velhice.

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