Após a reunião, tentei me concentrar no trabalho, respondi e-mails e notei que a minha mesa estava bem arrumada, a agenda organizada. Olhei meus compromissos um a um, atendi alguns telefones, fiz algumas ligações e o investimento de hoje foi xeque-mate.
Mas as palavras do Eduardo voltavam à mente. “Para que tanto estresse se contratei um anjo para te salvar? Devemos bater palmas para Luna, pois se não fosse por ela, você perderia milhões.” A verdade é que se não fosse pela Luna, eu estaria ferrado. Sei que deveria agradecê-la, mas sou orgulhoso demais para me rebaixar a uma assistente que mal chegou. Saí para almoçar, sem falar com ninguém, e quando cheguei ao restaurante encontrei uma antiga amiga, Ivana, que veio rebolando em minha direção com o seu salto alto, assim que me viu. — Como vai, Célio? Qual é o segredo para tanta beleza? Está um gato como sempre — ela falou no meu ouvido pensando que ainda me causava arrepios. — Estou muito bem! Você também está maravilhosa, me acompanha? Ela piscou para mim. — Já estou acompanhada, mas irei visitá-lo para relembrar os nossos velhos tempos, estou com saudade. — Ivana riu. A safada me beijou no rosto e saiu. Ela nunca deixou de ser louca. É incrível como uma criatura dessas nunca criou juízo. Pedi a minha refeição, comi sozinho e em paz, quando terminei tive que comparecer a alguns compromissos que não exigia a presença da Luna e era melhor assim. Quando voltei já era noite e Luna estava tão concentrada na frente do computador, tanto que não me viu chegar. Fiquei parado na sua frente, observando-a. Ela estava com óculos de grau, cabelo levemente ondulado e claro como mel, preso num coque no alto da cabeça, franja que caía sobre as laterais do seu rosto, que parecia ser tão macio. Mãos delicadas teclando rapidamente como se tivesse pressa, suas unhas não têm esmalte vermelho e roupas que denunciam que é uma mulher simples. Luna era toda natural, parecendo ser uma garota inocente. Enfim, ela me notou na sua frente e para disfarçar a minha idiotice de estar feito um bobo, pedi uns documentos impressos. Nem eu mesmo entendi o porquê de ficar tanto tempo admirando uma mulher comum. Luna é muito diferente das mulheres que eu costumava sair. Ela é linda do seu jeito quando a mesma entrou no meu escritório, tratei de falar logo que ela seria a minha secretária e assistente. Ela ainda quis falar algo, mas não deixei. Sei que as mulheres adoram impor as suas vontades e, a mim, cabe não ceder. Mesmo Luna concordando com tudo, ela saiu do meu escritório em silêncio. Vi que terminou todo o seu trabalho e quando saí para ir embora, ela não estava mais em sua mesa. Já na rua, decido dar uma volta pela cidade e vejo casais de mãos dadas andando tranquilamente, o que desperta a minha curiosidade de como seria sentir o verdadeiro amor. Vou para casa, lembrando-me que a minha maior alegria era voltar para casa e ter os meus pais me esperando junto a Laerte. Logo nos juntávamos ao redor da mesa durante o jantar. Quando passo pelos portões da minha casa, avisto o carro do Eduardo. — Estava te esperando, meu amigo! —Eduardo, como sempre, é imprevisível. — O que quer? Como viu, hoje o dia não foi fácil para mim. Deveria estar namorando, curtindo uma bela mulher. Adivinha quem vi hoje? A Ivana e ela está sensacional. — Falo. — Estou querendo conversar. Estava querendo sair e vim para cá. — O que aconteceu? Ainda bem que veio me fazer companhia, afinal somos quase irmãos. Logo, nos sentamos no sofá, ele me olha e o conheço tanto que sei quando quer desabafar. — Conheci uma garota. Ela é diferente, especial, meiga e viramos amigos. Estou a conhecendo melhor. Ela trabalha com causas sociais. — Conheceu onde? Você apaixonado por uma garota? Não estou te reconhecendo, Eduardo. — Sirvo uma bebida a ele, que passa a mão no cabelo. — Célio, não é isso. Só estou dizendo que fiquei encantado, porque ela é diferente das mulheres que conhecemos. — Sei, não vai me dizer que a garota é a Luna, a minha assistente — falo alto, esperando a resposta. — Lógico que não. Está louco, Célio? É um pouco parecida com ela, mas não é a Luna. Não se preocupe que com a Luna não mexerei. — Ele ergue a sobrancelha. O safado está debochando de mim. — Está insinuando algo, Eduardo? — Arqueio a sobrancelha esperando sua fala. — Pelo tom da sua voz, sim! Não estou entendendo tanta preocupação. Depois disso, expulso Eduardo da minha casa, afinal fico furioso com as insinuações dele. Ele é muito corajoso de vir aqui me encher o saco, isso sim. Custo a dormir, tanto que preciso beber um pouco para ver se consigo.Após sair da empresa, faço o mesmo trajeto de antes, só que agora pela noite e chego em casa muito cansada. Entro na cozinha e vejo um recado deixado pela minha tia avisando que saiu com Elisa. Aproveito o momento para ir ao banheiro e tomar um belo banho. Ao sair me olho no espelho e meu semblante cansado diz o quanto foi duro o meu dia. Pergunto a mim mesmo se conseguirei permanecer trabalhando naquele local, pois já vi o quanto o doutor Célio é difícil e bipolar. Mas me lembro do salário e planos não me faltam para esse dinheiro, como me mudar para uma casa maior. Ouço baterem à porta e já imaginando que seja a minha flor que chegou. — É você, tia? Pode entrar. — Sim, minha filha. Olha, Elisa, sua mãe já está em casa. Como foi no trabalho? — Estou aprendendo bastante, é difícil, mas me saí muito bem. Tia, quando receber o meu primeiro salário, quero alugar uma casa maior, num bairro melhor... Talvez, assim eu consiga logo a guarda da Elisa. — Filha, você sabe que a avó da
Ficar sozinho é a melhor coisa, mas o único amigo que tenho do meu lado só vem à minha casa para me tirar a paciência. Já não bastava o tanto de problemas que tenho, ele veio insinuar que estou interessado na Luna. Era só o que me faltava! Mulheres, como ela, parecem ser inocentes, despertando assim a nossa atenção, mas nada que seja paixão. Luna, então, não tem nada a ver comigo. No fim, tirei da cabeça a mentira que Eduardo inventou e fui tentar dormir. Na manhã seguinte, levantei-me mais cedo do que o habitual e fui diretamente para a empresa antes de todos. Entrei na minha sala de descanso, que fica em um anexo no meu escritório e só eu tenho acesso a ela. Quer dizer, o rapaz da limpeza também tem. Após pegar uns documentos para analisar, percebi que Luna entrou no meu escritório e está organizando a minha mesa enquanto cantarola, parecendo estar muito feliz. Sai devagar do quarto e fiquei observando a sua dedicação. Vi quando ela deu passos para trás, observando se estav
Se Célio não fosse tão perfeccionista até com o seu cabelo, diria que ele está me testando, pois é trabalho por cima de trabalho e isso está me deixando quase sem tempo de cuidar da minha filha. Mas a gratificação é maravilhosa e não posso dizer não a ele. Por isso, quando fui convidada por Célio para trabalhar na sua casa logo a noite, foi algo que eu não esperava, mas fingi naturalidade em tudo, imaginando mil e uma coisas. Porém, ao chegar à sua casa foi um sonho ao ver o jardim perfeito. Acompanhei o senhor Célio que deve ser bipolar. Ele nunca sorri e muito menos sei decifrar o que está sentindo. Meu chefe foi entrando na imensidão da casa luxuosa, até entrarmos no escritório que é bem maior do que o da empresa. Ele saiu me deixando sozinha, enquanto olhava o porta-retratos, que com certeza, se tratava de sua família. Confesso que tenho muita vontade de saber um pouco da sua vida, mas ele tem um bloqueio que me impede de ao menos perguntar se está se sentindo bem. Trab
Estava me arrumando no quarto, quando Ilda, minha empregada, bateu na porta. Quando abri, ela veio me perguntar se Carlos, o meu motorista, poderia buscar Luna. Confirmei que sim, pois não tinha escolha. Eu a tinha convidado, por isso me restava esperar o que ela iria aprontar, já que percebi a sua simplicidade. Ela definitivamente não era uma mulher da sociedade. Vesti o meu smoking, deixei meu cabelo bem alinhado, escolhi o relógio mais valioso que tinha e coloquei no braço. Em seguida, me perfumei e quando desci tomei uma dose de uísque com gelo. Passaram-se alguns minutos até que finalmente Carlos chegou e fui até o carro. Ele abriu a porta do carro para mim, sentei-me do lado de Luna que olhei ela rápido de cima a baixo. Luna estava linda com o vestido decotado, que revelava demais os seus seios, mas não queria que ela percebesse que estava a admirando. Ela me desejou uma boa noite, mas não respondi, já que não poderia criar laços de amizade. Por mais que Luna pensasse o pio
Célio estava completamente raivoso e não sei explicar o motivo de tanto ódio no seu coração. Depois da noite de hoje, percebi que ele não gosta de mim, e se arrependeu de ter me levado como sua acompanhante. Durante o caminho para casa, segurei o troféu que ele não quis saber e ainda dói as palavras que proferiu contra mim. As lágrimas descem e enxugo uma a uma. — Chegamos, senhorita! — Obrigada, Carlos. Tenha uma ótima noite. — Igualmente, senhorita. Desço do carro agradecendo, e ele vai embora quando entro na minha casa. Vou imediatamente ver a minha pequena Elisa que dorme como um anjo no seu quarto, já minha tia dorme na sua cama, ao lado do berço. Elas não sabem o inferno que estou passando, já que quero muito poupá-las de todo o sofrimento do mundo. Ao chegar no meu quarto, choro copiosamente sentada no chão, onde me permito derramar toda lágrima que segurei durante a festa. *** Acordo bem cedo com o barulho da Elisa, que já está acordada. Me levanto, vou até o s
Dormir foi quase impossível depois da noite de ontem, em que pensei em Luna. Além de ser minha secretária, sinto que ela quer se aproximar de mim, para talvez tentar entender o mundo estressado em que vivo. Mas o meu lado frio não deixa. Ao acordar vou para a academia da minha casa, onde extravaso toda a tensão que está sobre os meus ombros. Ao terminar, tomo um banho e visto a minha armadura. É assim que chamo o meu terno. Sigo para o trabalho e ao chegar, vejo Luna com o cabelo trançado e observo que ela é linda. Ao passar do seu lado exijo a sua presença no meu escritório e a primeira coisa que vejo é o troféu numa prateleira. Sorrio ao entrar no escritório devido ao olhar da Luna, que esperava que eu brigasse com ela. Mas não fiz isso. Luna é rápida e pensa em tudo. Falamos somente de trabalho, sobre a minha agenda e ainda tem um almoço de negócios para hoje, que penso em levá-la comigo, mesmo sabendo que não irei precisar dela, só mesmo pela companhia. Assim que ela sa
Célio me viu com Eduardo e se isolou no escritório. Ele quase não me chamou para nada e imagino que talvez não tenha conseguido fechar a negociação ficando triste ou até mesmo estressado. Feliz ele não é. Mesmo ele me maltratando tanto sem razão, não consigo ter ódio dele. Não preciso tocá-lo nem viver sob o mesmo teto que ele para saber que é um homem vazio. Olho para o relógio e já está na hora de ir embora. Vou ao seu escritório e bato levemente à porta. Quando entro, ele está de costas olhando para os carros lá embaixo. — Senhor Célio, já estou indo. Ainda precisará de mim? — Pode ir — ele fala sem ao menos me olhar. Fico preocupada com ele. Será que está se sentindo bem? Vou embora com a cabeça cheia de interrogação, a vinda daquela mulher aqui, se eles dois tem um caso. Durante o caminho para casa, lembro-me dela, Ivana. Ela, sim, é uma mulher com classe e tem o homem que quiser aos seus pés. Talvez os dois tenham brigado, pois Célio estava muito distante. Chegando em
Não consegui tomar o meu café da manhã, pois estava apressado para chegar no trabalho e quando cheguei me deparei mais uma vez com a cena de Eduardo conversando com Luna e Ivana. Aí foi demais para mim. Será que vai ser sempre assim, esses dois de paquerinha? Nem me ver o Eduardo veio e me pergunto se ele ainda trabalha para mim, porque não parece! Entro diretamente no meu escritório e Ivana me acompanha. — O que está acontecendo entre os dois, Ivana? — pergunto, furioso. — Nada de mais, só conversa entre amigos. — Ela se senta. — Estava marcando com Eduardo para sairmos juntos mais tarde, como nos velhos tempos. — Não irei a lugar nenhum — falo nervoso, ficando em pé, virando as costas para ela. — Nem mesmo se a Luna for conosco? — Ivana pergunta sorrindo. Viro-me rapidamente para ela, passando a mão no cabelo. — É sério? A Luna irá? Se você estiver brincando comigo, irei cortar suas regalias. — Ela vai, sim, e está solteira, não gosta de boate. Na verdade, ela nunca f