Depois que recebi a ligação do senhor Eduardo fui estudar sobre a empresa que irei para a entrevista, um verdadeiro império conduzido por dois irmãos. Procuro uma roupa adequada para a entrevista, afinal não é qualquer empresa e tenho que estar bem-vestida.
Mas tenho que ter foco, não posso parecer insegura. Segurança é o segredo para conquistar qualquer vaga. — Elisa, meu amor, amanhã será um grande dia. É tudo ou nada para mim ou, aliás, nós. Porque esse emprego será o caminho para conseguir de uma vez por todas a sua guarda. Ela balbucia uns sons e alguém b**e à porta. Quando abro, vejo que é a tia Luísa trazendo o jantar. Ela sempre faz o que pode por mim. Não esquecerei jamais o que ela faz por mim e por Elisa, sem pedir nada em troca. — Minha filha, parece estar contente? — Sim, estou. Amanhã irei a uma entrevista de emprego e se eu for contratada, as chances de ganhar a guarda da Elisa são maiores. É uma grande empresa, de renome e ganharei melhor. — Vai dar tudo certo, você irá conseguir, então ninguém, além de você, poderá ficar do lado dessa criança. Nos despedimos e vou jantar, após colocar minha pequena Elisa para dormir. Deitada na cama, peço em oração pelo amanhã, até que adormeço. *** Acordo o mais cedo possível, organizo mais ou menos a casa, preparo o leite da bebê, e vou me vestir. Olho-me no espelho e até que estou apresentável, afinal o menos é mais. Após deixar Elisa na casa da tia Luísa me apresso, pois não posso me atrasar. Ao chegar na frente do gigantesco prédio, olho ao meu redor de tão boba que estou. Quando entro, vou diretamente na recepção. — Bom dia, posso ajudá-la em algo? — A recepcionista me olha e sorri. — Sim, vim para uma entrevista de emprego. — Ah, é com o senhor Eduardo. Por favor, siga para o elevador no sétimo andar. Ah e boa sorte, vai precisar! — Obrigada — falo sem graça, pois não sei ao certo se o desejo de boa sorte foi um aviso. Quando entro no elevador, observo que cheguei na hora certa. Outra recepcionista me recebe, pedindo que eu aguarde um pouco. Vejo um homem alto entrar apressadamente em uma sala e em seguida sou chamada. Sinto meu coração bater acelerado, como se fosse pular pela boca. Respiro fundo e vou até a sala. Bato à porta e ele autoriza minha entrada. — Você é Luna Marins? — Sim, sou a Luna. — Sou o Eduardo, pode se sentar e vamos começar. Me sento e olho para ele. — Analisei seu currículo, é o perfil que procuramos. Mas para trabalhar com Célio Valença precisarei fazer umas perguntas. Ele é muito exigente e uma dessas exigências é saber se você tem filhos. Fico sem entender nada ou entendo tudo, quem tem filhos jamais conquistará essa vaga de emprego. Penso em Elisa. Nunca gostei de mentir, mas hoje será necessário pela guarda da minha sobrinha. — Senhorita, está tudo bem? Pode responder? — Não tenho filhos — minto. — Entendo agora, o boa sorte de uma das secretárias daqui. — Luna, buscamos para esse cargo uma pessoa com o seu currículo, mas que seja paciente, educada, atenciosa e bem atenta para não cometer erros. O salário é dos melhores, pois pagamos até mais do que é para ser. Você está contratada. Sei que tem algo errado nessa história. Eles necessitam de alguém para trabalhar em uma empresa desse porte e não contrata mulheres com filhos? Isso é um absurdo. — É, obrigada. — E senhorita Luna, me acompanhe, que vou apresentar a sua parceira de trabalho e lá aprenderá como funciona tudo. Acompanho o homem e seguimos para o próximo andar. O elevador se abre e encontramos a secretária em prantos. Fico sem entender nada e pergunto o que ela estava passando. — O que aconteceu, moça? Por que chora assim? — Fui despedida por ser mãe, por faltar um dia porque meu filho está doente — ela fala chorando bastante. Olho para o tal do Eduardo que dá de ombros, dou um abraço nela e ele me chama para entrar na bendita sala do Célio Valença. Admito que estou horrorizada com tudo que estou presenciando aqui. Mas ao estar frente a frente com o meu novo chefe, só tenho uma certeza, que a minha vida não será fácil aqui. O que faz um homem tão lindo ser tão ruim de coração e de alma? Seus olhos claros não têm brilho e sim inquietação, não há paz neles. Seu cabelo castanho-escuro altamente arrumado, rosto e corpo perfeito. Qualquer mulher se apaixonaria pela sua beleza, mas o seu jeito frio de ser esconde o que há de mais belo numa pessoa, que é o sorriso. A preocupação do senhor Célio é saber se sei as normas da empresa e em nenhum momento me perguntaram se iria dar contas das funções no escritório, mas darei conta de tudo por aqui.Após contratar uma assistente, perco a secretária e após conhecer Luna, a nova assistente, fiquei desconfiado com tanta segurança que ela transmitiu. Olho ao meu redor, olhando para a bagunça que minha mesa se encontra. Trabalho é o que não falta aqui. Começo a separar o que ela fará amanhã, afinal seu teste será pesado. Peço um café preto e amargo, e bebo apressado. O telefone toca a toda hora problemas, reuniões e compromissos... Laerte está vivendo sua aventura com o seu amor à primeira vista, já eu estou afundado em problemas. Estou me sentindo extremamente cansado! Largo todo o trabalho sobre a mesa, afinal não dou conta de todo esse trabalho sozinho. No caminho para casa, resolvo jantar sozinho, mas Eduardo liga perguntando onde estou e vem ao meu encontro. — Boa noite, Célio, que cara é essa? — A mesma de sempre! — respondo. — Pensei que estava feliz, contratamos a sua assistente. — Não crio expectativas, principalmente, em mulheres. Quem me garante que ela aguen
Após sair da entrevista um tanto quanto perturbada, fui encarar meu próximo desafio que era pedir demissão do meu antigo emprego. Não foi fácil sair e me despedir de todos assim de hora para outra, mas era necessário e urgente, afinal era a vida de uma criança que estava em jogo e não poderia mais pensar apenas em mim. Todos do escritório ficaram surpresos e curiosos para saber onde seria o meu novo trabalho, mas deixei o suspense no ar e fui embora o mais rápido possível para contar a novidade para a minha tia Luísa que já estava me esperando. — Luna, ainda bem que chegou, filha! Enquanto almoçamos, conte como foi a entrevista. — Tia Luísa fala e dei um abraço nela, que retribuiu. — Está desanimada. Não vai dizer que te maltrataram nessa entrevista de emprego. — Deu tudo certo, inclusive já começo amanhã. Vou passar por um período de experiência. Tive que mentir dizendo que não tenho filhos, o dono exige alguém que não os tenha. Inclusive, presenciei uma demissão por causa di
Após a reunião, tentei me concentrar no trabalho, respondi e-mails e notei que a minha mesa estava bem arrumada, a agenda organizada. Olhei meus compromissos um a um, atendi alguns telefones, fiz algumas ligações e o investimento de hoje foi xeque-mate. Mas as palavras do Eduardo voltavam à mente. “Para que tanto estresse se contratei um anjo para te salvar? Devemos bater palmas para Luna, pois se não fosse por ela, você perderia milhões.” A verdade é que se não fosse pela Luna, eu estaria ferrado. Sei que deveria agradecê-la, mas sou orgulhoso demais para me rebaixar a uma assistente que mal chegou. Saí para almoçar, sem falar com ninguém, e quando cheguei ao restaurante encontrei uma antiga amiga, Ivana, que veio rebolando em minha direção com o seu salto alto, assim que me viu. — Como vai, Célio? Qual é o segredo para tanta beleza? Está um gato como sempre — ela falou no meu ouvido pensando que ainda me causava arrepios. — Estou muito bem! Você também está maravilhosa, me
Após sair da empresa, faço o mesmo trajeto de antes, só que agora pela noite e chego em casa muito cansada. Entro na cozinha e vejo um recado deixado pela minha tia avisando que saiu com Elisa. Aproveito o momento para ir ao banheiro e tomar um belo banho. Ao sair me olho no espelho e meu semblante cansado diz o quanto foi duro o meu dia. Pergunto a mim mesmo se conseguirei permanecer trabalhando naquele local, pois já vi o quanto o doutor Célio é difícil e bipolar. Mas me lembro do salário e planos não me faltam para esse dinheiro, como me mudar para uma casa maior. Ouço baterem à porta e já imaginando que seja a minha flor que chegou. — É você, tia? Pode entrar. — Sim, minha filha. Olha, Elisa, sua mãe já está em casa. Como foi no trabalho? — Estou aprendendo bastante, é difícil, mas me saí muito bem. Tia, quando receber o meu primeiro salário, quero alugar uma casa maior, num bairro melhor... Talvez, assim eu consiga logo a guarda da Elisa. — Filha, você sabe que a avó da
Ficar sozinho é a melhor coisa, mas o único amigo que tenho do meu lado só vem à minha casa para me tirar a paciência. Já não bastava o tanto de problemas que tenho, ele veio insinuar que estou interessado na Luna. Era só o que me faltava! Mulheres, como ela, parecem ser inocentes, despertando assim a nossa atenção, mas nada que seja paixão. Luna, então, não tem nada a ver comigo. No fim, tirei da cabeça a mentira que Eduardo inventou e fui tentar dormir. Na manhã seguinte, levantei-me mais cedo do que o habitual e fui diretamente para a empresa antes de todos. Entrei na minha sala de descanso, que fica em um anexo no meu escritório e só eu tenho acesso a ela. Quer dizer, o rapaz da limpeza também tem. Após pegar uns documentos para analisar, percebi que Luna entrou no meu escritório e está organizando a minha mesa enquanto cantarola, parecendo estar muito feliz. Sai devagar do quarto e fiquei observando a sua dedicação. Vi quando ela deu passos para trás, observando se estav
Se Célio não fosse tão perfeccionista até com o seu cabelo, diria que ele está me testando, pois é trabalho por cima de trabalho e isso está me deixando quase sem tempo de cuidar da minha filha. Mas a gratificação é maravilhosa e não posso dizer não a ele. Por isso, quando fui convidada por Célio para trabalhar na sua casa logo a noite, foi algo que eu não esperava, mas fingi naturalidade em tudo, imaginando mil e uma coisas. Porém, ao chegar à sua casa foi um sonho ao ver o jardim perfeito. Acompanhei o senhor Célio que deve ser bipolar. Ele nunca sorri e muito menos sei decifrar o que está sentindo. Meu chefe foi entrando na imensidão da casa luxuosa, até entrarmos no escritório que é bem maior do que o da empresa. Ele saiu me deixando sozinha, enquanto olhava o porta-retratos, que com certeza, se tratava de sua família. Confesso que tenho muita vontade de saber um pouco da sua vida, mas ele tem um bloqueio que me impede de ao menos perguntar se está se sentindo bem. Trab
Estava me arrumando no quarto, quando Ilda, minha empregada, bateu na porta. Quando abri, ela veio me perguntar se Carlos, o meu motorista, poderia buscar Luna. Confirmei que sim, pois não tinha escolha. Eu a tinha convidado, por isso me restava esperar o que ela iria aprontar, já que percebi a sua simplicidade. Ela definitivamente não era uma mulher da sociedade. Vesti o meu smoking, deixei meu cabelo bem alinhado, escolhi o relógio mais valioso que tinha e coloquei no braço. Em seguida, me perfumei e quando desci tomei uma dose de uísque com gelo. Passaram-se alguns minutos até que finalmente Carlos chegou e fui até o carro. Ele abriu a porta do carro para mim, sentei-me do lado de Luna que olhei ela rápido de cima a baixo. Luna estava linda com o vestido decotado, que revelava demais os seus seios, mas não queria que ela percebesse que estava a admirando. Ela me desejou uma boa noite, mas não respondi, já que não poderia criar laços de amizade. Por mais que Luna pensasse o pio
Célio estava completamente raivoso e não sei explicar o motivo de tanto ódio no seu coração. Depois da noite de hoje, percebi que ele não gosta de mim, e se arrependeu de ter me levado como sua acompanhante. Durante o caminho para casa, segurei o troféu que ele não quis saber e ainda dói as palavras que proferiu contra mim. As lágrimas descem e enxugo uma a uma. — Chegamos, senhorita! — Obrigada, Carlos. Tenha uma ótima noite. — Igualmente, senhorita. Desço do carro agradecendo, e ele vai embora quando entro na minha casa. Vou imediatamente ver a minha pequena Elisa que dorme como um anjo no seu quarto, já minha tia dorme na sua cama, ao lado do berço. Elas não sabem o inferno que estou passando, já que quero muito poupá-las de todo o sofrimento do mundo. Ao chegar no meu quarto, choro copiosamente sentada no chão, onde me permito derramar toda lágrima que segurei durante a festa. *** Acordo bem cedo com o barulho da Elisa, que já está acordada. Me levanto, vou até o s