Logo que faço a curva, avisto Edward, o mordomo. Ele está conosco há gerações, uma peça fundamental na engrenagem do castelo. Ao lado dele, vejo nosso carro estacionado em frente à entrada principal. O motorista se apressa para abrir a porta. Todos os empregados são peças essenciais para o funcionamento impecável do castelo, e faço questão de que sejam eficientes. Roupas bem alinhadas, sapatos brilhando—cada detalhe reflete a ordem que exijo.
Então, do carro, desce uma mulher. A babá. Não há dúvidas.
Deus! Seu vestuário austero me faz pensar que ela cogitou ser freira ou estudou em um colégio rigorosamente tradicional. Antes mesmo que possa cumprimentar Edward, estaciono meu carro atrás e saio.
Ela vira a cabeça em minha direção, e sou literalmente nocauteado. O rosto mais perfeito e angelical que já vi. Um calor súbito se espalha pelo meu corpo.
Nenhuma maquiagem, mas quem precisaria com um rosto como esse? Percebo então que meu som ainda está ligado e o desligo imediatamente. Me aproximo, incapaz de desviar os olhos.
Como pode alguém com um rosto tão etéreo vestir roupas tão severas?
Isso apenas aguça ainda mais minha curiosidade. O mistério dela me atrai mais do que qualquer vestimenta provocante.
Caminho na direção dela como um lobo que fareja sua presa. Passo a mão pelos cabelos, ajeitando qualquer fio fora do lugar.
—Olá, você deve ser a babá que contratamos? Natália...
Ela assente, visivelmente nervosa.
—Natália Noam, vossa alteza. — Sua voz é firme, mas a postura é servil.
Eu rio.
—Sem essa de "vossa alteza", por favor. Pode me chamar de Luke. Prazer em conhecê-la. — Estendo a mão, e quando ela me oferece a sua, inclino-me e deposito um beijo em sua palma fria.
O perfume dela me envolve. Gardênias. Intenso, marcante e, ao mesmo tempo, delicado.
Ela logo retira a mão.
—O prazer é todo meu. — Faz uma reverência discreta e me encara novamente.
Sim, há algo enigmático nela. Seu nervosismo é perceptível, mas seu rosto permanece uma máscara indecifrável.
Alguns empregados surgem para levar sua bagagem.
Apenas uma mala? Interessante. A maioria das mulheres carrega o guarda-roupa inteiro.
—Edward, peça a Tereza que prepare uma mesa com um café reforçado para mim e para a senhorita.
Meu mordomo se inclina.
—Sim, senhor.
Volto a encará-la, intrigado. Ela aperta o casaco contra o corpo, e só então percebo o frio cortante.
—Bem, senhorita Noam, vamos entrar. O frio está intenso.
Ela assente, e, num gesto instintivo, toco seu cotovelo para guiá-la. Solto-a logo em seguida, e juntos subimos os degraus que nos levam ao majestoso hall do castelo. O chão brilha sob a luz dourada, com grandes placas polidas reluzindo sob o brilho das lâmpadas. As paredes bege claro são adornadas com detalhes dourados, dando ao ambiente um ar grandioso.
Entramos na sala principal. O ambiente é aquecido e aconchegante. À nossa frente, uma enorme escada de madeira escura, coberta por um carpete vermelho luxuoso. O corrimão esculpido, e ao final dele, a imagem detalhada de um dragão. No centro, um lustre majestoso ilumina tudo com esplendor.
Então, vejo minha pequena. Catarina está nos braços de Rosa.
Meu coração aquece.
Sorrio ao ver minha menina e caminho até ela, pegando-a nos braços. O cheirinho do sabonete infantil me envolve quando a aperto contra mim.
Natália
Assim que desço do carro, ouço a música alta vinda da Ferrari preta que estacionou atrás do carro do motorista. Pouco tempo depois, a música é interrompida e ele sai.
Ryan Luke.
Seus olhos encontram os meus, e meu corpo inteiro reage. Ele passa a mão pelos cabelos escuros e, por um segundo, minha mente flutua, atordoada. Mas meu outro eu desperta e luta contra a impressão esmagadora de sua masculinidade. Examino-o, buscando um defeito, qualquer imperfeição.
Nada.
A barba é perfeitamente desenhada, sem um único fio fora do lugar. A pele bronzeada na medida certa. Ele deve praticar exercícios ao ar livre, talvez nadar.
Deus! Seus lábios são absurdamente sensuais.
Ele passa a mão pelos cabelos novamente e exibe um sorriso que revela dentes brancos e impecáveis. Esqueço-me de continuar analisando-o. Meu olhar percorre seu rosto.
Nariz reto, aristocrático. Sobrancelhas bem desenhadas, realçando ainda mais sua beleza. Olhos escuros, intensos, emoldurados por cílios longos que qualquer mulher invejaria.
Dentro do castelo, ao seu lado, ainda não consigo absorver o ambiente ao redor. Apenas observo a maneira como ele segura a filha nos braços, o carinho evidente no beijo que deposita nela.
Ele se vira para mim, e finalmente reparo melhor em seu físico.
Preciso admitir: esse homem tem um porte impressionante. Forte como um pugilista.
Minha respiração falha, e luto para controlar meu nervosismo.
Então, percebo seu olhar deslizando sobre meu corpo. Meu vestuário austero, que antes parecia adequado, de repente me incomoda.
Deus! No que estou pensando?
Endireito a postura.
Seja forte! Você está vestida como uma profissional séria.
Esse homem é um lobo solitário. Ele é realeza. Você, uma simples plebeia!
Desvio minha atenção para a criança. Uma linda menininha de cabelos negros como os do pai, olhos grandes e castanhos, pele alva.
Luke
Com Catarina nos braços, passo os olhos por Natália. O único pedaço de pele que vejo é uma parte do colo, revelado pelo decote discreto da blusa branca. O casaco cinza grosso e a saia da mesma cor a deixam pouco feminina. As únicas partes expostas são suas canelas, e o sapato negro fechado é a única peça elegante de seu traje.
—Natália, este é meu anjinho, Catarina.
Ela sorri para minha filha, e prendo o ar diante de tanta beleza.
—Oi, Catarina. — Sua voz é suave.
Forço-me a respirar novamente. A maneira como ela sorri me atinge de forma inesperada.
—Catarina, esta é Natália.
Minha filha a observa, curiosa.
—Posso pegá-la? — Ela pergunta.
Sorrio.
—Claro. Vamos ver se ela estranha você...
Para minha surpresa, Catarina vai para os braços dela sem hesitação.
—Oi, bebê. Que lindo seu vestido...—Natália murmura, alisando o tecido vermelho.
Natália
Rosa surge na sala. E abre o sorriso quando me vê. Ela é minha madrinha, era amiga de minha mãe. Uma amizade que durou anos até a morte dela. Rosa sempre nos visitou quando ia para a cidade fazer compras para o pai do duque.
Então minha mãe morreu e pouco tempo depois o Duque Crawford, pai de Luke. Rosa nunca deixou de me visitar, mesmo com a ausência de minha mãe. Foi ela que me arrumou esse emprego. —Natália, minha querida. —Ela me abraça. —Você viu que lindo o anjinho dessa casa? Eu abro meu sorriso. —Sim, ela realmente é um doce de bebê. —Digo, olhando para a menininha de cabelos curtos. —Rosa, fique com Catarina um momento. Natália tomará café comigo, quero acertar alguns detalhes. —Está certo. Vem Catarina. Vem com a Rosa.LukeQuando vejo Catarina se afastando com minha filha, um aperto no peito me invade. Catarina não tem uma mãe para chamar de sua, e isso dói mais do que deveria. Eu me vejo nela, e a lembrança de minha própria infância se torna vívida. Meu pai, após perder minha mãe, nunca mais se casou, e Rosa, uma mulher que sempre se manteve discreta, acabou assumindo o papel de figura materna em minha vida.Filho único de um homem que envelhecia com o peso de suas responsabilidades, cresci cercado por adultos e obrigações. Minha infância foi marcada por aulas particulares, e a escola, que só comecei a frequentar aos dez anos, foi um alívio distante, pois minha vida se passava em um internato, onde só voltava para casa nas férias para ver meu pai.Agora, ao olhar para Catarina, percebo que estou oferecendo a ela a mesma vida solitária que um dia critiquei em meu próprio passado.A responsabilidade me encontrou cedo demais. Quando meu pai faleceu, aos 23 anos, o peso do título caiu sobre meus ombro
NatáliaPassei o dia com Catarina, e Luke não sumiu como eu imaginava que faria. Ele veio nos visitar várias vezes, como se não quisesse mostrar interesse, mas estava ali, sempre presente. Aparecia em momentos distintos: quando eu dava banho, quando distraía a pequena, quando a alimentava no jantar.Em cada um desses momentos, ele se mostrava carinhoso. Beijos na testa de Catarina, conversas suaves, como se quisesse estar perto dela sem fazer alarde. Catarina, apesar de não ser muito verbal para a sua idade, parecia se divertir com ele. E eu, claro, não me preocupava. Sei que cada criança se desenvolve no seu próprio ritmo. Mas uma coisa é certa: Catarina é incrivelmente observadora. Seus olhinhos atentos, fixos nas pessoas ao redor, não deixam nada escapar.Depois de colocá-la para dormir, deito-me na enorme cama ao lado dela. Não preciso dizer que o quarto é deslumbrante. A mobília, apesar de ser antiga, do século passado, me transporta para um cenário de luxo imersivo. Sinto como s
NatáliaÉ muito cedo para me deitar, percebo sem sono. Ligo a babá eletrônica e decido ir até um jardim exótico que vi no caminho, quando Rosa me mostrou o quarto. É um espaço fascinante, repleto de cercas vivas que formam um vasto e intricado labirinto.Ao pisar no terraço, estremeço. Para meu azar, o Duque está ali, encostado em uma das colunas, fumando, com um semblante contemplativo.Paro imediatamente ao vê-lo. Ele percebe minha presença e se vira. Um sorriso pequeno surge em seus lábios enquanto apaga o cigarro em um cinzeiro dourado, que mais parece um porta-joias, e o fecha com calma.— Ela dormiu? — ele pergunta.Assinto e mostro a babá eletrônica.— Caso ela acorde.Ele sorri, e me sinto como uma presa diante de um predador.— E então? Está gostando de trabalhar aqui?Respiro fundo.— Sim, sua filha é encantadora.Ele sorri mais abertamente.— Isso ela é mesmo. Encantadora de corações. Sem dúvida, a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Embora não tenha vindo de uma rela
Luke sorri e enfia seu braço dentro do meu, fazendo-me andar com ele em direção à sala de jantar. Eu estremeço com o calor que emana dele, e o cheiro maravilhoso que me envolve.— Deus! Kate me estressa. Ela é ótima, muito competente, mas tudo tem que ser para já. Dormiu bem?Eu me desvencilho dos braços dele, fazendo-o sorrir.— Sim, obrigada.— Não estranhou a cama? O lugar?— Não, eu estava cansada. Dormi como uma pedra.— Então meu anjinho não acordou a noite.— Não, ela dormiu bem. Aliás, quando eu saí, ela ainda estava dormindo.— Isso ela não puxou a mim. Desde pequeno, costumo acordar cedo. Agora adulto, costumo me exercitar. Hoje já dei uma volta no castelo, você acredita?Eu arregalo os olhos com as falas dele.— Que disposição! Não estava frio?— Estava e com um nevoeiro danado, mas fui bem agasalhado. E conheço bem o terreno. Como a palma da minha mão. Outra pessoa pode quebrar a perna correndo, já que não dá para ver onde pisa por causa das nuvens baixas.Eu apenas relanc
NatáliaOuço a vozinha de Catarina chamando.—Pode deixar que eu vou lá. —Rose diz.—Imagina Rose, eu já tomei café.—Deixe Rose ir, eu preciso conversar com você. —Luke diz entrando na cozinha.O cenho de Rose franze, acho que ela está tentando entender o que Luke quer falar comigo. Conhecendo o patrão, ela não gosta nada disso. Contrariada, deixa a cozinha, Tereza sai também, nos dando privacidade.Luke puxa a cadeira e se senta de frente para mim.—Não vou poder ficar em Cornualha, terei que voltar para Londres.—Está certo. —Digo com um sorriso, me sentindo até aliviada por isso. Ficarei sossegada cuidando da filha dele.—Você e Catarina irão.Eu quase engasgo.—O quê?Ele respira fundo.—Eu preciso ganhar essa campanha e ao mesmo tempo, estou me sentindo muito distante da minha filha.Ele ajeita o relógio de ouro em seu pulso. Noto então seu anel de sinete com o emblema da família igualmente de ouro.Desvio meus olhos dele, e fico sem falas no primeiro momento, fito a xícara fugi
Luke— Como eu disse, encontrei a pessoa certa para você. — Você disse isso com Isabela e deu no que deu. — Ela é uma pessoa de confiança.Eu fungo, cético, e olhei para Kate.— Quem é ela, meu guru? — Minha sobrinha.Luke gargalha, quase não acreditando.— Deus! Você está jogando para ganhar mesmo. — Ela tem um nível bom. Uma garota de classe média alta. Eu conversei com ela e ela topou. — Você explicou tudo mesmo? Disse que ela ficará comigo sem envolvimento? — Sim. E o bom é que ela está sozinha, e não gosta de ninguém.— Ótimo, meu queixo ainda dói do soco que levei, e tudo por sua culpa.Kate ri, mas logo se faz séria.— Ela será sua companhia até você conseguir se candidatar. — Então, com um tom firme, ela continua. — Agora, preste atenção, ela é a minha sobrinha e você a tratará com respeito. Já conversei com o pai dela, que é meu irmão, e prometi que você a respeitaria.Eu a olho, sem entender completamente.— Só não entendo uma coisa. Como seu irmão, sabendo a imagem qu
NatáliaLuke solta um suspiro pesado, claramente esperando mais resistência da minha parte. Quase sorrio ao notar a confusão em seus olhos, como se não soubesse lidar com uma resposta que não fosse um desafio direto.— Sim, eu sei que não foi o combinado. Sei que o castelo fica mais perto da sua cidade e que talvez você queira usar suas folgas para resolver suas coisas… — Ele faz uma pausa, os olhos escuros avaliando minha expressão. — Mas eu dobro seu salário.Dobrar meu salário?A ideia me atinge como um soco no estômago. Ah, como eu preciso do dinheiro! O peso das dívidas que carrego nunca me permite esquecer disso. Minha mente gira em um turbilhão, mas minha resposta vem quase automática.— Tudo bem, eu vou.Os lábios de Luke se curvam em um sorriso lento, satisfeito. Seus olhos se estreitam levemente, e antes que eu possa reagir, ele captura minha mão e a leva aos lábios. O toque quente e inesperado de sua boca na minha pele faz um arrepio subir pela minha espinha.— Ótimo. — Sua
O cabelo dela cai sobre os ombros, cobrindo a rigidez de seu pescoço ereto. Ondas pesadas, macias.E a cor...Um tom acobreado fascinante que combina com sua pele, com seus olhos claros, com tudo nela.Eu deveria parar de olhar.Mas não consigo.— Amanhã está marcado um baile de máscaras, e depois de amanhã, um torneio de polo — diz Kate ao meu lado.Forço-me a desviar os olhos de Natália e encarar minha assessora.— Certo. Pode confirmar.Kate sorri, satisfeita.— Assim é que se fala.Aceno distraído, mas minha atenção já não está nela. Volto a observar Natália e Catarina. Ela aponta os pavões para minha filha, que olha encantada para as aves exóticas. A luz do sol faz os cabelos de Natália brilharem como fogo sob a brisa da manhã.Lindo.Sinto os olhos de Kate sobre mim. Disfarço.— Vamos entrar? — sugiro.Assim que atravesso a entrada principal, sou recebido com aplausos. Minha equipe de campanha me aguarda, rostos animados, cumprimentos calorosos. Dou um sorriso jocoso e faço um "