Natália
Passei o dia com Catarina, e Luke não sumiu como eu imaginava que faria. Ele veio nos visitar várias vezes, como se não quisesse mostrar interesse, mas estava ali, sempre presente. Aparecia em momentos distintos: quando eu dava banho, quando distraía a pequena, quando a alimentava no jantar.
Em cada um desses momentos, ele se mostrava carinhoso. Beijos na testa de Catarina, conversas suaves, como se quisesse estar perto dela sem fazer alarde. Catarina, apesar de não ser muito verbal para a sua idade, parecia se divertir com ele. E eu, claro, não me preocupava. Sei que cada criança se desenvolve no seu próprio ritmo. Mas uma coisa é certa: Catarina é incrivelmente observadora. Seus olhinhos atentos, fixos nas pessoas ao redor, não deixam nada escapar.
Depois de colocá-la para dormir, deito-me na enorme cama ao lado dela. Não preciso dizer que o quarto é deslumbrante. A mobília, apesar de ser antiga, do século passado, me transporta para um cenário de luxo imersivo. Sinto como se estivesse em uma suíte de hotel cinco estrelas, cercada pelo conforto e pela elegância de cada detalhe. As cortinas pesadas, os tapetes preciosos, as colchas impecáveis, os quadros cuidadosamente dispostos e os dosséis que adornam tanto o berço quanto a cama fazem com que o ambiente pareça ainda mais refinado.
Aliás, todo o castelo é uma obra-prima. Cada cômodo revela um charme antigo, mas ao mesmo tempo, uma grande sensação de grandiosidade e sofisticação. Cada esquina, cada parede parece contar uma história, e eu não posso deixar de me sentir maravilhada com o lugar.
Luke
Fumar. Um vício idiota, péssimo exemplo para todos, especialmente para minha filha. Mas, apesar de saber disso, ainda não consegui me livrar dele. Comecei a fumar depois que perdi meu pai.
Deus! O velho faz tanta falta.
Quando meus avós se foram, depois foi a vez da minha mãe. E, por muito tempo, foi apenas eu e ele. Isso nos uniu mais do que nunca. Então, quando ele partiu, fiquei completamente sem chão.
Meu pai, depois da morte de mamãe, se tornou cada vez mais recluso. No começo, segui seus passos. Me dediquei totalmente à preservação do Castelo, uma grande responsabilidade, considerando que é uma das maiores riquezas históricas e arquitetônicas da Inglaterra. A restauração não se resume apenas à estrutura estética do lugar, que é imensa. Também me preocupo com o paisagismo, com o relevo ao redor do castelo, que sofre com a erosão natural. Um trabalho minucioso, que exige dedicação para evitar sua destruição e descaracterização.
E há, é claro, uma grande preocupação com a preservação das obras de arte e de tudo o que pertence à história do castelo e da minha família. Tenho recebido a ajuda do governo, já que ele foi tombado como patrimônio histórico. Um grande legado, uma enorme responsabilidade. Em troca, vivo em um lugar maravilhoso que pertenceu à minha família há séculos.
Sempre fomos abastados financeiramente, mas hoje em dia, as coisas são bem diferentes. Perdemos muito com crises e quebras na bolsa de valores. E antes da intervenção do governo, o castelo consumia muito dinheiro em reformas. Por isso, entrei para a política. Não só porque quero fazer a diferença na construção de um país melhor, mas também porque preciso trabalhar para manter o estilo de vida ao qual fui acostumado. Fora isso, não posso permitir que as pessoas me vejam como um Duque decadente. Pois, quer eu goste ou não, as pessoas me veem como uma figura de conto de fadas, com seu castelo e seu príncipe.
A imagem de playboy e vida mansa que muitos têm de mim não é a realidade. Resumindo: o castelo que eu possuo pertence ao governo e minha conta bancária não é tão grande quanto parece. Apenas o suficiente para manter os empregados e a imagem de um Duque de Cornualha bem-sucedido. E, mesmo assim, meus luxos não são extravagantes.
Meu coração aperta e, ao pensar na mãe de Catarina, uma raiva amarga se mistura com a culpa. Como fui tão ingênuo, vítima de mulheres como ela? Fui o idiota enganado por uma caça-ouro que fez de tudo para conseguir o que queria. E a única explicação que encontrei para ela ter engravidado de mim foi o uso de uma camisinha cheia de sêmen. Sempre fui cuidadoso com isso.
Essa mulher soube esperar o momento certo para agir. Teve minha filha e só então me procurou, exigindo que eu reconhecesse a paternidade. Um teste de DNA confirmou que eu era, de fato, o pai. Não tive outra escolha a não ser assumir a criança.
Logo se seguiu uma guerra nos tribunais para conseguir a guarda de Catarina. Meus advogados começaram a investigar a vida de Bianca, buscando algo que me ajudasse a ganhar na justiça. Mas o pior não foi isso. Bianca surgia como uma assombração, aparecendo nos momentos mais inoportunos com a minha filha nos braços, exigindo mais dinheiro do que o acordado. Para abafar o escândalo que ela ameaçava espalhar, sempre cedia. E ela contribuiu muito para o meu desgaste financeiro.
Foi então que meus advogados descobriram algo que eu nem imaginava. Bianca era usuária de drogas. Deus, nem sei como Catarina não nasceu com problemas, além de um baixo peso. A briga nos tribunais acabou quando Bianca morreu de overdose, com Catarina apenas seis meses. Finalmente, pude livrar minha filha de uma mãe que a usava como moeda de troca para seu vício. Felizmente, ela estava com a mãe de Bianca, que cuidava de Catarina enquanto a filha se afundava nas drogas.
Essa sucessão de eventos não me traumatizou, mas me tornou mais cuidadoso. E, agora, há um detalhe que não posso mais ignorar: não deixo mais preservativos usados em qualquer canto do quarto. O carrego comigo e, antes de mais nada, me certifico de descartá-lo adequadamente.
Suspiro. Minha vida ainda é ativa, mas seleto minhas companheiras com mais rigor. Saio com mulheres bonitas, de boa posição social, mas que não servem para um relacionamento. São fúteis, vazias, desinteressantes. E, mesmo quando tento, não consigo passar de três encontros e uma transa. Por mais que me esforce, sempre chego ao mesmo ponto. Instigo conversas, tento ver se conseguimos evoluir, mas é apenas uma forma de garantir que não crio expectativas, para não me decepcionar com o que não posso controlar.
Já aconteceu de sair com garotas incríveis, que até trabalhavam, falavam bem, mas que não tinham nada a ver comigo. Bem, acabo carregando a fama de Dom Juan.
Mas, sinceramente, o que posso fazer? Não me apaixono a ponto de querer manter um relacionamento.
NatáliaÉ muito cedo para me deitar, percebo sem sono. Ligo a babá eletrônica e decido ir até um jardim exótico que vi no caminho, quando Rosa me mostrou o quarto. É um espaço fascinante, repleto de cercas vivas que formam um vasto e intricado labirinto.Ao pisar no terraço, estremeço. Para meu azar, o Duque está ali, encostado em uma das colunas, fumando, com um semblante contemplativo.Paro imediatamente ao vê-lo. Ele percebe minha presença e se vira. Um sorriso pequeno surge em seus lábios enquanto apaga o cigarro em um cinzeiro dourado, que mais parece um porta-joias, e o fecha com calma.— Ela dormiu? — ele pergunta.Assinto e mostro a babá eletrônica.— Caso ela acorde.Ele sorri, e me sinto como uma presa diante de um predador.— E então? Está gostando de trabalhar aqui?Respiro fundo.— Sim, sua filha é encantadora.Ele sorri mais abertamente.— Isso ela é mesmo. Encantadora de corações. Sem dúvida, a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Embora não tenha vindo de uma rela
Luke sorri e enfia seu braço dentro do meu, fazendo-me andar com ele em direção à sala de jantar. Eu estremeço com o calor que emana dele, e o cheiro maravilhoso que me envolve.— Deus! Kate me estressa. Ela é ótima, muito competente, mas tudo tem que ser para já. Dormiu bem?Eu me desvencilho dos braços dele, fazendo-o sorrir.— Sim, obrigada.— Não estranhou a cama? O lugar?— Não, eu estava cansada. Dormi como uma pedra.— Então meu anjinho não acordou a noite.— Não, ela dormiu bem. Aliás, quando eu saí, ela ainda estava dormindo.— Isso ela não puxou a mim. Desde pequeno, costumo acordar cedo. Agora adulto, costumo me exercitar. Hoje já dei uma volta no castelo, você acredita?Eu arregalo os olhos com as falas dele.— Que disposição! Não estava frio?— Estava e com um nevoeiro danado, mas fui bem agasalhado. E conheço bem o terreno. Como a palma da minha mão. Outra pessoa pode quebrar a perna correndo, já que não dá para ver onde pisa por causa das nuvens baixas.Eu apenas relanc
NatáliaOuço a vozinha de Catarina chamando.—Pode deixar que eu vou lá. —Rose diz.—Imagina Rose, eu já tomei café.—Deixe Rose ir, eu preciso conversar com você. —Luke diz entrando na cozinha.O cenho de Rose franze, acho que ela está tentando entender o que Luke quer falar comigo. Conhecendo o patrão, ela não gosta nada disso. Contrariada, deixa a cozinha, Tereza sai também, nos dando privacidade.Luke puxa a cadeira e se senta de frente para mim.—Não vou poder ficar em Cornualha, terei que voltar para Londres.—Está certo. —Digo com um sorriso, me sentindo até aliviada por isso. Ficarei sossegada cuidando da filha dele.—Você e Catarina irão.Eu quase engasgo.—O quê?Ele respira fundo.—Eu preciso ganhar essa campanha e ao mesmo tempo, estou me sentindo muito distante da minha filha.Ele ajeita o relógio de ouro em seu pulso. Noto então seu anel de sinete com o emblema da família igualmente de ouro.Desvio meus olhos dele, e fico sem falas no primeiro momento, fito a xícara fugi
Luke— Como eu disse, encontrei a pessoa certa para você. — Você disse isso com Isabela e deu no que deu. — Ela é uma pessoa de confiança.Eu fungo, cético, e olhei para Kate.— Quem é ela, meu guru? — Minha sobrinha.Luke gargalha, quase não acreditando.— Deus! Você está jogando para ganhar mesmo. — Ela tem um nível bom. Uma garota de classe média alta. Eu conversei com ela e ela topou. — Você explicou tudo mesmo? Disse que ela ficará comigo sem envolvimento? — Sim. E o bom é que ela está sozinha, e não gosta de ninguém.— Ótimo, meu queixo ainda dói do soco que levei, e tudo por sua culpa.Kate ri, mas logo se faz séria.— Ela será sua companhia até você conseguir se candidatar. — Então, com um tom firme, ela continua. — Agora, preste atenção, ela é a minha sobrinha e você a tratará com respeito. Já conversei com o pai dela, que é meu irmão, e prometi que você a respeitaria.Eu a olho, sem entender completamente.— Só não entendo uma coisa. Como seu irmão, sabendo a imagem qu
NatáliaLuke solta um suspiro pesado, claramente esperando mais resistência da minha parte. Quase sorrio ao notar a confusão em seus olhos, como se não soubesse lidar com uma resposta que não fosse um desafio direto.— Sim, eu sei que não foi o combinado. Sei que o castelo fica mais perto da sua cidade e que talvez você queira usar suas folgas para resolver suas coisas… — Ele faz uma pausa, os olhos escuros avaliando minha expressão. — Mas eu dobro seu salário.Dobrar meu salário?A ideia me atinge como um soco no estômago. Ah, como eu preciso do dinheiro! O peso das dívidas que carrego nunca me permite esquecer disso. Minha mente gira em um turbilhão, mas minha resposta vem quase automática.— Tudo bem, eu vou.Os lábios de Luke se curvam em um sorriso lento, satisfeito. Seus olhos se estreitam levemente, e antes que eu possa reagir, ele captura minha mão e a leva aos lábios. O toque quente e inesperado de sua boca na minha pele faz um arrepio subir pela minha espinha.— Ótimo. — Sua
O cabelo dela cai sobre os ombros, cobrindo a rigidez de seu pescoço ereto. Ondas pesadas, macias.E a cor...Um tom acobreado fascinante que combina com sua pele, com seus olhos claros, com tudo nela.Eu deveria parar de olhar.Mas não consigo.— Amanhã está marcado um baile de máscaras, e depois de amanhã, um torneio de polo — diz Kate ao meu lado.Forço-me a desviar os olhos de Natália e encarar minha assessora.— Certo. Pode confirmar.Kate sorri, satisfeita.— Assim é que se fala.Aceno distraído, mas minha atenção já não está nela. Volto a observar Natália e Catarina. Ela aponta os pavões para minha filha, que olha encantada para as aves exóticas. A luz do sol faz os cabelos de Natália brilharem como fogo sob a brisa da manhã.Lindo.Sinto os olhos de Kate sobre mim. Disfarço.— Vamos entrar? — sugiro.Assim que atravesso a entrada principal, sou recebido com aplausos. Minha equipe de campanha me aguarda, rostos animados, cumprimentos calorosos. Dou um sorriso jocoso e faço um "
LukeO rubor em seu rosto a contradiz.Assim como suas pupilas dilatadas.Assim como o modo como sua respiração acelerada trai a raiva que tenta demonstrar.Seus olhos emitem um aviso, mas a veia pulsante em seu pescoço diz outra coisa.E isso me deixa mais duro do que nunca.— Diga-me que não gostou. — Minha voz sai baixa, provocante, carregada de desafio.Dou um passo à frente, e ela recua instintivamente, mas não o suficiente para escapar de mim. Catarina nos observa sem entender, alheia à tensão no ar.Natália estreita os olhos, tentando recuperar o controle da situação.— Não gostei da sua atitude.Um sorriso nasce em meus lábios. Ela é boa com palavras, mas seu corpo? Seu corpo me conta outra história.— Seu lado certinho não gostou, minha cara. — Minha voz desliza como uma carícia. — Mas seu corpo... Ah, esse não apenas gostou, como aprovou e quer mais.Seus olhos brilham com um misto de raiva e incerteza.Ela abre a boca para responder, mas hesita. Nenhuma palavra sai.Um silê
Minutos depois...Desde o momento em que entramos no shopping, percebo o impacto que Luke causa.Ele tem um magnetismo absurdo.Todas as mulheres—de todas as idades—o observam.As mais jovens sorriem abertamente, lançando olhares sedutores, tentando atrair sua atenção. As adolescentes são piores, rindo alto, vibrando como se ele fosse um astro do cinema.As mais velhas não disfarçam a admiração, deixando os olhos grudados nele.Até mulheres acompanhadas não resistem a um olhar discreto.O mais impressionante é que ele parece alheio a tudo isso. Ou apenas acostumado.Luke tem a presença de um predador nato.Homens como ele caçam. Seduzem.Fidelidade e amor verdadeiro não fazem parte do seu vocabulário.Presa nos meus pensamentos, não percebo quando ele para em frente a uma loja de departamento.Somente quando ele tira um maço de dinheiro da carteira e estende para mim, meu corpo reage.Por um segundo, hesito antes de pegar o dinheiro.O gesto me atinge de forma estranha.Parecemos... m