Seis.

A tarde Kristin estava tremendo quando viu que realmente eles iriam passear de barco, barco não lancha, que estava ancorada um pouco afastada da praia, em um cais com outras embarcações, ela se virou para Ryan.

— Faço o que você quiser, mas não me faz entrar naquela lancha, por favor.

— Você vai gostar, é só um passeio.

— Ryan! — Ela pede, ele analisa o rosto dela, ela parece ficar mais pálida do que já é normalmente.

— Olha para mim, Kristin, eu prometo que não vai acontecer como antes.

— Acha mesmo que isso vai me acalmar? — Ela pergunta e seus olhos enchem de lágrimas, Ryan a puxa levemente contra seu corpo já que ela começou a chorar e ele não queria ver aquilo, não sabe muito bem o porquê, mas não gostava de vê-la chorando e ele sendo o culpado por isso.

— Você vai gostar do passeio, é sério.

— Não me jogue de novo! — Ela pediu, abraçada a ele, Ryan fechou os olhos. Como poderia odiar aquela garota? Ele podia sentir ela tremer em seus braços. Ele segurou o rosto de Kristin entre as mãos e a respondeu da forma mais sincera que já havia dito.

— Não vou. — Isso não a acalmou, mas a fez seguir ele, ela quase infartou quando soube que Ryan seria o piloto, ela ainda estava na areia.

— Vem. — Ele a chama, mas ela nega balançando a cabeça para os dois lados, ela sente seu corpo tremer no mesmo instante. Ryan caminha até ela segurando sua mão e sai a levando para a lancha, Kristin sente o cais balançar e isso a faz segurar mais forte a mão dele. Ele riu e a ajudou a subir na lancha, quando ela estava sentada e segurando-se. Ryan ligou o motor. Kristin pode ter medo, mas não podia negar que a paisagem era bonita. O Havaí é bonito de modo geral.

Ele parou a lancha no meio do nada. Ela o olhou, sem entender, até que o viu descer as escadas. Apesar do medo que sentiu com o balanço da embarcação, ela o seguiu e o viu tirar a camisa ficando apenas de bermuda.

— O que está fazendo? — Kristin pergunta vendo ele se preparar para se jogar.

— Indo mergulhar.

— Eu não vou te salvar se você se afogar.

— Sei nadar, não se preocupe.

— Não estou preocupada com você, estou preocupada comigo, como vou voltar a terra firme?

— Você não se importaria se o seu maridinho morresse? — Ele perguntou próximo a ela.

— Não, sinceramente eu preferia assim, mas em terra firme de preferência. — Ele sorriu e voltou a beira se jogando na água, ele não chamou ela, porque sabia a resposta.

Ela tirou o short e blusa, ficando apenas de biquíni, começou a passar o protetor solar e se deitou na espreguiçadeira que estava abaixo do teto da lancha e fechou os olhos, pegou seu Kindle e voltou a ler o livro que havia iniciado a alguns dias. De repente, uma ideia lhe ocorreu: onde estaria Ryan? Ela o viu mergulhar, mas não o viu voltar à superfície e isso já fazia um tempo. Apesar de não o suportar, não poderia fingir de cega em questão a isso. Não morreria no meio do mar, sozinha, em uma lancha que, aliás, nem sequer queria estar. Ela se levantou subitamente e foi até a beira da lancha, tomando cuidado para não cair, ela o procurou e não o achando, subiu para a parte mais alta e mesmo assim não o encontrou.

— RYAN? CADÊ VOCÊ SEU IDIOTA? — Kristin gritou, sentindo o medo a dominar. Ele não poderia ter morrido ou, pior, a ter abandonado ali. Desceu novamente e pensou duas vezes antes de fazer o que estava prestes a fazer. — Seu eu morrer, eu venho lhe buscar seu imbecil. — Ela baixou o olhar e inspirou profundamente, antes de pular no mar, obviamente ela não iria pular, seu corpo travaria muito antes de tentar, mas tinha que fingir que se importava, assim poderia dizer que tentou. Seu corpo foi impedido de seguir em frente, ela se sobressaltou com o toque inesperado, o que a fez cair na água. Ryan não demorou a pular novamente e, antes que ela se afogasse, a segurou, tentando acalmá-la.

— SE CONTINUAR SE DEBATENDO ASSIM MORREREMOS OS DOIS, SE CONTROLE PORRA. — Ele gritou e, pouco a pouco, foi vendo ela se acalmar, mas podia sentir ela tremendo em seu peito, ele a segurava por trás para não aumentar o risco de um afogamento dublo. — O que você estava pensando?

— Eu te chamei... pensei que tivesse se afogado.

— E pensou em se jogar em alto mar, sem saber nadar ia adiantar alguma coisa?

— Eu precisava voltar a terra firme. — Sua voz estava tão trêmula quanto o corpo. Ryan a virou de frente para si. Ela não hesitou em agarrar sua cintura com as pernas e envolvê-lo com os braços ao redor do pescoço. — Por que fez isso?

— Só tinha a intenção de te assustar, não poderia imaginar que iria se atirar no mar. Você tem talassofobia, pensei que fosse chorar um pouco.

— Imbecil! — Ryan apenas riu. Sentiu ela esconder o rosto na curva do seu pescoço. Se alguém lhe tivesse dito há alguns meses, que ele estaria assim agora com Kristin, teria provavelmente rido e dito que a pessoa estava maluca, que isso nunca viria acontecer. Mas ali estão eles, como um casal aproveitando sua lua de mel.

— É bom saber que você arriscaria a sua vida por mim, se fosse necessário. — Ela o olha irritada, ele sorri e ajeita o cabelo dela para trás da orelha, tocando seu rosto com as duas mãos, enquanto ela está presa a ele como um macaquinho fica na sua mãe. Ele riu com esse pensamento, ele a olhou e ganhou um olhar sério. Ambos perceberam algo ali, nos olhares que trocaram. Kristin voltou a esconder o rosto na curva do pescoço do outro.

— Pensei em mim em primeiro lugar. Não queria morrer e muito menos ser injustamente acusada de homicídio, apesar de já ter planejado diversas maneiras de te assassinar.

— Não duvido disso. — Riu. — Está com fome?

— Sinceramente, não. — Ele concordou e a segurou firmemente enquanto nadava lentamente até a plataforma de popa. A sentou na beira e, logo em seguida, ela se levantou e foi para o quarto. Ryan suspirou, subiu na lancha e foi para o comando. Se sentou ali e ficou olhando o vasto mar.

Passaram mais algumas horas ali, no final da tarde. Kristin estava deitada na espreguiçadeira, observando o belo pôr do sol e comendo uvas. Ryan, por sua vez, estava na cadeira de comando, olhando o mesmo que ela, enquanto comia um sanduíche. Logo ele decidiu ser hora de partir, pois, caso esperasse mais, seria extremamente arriscado voltar. Kristin sentiu o solavanco e ficou imóvel, mesmo querendo ir para a parte mais alta da embarcação, ela se negou a isso. Ela não se sentia à vontade para olhar para ele depois do ocorrido. Na verdade, nem um, nem outro queria se olhar, então ficaram em seus lugares até chegarem ao cais. Nem mesmo ao descer ela esperou por ele. Ela já estava devidamente vestida, então pegou suas coisas e foi em direção à areia, onde se sentia mais segura. Viu ele vindo em sua direção, ele segurou a mão da mesma após dar-lhe um rápido beijo nos lábios, ela ficou meio confusa, mas não questionou, imaginou que tivesse alguém por ali.

Ao chegarem ao hotel, Kristin foi informada de que sua bolsa havia sido localizada. Infelizmente, seu celular não estava dentro dela, apenas os documentos. A recepcionista disse que o policial havia orientado para que ela trocasse todos os documentos assim que voltasse para o estado de origem, já que todos eles continham o seu sobrenome de solteira, e agora ela é uma mulher casada perante a lei, e que isso poderia lhe causar problemas futuros. Após agradecer à recepcionista e pegar sua bolsa, ela foi para o quarto, tomou um banho e se vestiu para dormir. Ela e Ryan até agora não haviam trocado uma só palavra, dormiram sem dizer nada.

Kristin despertou no meio da madrugada, sua respiração estava ofegante e seus olhos estavam marejados. Tiverá um pesadelo, seu corpo estava trêmulo como mais cedo, se sentou na cama e chorou baixinho, escondendo o rosto nas mãos enquanto as imagens rondavam sua mente. Era um pesadelo que não tinha há muito tempo. Seu corpo se rendia à escuridão e às profundezas do oceano, enquanto ela tentava chegar à superfície, sem êxito. Ela via suas mãos tentando agarrar-se a algo que não existia, mas só ia mais para baixo, em meio a lágrimas e gritos abafados, sentindo seu corpo ser consumido pela escuridão, medo e dor. Se levantou da cama e foi até o closet para arrumar suas malas. Não tinha vontade de dormir, pois tinha medo que o pesadelo se repetisse. Começou organizando as suas coisas e quando foi ver estava fazendo o mesmo com os pertences de Ryan. Ao acordar, Ryan estranhou estar na cama sozinho e, ao chegar ao closet para arrumar as suas malas, encontrou Kristin dormindo em um canto. Viu que suas coisas estavam guardadas, exceto por um par de roupas e um sapato. Ao menos ela conhece o seu estilo. Ele se abaixou na frente dela e a tocou levemente o ombro.

— Acorde, por que está dormindo no chão? — Kristin despertou atordoada e com dores nas costas pela forma que dormiu, olhou para o homem à sua frente, fazendo uma careta de nojo. Não o respondeu e se levantou para ir ao banheiro. Pegou a roupa que havia escolhido para si e foi tomar seu banho, deixando Ryan no closet.

Ela vestia uma calça mom jeans com rasgos no joelhos, uma camisa grande branca sem estampa e um tênis branco, não perderia o seu tempo se produzindo para ir ao seu inferno pessoal. Minutos depois a ela sair do banheiro e Ryan entrar, ele saiu arrumado com roupas que poderiam custar facilmente o valor da casa dele, tudo era de marca, a calça de alfaiataria era de renome, camisa social também, e sapato e alguns de seus acessórios também. Eles eram completamente diferentes um do outro. Enquanto ela preferia o básico, o marido escolhia as peças mais caras para demonstrar a sua riqueza, tudo bem que ela havia escolhido, mas só tinha roupas desse tipo. Não é que ela não tivesse roupas de grife, mas seus gostos eram diferentes, inclusive entre as peças de marca. Ela optava por algo simples, sem muitos exageros.

Kristin tomou um remédio para dormir a viagem toda, acordando só nas últimas duas horas. Assim que pousaram, ela soltou a mão de Ryan e foi desembarcar. Ainda não haviam trocado sequer uma sílaba, poderia parecer bobo e era, mas ela havia feito algo que nem mesmo ela esperava, imagina o Ryan. Entraram no carro que os aguardava no estacionamento do aeroporto. O percurso até o destino final foi tranquilo. Ela observava a cidade pelo vidro da janela do carro, pessoas indo para seus receptivos empregos, as poucas árvores que compõe a cidade movimentada, enquanto Ryan conversava por vídeo um cliente que o aguardava na empresa. Pensou que seria levada para o seu mais novo lar, mas se enganou. O carro parou na garagem da empresa de Ryan no subsolo, ele desceu, arrumou a roupa e o cabelo.

— Vai ficar aí? — Ele pergunta olhando para dentro do carro?

— Tenho que descer aqui também?

— Sim, quero que conheça a empresa e, o homem que estou preste a fechar um negócio milionário, está ansioso para conhecer a minha linda e doce esposa!

— Não gosto de ser mostrada como troféu Ryan. — Ela fala, demonstrando o quanto ficou brava, ela nunca será conhecida como a esposa "troféu", pelo menos não a esposa de Ryan.

— Você não seria qualquer troféu de qualquer forma meu amor. — Ela sabia que essa fala, não era para o lado bom como talvez o motorista estivesse pensando, ela suspirou.

— Eu nem estou com uma roupa adequada.

— Isso não é importante Querida, vamos desça. — Mesmo a contra gosto, ela desceu do carro, Ryan fechou a porta do carro e a segurou pela mão, a levando para o elevador. Ao chegarem à cobertura do prédio, onde estão a sala de Ryan e a sala de reuniões, ele a guiou em direção a sua sala. Um pouco distante da porta, havia um balcão, com uma mulher sorridente. Kristin percebeu que o sorriso era falso, ao ver o olhar e o sorriso que ela dirigiu a Ryan, que a cumprimentou com um simples aceno.

— O Sr.Campbell está a sua espera na sua sala.

— Obrigado Paola, pode me fazer um favor? Quero que mostre o prédio, a minha esposa, ficarei grato.

— Claro. — Ryan se despediu de Kris com um selar rápido nos lábios e foi para a sua sala. A mulher, que deve medir por volta dos 1,70, sorriu para Kristin. Ela é uma mulher bonita, ninguém poderia negar o óbvio, com longos cabelos negros até a cintura, rosto perfeito, olhos arqueados esverdeados, pele de tom bronze, uma pele impecável, lábios assimétricos pintados com um batom nude quase do tom da sua pele, corpo magro e com curvas, tudo nela mostrava superioridade. Paola usava uma camisa de gola alta branca e mangas cumpridas, uma saia lápis longa de cor bege e um salto levemente acobreado, ela era definitivamente o tipo de mulher que qualquer homem desejaria ter. — Então você é a famosa Kristin!

— Famosa?

— O Ryan falava sobre você, a garota que ele mais detestava na face da terra... que curiosamente agora é sua esposa. — Ela disse de forma sarcástica, o que Kristin percebeu de imediato. Ficou chocada ao compreender que o motivo era o ciúme, provavelmente Ryan e Paola tinham algum tipo de relacionamento antes dessa palhaçada toda, mas aparentemente, não mais. Kristin estava chocada. Não esperava que Ryan terminasse os seus relacionamentos para viver em um casamento falso.

— Há coisas na vida quem nem o próprio destino pode explicar. Eu acho que chegou um ponto de nossas vidas onde os sentimentos simplesmente mudaram. Foi como dá água para o vinho, nem acreditávamos que era real, no começo ficamos assustados, mas não demorou muito para estarmos nos declarando como dois idiotas apaixonados. Mas olha onde estamos agora, como estamos, casados e totalmente rendidos a esse sentimento, que é chamado de amor. Jamais imaginei que me casaria tão cedo. Ainda por cima com Ryan. Parece que o destino ama nos surpreender.

— Você realmente o ama, é fofo. — Ela riu.

Paola mostrou a Kristin todo o prédio, já estava cansada de ter que agir como uma espécie de babá para uma adolescente recém-casada. Kristin permaneceu calada durante a maior parte do tempo, uma vez que não tinha nenhum interesse em conhecer a empresa de Ryan. Elas voltaram para a cobertura no exato momento em que o sujeito em questão deixava a sala, acompanhado de um senhor mais alto que ele, com mais de 1,96 de altura, pele negra bronzeada, rosto com traços mais marcados e uma barba grisalha, e um corpo atlético que se sobressaía pelo seu terno Kiton k-5.

— Sam, essa é a Kristin, minha esposa. Amor, esse é o Sam, o amigo sobre o qual vinha lhe contando. — Ryan sorriu de uma forma que pedia para ela não dizer nenhuma bobagem.

— É um prazer conhecê-lo, Ryan passou nossa lua de mel inteira falando sobre o senhor. Cheguei a perguntar se ele queria o divórcio para ficar com o senhor. — Ela riu.

— Não deveria ter importunado sua esposa com trabalho, primeiro erro que cometeu, não ouse deixar sua esposa de lado por trabalho rapaz.

— Ele não é louco. — Kristin disse se aproximando do marido, ele a segurou pela cintura dando-lhe um beijo na testa.

No meio do passeio que ela não estava interessada, ela perguntou a Paola sobre o homem quer iria fazer negócio com Ryan, a mulher lhe disse o nome e foi o suficiente para ela pesquisar sobre ele no minúsculo tempo que passou na sala onde tinha alguns computadores, Paola lhe deu algumas informações que ao seu ver eram valiosas até pesquisar sobre o homem e ver que a mulher queria lhe prejudicar.

— Soube que adquiriu um novo lote no Havaí, adora o Havaí, nossa lua de mel foi lá e eu amei cada segundo.

— Ficarei feliz em recebê-los na minha nova casa que Ryan será responsável em fazer.

— Então vocês já entraram em um acordo, isso é ótimo, iremos adorar lhe visitar quando tudo estiver pronto.

— Ryan poderia lhe mostrar as idéias que tivemos, ele disse que você é dotada de uma criatividade inigualável.

— Oh, ele disse? Isso me surpreende, ele costuma dizer que vivo no mundo da lua. — Ela sorriu. — Darei uns toques sutis meus, o senhor vai saber assim quando olhar.

— Estou ansioso, bom, foi ótimo fazer negócio com você, e Kristin, posso lhe chamar assim?

— Claro que sim.

— Quando terminar o curso, estarei precisando de uma advogada de confiança, seu marido tem o meu contato.

O homem se afastou indo até o elevador quando as portas se fecharam, Kris tomou um susto com o grito de Paola que praticamente se jogou nos braços de Ryan, ele a afastou delicadamente do seu corpo e olhou para Kristin.

— Você me salvou, eu te amo. — Ele a abraçou a levantando do chão.

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