Tocava Toxic ao fundo enquanto Gisele fazia seu show de sensualidade, ela deslizava pelo pole dance com agilidade, rebolava como se fosse invertebrada, às vezes ia até à extremidade do palco para os homens colocarem notas altas dentro de seu sutiã, às vezes até na sua calcinha. Me perguntava como ela não caía usando botas tão longas, ou se o seu cabelo molhado grudado em seu rosto não atrapalhava sua apresentação.
Ethan observava o espetáculo de braços cruzados ao meu lado, olhava de relance para ele às vezes, me sentindo incomodada.
Dado momento ela desceu do palco e sentou no colo de um homem estranho, só por ela ter rebolado em seu colo, ele colocou um bolo de notas no meio de seus seios. Depois ela saiu e se aproximou de nós dando uma piscadela para Ethan. Ele sorriu, por que ele tinha que sorrir?— Tem baba no canto dos seus lábios, Ethan. — Passo o dedo sobre a borda meu lábio.
Ele balança a cabeça.
— Não sei do que está falando.
Olho para ele incrédula.
— Não seja sonso.
Ele vira-se para eu sorrindo.
— Gisele não faz meu tipo, não chega nem perto, na verdade.
— Então qual é seu tipo?
Sua expressão muda para pensativo, demorou tanto tempo que eu quase fui embora.
— Garotas que enfiam um lápis na perna de um homem. — Respondeu de maneira estoica. Um formigamento tomou conta do meu rosto. — Não tem coisa mais sexy.
Pisco algumas vezes desviando o olhar dele. Ethan nunca havia sido tão claro, talvez fosse as margaritas que tomou mais cedo.
A música acaba, finalmente tirando os olhos dele de cima de mim. Gisele desceu do palco, agora veríamos quantos homens pagariam por ela essa noite. Não sabia como conseguia, por isso passei a admirá-la mesmo ela me odiando.Esse era o momento que eu odiava, as meninas faziam de tudo por meras moedas, tudo isso por culpa da May.Saí do salão sentindo meu estômago revirar, podia ser por comer apenas pão duro nos últimos dias ou por ver tudo aquilo acontecendo todas as noites.Fui para um dos quartos ficar sozinha, esses momentos eu usava para escrever algumas músicas no caderno de notas velho que Ethan me deu, o escondia em um buraco na parede junto de lápis, mas hoje preferi arrancar as cascas das feridas no meu corpo. Doía, meu corpo inteiro ardia, entretanto, eu faria tudo para não precisar viver a mesma vida que as outras.
Olhei meu reflexo no espelho, minhas olheiras eram tão fundas que o verde dos meus olhos sumia. Era possível contar minhas costelas, minha pele não era tão pálida e seca antes de vir, por isso evitava me olhar no espelho.A roupa que eu usava manchou de sangue, Maria me mataria, pois, era seu vestido.Cansada, adormeci na cama que tinha no quarto.Acordei com a porta sendo aberta, por sorte eu me escondi debaixo da cama antes que alguém pudesse me ver.
Pelas vozes era Gisele e um homem, ele fechou a porta com força em seguida jogou a em cima da cama com tanta força que fez as molas do colchão rangerem.— Não pode ser, Gisele... — Resmungou o homem.
— Eu também não queria.
— Você tem certeza?
Ambos pareciam atônitos.
— Sim, fiz o teste mais de duas vezes. — Pela sua voz ela estava chorando.
— Vai dar um jeito de tirar essa criança!
Arregalei os olhos. Criança? Gisele estava grávida?
As coisas que aconteceram a seguir nunca mais sairiam da minha mente, Gisele levou vários t***s no rosto, foi asfixiada e humilhada pelo homem. Ela gritava enquanto ele estava encima dela.Tampei minha boca para que não me encontrassem escondida, imagino o que May faria comigo.Após longos e torturantes minutos ele finalmente saiu de cima dela.— Eu realmente espero que acabe com isso. Esse filho com certeza não é meu, já que você é uma puta!
Gisele desabou em lágrimas em cima da cama assim que o homem bateu a porta. Eu nunca a vi chorar, nunca a vi tão magoada.
Pensei em ir consolá-la, mas lembrei do que Ethan disse, nenhuma daquelas meninas eram minhas amigas, entretanto, Gisele continuava sendo um ser humano.
Saí de baixo da cama lentamente, a vi com a cabeça enterrada no travesseiro e um líquido gosmento em suas costas.— G-Gisele? — Chamei.
Ela olhou para mim assustada, seu rosto estava inchado e tinha sangue em seu nariz.
— Que merda você tá fazendo aqui, garota? — Enxugou suas lágrimas fazendo o rímel borrar em sua bochecha. — Isso é algum fetiche doentio seu?!
Balanço a cabeça.
— Eu já estava aqui antes de tudo acontecer.
Seus olhos caíram para o chão, ela percebeu que mais alguém sabia de seu segredo.
— Você está grávida?
Ela levanta da cama, caminha até mim de forma amedrontadora, estávamos a uma polegada de distância, tive que olhar para cima para encará-la.
— Ninguém vai acreditar em você! — Ela fala enquanto cutuca com força meu ombro.
— Não vou dizer nada do que ouvi, pode confiar em mim.
— Por que eu faria isso? — Cruzou os braços.
— Por que é a sua única escolha. Por mais que May não acredite em mim, ela iria averiguar a situação, não acha?
Gisele sai de perto de mim indo em direção ao banheiro, eu a sigo preocupada com a forma estranha que ela andava. Lá, ela termina de tirar seu sutiã e a calcinha rasgada de sua perna.
Faz uma concha com as mãos e j**a em seu rosto, então pego um pedaço de papel higiênico e limpo aquele líquido de suas costas. Ela apoia as mãos na pia e olha-me pelo reflexo do espelho.— O que ainda tá fazendo aqui? — Sua voz estava mais calma.
Jogo o papel no lixo e lavo minhas mãos tentando me livrar daquilo.
— Por mais que eu te odeie você continua sendo uma mulher e está tão presa aqui quando eu. — Respondo.
Ela rir debochando.
— Não estou, querida. Não me iguale a você. — Conseguia sentir o cheiro de álcool.
— Ah, não? — Apoio meu braço na pia e olho diretamente para ela. — Se você pedisse para sair daqui agora acredita que Vicent ou May deixariam? Acorda, estamos todas ferradas.
Ela não fala mais nada, invés disso ela volta a chorar. Sem jeito eu a puxo para meus braços, Gisele estava tão cansada que não hesitou, se desfez em lágrimas sobre meu peito. Passei minha mão em seu cabelo tentando consolá-la, mas me senti tão franca quanto.
Acredito que ela sentia falta da única amiga que tinha, logo que cheguei aqui também não tinha ninguém para me apoiar ou enxugar minhas lágrimas, mas Ethan apareceu e agora eu apareci-lhe também. Não me importava se ela fosse fingir que não existo na manhã seguinte, porém eu não a deixaria sozinha hoje.A ajudei a tomar banho e se livrar daquele cheiro de sexo e dinheiro. Enquanto limpava o sangue seco em seu nariz me perguntava por quantas coisas ela passou durante essa noite, conclui que Gisele era sim, forte, a mesma forte de nós, e pensei em quando teria que me fortalecer também.
Antes de amanhecer fomos para o nosso quarto, ambas em silêncio. Eu a coloquei na cama e puxei seu lençol.— Obrigada, Jade. — Sussurrou para mim.
— Você fez o quê?! — Perguntou Ethan após eu mencionar tudo o que ocorreu na noite anterior.— Ela precisava de ajuda, eu não podia deixá-la.Ele me puxa para o canto.— Não deve confiar na Gisele, em ninguém aqui!— E em você? Devo não confiar? — Cruzo os braços.Ethan suspira e desvia o olhar, ele sempre fazia isso quando sabia que eu tinha razão.— Se eu não confiasse não o teria. — Minhas bochechas pegam fogo quando ele sorrir sutilmente de canto. — A questão é, eu só ajudei ela ontem, não estou dizendo que somos melhores amigas.Ele pensa por alguns instantes e suspira.— Certo. Se você diz.Teve uma pequena parte que não disse a ele, Gisele estava grávida de um de seus clientes, se May soubesse daria cabo dela assim como fez com Amanda.Mordo o lábio inferior.Não sabia como ela iria resolver essa questão e me sentia brava por ainda pensar em ajuda-lá, ela nunca faria isso por mim.— Tem mais algo?— Hum?— Você parece pensativa desde cedo.— Ter visto ela tão fragilizada me lem
Não conseguia concentrar sem pensar no Heitor quando subia ao terraço. Me perguntava por onde ele estava, o que fazia. Queria vê-lo mais uma vez, nunca vi ninguém com olhar tão intenso. Talvez ele não lembrasse de mim, mas eu nunca esqueceria dele.Penso em Ethan.Não falamos sobre o beijo, mas ontem depois da minha apresentação ele me puxou novamente, dessa vez foi mais demorado, as mãos dele chegaram a descer ate minha cintura, elas estavam mais frias e tremulas que as minhas, foi o momento mais quente que já vivi ate agora. Vicent apareceu estragando tudo. Fizemos como antes: fingir que nada aconteceu.Hoje Gisele faria o tal aborto, o médico viria como um cliente então faria tudo em um dos quartos. Eu sentia medo por ela, durante essas semanas parecia feliz enquanto eu pensava em todas as possibilidades de dar errado.— Finalmente te encontrei. — Gisele aparece no terraço com um cigarro entre os dedos.— Que susto, Gisele. — Levo a mão ate o peito.Ela sorrir. Entao se aproxima de
No dia seguinte, a noite anterior parecia nunca ter acontecido. Gisele tentava agir de forma natural enquanto eu não conseguia disfarçar que quase a vi morrer. Essas coisas só reforçavam que temos de fugir daqui. Não seria a última vez que isso ocorreria, mas eu prometi a mim mesma não me envolver mais, pois tenho certeza que não suportaria outra noite como a de ontem.Sua pele ainda estava pálida, assim como os lábios secos, mas ela continuava sem expressão.Ethan parecia mais preocupado que eu, ele mal prestava atenção nos copos que limpava, diversas vezes quase os deixou cair.May aparece no salão usando óculos escuros de oncinha e um vestido vermelho verniz, seu gosto era questionável. Ela olha para Gisele e puxa os óculos a altura do nariz.— Gisele, querida, você está bem?Ela assentiu depois de muito tempo.— Parece que está morta. — Olho para Ethan. — Hum! Suponho que você precisa de uma folga, trabalhou duro esses dias.Vejo Gisele serrar os dentes tencionando a mandíbula.—
May levou Gisele para o hospital após muita insistência minha, não consegui contar toda a história, mas o que disse foi suficiente para May me olhar como se quisesse nos matar. E ela iria.Não consegui fechar os olhos na noite anterior, a cama dela ainda estava suja com seu sangue, a imagem dela permanecia na minha cabeça, mal pensei no que seria de mim a partir de agora, só queria que Gisele ficasse bem. Apenas isso.As meninas pareciam não entender o que aconteceu, nem eu entendia direito também, mesmo que Gisele não aparentasse estar bem eu preferia acreditar que tudo iria se encaixar, mas não foi o que aconteceu.— Jade? — Maria me chama.— Oi? — Olho para ela.— Está bem? Estou falando com você há tempos...Passo as mãos no rosto.— Não é nada. Estou cansada, a noite foi conturbada.Ela olha para os lados.— Sabe o que aconteceu com a Gisele? — Perguntou.Só de falar em seu nome eu sentia vontade de chorar, a culpa estava me consumindo, estávamos sem notícias há horas.— Eu não s
— Vamos, levanta daí! — Ordenou uma voz, pareceu tão interna que pensei ser coisa da minha cabeça.A claridade fez meus olhos arderem, eu mal conseguia enxergar quem estava na porta. Senti mãos segurando em meus braços, não tive forças para reagir. Quando finalmente abri meus olhos vi Vicent, ele estava me carregando, me levando para fora daquele quarto após mais de uma semana presa.Tentei me soltar, porém, ele me domava com facilidade.— Para onde está me levando? — Perguntei.— Não faça perguntas, canário.Passamos pela porta onde ficava o quarto das meninas, depois pelo salão, estávamos indo para o escritório da May. O que eles fariam comigo agora? Terminariam o serviço, com certeza, e depois eu seria jogada no mesmo buraco que jogaram Amanda e Ethan. Ethan... diversas vezes eu o vi dentro daquele quarto imundo comigo, me dizendo que não morrera e que viria me salvar, porém, era um delírio, de certa forma foi menos doloroso.Voltei a me debater, tentei por diversas vezes socar Vic
Eu estava frente a frente com o homem que meses atrás me fez uma promessa, agora eu sentia um misto de sentimentos tristeza, felicidade, um pingo de esperança e muita raiva. Heitor me olhava como se eu fosse um bolo de notas altas, enquanto eu não decidi o que expressar. Ele não mudou desde que nós conhecemos, na verdade, atrás dessa mesa parecia ainda mais rígido, demonstrando seu poder, eu estava certa, ele não era qualquer pessoa.Meus olhos buscavam um ponto para concentrar enquanto o silêncio entre nós só aumentava.— Estou confusa. — levo a mão até a testa. — Você... me comprou?— Não foi exatamente o que aconteceu.Não conseguia me concentrar em respirar.Ele atrás dessa mesa parecia ainda mais rico, usando uma camisa social, provavelmente da Burberry enrolada até os antebraços e uma calça social preta. Eu comecei a prestar atenção no padrão de homens que iam à boate, sempre vestiam roupas de marca, o que diferia Heitor dos outros era a juventude.— Sinto muito pela demora, tiv
Acordei tendo a certeza de que não era um sonho, eu ainda estava na prisão vermelha que Sebastian me colocou.Se eu ficasse muito tempo parada pensava em Ethan, então comecei a desbravar os livros na estante do quarto, eram todos de capa dura com histórias conhecidas, nenhuma que me tirasse o foco.Finalmente abri a porta do banheiro, lá dentro tinha uma pia branca com espelho acima, vaso sanitário e uma banheiro, isso mesmo, uma banheira.Levei as mãos até os lábios.Pensei que fosse coisa de filme, porém ela estava bem ali na minha frente e o melhor de tudo: tinha água encanada. Na boate, para tomar um banho tínhamos que aparar água em um balde, May não gostava que tomássemos banho no banheiro dos quartos.Liguei a torneira dourada, a água começou a invadir a banheira. Levei a mão até debaixo da toneira, estava gelada, mas boa o suficiente para um banho.Fechei a porta do banheiro, tirei a camisola alça por alça, o tecido de seda escorregou pelo meu corpo, eu não tinha curvas para m
Enrolei o máximo que pude, não queria voltar para o quarto, aqui eu teria mais chances de fugir, porém, Marília, muito menos os seguranças não abaixaram a guarda momento algum, enquanto eu me matava de comer pão.Anna saiu da casa muitos minutos depois, eu soube porque foi quando Sebastian voltou para a sala de jantar. Ele franziu o cenho assim que me viu.— O que ela ainda faz aqui? — Perguntou para o segurança como se eu não estivesse lá.— Não queria que eu comesse, majestade?Percebo suas narinas ressaltarem.— Marília, leva a Jade pra cima, por favor.— Ainda estou comendo. — Alego.— Ainda temos o almoço, prometo a você que a comida não vai acabar. — Respondeu num tom de voz sarcástico.Reviro os olhos e levanto.Marília me escoltou de volta para o quarto, como de costume passou a chave pelo lado de fora.Sentei no sofá encarando o nada, aquela moça de mais cedo me deixou com um nó na cabeça. Era perceptível que ela e Sebastian tinham algo mais.Deito a cabeça no braço do sofá.