Capítulo 2

Harlow

— Senhorita Davis! Desligue essa droga de aparelho! — O professor gritou pela terceira vez.

Olhei para tela travada do meu smartphone e apertei sem parar. Era uma ligação do meu pai. A quarta que eu não conseguia atender. Tropecei ontem no trabalho e quebrei a m*****a tela do meu celular e não tive chance de consertar.

Eu não era rica, mas consegui um bom trabalho em uma joalheira e consigo custear o básico pelo menos. Isso quando meu pai não pega metade do meu salário para encher a cara.

Olhei para o professor Miller, tentando fazer ele entender minha súplica e voltei para tela do meu celular rebelde. Finalmente consegui recusar a chamada do meu pai. Isso era algo que eu poderia resolver depois. Só espero que não seja nada grave.

O professor Miller caminhou em minha direção e parou com a mão estendida. Dei meu celular para ele e cruzei os braços, emburrada.

— Quero conversar com você depois da aula. — Ele disse, enquanto voltava para o quadro.

Que droga! Eu estava no meu segundo ano na faculdade como bolsista, uma advertência seria péssimo para o meu currículo.

— Ele quer te ver depois da aula? Ou você está encrencada, ou é algo sexual. — Minha melhor amiga, Manuela, sussurrou.

— Manu! — a repreendi.

— O quê? Ele é um gato, Harlow. Olha essa bundinha.

Tentei não olhar para a bunda do meu professor de História da Arte enquanto ele escrevia no quadro, mas era tentador demais para não olhar. Acabei dando uma espiadinha rápida.

O Professor Anthony Miller era um gostoso. Cabelos pretos e olhos penetrantes. Era impossível não se sentir atraída. Mas ele também vinha com um sinal enorme de alerta por vários motivos. O primeiro é que ele é o meu professor. O segundo é que ele é misterioso demais. Ele já foi na joalheria que eu trabalho várias vezes e comprou joias que um salário de professor não conseguiria comprar.

Ele sempre comprava relógios, vários deles e os mais caros. Mas da última vez ele comprou uma pulseira de ouro maciço cravejada em brilhantes da Cartier avaliada em mais de 15 mil dólares.

— Veja como ele olha para você, amiga.

— Pare, Manu. Pelo amor de Deus. Se concentre na aula.

Ela revirou os olhos e virou o corpo para frente.

Na verdade, era muito difícil me concentrar na aula e não pensar no motivo das ligações do meu pai. Ele estava tão estranho esses dias. Talvez estivesse com algum problema que não queria me contar. O meu medo era que ele estivesse devendo alguém da pesada ou tivesse voltado a jogar.

Uma hora e meia depois e a aula havia acabado. Recolhi todas as minhas coisas lentamente. Afinal, eu tinha uma inquisição com o professor bonitão, que estava com meu celular. Sem chance de sair por aquela porta tão cedo.

— Boa sorte com o professor bonitão. Eu espero que ele tire sua virgindade naquela mesa. — a Manu falou, sorrindo.

— Meu Deus, Manu! Fala baixo, ele pode escutar. — Ela sorriu, ignorando meu total desespero.

— Gostaria de te esperar, mas eu tenho que ir ao shopping com minha mãe.

— E eu preciso trabalhar. Inclusive vou me atrasar.

— Então, boa sorte duas vezes. — Ela soltou um beijo no ar para mim e saiu da sala.

Olhei para o Professor Miller, que estava colocando suas coisas na bolsa. Me aproximei e pigarrei para ter sua atenção.

— Será que o senhor pode me dá meu celular agora?

Ele me olhou com testa franzida e apontou a cadeira à sua frente.

— Sente-se, Senhorita Davis.

Eu me acomodei na cadeira.

— Eu sinto muito, professor. O meu pai estava ligando e meu celular travou. — Comecei a me desculpar.

— Por isso que eu falo para desligar o celular na sala de aula.

— Eu sei, mas isso nunca aconteceu.

— E espero que não aconteça mais.

— Mas é claro. Não vai se repetir.

Ele pegou meu celular e sentou na beira do birô.

— Senhorita Davis. Você está comigo desde o ano passado e é uma das minhas melhores alunas.

— Sou?

— Não seja modesta. Você é dedicada e tem ótimas notas.

— Eu me esforço.

— E eu aprecio muito seu esforço. É por isso que quero te dar mais. Algumas aulas extras que vão ajudar no seu currículo e na construção da sua carreira. Você quer ser professora, não é?

— Ainda não tenho certeza.

— As aulas extras vão te ajudar a decidir. Também posso te preparar para ser minha assistente nas aulas. Você sabe que sempre escolho um aluno para dar algumas aulas com minha supervisão, claro.

— Ah, sim. Isso seria incrível. Mas sinceramente, eu não tenho tempo para aulas extras. Trabalho na joalheria quando saiu daqui. Aliás, já estou atrasada.

— No Império King. Eu sei. — Notei uma ruga de irritação se formando no meio da sua testa. — As aulas podem ser no final de semana. Horário de aula.

Ele levantou do birô.

— Fica ao seu critério. Mas essa é uma boa oportunidade.

— Eu sei. Posso pensar e dar a resposta depois? É que agora eu preciso realmente ir. Vou me atrasar para o trabalho.

— Sim, claro.

Recolhi minhas coisas e estendi a mão para ele.

— O meu celular, senhor Miller.

— Sim, claro. — Ele sorriu, dentes perfeitos alinhando a sua beleza. — Me chame de Anthony.

Quando ele me deu o celular, nossos dedos se encontraram. Senti um arrepio estranho no corpo, alinhado ao seu olhar para mim. Era sombrio, não agradável. Era difícil decifrar.

— Eu realmente tenho que ir, professor.

— Para o império King.

— Sim.

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