Capítulo 5

Harlow

Fiquei estática olhando para os dois homens a minha frente. Meu pai estava um bagaço como sempre esteve, mas agora parecia pior. A cara do fracasso. E o Sr. King se comportava exatamente como alguém que tinha o mundo aos seus pés.

— Sente-se, Harlow. Se escutar o que temos para falar aí de pé, você vai cair.

— E o que é, papai? Você está devendo alguém? Mais dividas de jogo?

— A sua filha lhe conhece bem, Greg. — O Sr. King falou.

— E o senhor não tem o direito de entrar na minha cara só porque é o meu chefe. O senhor é meu chefe da porta para fora.

O Sr. King me lançou um olhar divertido, quase um sorriso surgindo do canto esquerdo da sua boca.

— Ela é igual a ela. — Ele falou.

— Eu falei que ela é. O mesmo gênio impossível de controlar. — Meu pai estalou os dentes.

— Ela é perfeita. O Rush terá alguns problemas, mas ele vai conseguir lidar.

— Vocês podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? E quem é Rush?

— Eu disse que é melhor você se sentar, Harlow. — Quem falou agora foi o Sr. King em seu tom autoritário habitual.

Travei os dentes, tentando controlar a vontade de mandar ele para o quinto dos infernos. Depois sentei no sofá ao lado do meu pai. Algo me dizia que aquela conversa ia me fazer cair para trás.

— Nós temos algo para dizer, filha. Peço que você tenha calma.

— Ei, não. Não é assim que se começa dando a notícia. Você precisa ir direto ao ponto, contar a pior parte, depois você gerencia os danos. Deixe que eu faça isso. — O Sr. king falou.

Naquela altura eu já estava completamente em pânico.

— Você vai se casar com o meu filho mais velho. É por isso que eu estou. Eu já falei ao seu pai e ele aceitou. Então, vamos lidar com as coisas de forma rápida, sem protestos. É uma proposta irrecusável. Você será uma King.

A minha reação foi gargalhar. Não sei se de nervoso ou incredulidade.

— Vocês estão loucos. Você não pode entrar aqui e me comunicar que vou me casar como se eu fosse uma adolescente. Se eu tenho direito de resposta, a resposta é não.

— Você não tem direito de resposta, Harlow. Eu sou seu pai e estou dizendo que você vai se casar com o filho do Sr. King. — Meu pai falou ríspido.

— Papai, eu…

— Já chega, Harlow. Eu cuidei de você por vinte anos e fiz os seus gostos, mas agora não posso mais. Você vai se casar em uma família rica e vai ter todas as mordomias. Qualquer garota iria adorar isso.

— Sério? Porque isso parece mais uma fanfic. Casar com um homem rico. O que ele tem? O rosto queimado? É defeituoso?

— Meu filho Rush é perfeitamente normal. Eu garanto.

— Rush? Parece um nome que eu daria para um cachorro se eu tivesse um. A resposta é não.

Ambos os homens bufaram.

— Eu falei que ela não aceitaria.

— Porque essa foi a educação que você deu a ela, Gregory. Essa garota está completamente descontrolada.

Ah, mas esse velho não ia entrar na minha casa e me chamar de descontrolada nem fodendo.

— Olha aqui…

— Cale a boca por um minuto, Harlow. — Ele falou, estendendo o dedo para mim. — Antes que você comece a surtar, eu quero dizer o que um não de sua parte implica.

O Sr. King pegou um envelope na lateral da poltrona e estendeu para mim. Abri e vi que eram fotos do meu pai. Em casa de jogos, bêbado na rua, sendo expulso de cassinos e prostíbulos.

— Eu tenho vídeos também.

— Papai?

O meu pai baixou a cabeça envergonhado.

Não era a primeira vez que ele fazia isso. Nós perdemos tudo ao longo dos anos e ficamos apenas com a casa em que moramos. Eu gastei todo meu dinheiro desde que comecei a trabalhar aos dezesseis anos para sustentar os vícios do meu pai.

— Seu pai está devendo mais de cem mil dólares a um pessoal da pesada. Dinheiro esse que concordei em pagar. Mas como eu preciso de uma noiva para o meu filho, estou juntando o útil ao agradável.

Eu estava em choque, tremendo como nunca estive na vida. Olhei para o meu pai com lágrimas nos olhos.

— Você está me vendendo?

— Filha, não é disso que se trata. Estou fazendo o melhor para você.

— E salvando o seu próprio rabo no processo.

— Vamos, Harlow. O seu pai não é bom para você. Veja quantos problemas você já teve que aturar por causa dele. Sendo uma King você não enfrentará mais nenhum problema. — O Sr. King falava como alguém que estava vendendo uma mercadoria.

— E se eu não me casar?

— Então, eu não poderei fazer nada pelo seu pai. Essa não é a primeira vez que tiro ele de problemas. Eu tenho monitorado você por anos e feito de tudo para lhe ajudar. Eu vi o quanto você já sofreu por ele. Agora mesmo ele está disposto a entregar sua filha por um punhado de dinheiro. Se não para mim, será para outro.

— Quem é o senhor finalmente?

Ele se ajeitou na poltrona.

— Um amigo.

— Um amigo? — Olhei para o meu pai, mas ele não falou nada. Parecia com raiva, envergonhado ao mesmo tempo. O que ele iria falar?

Eu estava sem saída, encurralada, me sentindo traída. Só queria chorar.

Casar com um milionário pode ser o sonho de qualquer garota, mas não desse jeito. Não sendo trocada por dinheiro.

— Você precisa pensar que está salvando a minha vida, Harlow. Você me deve isso. Eu criei você sozinho logo após perder sua mãe. Não tive tempo de me recuperar e já tinha uma criança nos braços. Eu poderia ter te dado para adoção, mas decidi ficar com você.

“Ficar comigo”, é assim que ele fala da sua própria filha.

No fundo, eu sempre soube que meu pai não me amava, mas queria acreditar que era só uma depressão pela perda da minha mãe. Mas se passaram vinte anos e ele continua sendo um zero à esquerda.

Tomei uma decisão repentina. Não sei se é movida pela minha raiva eminente ou pela tristeza que estava sentindo. Algo em mim morreu naquele momento e não vi nada à minha frente. Meu pai simplesmente me vendeu para um homem rico pensando apenas no seu benefício, como ele fez toda vida. Sempre foi sobre dinheiro. Eu sempre fui sua mina de ouro.

— Eu aceito. Eu vou me casar com o seu filho, Sr. King. Mas eu quero que a dívida do meu pai seja paga ainda hoje. E também não quero que nenhum centavo a mais seja dado a ele. Documente isso se for preciso. Eu também não quero ele no meu casamento.

— Filha.

Me levantei correndo para a saída, pegando apenas a minha bolsa. As lágrimas embaçando minha visão.

Eu não queria mais voltar para aquela casa. Eu não queria olhar para a cara do meu pai nunca mais.

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