Rush
Fui acordado por uma batida forte no meu quarto. Minha mente levou um tempo para se ajustar. Minha cabeça estava girando. Sinos badalando no meu ouvido. Me virei e senti um corpo macio ao meu lado. Eu lembrava de transar umas duas vezes, sendo que a segunda eu lembrava bem mais. Uma mão tocou nas minhas costas e eu me assustei. Mais batidas. Desta vez quase colocaram minha porta abaixo. — Ai! — A garota gritou atrás de mim. Eu a empurrei. Estava tentando chegar à porta, mas minha cabeça estava girando de verdade. — A porta… abra a porta.— Foi o que consegui dizer. Empurrei a garota, me apoiando na barriga macia da outra. Eram duas garotas. Isso ou uma foi partida ao meio. A garota se enrolou no lençol e foi até a porta. Quando ela abriu, um pouco do clarão entrou e eu vi a figura masculina rechonchuda entrando no quarto. — Saia! — ele gritou. Ele foi até a cortina e acionou o controle para abrir a cortina da janela. Conforme a luz ia entrando, mais minha cabeça doía. — Porra. Precisa abrir tudo? — Tem que abrir. Quem sabe a luz traga um pouco de juízo a você. — Era a voz do meu pai. Eu conhecia aquela voz grave e irritada de longe. Tentei cobrir os olhos, mas senti meus lençóis sendo puxados. — Que droga! – exclamei, jogando o travesseiro na minha cabeça. — Levante-se! – A voz estridente do meu pai rasgou meus ouvidos. A garota se remexeu do meu lado. Sentei na cama e puxei os lençóis para cobrir minha nudez. Minha cabeça queimava devido à ressaca da noite anterior. — Desculpe. — A garota falou nervosa. Se levantando. Ela era bonita, loira e magra como uma modelo. O estilo que eu gostava. — Saia! — ele gritou para a garota. — Você precisa falar assim com a pobre da… — Olhei para garota tentando lembrar o nome dela. Era alguma coisa com R… — Roxane? — É Layla. — Ela falou, parecendo magoada. — Desculpe, Layla. Recolha as roupas da sua amiga também a… Roxane. — O nome dela é Cristina. Ah, sim. A brasileira Cristina. Gostosa pra caralho. A Layla recolheu as roupas dela do chão, correndo para a porta. — Espere. — Meu pai tirou um maço de dinheiro no bolso e deu para ela. Ela olhou horrorizada. — Vamos, pegue e saia. — Ele rosnou. Ela pagou o dinheiro e saiu correndo, quase chorando. — Papai, ela não é prostituta. — Tem certeza? Por que em sã consciência uma mulher aceitaria fazer uma suruba com você sem ganhar um bom dinheiro? — Primeiro, é ménage à trois. — Falei usando o meu melhor sotaque francês. — É uma prática milenar. Você deveria experimentar. Ele bufou. — Não me tire por prostituto, Rush. Eu sou um homem íntegro. Já você... — ele balançou os dedos em desdém. Olhei para a figura elegante do meu pai à minha frente, com o terno bem alinhado e a postura de um lorde inglês. Ele um inglês com descendência irlandesa. Era um homem completamente antiquado, que acreditava no amor e no casamento. Eu era o oposto, meu irmão também. Nós éramos tudo o que o meu pai odiava quando resolveu criar seu império nos Estados Unidos. Ele sempre tentou incutir seus costumes em nós, mas não deu muito certo. Ele andou pelo quarto. Observei as embalagens de camisinhas no chão. Fiquei feliz por lembrar disso. — Não era para você estar trabalhando? — Hoje é domingo! Quem trabalha no domingo? — Hoje é sexta-feira! Mas mesmo que fosse domingo, um homem comprometido com o trabalho não se atém a datas. Levantei e vesti um moletom do armário do meu irmão. — Eu sou um homem extremamente comprometido com o trabalho, papai. Tudo está organizado na empresa e os documentos que pediu estão assinados. Nós também temos uma ótima equipe, monitorada de perto por mim. — Enquanto bebe e transa com mulheres aleatórias em sua cobertura? — Primeiro, eu não bebo em horário de trabalho. Segundo, eu não levo mulheres para minha cobertura. Eu as como onde as encontro. — No caso, aqui? No apartamento do seu irmão? — Meu irmão não está usando. Ele não consegue sair da sua aba. Eu só estou aproveitando o lugar. Não gosto de levar mulheres a minha casa, você sabe. — Então, você vem para cá ou vai a um puteiro qualquer. Eu não consegui controlar o riso. Meu pai adorava pegar pesado comigo. — Você ficaria surpreso em saber onde eu encontro mulheres, senhor King. — Para você é papai, garoto. Eu ainda sou seu pai e não me desfiz do meu posto. Mesmo que às vezes deseje te deserdar. Você é concupiscente e extremamente imprudente. — Talvez você deva me deserdar e colocar seu filho mais novo como CEO da empresa. Eu adoraria ver seu império milionário ser destruído pelas mãos do seu querido filho modelo. — Devo lembrá-lo de que não preciso de nenhum dos meus filhos. Eu não estou morto. E como você disse, temos uma boa equipe. Eu posso muito bem encontrar outro CEO com mais competência que você. Fui tomado pela ira. Meu pai podia falar o que quisesse, mas ele não podia duvidar do meu trabalho. Eu carregava aquela empresa nas costas. Fui responsável pelo alto lucro e crescimento da empresa nos últimos anos. Não permitiria que meu profissionalismo fosse colocado em jogo. — Papai... — Chega, Rush! Eu não quero ouvir mais nada. Agora você vai me ouvir. Sente-se. — Prefiro ficar de pé. — Que seja! – Ele se sentou na poltrona à minha frente. – Vou direto ao assunto. Não sei se lembra, mas eu te dei até os vinte e sete anos para encontrar uma boa esposa. Você já está com vinte e oito anos, prestes a fazer vinte e nove. — Não é tão fácil encontrar uma boa mulher para casar, não significa que eu não tenho procurado. — Transar com a primeira mulher disponível não é exatamente procurar. — Você realmente me entende mal, papai. — Entendo aquilo que você me transmite. Mas enfim, agora sua busca não é mais necessária, já encontrei uma boa esposa para você. O olhei, espantado com suas últimas palavras. — Eu realmente espero que isso seja um tipo de figura de linguagem. — Não! É exatamente o que eu quero dizer. Já faz um tempo que estou monitorando uma boa esposa para você. — O que você quer dizer com monitorando? Isso parece papo de psicopata. — Ela não aceitou ainda, mas vai aceitar. Ela é uma boa moça e tenho certeza que você vai gostar dela. — Você está brincando, não é? — sorri, mais de medo do que de outra coisa. — Não. Estou dizendo o que eu realmente quero dizer. Eu te encontrei uma boa esposa, já que você parece incapaz de fazer isso sozinho. — Ele falou as palavras bem calmamente, para me irritar. — Tipo, casamento arranjado? — Chame como quiser. Eu ainda não falei com ela, mas queria te comunicar antes. — Comunicar? — Eu ri alto. — Nossa, obrigado pela consideração. Mas vou ter que recusar. — Pense bem, filho. Vai ser bom para você. Um casamento vai trazer estabilidade para sua vida. Uma família, filhos e uma boa transa com uma mulher só. — Eu não quero transar com uma mulher só, filhos, família, cachorro ou um carro SUV. Eu quero transar com quem eu quero e me sinto atraído. E, com certeza, não é uma esposa escolhida pelo meu pai. — Estou certo que posso escolher uma mulher bem melhor do que você. Bom, isso eu não poderia negar. Minha mãe era uma esposa modelo e uma mulher muito bonita. Eles tinham um casamento de sucesso há anos. O tipo de coisa rara que só acontece uma vez. — Ai! Você realmente sabe mexer na ferida de um homem, senhor King. Mas a resposta ainda é não. — Não precisa responder agora. Espere a garota aceitar. Depois vamos ver as demais coisas. — E como você tem tanta certeza que ela vai aceitar? Mas como ele não teria? Eu era bonito, rico, gostoso pra caralho e bom de cama. Seja quem for, ia ganhar na loteria. — Ela vai aceitar. Eu tenho meus meios. — Chantagem? Ele sorriu. — Não importam os meios e sim os fins. — Quem é a garota? — Direi no tempo certo. Só fique preparado. — Eu não vou ficar preparado. Isso não vai acontecer nem fodendo. Meu pai se levantou e virou a mesa de centro ao lado da poltrona. O abajur se estilhaçou no chão. E ela estava o maldito irlandês impondo sua vontade. — Você vai fazer o que eu mandar, Rush. Ou então eu vou te destronar. Vou te deserdar. Vou tomar tudo o que você conseguiu com o meu dinheiro. — O que eu conseguir. Eu trabalho desde os dezesseis anos nessa empresa. — Mas é claro. Você vai ser indenizado. Agora vamos ver se o dinheiro da indenização vai dar para você manter sua vida de luxo. — Você me subestima, papai. Eu ainda posso conseguir um emprego. Ele gargalhou. — Um King destronado? Você não vai conseguir emprego nem de serviços gerais, Rush. Eu vou me certificar disso.Harlow— Senhorita Davis! Desligue essa droga de aparelho! — O professor gritou pela terceira vez.Olhei para tela travada do meu smartphone e apertei sem parar. Era uma ligação do meu pai. A quarta que eu não conseguia atender. Tropecei ontem no trabalho e quebrei a maldita tela do meu celular e não tive chance de consertar.Eu não era rica, mas consegui um bom trabalho em uma joalheira e consigo custear o básico pelo menos. Isso quando meu pai não pega metade do meu salário para encher a cara. Olhei para o professor Miller, tentando fazer ele entender minha súplica e voltei para tela do meu celular rebelde. Finalmente consegui recusar a chamada do meu pai. Isso era algo que eu poderia resolver depois. Só espero que não seja nada grave.O professor Miller caminhou em minha direção e parou com a mão estendida. Dei meu celular para ele e cruzei os braços, emburrada.— Quero conversar com você depois da aula. — Ele disse, enquanto voltava para o quadro.Que droga! Eu estava no meu se
Harlow— Pai, eu não posso falar com você agora. Estou atrasada para o trabalho e ainda preciso vestir o uniforme.— Eu sei, filha. É rápido.— Se for dinheiro, eu não tenho um centavo sequer.— Quem você pensa que sou? Eu não sou nenhum interesseiro, Harlow.— Está bem, pai. Mas não dá para falar agora. Nós falamos depois, está bem?— Está bem, mas venha para casa. O assunto é importante.Parei na porta da joalheria. Pensando no que seria importante para o meu pai. Em que merda ele se meteu agora. Mas a Diana, minha colega de trabalho, começou a acenar de dentro da joelheira.— Eu preciso ir, pai. Eu falo com você mais tarde. Desliguei o celular e entrei na joalheira. O Max estava atendendo um cliente, me olhou de canto de olho e bateu no relógio dele discretamente.E falei um “desculpe” silencioso. A Diana veio até mim, me puxando para dentro da loja.— Calma, Diana. O que foi? — Você não viu a Mercedes na entrada da loja? Você está encrencada. — Eu não vi. Mas o que houve?— Ele
Rush — Espero que você tenha um bom motivo para me fazer ficar em casa em pleno sábado à noite. — Meu irmão falou, sentando no sofá em frente a mim.— Não me diga que você tinha planos, porque eu sei que sua vida é completamente inútil. — Você que pensa. Meu final de semana está cheio. — Cheio com o quê? Vai viajar com aquela gangue de motoqueiros de novo?— Shhh. — Ele olhou em volta para ver se tinha alguém. — Fala baixo, porra. Se a mamãe escutar, ela vai contar ao papai. — E ele não pode saber que seu filho modelo adora vestir jaqueta e sair por aí em uma porra de moto, não é? Imagina quando ele souber que faz três meses que você não vai à empresa.— Rush, o que você quer? Eu conheço você o suficiente para saber que você está tentando me chantagear. — Chantagear? — gargalhei. — Eu nem comecei, irmão. Mas já que você perguntou, eu quero uma coisa sim. O papai vai me arranjar uma noiva. Você acredita nessa merda? Ele ameaçou até me deserdar se eu não me casar. — Uma noiva?— S
Harlow Fiquei estática olhando para os dois homens a minha frente. Meu pai estava um bagaço como sempre esteve, mas agora parecia pior. A cara do fracasso. E o Sr. King se comportava exatamente como alguém que tinha o mundo aos seus pés.— Sente-se, Harlow. Se escutar o que temos para falar aí de pé, você vai cair. — E o que é, papai? Você está devendo alguém? Mais dividas de jogo?— A sua filha lhe conhece bem, Greg. — O Sr. King falou.— E o senhor não tem o direito de entrar na minha cara só porque é o meu chefe. O senhor é meu chefe da porta para fora. O Sr. King me lançou um olhar divertido, quase um sorriso surgindo do canto esquerdo da sua boca.— Ela é igual a ela. — Ele falou. — Eu falei que ela é. O mesmo gênio impossível de controlar. — Meu pai estalou os dentes. — Ela é perfeita. O Rush terá alguns problemas, mas ele vai conseguir lidar.— Vocês podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? E quem é Rush? — Eu disse que é melhor você se sentar, Harlow. —
Harlow Você vai se casar com o meu filho mais velho. Eu poderia ter te dado para adoção, mas decidi ficar com você.Já faz dois dias, mas aquelas palavras não saíram da minha mente, assim como a decisão que tomei. Foi no calor do momento e é claro que eu me arrependi logo em seguida. Mas agora não poderia voltar atrás. Era capaz dos King me sequestrarem e me obrigar a cumprir minha palavra.O pouco que sabia deles, era que eles tinham muito poder e influência no país inteiro. Muitos até diziam que eles tinham contato com mercenários e mafiosos. Não tinha como ter um império de joias e evitar ser roubado sem ter justiceiros em sua folha de pagamento. Estou há quase dois anos aqui e nunca fomos roubados, mas houve boatos sobre um roubo em uma das fábricas que acabou com algumas pessoas "apagadas". Meu Deus, no que eu estava me metendo?E meu noivo? Com certeza ele tinha algum problema para o seu pai rico comprar uma noiva para ele. Talvez ele tivesse deficiência, como aquele homem do
RushEla era bonita. Tinha fogo em seus olhos, algo diferente como se ela estivesse prestes a explodir a qualquer momento. Eu vi como ela apertava os lábios em um esforço para não me xingar e em algum momento eu jurei que ela iria jogar os anéis na minha cara. E a forma que ele balançou sua bunda perfeita na minha frente, aliado a maldita tornozeleira de prata em seu pé direito e os saltos, quase me deixaram louco. Se tinha coisa mais sexy do que uma mulher com tornozeleira, eu desconhecia. Eu foderia ela naquela mesa usando apenas os saltos e a tornozeleira. Eu até imaginei isso por um segundo e foi o que me deixou mais irritado.Não pretendia me casar com ela, mas eu era homem, um predador. Gostava de mulheres bonitas. Eu transaria com ela. Mas estava custando para acreditar que o meu pai quer me casar com uma funcionária da empresa. Eu, o filho dele. Ele só podia estar querendo me humilhar.— Mike, você pode me levar para casa do meu pai rapidinho?— O senhor não tinha uma reu
HarlowDava para ver os pontos fracos do Rush estampados em seu rosto. Ele era temperamental e impulsivo. Suas expressões diziam exatamente como ele estava se sentindo.— O que você está fazendo na porra da minha sala?— Você pediu uma encomenda e eu vim trazer. — Eu não queria você trazendo. Saia da minha sala. — Ele gritou e apontou a saída. — Se você gritar comigo de novo, como você faz com os seus funcionários, você vai ver o meu pior lado e não vai gostar.— Quem você pensa que é para me ameaçar? — E quem você pensa que é para chegar no meu local de trabalho e tentar me humilhar? Mesmo com o salto, ele era bem mais alto que eu. Mas eu o encarei. Erguendo meu queixo para aproximar meu rosto do dele. — Você não é a porra do dono do mundo e não tem direito de me humilhar só porque está numa posição acima de mim.— Então, você reconhece sua posição?— Dinheiro e status, é a única coisa que você tem. Porque o caráter passou longe. — Quem é você para falar do meu caráter? A porra
Harlow— Você não vai mesmo me dizer o que ficou fazendo todos esses dias? — A Manu insistiu. Nós estávamos na aula, mas ela continuava tagarelando.— Eu só faltei dois dias, Manu. Apenas dois dias. — E voltou para faculdade com cara de cu e roupas que claramente não são suas. As roupas eram da Diana. Ela era uma mulher curvilínea, então o vestido estava sobrando em mim.Eu tinha que ir para casa pegar minhas roupas. Meu pai já havia mandado todas as mensagens de desculpas do mundo, seguidas de várias ligações, mas eu não aceitei nenhuma. — Vamos focar apenas na aula, antes que o professor Anthony me dê outra advertência.— Ele te advertiu naquele dia? Como foi? Foi em cima da mesa ou sob as cadeiras?— Meu Deus, Manu. Pare. — Senhorita Davis. — O professor Anthony bateu no quadro. Todos, absolutamente todos na sala olharam para mim. — Desculpe. — Me encolhi na cadeira.O sinal tocou bem na hora, mas não pude evitar o olhar furioso do professor Anthony.— Olha o que você consegui