Se meter em problemas nunca exigiu muito esforço por parte de Catherine Ashton, coisa que aos três anos todos achavam engraçado, e o "porém" veio apenas aos vinte e três.
Duas décadas depois, a quantidade e a intensidade com que os problemas chegavam até ela era de deixar até mesmo um cara calvo de cabelo em pé.
Mas nada se compara ao que estão por ler agora, e aqui começa o "era um vez" desta incrível jovem mulher.
[ Sexta-feira, treze de maio ]
Praticamente duas horas adiantada, Catherine – ou Cat, como frequentemente era chamada pelos mais próximos – subia as escadarias rumo ao terraço.
Na porta de saída, se via claramente uma placa proibindo a ida de qualquer funcionário não autorizado e como a ótima insolente que era, sorriu ao cruzar para o lado de fora, como se quebrar as regras lhe desse mais energia do que seu café da manhã.
— Bom dia pra mim! — Gritou rodopiando no terraço.
Correndo direto ao parapeito, ela olhou a cidade que agora se parecia a casas de bonecas e se imaginou no topo do mundo. Era alguém terrivelmente criativa e não por menos escolheu cinema e se tornou a mais jovem produtora da agência de anúncios 2A's.
Naquela manhã em especial, ela tratava de sugar a maior inspiração possível, seu primeiro grande projeto estaria em fase de execução, e improvisações eram sempre bem vindas desde que muito bem inspiradas.
Não gostava de arrependimentos e por isso sempre dava o melhor de si. Uma ótima funcionária recém graduada, mas que nunca ousou sonhar em pular de estagiária a produtora em tão pouco tempo e que de repente havia ganho a vaga dos sonhos.
Ela estava feliz e talvez feliz nem mesmo fosse o suficiente para descrever o que sentia, no entanto nem se importava com tal de poder passar quanto tempo quisesse no terraço.
— Sabe de uma coisa Cat? — Perguntou-se a si mesma em voz alta. — Você é incrível, criativa e …
— Desobediente. — Adicionou uma voz masculina que a fez engasgar com o ar, atrás de Catherine.
Se virando, deu de cara com um homem de uns incríveis par de olhos azuis, um cabelo negro escorrido como as penas de um corvo e de notáveis mais de dois metros de altura. Usava um traje de negócios azul marinho e um par de sapatos de couro que ela podia notar pela qualidade, serem italianos. Seu rosto iluminado pela fraca luz do sol recém nascido, o deixava com um ar vampiresco pela pele semelhante à porcelanato em contraste com aquele par de olhos profundos. Tudo nele parecendo irreal diante dela, quem mal conseguia ultrapassar um metro e meio, e seu rosto infantil não ajudava na credibilidade das suas palavras quando revelava ter vinte e três anos. Era difícil que acreditassem sem ver seu RG.
— Pretende passar quanto tempo mais me encarando, senhorita… — Ele fez uma pausa, esticando a mão na direção de Cat para pegar seu crachá. — Srta. Ashton?
— E-e-eu vou… vou…
— Vai sair do terraço e começar a respeitar as placas, certo?
— Certo. — Catherine confirmou engolindo em seco.
Tão logo ele soltou o crachá da jovem produtora, Catherine escapou descendo as escadarias como se não houvesse o amanhã.
Chegando ao seu andar, adentrou sua oficina com a mão no peito e agradeceu que teve a sorte de ter encontrado um dos sócios mais "amigáveis", pois sabia que se fosse outro poderia ter feito da subida ao terraço uma grande coisa. Em resumo, um comentário aos donos e ela não seria mais a produtora mais jovem da agência.
Tentando não se atormentar, Catherine passou o dia totalmente focada no conceito do novo comercial do dia das mães para um shopping popular no centro da capital. O tempo passou voando na sala de reuniões enquanto todos lançavam ideias e tentavam reunir um bom material para um comercial de ensaio, mas minuto a outro ela pensava na possibilidade de estar encrencada por infringir uma ordem estampada em uma porta.
— Por que sempre causo problemas a mim mesma? — Se perguntou mordendo a ponta de um pobre lápis inocente.
Parou quando percebeu o que fazia e agora com seus olhos desfocados do trabalho pela primeira vez em horas, ela finalmente verificou seu relógio de pulso.
— Droga, já são nove da noite?
Apanhando a bolsa da mesa, Cat verificava mais uma vez os avanços daquele dia e sentiu-se bem porque o dia passou rápido. As ideias discutidas eram boas e no dia seguinte já começariam com a produção do comercial.
Trancando a porta de seu escritório por segurança, Catherine colocou a chave dentro de sua bolsa de colo e caminhou em direção aos elevadores.
Não demorou muito para que a caixa metálica se abrisse no andar, e quando o fez, Cat deu de cara com Vanessa, uma das três secretárias presidenciais.
Estava estampado na face de Vanessa o quanto a mulher não se encontrava bem, parecia queimar de febre pelo rubor nas bochechas e a palidez no restante do rosto.
Intrometendo-se como de costume, Catherine se ofereceu para carregar algumas pastas que estavam nos braços da secretária e ato seguido, mencionou o que Vanessa praticamente já sabia.
— Parece com febre e meio pálida.
— Estou acabada, não é? — Perguntou a secretária com uma voz rouca.
— Eu não diria acabada… — Cat pensou, mas pensando por uma segunda vez. — Quer saber, parece sim.
— Eu imaginava.
— Quer uma ajuda com tudo isto aí?
— Vou aceitar. — Vanessa concordou, estendendo as pastas para as mãos de Catherine. — Obrigada Cat.
— Por nada. — Respondeu, permanecendo os últimos andares do elevador em silêncio.
A chegada no térreo obrigou ambas a se moverem para saírem do elevador.
— Esta pasta aqui está com um post-its dizendo "entrega ao CEO até o fim da noite". — Catherine comentou ao ver a nota sobre a pasta. — Você vai mesmo até a mansão dos Cohen neste estado?
— E que outra opção eu tenho? O chefe precisa mesmo assinar estes documentos e escaneá-los até a meia-noite de hoje.
— Mas Van, olha o seu estado…
— O meu estado não vai ser tão importante se eu for demitida. — A secretária comentou rindo.
Ao seu ver, Vanessa precisava ir se consultar com um médico ao invés de gastar o restante da noite com mais trabalho. E então pela segunda vez naquele dia ela arranjava problemas pra si mesma.
— Te proponho que me deixe levar estes documentos ao CEO e você vá direto ao posto de saúde checar se é mesmo só uma gripe. — Catherine sugeriu.
— Esta falando sério? Pode fazer isso por mim?
— E eu ofereceria se não pudesse?
— Obrigada Cat. —Vanessa a abraçou com tudo, fazendo a pasta cair. — Oh, desculpa.
— Não tem problema. — Catherine abaixou recolhendo os papéis e os colocando de volta na pasta preta. Então olhou para a secretária e continuou. — O quê está fazendo aqui ainda? Anda, vai se cuidar mulher.
— Obrigada de novo Cat. — Agradeceu uma última vez, correndo para fora da empresa para pegar um táxi.
Sozinha, a produtora encarou a pasta por alguns segundos.
— Droga Cat, não sabe ficar na sua?
Pegar um táxi não foi difícil, porém chegar à mansão dos Cohen pareceu uma tarefa impossível com a tempestade de neve repentina assolando a capital. A viagem que duraria vinte minutos com o pouco tráfego nas vias principais, tomou mais de quarenta e cinco minutos, mas ao menos chegaram. — É aqui, senhorita. — Avisou o taxista, estacionado frente a casa castelar. — Obrigada. Descendo do táxi, Catherine normalmente tomaria alguns segundos se impressionando com a visão da mansão a sua frente, mas não naquela noite, não com os seus ossos congelando. Tremendo, ela tocou o interfone, torcendo que alguém a respondesse logo em seguida. — Estou aqui para pegar a assinatura do CEO Cohen, são papéis urgentes. — Disse próxima ao interfone. — Tudo bem, é só apresentar a identificação pra câmera. Levantando o crachá do pescoço, ela o mostrou para o segurança através da câmera e em seguida teve o portão destrancado. O segurança, Adom – como o nome gravado na plaquinha do uniforme s
— Olá, Srta. Ashton. — Ele a cumprimentava de volta. Se entre olhavam a distância e antes que algo mais pudesse ser dito, Catherine se lembrou do motivo inicial de estar ali. — Trouxe um contrato importante, Vanessa não estava bem, então vim trazer em seu lugar. — Certo e onde estão os papéis? — Ele a questionou, não os vendo na cozinha. — Estão sobre a mesa de centro na sala, Jonathan. — A governanta o respondeu. — Obrigada Lúcia. — Ele agradeceu e se retirou. Para nada foi uma conversa longa, mas por algum motivo ela sentia como se ele a pressionasse com o olhar e por algum tempo prendeu a respiração sem perceber. — O quê essa garota tem? — Lúcia perguntou ao ver o quanto Cloe puxava a blusa de Catherine. A pergunta tirou Cat do mundo da lua e trouxe de volta oxigênio aos seus pulmões, mas apenas depois de quase ter todos os botões até o busto arrebentados, foi que percebeu o quê a bebê havia feito. Ela se preocupou de que Cloe estivesse atrás do cheiro de leite.
Passadas duas horas e meia em confinamento, a bebê finalmente estava adormecida e havia largado o seio. — É mãe? — Fui, por oito minutos e bem, minha bebê não resistiu às complicações do parto. — Catherine disse, tocando pela primeira vez no assunto em oito meses. Havia engravidado próximo a formatura da faculdade e passou por muitos julgamentos e perdas, mas não era alguém de se render facilmente. Quatro meses após o parto, voltou a fazer o curso, os estágios e se dedicou até conseguir o cargo em que estava. Era tudo muito recente e poucos sabiam sobre sua situação. — Ela estava com fome. — Cat não quis dizer nada mais sobre si e voltou-se para Cloe em seus braços. — É a primeira vez que a vejo dormir desta forma tão profunda. — Ele comentou escorando na bancada de mármore. — A Sra. Lúcia estava preparando uma mamadeira antes de tudo isso acontecer, então por curiosidade, a mãe não pode alimentá-la? — A curiosidade matou o gato Srta. Ashton. — Bom, só gostaria de entende
[ Ao dia seguinte, três da tarde] — Ahhtim! — Espirrou Catherine e, ato seguido, agarrou um lenço da caixa para assoar o nariz. Havia um milhão de coisas para fazer em casa já que preferia tomar o domingo para não fazer nada, entretanto, a tempestade de neve que passou debaixo na madrugada a tinha deixado resfriada e nada conseguia fazer com que parasse de espirrar ou com que o nariz deixasse de escorrer. — Ótimo, quem vai fazer a faxina aqui? — Perguntou ao vazio da sua casa. Mal conseguia levantar do sofá, e então se lembrou de Vanessa. Era boa em dar conselhos e sugestões, mas uma coisa era dá-los e outra bem distinta era segui-los. — Talvez seja melhor ir ao médico mesmo… — Murmurou para si mesma, recolhendo forças para levantar do sofá. Sua cabeça estava ardendo de tão quente e Catherine mal podia levantar o olhar. A sinusite a estava matando e era algo para o qual ela não tinha remédios. Vestiu-se mais ou menos, saiu de casa já com a garantia de que o taxista e
Chocada, Catherine voltou pra cama e se deitou junto de Beatriz quem começou a chorar depois de o pai precisar voltar para seu próprio quarto de observação. Mais tarde ela se inteirou dos detalhes. Havia sido um acidente de trânsito, em que um dono de caminhão deslizou sem controle pelas ruas congeladas e acertou o carro dos Cohen. Para bem, Beatriz apenas tinhas um arranhões pelos vidros da janela do carro terem se estilhaçado sobre ela e um pulso meio inchado, mas que logo estaria melhor. E quanto a Jonathan, esse parecia bem, apesar de pálido. — Está na hora do jantar. — Avisou a enfermeira que distribuía as refeições pelos quartos. — Obrigada. — É a Sra. Cohen, certo? — Questionou a mesma enfermeira de algumas horas atrás. — Sim, sou eu. — Cat respondeu, com um pouco do sabor da mentira a deixando incomodada. — Seu marido disse que a sua cunhada está aqui, para cuidar da sobrinha. E que você devia ir pra casa. Catherine pensou no que aquilo significava, e assentiu.
Incômodo com tudo, ao invés de voltar ao seu quarto, Jonathan preferiu passar a noite na cadeira ao lado da maca da filha e de Cat. Às seis da manhã chegou e o CEO não teve outra escolha a não ser acordar com a luz invadindo o quarto. A filha e a mulher ainda dormiam, e ele pensou na encrenca que seria se uma das enfermeiras entrasse no quarto e o encontrasse ali. Pensando em escapar de problemas, se levantou vagarosamente da cadeira para não fazer barulho, mas não contava com que uma enfermeira fosse adentrar o lugar logo a aquelas horas desejando bom dia. — Bom dia. — Ele respondeu, de pé. — Humm… — Fez Catherine se espreguiçando. Ele se voltou para ela e ela o encarou, logo depois disfarçando a surpresa em vê-lo para não deixar que a enfermeira desconfiasse de ambos. — Quando veio pra cá? — Ontem a noite. — Ele confessou. — Não quis te acordar. — Não tem problema, na verdade queria te ver e avisar que fiquei no lugar de Gabriela. — Ela se sentou na maca tomando
Atônita. Pela primeira vez desde que nasceu, Gabriela estava sem palavras. O irmão havia beijado realmente Catherine em sua frente. Os dois pareciam ter uma relação inegável e ela começava imaginar ser este o motivo pelo qual as sobrinhas adoravam a companhia da mulher. Em sua mente, Gaby já presumia que o irmão estava em uma relação a tempos. Também presumindo que se estivesse certa Jonathan jamais a confirmaria de primeira, Gabriela optou por guardar os esforços interrogativos e como um velho ditado diz "dar tempo ao tempo". — Tempo uma ova! — Disse a si mesma, após cinco minutos observando a interação entre o irmão e a "cunhada". Ignorando o surto da irmã ao seu lado, o CEO se focou na filha nos braços de Catherine. — Por que ela chora tanto? — Bem, pelos puxões que ganhei, aposto que ela está com fome. — Cat falou chutando de forma certeira. — Gabriela, onde está o carrinho e a mala da Cloe? — Jonathan voltou-se para a irmã, quem se encontrava sentada na poltrona ao
[ Sábado, vinte e oito de maio ] Esperando-a no altar estava ele, vestindo um terno sob medida que a fez duvidar se a quem enxergava era mesmo Jonathan Cohen ou o anjo Lúcifer. O CEO não estava somente de cair o queixo, mas também personificava a tentação. Quem também não se deixava para menos era Catherine, que jazia deslumbrante em seu vestido de noiva fabricado por uma das mais exclusivas marcas de Madrid, cortesia de seu sogro que apesar de em um primeiro momento não ter a aceitado muito bem, logo se descobriu um homem muito amável. Como ensaiado pela organizadora de eventos, a noiva caminhou vagarosamente até o altar, sendo em seguida acolhida por Jonathan, quem se encontrava mil vezes mais a flor da pele do que ela. — Está com frio? — Catherine o perguntou diante da tremedeira notável. — Estou bem. — Disse ele, aparentando exatamente o oposto da afirmação. O sermão do juiz de paz juntamente do restante da cerimônia levou mais de uma hora em ser concluído, o que torna