[ Ao dia seguinte, três da tarde]
— Ahhtim! — Espirrou Catherine e, ato seguido, agarrou um lenço da caixa para assoar o nariz.
Havia um milhão de coisas para fazer em casa já que preferia tomar o domingo para não fazer nada, entretanto, a tempestade de neve que passou debaixo na madrugada a tinha deixado resfriada e nada conseguia fazer com que parasse de espirrar ou com que o nariz deixasse de escorrer.
— Ótimo, quem vai fazer a faxina aqui? — Perguntou ao vazio da sua casa.
Mal conseguia levantar do sofá, e então se lembrou de Vanessa.
Era boa em dar conselhos e sugestões, mas uma coisa era dá-los e outra bem distinta era segui-los.
— Talvez seja melhor ir ao médico mesmo… — Murmurou para si mesma, recolhendo forças para levantar do sofá.
Sua cabeça estava ardendo de tão quente e Catherine mal podia levantar o olhar. A sinusite a estava matando e era algo para o qual ela não tinha remédios.
Vestiu-se mais ou menos, saiu de casa já com a garantia de que o taxista estava à porta de sua casa e apressou o homem para que chegasse o quanto antes ao hospital de base central.
A viagem não passou de vinte e cinco minutos, mas quando saiu do carro, vomitou como se houvesse sido trazida de barco.
— Tudo bem senhorita?
— Estou sim. — Assentiu, limpando a boca com um lenço que trouxe consigo. — Obrigada. — Agradeceu ao motorista e o dispensou após pagá-lo.
Sua entrada no hospital foi complicada, pois havia uma imensa fila de espera.
Quando conseguiu ser atendida, já estava quase desmaiando na cadeira e o som de seu nome sendo chamado a fez reagir e levantar o braço como em uma chamada escolar.
— Não consegue estar de pé Srta. Ashton?
— Mi-minha cabe-beça… dói demais… — Tentou dizer, esfregando as mãos nas fontes.
A enfermeira tirou sua pressão, temperatura e perguntou sobre o que ela sentia. Catherine a relatou tudo com dificuldade em permanecer de olhos abertos e não era para menos, sua temperatura já estava quase em trinta e nove graus.
O hospital estava muito mais do que lotado com a temporada de resfriados, quando Cat saiu do soro, o único atendimento que recebeu foi uma ficha para que preenchesse para as estatísticas antes de ser liberada.
Estava ciente de que também não havia muito a se fazer com um resfriado, mas queria ao menos ter recebido uma receita de comprimidos para as enxaquecas da sinusite.
— E agora? Eu vou simplesmente embora pra morrer sozinha em minha casa? — Se perguntou, exageradamente dramática.
Enquanto andava vagarosamente pelo corredor do hospital com uma dor de cabeça insuportável, algumas enfermeiras surgiram pedindo que todos liberassem o caminho para a equipe de urgências passar e tão logo os de jalecos surgiram, um arrepio desceu pela espinha de Catherine.
A maca trazia um homem, pelo que ela conseguia notar, muito bem trajado, com alguns dos médicos cortando os tecidos. Para logo atrás outra maca surgir, desta vez não com um homem ou alguém inconsciente, mas com Beatriz, quem Cat pode reconhecer no mesmo instante e se aproximou.
— Ela está bem? — Questionou ao socorrista.
E quando eles a pediram para se afastar, Beatriz a agarrou com todas as forças impedindo que os médicos a continuassem levando.
Perguntando em alemão se a garota estava bem, Beatriz a respondeu que seu braço doía e assim que todos perceberam que a menina não falava o português, questionaram-se se Catherine poderia estar com ela.
Preocupados com os cortes no braço da garota e o inchaço que se formava no pulso, não pensaram duas vezes e Catherine foi requisitada.
Depois de alguns exames e curativos, Beatriz se acalmou nos braços de Cat e esta por sua vez beijou o topo da cabeça da criança agradecendo por ela estar bem.
— Enfermeira! — Catherine gritou se lembrando de que o chefe também tinha dado entrada naquele hospital.
— Oi, em que posso ajudar?
— Pôde me dizer qual o estado de Jonathan Cohen? Ele sofreu um acidente de carro com a filha.
— Claro, posso verificar. — A enfermeira disse, em seguida arrancando um bloco de notas do bolso e uma caneta que estava pendurada no jaleco. — Qual o nome mesmo?
— Jonathan Cohen.
— Idade, e seu parentesco com ele por gentileza?
— Bem, ele tem trinta e três.
Ela respondeu se lembrando das informações que havia lido sobre ele em uma revista de fofocas quando mais nova e depois acrescentando o tempo desde lá. Mas, inventar um parentesco apropriado era algo muito mais arriscado e contra seus princípios. Odiava mentir.
— Eu sou… eu sou… — Cat achava difícil continuar a frase.
— Ela é minha esposa. — Uma voz masculina respondeu por ela.
Se levantou de perto da maca de Beatriz e conversando a fora com a enfermeira estava Jonathan.
Ele entregou sua ficha à enfermeira e perguntou sobre a de Beatriz, Cat a tinha preenchido com a ajuda da pequena. E outras poucas informações que faltavam, ele as escreveu.
— Obrigada Sr. Cohen, melhoras. — A enfermeira desejou, antes de deixar o corredor.
Entrando no quarto, Catherine estava a porta curiosa por ele ter mentido.
— Não pense demais, fugi da ala de observação. Estava preocupado com Beatriz e saber que você estava com ela, me relaxou. — Ele esclareceu.
— Poderia ter dito irmã, não acha?
— Os gêmeos viram ver a sobrinha e a mim, se eu dissesse que é minha irmã, acha que eles os deixariam passar sem checar?
— Tudo bem. — Disse se dando por vencida.
Então o CEO a contornou, beijou a cabeça de Beatriz e perguntou como ela se sentia em alemão.
Os olhos da pequena brilhavam enquanto brincava com o pai e um sorriso surgiu no rosto de Catherine ao ver a cena tão terna.
— Sr. Cohen! — Uma enfermeira saiu de trás das costas de Cat e a assustou.
Como um garoto levado sabendo que irá levar uma bronca, Jonathan abaixou a cabeça em desânimo, se despediu da filha a abraçando e depois andou até a produtora, que estava parada ao pé da porta.
— Catherine. — Disse seu nome a abraçando. — Por favor, não a deixe sozinha, posso dar o que quiser, mas fique com ela. — Pediu sussurrando ao ouvido dela.
Para a enfermeira que assistia a cena, eles não passavam de um casal apaixonado.
Para Catherine, aquele era um pedido oculto de um pai assustado e para Jonathan era a primeira vez que ele confiava em alguém desde seu divórcio de Pâmela, sua ex-mulher.
Catherine o abraçou de volta, como uma esposa que não estava pronta para deixar o marido ir.
— Vou cuidar, não se preocupe. Agora volte para seu quarto. — Ela sussurrou de volta.
Então, para terminar bem o teatro armado, Jonathan deixou de abraçá-la, aproximou-se seu rosto do dela e plantou um beijo na ponta de seu nariz.
Em despedida a deixou com a frase que fez seu coração errar uma batida:
— Te vejo logo, amor.
Chocada, Catherine voltou pra cama e se deitou junto de Beatriz quem começou a chorar depois de o pai precisar voltar para seu próprio quarto de observação. Mais tarde ela se inteirou dos detalhes. Havia sido um acidente de trânsito, em que um dono de caminhão deslizou sem controle pelas ruas congeladas e acertou o carro dos Cohen. Para bem, Beatriz apenas tinhas um arranhões pelos vidros da janela do carro terem se estilhaçado sobre ela e um pulso meio inchado, mas que logo estaria melhor. E quanto a Jonathan, esse parecia bem, apesar de pálido. — Está na hora do jantar. — Avisou a enfermeira que distribuía as refeições pelos quartos. — Obrigada. — É a Sra. Cohen, certo? — Questionou a mesma enfermeira de algumas horas atrás. — Sim, sou eu. — Cat respondeu, com um pouco do sabor da mentira a deixando incomodada. — Seu marido disse que a sua cunhada está aqui, para cuidar da sobrinha. E que você devia ir pra casa. Catherine pensou no que aquilo significava, e assentiu.
Incômodo com tudo, ao invés de voltar ao seu quarto, Jonathan preferiu passar a noite na cadeira ao lado da maca da filha e de Cat. Às seis da manhã chegou e o CEO não teve outra escolha a não ser acordar com a luz invadindo o quarto. A filha e a mulher ainda dormiam, e ele pensou na encrenca que seria se uma das enfermeiras entrasse no quarto e o encontrasse ali. Pensando em escapar de problemas, se levantou vagarosamente da cadeira para não fazer barulho, mas não contava com que uma enfermeira fosse adentrar o lugar logo a aquelas horas desejando bom dia. — Bom dia. — Ele respondeu, de pé. — Humm… — Fez Catherine se espreguiçando. Ele se voltou para ela e ela o encarou, logo depois disfarçando a surpresa em vê-lo para não deixar que a enfermeira desconfiasse de ambos. — Quando veio pra cá? — Ontem a noite. — Ele confessou. — Não quis te acordar. — Não tem problema, na verdade queria te ver e avisar que fiquei no lugar de Gabriela. — Ela se sentou na maca tomando
Atônita. Pela primeira vez desde que nasceu, Gabriela estava sem palavras. O irmão havia beijado realmente Catherine em sua frente. Os dois pareciam ter uma relação inegável e ela começava imaginar ser este o motivo pelo qual as sobrinhas adoravam a companhia da mulher. Em sua mente, Gaby já presumia que o irmão estava em uma relação a tempos. Também presumindo que se estivesse certa Jonathan jamais a confirmaria de primeira, Gabriela optou por guardar os esforços interrogativos e como um velho ditado diz "dar tempo ao tempo". — Tempo uma ova! — Disse a si mesma, após cinco minutos observando a interação entre o irmão e a "cunhada". Ignorando o surto da irmã ao seu lado, o CEO se focou na filha nos braços de Catherine. — Por que ela chora tanto? — Bem, pelos puxões que ganhei, aposto que ela está com fome. — Cat falou chutando de forma certeira. — Gabriela, onde está o carrinho e a mala da Cloe? — Jonathan voltou-se para a irmã, quem se encontrava sentada na poltrona ao
[ Sábado, vinte e oito de maio ] Esperando-a no altar estava ele, vestindo um terno sob medida que a fez duvidar se a quem enxergava era mesmo Jonathan Cohen ou o anjo Lúcifer. O CEO não estava somente de cair o queixo, mas também personificava a tentação. Quem também não se deixava para menos era Catherine, que jazia deslumbrante em seu vestido de noiva fabricado por uma das mais exclusivas marcas de Madrid, cortesia de seu sogro que apesar de em um primeiro momento não ter a aceitado muito bem, logo se descobriu um homem muito amável. Como ensaiado pela organizadora de eventos, a noiva caminhou vagarosamente até o altar, sendo em seguida acolhida por Jonathan, quem se encontrava mil vezes mais a flor da pele do que ela. — Está com frio? — Catherine o perguntou diante da tremedeira notável. — Estou bem. — Disse ele, aparentando exatamente o oposto da afirmação. O sermão do juiz de paz juntamente do restante da cerimônia levou mais de uma hora em ser concluído, o que torna
[ De volta há duas semanas antes ] — Eu adoraria apresentá-la a vocês, mas como podem notar, Cat não se sente muito bem. — Jonathan disse, ato seguido, depositando um beijo no topo da cabeça de Catherine. Se retirando da sala de estar, ele partiu para as escadarias, que no segundo andar davam de frente para a porta de seu quarto. A casa castelar que mais se parecia verdadeiramente a um castelo do que propriamente dito uma casa, possuía mais de doze quartos distribuídos pelo segundo e terceiro andar, entretanto, o CEO já presumia que seu pai notaria desde o primeiro instante cada detalhe entre ele e sua nova relação e por este motivo, o mais inteligente a se fazer era levá-la ao seu quarto. Gabriela, a mais velha dos gêmeos, nascida alguns segundos antes de seu irmão mais novo, era conhecida por ser a espiã do papai. E se bem queria que a situação não se finalizasse em uma batalha sangrenta, ele deveria ser calculista com cada um de seus passos, pois ela estaria sempre a espr
— Sabe, não é da minha conta. — Concluiu a governanta, optando por não saber. — Só espero que desta vez se casem por amor e não como da primeira vez, porque achou ser sua obrigação. A mulher mais velha se retirou do cômodo, fechando a porta do quarto após sair. No banheiro, Jonathan mal conseguia olhar para o rosto da mulher amamentando sua filha e só o fez quando ela o dirigiu a palavra. — Pode pegar uma toalha, quero sair da banheira. — Claro. — Ele se virou, puxando um roupão atrás de si. Dormindo junto do seio de Catherine, a filha parecia um anjinho descansando. — Não precisamos acordá-la, me ajude a ficar de pé. — Cat o pediu. Jogando o roupão de banho sobre os ombros, ele a apoiou para estar de pé dentro da banheira. Ao conseguir, a cobriu com a veste e guiou-a para fora, a amparando pelos cotovelos. Sentando-se a cama, ela observou Jonathan procurando por toalhas em seu closet e encontrando ele voltou-se para ela, secando seus cabelos. Não era normal que a
[ Mansão Cohen, quatro e quarenta ] O som da campainha do interfone a aquelas horas da madrugada, fez com que Adom, o guarda, despertasse da sua soneca leve e olhasse assustado para as câmeras de segurança. — Destrancarei o portão para a senhora. — Avisou mais do que de pressa, querendo mostrar-se um bom empregado para sua futura patroa. Sendo o colega de Lúcia há anos, desde quando começaram a prestar serviços para a família Cohen, o guarda e a governanta contavam-se as notícias diárias dentro e fora da mansão. No café da tarde do dia anterior, ela o contou sobre a relação da jovem Ashton com Jonathan, o filho mais velho do Sr. Jorge. Era bom estar atualizado no assunto, sabia que aquelas horas da madrugada pai e filho estavam discutindo o ocorrido daquela tarde e ligar para solicitar a entrada de alguém seria um motivo para que no calor da raiva o despedissem. Por ser a futura Sra. Cohen, Adom acreditou não ter problema deixá-la passar sem prévio aviso e talvez isso até m
— Meu filho e eu não conversamos quase nada sobre a vida um do outro, desde que ele voltou da Suíça. — Começou Jorge. — Então, faz muito mais tempo que vocês estão juntos? — Não, o conheci quando ele chegou ao país. — Então Cloe não é minha neta de sangue? — Claro que sim, senhor. Como não seria? — Ela afirmou, não entendendo que pensamentos vieram à mente do velho. — Mas está dizendo que não o conheceu antes de chegar ao país. Como foi que engravidou do meu filho? — Ele a perguntou confuso. Percebendo o equívoco, Catherine entendeu finalmente o nó que fazia na cabeça de Lúcia e Jorge. — Eu não sou a mãe biológica de Cloe. Na verdade, há algum tempo perdi minha filha após o parto e desde então venho doando para o banco de leite. Aconteceu do universo me colocar de encontro com Jonathan e devido a algumas situações acabei amamentando sua neta umas que outras vezes. — Ela explicou sucintamente, até que Jonathan surgiu na sala. — Isto é sanduíche de patê de frango? — Por que?