Chocada, Catherine voltou pra cama e se deitou junto de Beatriz quem começou a chorar depois de o pai precisar voltar para seu próprio quarto de observação.
Mais tarde ela se inteirou dos detalhes. Havia sido um acidente de trânsito, em que um dono de caminhão deslizou sem controle pelas ruas congeladas e acertou o carro dos Cohen.
Para bem, Beatriz apenas tinhas um arranhões pelos vidros da janela do carro terem se estilhaçado sobre ela e um pulso meio inchado, mas que logo estaria melhor. E quanto a Jonathan, esse parecia bem, apesar de pálido.
— Está na hora do jantar. — Avisou a enfermeira que distribuía as refeições pelos quartos.
— Obrigada.
— É a Sra. Cohen, certo? — Questionou a mesma enfermeira de algumas horas atrás.
— Sim, sou eu. — Cat respondeu, com um pouco do sabor da mentira a deixando incomodada.
— Seu marido disse que a sua cunhada está aqui, para cuidar da sobrinha. E que você devia ir pra casa.
Catherine pensou no que aquilo significava, e assentiu. Gabriela, quem realmente era parte da família, viria tomar conta de Beatriz.
— Obrigada. — Catherine agradeceu, voltou para perto da garotinha.
— Coma tudo e não dê trabalho para sua mãe. — Uma outra enfermeira que acompanhava disse a pequena, deixando uma sobremesa sobre a mesa de cabeceira da maca.
Beatriz assentiu como se entendesse. Catherine achou estranho, mas continuou a ajudando a se alimentar e minutos mais tarde Gabriela já estava batendo na porta do quarto.
— Desculpa ter vindo só agora.
— Não tem problema, gosto de passar o tempo com a Bea. — Cat disse, acariciando a cabeça da pequena.
Pronta para se despedir, Gabriela se aproximou da maca e disse à garota para dar tchau.
Beatriz pareceu não entender na hora, mas tão logo Catherine cruzou para fora do quarto, um grito a congelou no lugar.
— Mamaa!!
Como se feitas de gelatinas, as pernas da produtora bambearam e se não fosse pelo amparo de Gabriela atrás, talvez tivesse caído de joelhos ao chão.
Dando um tempo para digerir o que havia escutado, Catherine olhou para a Beatriz e perguntou a garota em alemão, como ela a havia chamado.
— Mamaa. — Beatriz a confirmou entre lágrimas.
— O quê foi? — Gabriela quem parecia perdida, perguntava a Cat.
— Ela está me chamando de mãe…
— Bea, bebê, essa é Cat. — Gabriela explicou, mas a garota não compreendia e apenas olhava os lábios da boca da tia se mexendo.
Fazendo uma nova tentativa, Catherine tentou cruzar a porta do quarto e outra vez um choro intenso vindo de Beatriz a fez parar.
Respirando profundo ela conteve as emoções, odiava ouvir o choro de crianças, a devastava como nenhuma outra coisa.
— Catherine, você está bem? — Gabriela a questionou, a vendo voltar para perto de Bea com lágrimas nos olhos.
A produtora não a respondeu, estava sem forças para abrir a boca e apenas se aproximou da menina abraçando-a contra seu peito.
Beatriz se acalmou no exato mesmo instante em que percebeu que ela não iria deixá-la e voltou a comer segurando a mão de Catherine.
Gabriela não quis se meter, ver sua sobrinha tranquila era raro já que a menina havia passado por muito e poucas pessoas conseguiam ter a confiança dela.
Ao contrário de Agnês e Cloe, Beatriz não era filha legítima de Pâmela ou Jonathan.
Foi adotada a pouco menos de um ano na Suiça, falava muito pouco português e parecia ter alguns problemas de insegurança.
Quando gostava de alguém prestava atenção ao que o outro dizia, e quando não ela somente encarava sem reações.
Em vista de tudo isso, o veredito de Gabriela era de que Catherine definitivamente a tinha ganho.
— E então bebê, quero que me diga uma coisa. — Catherine se comunicava pela primeira vez em português com Bea.
— Sim. — Ela respondeu.
— Por que me chamou de mãe?
— Papai disse que eu deveria chamar de mamãe quando sentisse aqui. — A garota disse apontando para o coração.
Sem dúvidas Beatriz não seria uma criança fácil de se deixar entender, mas era a mais doce com que Catherine poderia sonhar em conhecer.
Depois de abraçá-la, mordê-la e paparicá-la às oito horas da noite chegavam e as enfermeiras já passavam checando o quarto.
— Sra. Cohen? — Chamou a enfermeira conhecida a porta do quarto.
— Sim. — Catherine respondeu no automático, enquanto contava uma história a Bea.
Gabriela olhou para Catherine, e logo a enfermeira. Não tinha conhecimento sobre o jogos do irmão, e por isso quando a enfermeira se dirigiu a ela como " Sra. Cohen", Gaby pensou sobre que talvez tivessem um relacionamento oculto.
Afinal de contas, como poderia Bea estar tão apegada a uma simples estranha do dia pra noite?
A verdade era a mesma, realmente o relacionamento entre a produtora e a garotinha se tinha dado do dia pra noite e Catherine depois de falar com a enfermeira, viu que não seria fácil explicar nada daquilo a Gabriela.
— Bea, bebê. Eu preciso ir. — Catherine explicou a garotinha.
Em silêncio escorreram lágrimas pelos pequenos olhos da menina e o coração de Cat doeu dentro do peito.
— Gabriela, pode me deixar ficar com ela?
— Não está cansada? Passou cinco horas aqui dentro. — Gabriela perguntou, imaginando que no lugar de Cat, já estaria implorando por um descanso.
— Para nada. — Cat mentiu.
Sua cabeça ainda estava com uma enxaqueca insuportável, e ir pra casa seria o melhor, no entanto deixar Beatriz sem sentir pior era impossível.
— Tudo bem. — Gabriela assentiu dando de ombros.
Partindo após se despedir da sobrinha, Gabriela deu um abraço em Catherine e saiu do quarto sendo guiada pela enfermeira.
Deitando-se na cama junto da garota, Cat se perguntou três vezes sobre o que estava fazendo, por que provavelmente Jonathan Cohen a enxergaria como uma entrometida.
Virou-se então para o lado e fechou os olhos, aproveitando o silêncio reinando nos corredores do hospital que já não mais ecoava os passos da enfermeira.
Beatriz estava dormindo agarrada a sua cintura, com a cabeça sobre sua barriga e Catherine a fazia cafuné, curtindo o momento, até que ela mesma adormeceu.
Em outra parte do hospital, se encontrava Jonathan, inquieto.
O homem estava com tantas pendências para resolver na empresa e em casa que a única emoção que conseguia sentir deitado era a frustração.
Querendo ver a filha, se levantou da cama depois de perceber que as enfermeiras já não passavam tantas vezes pelos quartos.
Caminhou silenciosamente para a ala infantil e encontrou o quarto de Beatriz sem problemas.
Entrar no quarto também não foi difícil, já que as portas não eram trancadas, apenas encostadas.
Sobre a maca ele achava estar sua irmã de costas para ele e depois de olhar sobre ela, encontrou o rostinho de Bea, agarrada a quem ele supunha ser Gabriela.
Aliviado em ver a filha bem, se aproximou da maca depositando um beijo sobre a testa da filha e logo mais na bochecha da irmã. Quando ele o fez, observou que aquele perfume que podia sentir vindo da mulher não era o de sua irmã, mas um que ele recordava muito bom ter sentido mais cedo ao abraçar Catherine.
Ainda com o rosto muito próximo dela, ele inclinou-se mais um pouco para ver seu rosto e confirmou rapidamente ser a produtora.
— Por que você está em todos os cantos? — Sussurrou a pergunta.
A voz fez com que a jovem se movesse na maca e quando ela virou a cabeça, roçou os lábios com os de Jonathan.
Este se afastou logo depois, achou que já seriam acidentes demais para um dia. Até ouvir sua garotinha se remexer e se agarrar a Catherine a chamando de mãe.
— O que disse Bea?
Incômodo com tudo, ao invés de voltar ao seu quarto, Jonathan preferiu passar a noite na cadeira ao lado da maca da filha e de Cat. Às seis da manhã chegou e o CEO não teve outra escolha a não ser acordar com a luz invadindo o quarto. A filha e a mulher ainda dormiam, e ele pensou na encrenca que seria se uma das enfermeiras entrasse no quarto e o encontrasse ali. Pensando em escapar de problemas, se levantou vagarosamente da cadeira para não fazer barulho, mas não contava com que uma enfermeira fosse adentrar o lugar logo a aquelas horas desejando bom dia. — Bom dia. — Ele respondeu, de pé. — Humm… — Fez Catherine se espreguiçando. Ele se voltou para ela e ela o encarou, logo depois disfarçando a surpresa em vê-lo para não deixar que a enfermeira desconfiasse de ambos. — Quando veio pra cá? — Ontem a noite. — Ele confessou. — Não quis te acordar. — Não tem problema, na verdade queria te ver e avisar que fiquei no lugar de Gabriela. — Ela se sentou na maca tomando
Atônita. Pela primeira vez desde que nasceu, Gabriela estava sem palavras. O irmão havia beijado realmente Catherine em sua frente. Os dois pareciam ter uma relação inegável e ela começava imaginar ser este o motivo pelo qual as sobrinhas adoravam a companhia da mulher. Em sua mente, Gaby já presumia que o irmão estava em uma relação a tempos. Também presumindo que se estivesse certa Jonathan jamais a confirmaria de primeira, Gabriela optou por guardar os esforços interrogativos e como um velho ditado diz "dar tempo ao tempo". — Tempo uma ova! — Disse a si mesma, após cinco minutos observando a interação entre o irmão e a "cunhada". Ignorando o surto da irmã ao seu lado, o CEO se focou na filha nos braços de Catherine. — Por que ela chora tanto? — Bem, pelos puxões que ganhei, aposto que ela está com fome. — Cat falou chutando de forma certeira. — Gabriela, onde está o carrinho e a mala da Cloe? — Jonathan voltou-se para a irmã, quem se encontrava sentada na poltrona ao
[ Sábado, vinte e oito de maio ] Esperando-a no altar estava ele, vestindo um terno sob medida que a fez duvidar se a quem enxergava era mesmo Jonathan Cohen ou o anjo Lúcifer. O CEO não estava somente de cair o queixo, mas também personificava a tentação. Quem também não se deixava para menos era Catherine, que jazia deslumbrante em seu vestido de noiva fabricado por uma das mais exclusivas marcas de Madrid, cortesia de seu sogro que apesar de em um primeiro momento não ter a aceitado muito bem, logo se descobriu um homem muito amável. Como ensaiado pela organizadora de eventos, a noiva caminhou vagarosamente até o altar, sendo em seguida acolhida por Jonathan, quem se encontrava mil vezes mais a flor da pele do que ela. — Está com frio? — Catherine o perguntou diante da tremedeira notável. — Estou bem. — Disse ele, aparentando exatamente o oposto da afirmação. O sermão do juiz de paz juntamente do restante da cerimônia levou mais de uma hora em ser concluído, o que torna
[ De volta há duas semanas antes ] — Eu adoraria apresentá-la a vocês, mas como podem notar, Cat não se sente muito bem. — Jonathan disse, ato seguido, depositando um beijo no topo da cabeça de Catherine. Se retirando da sala de estar, ele partiu para as escadarias, que no segundo andar davam de frente para a porta de seu quarto. A casa castelar que mais se parecia verdadeiramente a um castelo do que propriamente dito uma casa, possuía mais de doze quartos distribuídos pelo segundo e terceiro andar, entretanto, o CEO já presumia que seu pai notaria desde o primeiro instante cada detalhe entre ele e sua nova relação e por este motivo, o mais inteligente a se fazer era levá-la ao seu quarto. Gabriela, a mais velha dos gêmeos, nascida alguns segundos antes de seu irmão mais novo, era conhecida por ser a espiã do papai. E se bem queria que a situação não se finalizasse em uma batalha sangrenta, ele deveria ser calculista com cada um de seus passos, pois ela estaria sempre a espr
— Sabe, não é da minha conta. — Concluiu a governanta, optando por não saber. — Só espero que desta vez se casem por amor e não como da primeira vez, porque achou ser sua obrigação. A mulher mais velha se retirou do cômodo, fechando a porta do quarto após sair. No banheiro, Jonathan mal conseguia olhar para o rosto da mulher amamentando sua filha e só o fez quando ela o dirigiu a palavra. — Pode pegar uma toalha, quero sair da banheira. — Claro. — Ele se virou, puxando um roupão atrás de si. Dormindo junto do seio de Catherine, a filha parecia um anjinho descansando. — Não precisamos acordá-la, me ajude a ficar de pé. — Cat o pediu. Jogando o roupão de banho sobre os ombros, ele a apoiou para estar de pé dentro da banheira. Ao conseguir, a cobriu com a veste e guiou-a para fora, a amparando pelos cotovelos. Sentando-se a cama, ela observou Jonathan procurando por toalhas em seu closet e encontrando ele voltou-se para ela, secando seus cabelos. Não era normal que a
[ Mansão Cohen, quatro e quarenta ] O som da campainha do interfone a aquelas horas da madrugada, fez com que Adom, o guarda, despertasse da sua soneca leve e olhasse assustado para as câmeras de segurança. — Destrancarei o portão para a senhora. — Avisou mais do que de pressa, querendo mostrar-se um bom empregado para sua futura patroa. Sendo o colega de Lúcia há anos, desde quando começaram a prestar serviços para a família Cohen, o guarda e a governanta contavam-se as notícias diárias dentro e fora da mansão. No café da tarde do dia anterior, ela o contou sobre a relação da jovem Ashton com Jonathan, o filho mais velho do Sr. Jorge. Era bom estar atualizado no assunto, sabia que aquelas horas da madrugada pai e filho estavam discutindo o ocorrido daquela tarde e ligar para solicitar a entrada de alguém seria um motivo para que no calor da raiva o despedissem. Por ser a futura Sra. Cohen, Adom acreditou não ter problema deixá-la passar sem prévio aviso e talvez isso até m
— Meu filho e eu não conversamos quase nada sobre a vida um do outro, desde que ele voltou da Suíça. — Começou Jorge. — Então, faz muito mais tempo que vocês estão juntos? — Não, o conheci quando ele chegou ao país. — Então Cloe não é minha neta de sangue? — Claro que sim, senhor. Como não seria? — Ela afirmou, não entendendo que pensamentos vieram à mente do velho. — Mas está dizendo que não o conheceu antes de chegar ao país. Como foi que engravidou do meu filho? — Ele a perguntou confuso. Percebendo o equívoco, Catherine entendeu finalmente o nó que fazia na cabeça de Lúcia e Jorge. — Eu não sou a mãe biológica de Cloe. Na verdade, há algum tempo perdi minha filha após o parto e desde então venho doando para o banco de leite. Aconteceu do universo me colocar de encontro com Jonathan e devido a algumas situações acabei amamentando sua neta umas que outras vezes. — Ela explicou sucintamente, até que Jonathan surgiu na sala. — Isto é sanduíche de patê de frango? — Por que?
Eles não conversaram por dias sobre o assunto, sempre havia algo acontecendo para deixarem de lado as regras do acordo. Os poucos dias em que estiveram juntos, eram basicamente tratativas de negócios da empresa ou almoço com a família. Jorge estava mais ansioso para que Catherine se mudasse depois de se casar do que o próprio noivo e por este motivo mal se falavam fora dos olhares da família Cohen. A conversa no quarto estava sendo a primeira vez em que tocavam no assunto. E sendo sincero, ele até mesmo já se tinha feito a ideia de que seria pai pela quarta vez. Não entendia a decisão de Catherine, sendo tão nova. Mas mãe são mães, sem importar idade ou condição e ao que parecia, ela queria mesmo ser a mãe que não teve a chance de ser para sua primeira filha. O problema estava em que depois de tanta preparação psicológica e simulações na mente para convencer ela de que ele também teria sua participação na vida da criança, Cat simplesmente o anunciava que desejava ser mãe so