Se meter em problemas nunca exigiu muito esforço por parte de Catherine Ashton, coisa que aos três anos todos achavam engraçado, e o "porém" veio apenas aos vinte e três. Duas décadas depois, a quantidade e a intensidade com que os problemas chegavam até ela era de deixar até mesmo um cara calvo de cabelo em pé. Mas nada se compara ao que estão por ler agora, e aqui começa o "era um vez" desta incrível jovem mulher. [ Sexta-feira, treze de maio ] Praticamente duas horas adiantada, Catherine – ou Cat, como frequentemente era chamada pelos mais próximos – subia as escadarias rumo ao terraço. Na porta de saída, se via claramente uma placa proibindo a ida de qualquer funcionário não autorizado e como a ótima insolente que era, sorriu ao cruzar para o lado de fora, como se quebrar as regras lhe desse mais energia do que seu café da manhã. — Bom dia pra mim! — Gritou rodopiando no terraço. Correndo direto ao parapeito, ela olhou a cidade que agora se parecia a casas de bon
Pegar um táxi não foi difícil, porém chegar à mansão dos Cohen pareceu uma tarefa impossível com a tempestade de neve repentina assolando a capital. A viagem que duraria vinte minutos com o pouco tráfego nas vias principais, tomou mais de quarenta e cinco minutos, mas ao menos chegaram. — É aqui, senhorita. — Avisou o taxista, estacionado frente a casa castelar. — Obrigada. Descendo do táxi, Catherine normalmente tomaria alguns segundos se impressionando com a visão da mansão a sua frente, mas não naquela noite, não com os seus ossos congelando. Tremendo, ela tocou o interfone, torcendo que alguém a respondesse logo em seguida. — Estou aqui para pegar a assinatura do CEO Cohen, são papéis urgentes. — Disse próxima ao interfone. — Tudo bem, é só apresentar a identificação pra câmera. Levantando o crachá do pescoço, ela o mostrou para o segurança através da câmera e em seguida teve o portão destrancado. O segurança, Adom – como o nome gravado na plaquinha do uniforme s
— Olá, Srta. Ashton. — Ele a cumprimentava de volta. Se entre olhavam a distância e antes que algo mais pudesse ser dito, Catherine se lembrou do motivo inicial de estar ali. — Trouxe um contrato importante, Vanessa não estava bem, então vim trazer em seu lugar. — Certo e onde estão os papéis? — Ele a questionou, não os vendo na cozinha. — Estão sobre a mesa de centro na sala, Jonathan. — A governanta o respondeu. — Obrigada Lúcia. — Ele agradeceu e se retirou. Para nada foi uma conversa longa, mas por algum motivo ela sentia como se ele a pressionasse com o olhar e por algum tempo prendeu a respiração sem perceber. — O quê essa garota tem? — Lúcia perguntou ao ver o quanto Cloe puxava a blusa de Catherine. A pergunta tirou Cat do mundo da lua e trouxe de volta oxigênio aos seus pulmões, mas apenas depois de quase ter todos os botões até o busto arrebentados, foi que percebeu o quê a bebê havia feito. Ela se preocupou de que Cloe estivesse atrás do cheiro de leite.
Passadas duas horas e meia em confinamento, a bebê finalmente estava adormecida e havia largado o seio. — É mãe? — Fui, por oito minutos e bem, minha bebê não resistiu às complicações do parto. — Catherine disse, tocando pela primeira vez no assunto em oito meses. Havia engravidado próximo a formatura da faculdade e passou por muitos julgamentos e perdas, mas não era alguém de se render facilmente. Quatro meses após o parto, voltou a fazer o curso, os estágios e se dedicou até conseguir o cargo em que estava. Era tudo muito recente e poucos sabiam sobre sua situação. — Ela estava com fome. — Cat não quis dizer nada mais sobre si e voltou-se para Cloe em seus braços. — É a primeira vez que a vejo dormir desta forma tão profunda. — Ele comentou escorando na bancada de mármore. — A Sra. Lúcia estava preparando uma mamadeira antes de tudo isso acontecer, então por curiosidade, a mãe não pode alimentá-la? — A curiosidade matou o gato Srta. Ashton. — Bom, só gostaria de entende
[ Ao dia seguinte, três da tarde] — Ahhtim! — Espirrou Catherine e, ato seguido, agarrou um lenço da caixa para assoar o nariz. Havia um milhão de coisas para fazer em casa já que preferia tomar o domingo para não fazer nada, entretanto, a tempestade de neve que passou debaixo na madrugada a tinha deixado resfriada e nada conseguia fazer com que parasse de espirrar ou com que o nariz deixasse de escorrer. — Ótimo, quem vai fazer a faxina aqui? — Perguntou ao vazio da sua casa. Mal conseguia levantar do sofá, e então se lembrou de Vanessa. Era boa em dar conselhos e sugestões, mas uma coisa era dá-los e outra bem distinta era segui-los. — Talvez seja melhor ir ao médico mesmo… — Murmurou para si mesma, recolhendo forças para levantar do sofá. Sua cabeça estava ardendo de tão quente e Catherine mal podia levantar o olhar. A sinusite a estava matando e era algo para o qual ela não tinha remédios. Vestiu-se mais ou menos, saiu de casa já com a garantia de que o taxista e
Chocada, Catherine voltou pra cama e se deitou junto de Beatriz quem começou a chorar depois de o pai precisar voltar para seu próprio quarto de observação. Mais tarde ela se inteirou dos detalhes. Havia sido um acidente de trânsito, em que um dono de caminhão deslizou sem controle pelas ruas congeladas e acertou o carro dos Cohen. Para bem, Beatriz apenas tinhas um arranhões pelos vidros da janela do carro terem se estilhaçado sobre ela e um pulso meio inchado, mas que logo estaria melhor. E quanto a Jonathan, esse parecia bem, apesar de pálido. — Está na hora do jantar. — Avisou a enfermeira que distribuía as refeições pelos quartos. — Obrigada. — É a Sra. Cohen, certo? — Questionou a mesma enfermeira de algumas horas atrás. — Sim, sou eu. — Cat respondeu, com um pouco do sabor da mentira a deixando incomodada. — Seu marido disse que a sua cunhada está aqui, para cuidar da sobrinha. E que você devia ir pra casa. Catherine pensou no que aquilo significava, e assentiu.
Incômodo com tudo, ao invés de voltar ao seu quarto, Jonathan preferiu passar a noite na cadeira ao lado da maca da filha e de Cat. Às seis da manhã chegou e o CEO não teve outra escolha a não ser acordar com a luz invadindo o quarto. A filha e a mulher ainda dormiam, e ele pensou na encrenca que seria se uma das enfermeiras entrasse no quarto e o encontrasse ali. Pensando em escapar de problemas, se levantou vagarosamente da cadeira para não fazer barulho, mas não contava com que uma enfermeira fosse adentrar o lugar logo a aquelas horas desejando bom dia. — Bom dia. — Ele respondeu, de pé. — Humm… — Fez Catherine se espreguiçando. Ele se voltou para ela e ela o encarou, logo depois disfarçando a surpresa em vê-lo para não deixar que a enfermeira desconfiasse de ambos. — Quando veio pra cá? — Ontem a noite. — Ele confessou. — Não quis te acordar. — Não tem problema, na verdade queria te ver e avisar que fiquei no lugar de Gabriela. — Ela se sentou na maca tomando
Atônita. Pela primeira vez desde que nasceu, Gabriela estava sem palavras. O irmão havia beijado realmente Catherine em sua frente. Os dois pareciam ter uma relação inegável e ela começava imaginar ser este o motivo pelo qual as sobrinhas adoravam a companhia da mulher. Em sua mente, Gaby já presumia que o irmão estava em uma relação a tempos. Também presumindo que se estivesse certa Jonathan jamais a confirmaria de primeira, Gabriela optou por guardar os esforços interrogativos e como um velho ditado diz "dar tempo ao tempo". — Tempo uma ova! — Disse a si mesma, após cinco minutos observando a interação entre o irmão e a "cunhada". Ignorando o surto da irmã ao seu lado, o CEO se focou na filha nos braços de Catherine. — Por que ela chora tanto? — Bem, pelos puxões que ganhei, aposto que ela está com fome. — Cat falou chutando de forma certeira. — Gabriela, onde está o carrinho e a mala da Cloe? — Jonathan voltou-se para a irmã, quem se encontrava sentada na poltrona ao